A Felicidade Temporária ao Nível do Mar

Série Ensaios: Bioética Ambiental


Por Manuela Truiti e  Shadya Koffke do Amaral
mestrandas em Bioética






A reportagem reforça a necessidade de atenção dos países em relação as alterações climáticas, principalmente, aqueles em regiões costeiras que serão os primeiros a precisarem se adaptar aos primeiros resultados da ação humana sobre a natureza. É o que a Climate Central, expõe em pesquisa sobre a temática.

A água sempre foi um elemento chave na questão do impacto das mudanças climáticas. Dentro deste contexto, muito tem se falado e se preocupado com a elevação do nível do mar, que é um fenômeno físico consequente ao aumento da temperatura global em decorrência do acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera.

As consequências desse aumento do nível marítimo tem gerado grande debate e preocupação, conforme ilustrado pela reportagem “Futuro debaixo d’água: como será a elevação do nível do mar no mundo todo”, publicada no site da CNN em 12/10/2021. Segundo a reportagem, cerca de 600 milhões de pessoas estarão em risco caso a previsão de aumento em 3 graus da temperatura mundial aconteça, sendo que 385 milhões vivem atualmente em terras que serão inundadas pela maré alta, mesmo se as emissões de gases de efeito estufa forem reduzidas. Isso nos trás a grande questão: como deixamos chegar a este ponto?

É fato o desequilíbrio natural causado pela ação humana, guiada e desgovernada pela ambição de “sobreviver com qualidade", muitas vezes priorizando o lucro à sustentabilidade. O homem busca a felicidade e a sobrevivência, e dentro de uma visão antropocêntrica, utilitarista e porque não dizer “ignorante”, acaba por tê-las a curto prazo, sem pesar as consequências a longo prazo. O homem usufruiu dos recursos naturais para sua felicidade, mas agora depende da conservação dessa fonte para sua sobrevivência.

Apesar das mudanças climáticas afetarem a população do mundo todo, sempre há aqueles mais vulneráveis e que sofrem piores consequências. No caso do aumento do nível marítimo, é a população costeira, principalmente da região Asiática. O prejuízo é social, com necessidade de abandono de suas casas e de tudo que construíram ao longo da vida e também econômico, relacionado à perda da pesca, turismo, comércio, entre outros.

Mas felizmente há uma luz no fim do túnel… recentemente vem acontecendo uma mobilização social e de organizações, como a ONU, para discussão e busca de estratégias para atenuar estes desfechos. E assim vemos na prática o princípio bioético da compaixão, movido pelo movimento social de avaliar e identificar os problemas globais, buscando alternativas para proteger tanto o meio ambiente quanto a população exposta à degradação desse meio natural.

Diante dessa discussão, vamos centrar dois tópicos: a “felicidade temporária do homem” e “sobreviver com qualidade”; e reforçar a visão antropocentrista e utilitarista presente e que de certa forma, até mantém ou podem ajudar no equilíbrio ambiental.

Vamos traduzir os tópicos. Primeiramente discutindo o que é “sobreviver com qualidade”. O homem vive dentro de suas limitações lutando em busca de qualidade de vida e felicidade, e por isso “sobrevive”. É uma felicidade temporária, pois senão não estaríamos discutindo desastres ambientais e prejuízos à saúde humana e animal. E por sua “ignorância”, no sentido de não ter o conhecimento sobre a causa, da necessidade de proteção e do reconhecimento da natureza como fonte ao invés de recurso, a felicidade de usufruir a natureza e manter qualidade de vida, é de curto prazo.

Sobre ser utilitarista e antropocêntrica. É utilitarista sim, pois não temos como negar a necessidade do homem em explorar a natureza para sua sobrevivência e felicidade. E antropocentrista também, pois, mesmo que o homem entenda a natureza como fonte e não recurso, só a protege porque depende dela para a sobrevivência e felicidade. E como alcançar a justiça ética dentro desse cenário? Como a ética pode proteger a saúde global; prevenir desastres ambientais, promover à saúde única?


A resposta pode estar associada ao princípio da compaixão que por hora se apresenta ausente quando analisamos o papel do homem e sua “irresponsabilidade” frente ao meio ambiente, ao contribuir para o aumento do nível do mar por conta da emissão e aumento do efeito estufa, prejudicando seu próprio semelhante. E em outro momento, esse mesmo agente moral, pela compaixão, se preocupando com a situação global, estudando a atividade humana que impacta positiva e negativamente na vida do próximo, principalmente, aos mais vulneráveis.

Se o homem na luta por sua vida acaba por prejudicá-la e por isso, uma felicidade temporária; concluímos então que ela segue o nível do mar; quanto mais elevado o nível da água maior é a felicidade temporária.

Nós como futuras bioeticistas acreditamos que a mesma mão humana que trouxe até hoje a realidade triste e preocupante de um futuro saudável incerto pode trazer momentos de “pausa e reflexão” para as próximas ações mais conscientes e sustentáveis. O mesmo homem que por hora se apresenta utilitarista precisará enxergar a natureza como fonte e protetor dela. Que o mesmo homem que se vê no centro do universo, irá se entender no contexto com o meio natural e operante e receptor de toda e qualquer mudança que faça sobre esse meio. Não há mais como separar o homem e colocá-lo no topo da cadeia, pois ele se afunda no mesmo mar que ele próprio fez crescer. A compaixão é um princípio necessário, assim como outros valores humanos que buscam a justiça ética de um globo e de tudo que nele pertence de forma indissociável.



Este ensaio foi elaborado para a disciplina de Bioética Ambiental e teve como referência os seguinte material:
FISCHER M.L.; MOLINARI, R. B. Bioética ambiental: a retomada do cunho ecológico da bioética. in SGANZERLA, A. SCHRAMM F.R. (Org). Fundamentos da Bioética. Série Bioética vol. 3 Curitiba: CRV, 2016 p. 233-253.
SGANZERLA, A.; ZANELLA, D. C.; GRAESER, V. Potter e o equilíbrio do ecossistema como fundamento da moral e da bioética. Revista Ibero-americana de Bioética, Vol. 17, 2021, p. 01- 13
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Mudanças climáticas e disponibilidade de recursos hídricos: reflexão bioética a partir do princípio da não mercantilização



Série Ensaios: Bioética Ambiental


Por Marcos Bogado Barboza e Vinicius José de Lima

mestrandos em Bioética

Durante um bom período, quando se falava em água, muitas pessoas a pensavam do ponto de vista da sua abundância, embora já existisse escassez desse recurso em muitas partes do mundo. Contudo, principalmente nos últimos anos, vemos a crescente discussão sobre a escassez de água. Nos últimos anos, o Brasil tem passado por uma crise hídrica, o que faz com que as discussões sobre a falta de água venham à tona. De acordo com pesquisadores, essa crise hídrica se deve a dois fatores, primeiro à má gestão pública dos recursos hídricos, segundo às mudanças climáticas. Do ponto de vista de uma má gestão dos recursos hídricos, pesquisadores indicam que o Brasil precisa aprender a melhor utilizar a água disponível em seu território. Os cientistas indicam a necessidade de se formular um plano de gestão dos recursos hídricos a ponto de utilizar as diversas fontes de água de maneira sustentável. Um sinal dessa má administração está no fato de mesmo com a crise hídrica, o Brasil perde em média 40% do recurso tratado devido à má conservação dos canais que conduzem a água até às pessoas. Estudiosos apontam para a necessidade de se investir em pesquisa para se descobrir meio de superar o impacto dessa crise hídrica na sociedade, descobrindo outros meios de se utilizar esses recursos.
Com efeito, a crise hídrica no Brasil não é apenas um fator gerado pela má gestão dos recursos. As mudanças climáticas, relacionadas ao aquecimento global, incidem diretamente nesse quadro crítico da crise hídrica, dando seus sinais por meio de secas prolongadas. Além disso, o desmatamento na  
Amazônia tem alterado o fluxo de chuvas no Brasil. “Isso acontece por causa de um fenômeno chamado de rios voadores, em que a umidade proveniente da transpiração das árvores da Amazônia é carregada pelas nuvens para outras regiões do país e até para algumas cidades da América do Sul – como uma bomba de água que abastece o Centro-oeste e o Sudeste do Brasil, região mais afetada pela atual crise hídrica” (https://www.dw.com/pt-br/a-crise-h%C3%ADdrica-no-brasil-%C3%A9-uma-crise-mundial-alertam-cientistas/a-60077325).
Fato é que a água é um bem valioso e necessário à vida, seja ela humana, animal e vegetal. Diante da escassez de água, a vida desses seres que necessitam dela para a sua sobrevivência encontra-se em estado de vulnerabilidade. Ao pensar a dimensão, sobretudo da segunda causa apontada para a crise hídrica, é possível afirmar que não só os seres vivos que necessitam da água estão vulneráveis, mas a própria natureza, haja vista que a ação humana sobre o meio ambiente acarreta consequências não somente para ele, mas para toda a biosfera. Assim, ao mesmo tempo que a vida humana é vulnerável, nesse contexto ela é também o agente moral que gera essa vulnerabilidade. Outra questão que também se desponta é a mercantilização da água. Recentemente, matérias vinculadas em diversos noticiários indicaram que os recursos hídricos começaram a ser negociados na Bolsa de Valores de Nova York. A proposta é que se possa investir em contratos que garantam o uso da água em momentos de seca.
Com efeito, essa ação faz com que a água se torne um bem econômico, cujo qual quanto mais escassa mais valiosa ficará. Dito de outro modo, o que se pretende é a apropriação privada fazendo com que o acesso a esse recurso natural seja somente direito de algumas pessoas, o que potencializa as situações de vulnerabilidades e a sustentabilidade dos recursos hídricos.
Ora, é moralmente válido que a água seja mercantilizada, principalmente em um contexto de crise hídrica? Quando se trata da mercantilização há sempre o risco de que se potencialize os fatores de vulnerabilidade, pois aprofunda as desigualdades à medida que nem todos conseguem ter as mesmas condições de posse. Partindo de uma concepção de que a água é um recurso natural, necessário à vida humana, animal e vegetal, não se pode admitir que esse recurso se torne um bem econômico do qual alguns podem ter posse sobre ele ao passo que outros não. Assim, o princípio bioético de não-mercantilização se desponta como referencial ético ao dilema apresentado. Além disso, uma administração correta dos recursos hídricos se apresenta como solução à esse dilema, pois é um modo de garantir o acesso democrático à água.
Assim, é possível afirmar que as mudanças climáticas incidem diretamente sobre a vida, uma vez que influenciam na disponibilidade da água, um recurso fundamental para a subsistência dos seres. Diante disso, nós como futuros bioeticistas consideramos que se faz necessária a reflexão de como o ser humano pode colaborar para a redução desses efeitos, bem como a necessidade de utilizar a água de modo responsável. Isso tudo não apenas para o seu próprio bem, mas para o bem vida de todos os seres. Por fim, a via de mercantilizar a água não se apresenta como a solução mais adequada à problemática da escassez de recursos hídricos.

Por que é anormal ser anormal?

 

Série Ensaios: Sociobiologia




por Flávia Camargo Cabral, Gabriela Meissner, Letícia Correa Marcondes, Maria Thereza Terras Pinto, Mariana Volpi Pospissil, Wilian Felipe Bugnhaki;
 Acadêmicos dos cursos de Biologia e Enfermagem.



No dia 6 de fevereiro de 2022, foi publicado no site g1.globo.com uma matéria com o título “Pessoas com deficiência são vítimas de ataques de ódio nas redes sociais”. Nessa reportagem sobre preconceito, foram relatadas três histórias sobre ataques virtuais contra pessoas portadoras de deficiência. Uma delas foi contra um menino de três anos, com Síndrome de Down. A segunda é de duas irmãs, onde uma delas tem uma síndrome rara que altera a formação dos ossos da face. Por fim, a terceira história relatada é de uma mulher cadeirante.
O Preconceito é um comportamento que está cada vez mais sendo noticiado e podemos observar esse comportamento não somente nas pessoas como também na natureza, onde os animais tendem a se agrupar com os indivíduos semelhantes e afastar aqueles que são diferentes. Isso ocorre na tentativa de manter a integridade do próprio grupo, seja por um indivíduo deficiente deixar o grupo mais vulnerável ou por poder transmitir alguma doença aos outros componentes do grupo.
Os exemplos de preconceito na natureza são vários, mas vamos demonstrar alguns desses comportamentos já observados em animais sociais, como os humanos. Um dos casos trata do preconceito e aversão a indivíduos doentes em colônias de abelhas. Infecções como a cria pútrida americana em larvas geram a liberação de substâncias químicas, como ácido oleico e β-ocimeno, que são detectadas por abelhas que retiram as larvas da colônia, segundo Alison McAfee, pós-doutoranda do departamento de Entomologia e Patologia Vegetal da Universidade Estadual da Carolina do Norte.
Outro exemplo de preconceito com doentes foi observado por Jane Goodall em 1966 quando estudava chimpanzés no Parque Nacional Gombe Stream. Um dos chimpanzés, chamado McGregor, apresentava poliomielite e foi atacado e expulso do grupo por outros chimpanzés, além de ter sido rejeitado em tentativas de contato com membros do grupo. Foram observados outros indivíduos doentes que foram excluídos, mas alguns indivíduos infectados com poliomielite eram aceitos novamente no grupo. Algumas pesquisas afirmam que os chimpanzés demonstram medo e nojo pela desfiguração causada pela poliomielite, sendo, então, a visão é o sentido responsável por detectar a presença da doença nos chimpanzés.
Outro caso de preconceito é o infanticídio de um filhote de chimpanzé na reserva florestal Budongo, na Uganda, relatado por cientistas suecos da Universidade de Zurique. O motivo do assassinato foi o albinismo apresentado pelo filhote. Não havia deformações, o grupo de chimpanzés não estava em disputa com grupos rivais e o jovem não demandava maiores cuidados pela mãe, além do que já é esperado para um filhote saudável. Sendo, portanto, apenas um preconceito racial e estético, como visto em humanos. O infanticídio pode ter sido causado por simples estranheza na aparência do filhote ou por terem confundido o mesmo com indivíduos da espécie Colobus guereza, de coloração preta e branca.
Assim, nos componentes biológicos desse comportamento, é possível observar que morfologicamente os indivíduos de um grupo expressam uma reação de espanto, ao ver algum organismo da mesma espécie que seja diferente dele, esse comportamento pode ser devido ao medo do diferente, gerando uma cascata metabólica que altera fisiologicamente o animal, gerando seu afastamento e repulsa sobre o indivíduo estranho do grupo, sendo uma reação selecionada pela evolução, dificultando por exemplo a contaminação com agentes infecciosos. Outra explicação seria a sensação de ameaça, visto que o cérebro do animal pode entender que o outro indivíduo não é da mesma espécie ou possui alguma característica que pode trazer risco a saúde e integridade do animal. Quando o animal se sente ameaçado sabemos que diversas reações acontecem em seu sistema nervoso. Já a visão e o olfato são sentidos muito envolvidos no desencadeamento do comportamento de preconceito, visto que o cheiro de um animal doente ou a aparência deformada ou diferente de algum indivíduo do grupo pode levar a aversão, nojo, expulsão do indivíduo do grupo e até agressão e assassinato.
Nos humanos isso não é diferente pois ao nos sentirmos ameaçado, em situação de risco, medo ou estresse nosso organismo ativa um mecanismo que se chama reação de luta e fuga e na presença de estímulos ameaçadores há uma ativação do sistema nervoso simpático que é responsável pela liberação de substâncias importantes para que nosso organismo escolha entre a luta ou a fuga. E essa resposta ao estresse é responsável pela manutenção da vida e é extremamente essencial ao nosso organismo.
E para nós os componentes psicológico, cultural e o aprendizado têm mais importância com relação ao preconceito, visto que atitudes ensinadas e reforçadas durante a infância se tornam normais na vida adulta. Isso ocorre porque temos o contexto social, que têm grande interferência na prática do preconceito, então nos é ensinado, se não pelos pais, pela sociedade, que praticar preconceito é errado, e que em uma sociedade diversificada nós devemos aceitar as diferenças dos outros indivíduos. A moral, presente nas sociedades humanas, não é vista na natureza. Quando um indivíduo é expulso do grupo por ser diferente ou estar doente não existe empatia pelos outros membros, não se tem a noção do que seria certo ou errado, mas sim o que é instintivo e o que beneficia o grupo como um todo, independente dos males causados a um ou alguns membros desse bando.

Como contexto etológico, é possível observar que em outras espécies o preconceito também ocorre para garantir a integridade do grupo. Isso ocorre em colmeias de abelhas, onde os indivíduos que estão contaminados com uma doença bacteriana são removidos da colônia para não contaminarem os outros indivíduos. Nós, quando pegamos poliomielite, também desenvolvemos deficiências físicas devido ao comprometimento de neurônios motores. Esse comprometimento acometido por uma doença pode ser uma das explicações para o preconceito associado a pessoas com deficiência física.
Outro fator evolutivo, é que animais no ambiente natural ficam expostos à predadores, mas em grupo eles conseguem garantir a sua sobrevivência. Porém, grupos que possuem indivíduos com deficiência física, precisam depositar um cuidado maior sobre esse indivíduo que é mais vulnerável, fazendo com que o grupo todo se torne mais vulnerável, então é muito comum no reino animal o sacrifício ou abandono de filhotes mais fracos ou com deficiência. Essa pode ser mais uma explicação para o preconceito e isolamento contra os indivíduos portadores de deficiência física na nossa sociedade atual.
Nós como futuros Biólogos e Enfermeiros acreditamos que o comportamento animal é moldado por instinto, reflexo e aprendizagem. A aversão a certas aparências, por exemplo, foi muito importante para a sobrevivência das espécies, evitando a contaminação de todos os membros do grupo com alguma deficiência e que possuíam sentidos mais aguçados para essas situações, foi perpetuado pelas gerações e é mantido até hoje em várias espécies de animais, até invertebrados, como no caso das abelhas já citadas no texto. Entretanto, os humanos instituíram a moral e possuem consciência dos seus atos, sabendo quando suas atitudes prejudicam outras pessoas.
Logo, apesar do preconceito ser natural e estar presente em várias espécies, nas sociedades humanas ele deve ser repreendido, devido aos prejuízos que causa nos indivíduos que sofrem preconceito. Além disso, diferente de outros animais, possuímos tecnologias capazes de resolver certos problemas, como a criação de vacinas e medicamentos para evitar determinadas doenças e tratar certas patologias, evitando que elas se espalhem pela população.
Além disso, atualmente sabe-se que possuir uma deficiência não é algo que representa perigo a vida das outras pessoas, algo que, séculos atrás era tido como verdade, e, por isso muitas sociedades humanas da antiguidade excluíam ou sacrificavam pessoas portadoras de deficiência, acreditando que estas poderiam transmitir a deficiência, ou que simbolizavam azar ou trariam energias negativas. Pensamento que hoje não faz sentido, e que deve ser punido, pois a diversidade de cada um deve ser respeitada para que possamos viver harmoniosamente em sociedade.


O Presente ensaio foi elaborado para disciplina Biologia e Evolução do Comportamento Animal tendo como base as obras:

Chimpanzé albino é linchado e morto em infanticídio inédito; veja vídeo. Disponível em: <https://etosocio.com/comportamento-animal/infanticidio/>. Acesso em: 18 out. 2022
Disciplinas Fisiologia Veterinária I e II Universidade Federal Fluminense. Disponível em: <http://fisiovet.uff.br/sistema-nervoso/>.
O que é síndrome de Down. Disponível em: <http://www.movimentodown.org.br/sindrome-de-down/o-que-e/>.
Preconceito: o que é, quais os tipos, como existe no Brasil e mais! Disponível em: <https://www.stoodi.com.br/blog/portugues/preconceito/#:~:text=tipos%20de%20preconceito.->. Acesso em: 1 nov. 2022.







Incêndios devido a eventos climáticos extremos são um problema para a sobrevivência do planeta

 Série Ensaios: Bioética Ambiental

Por Renzo Di Siervi

Dentista



Em 23 de fevereiro de 2022, o jornal La Vanguardia informou que é esperado um aumento global de incêndios extremos de até 14% até 2030, 30% até 2050 e 50% até o final do século. Eventos climáticos extremos podem ter um enorme impacto na sociedade. Calor e chuvas recordes, incêndios devastadores e secas severas estão entre os eventos climáticos, climáticos e hídricos extremos com impactos humanos, econômicos e ambientais que apareceram nas capas da mídia em todo o mundo, principalmente em tempos recentes. De acordo com análises independentes da NASA e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), a temperatura média global da superfície da Terra em 2021 empatou com a de 2018 como a sexta mais quente já registrada. Continuando a tendência de aquecimento de longo prazo do planeta, as temperaturas globais em 2021 ficaram 0,85 graus Celsius acima da média do período de referência da NASA, de acordo com cientistas do Goddard Institute for Space Studies (GISS). 

A NASA usa o período 1951-1980 como linha de base, ou referência, para ver como a temperatura global muda ao longo do tempo. Juntos, os últimos oito anos são os oito mais quentes desde que os registros modernos começaram em 1880. Esses dados anuais de temperatura compõem o registro da temperatura global, informando aos cientistas que o planeta está aquecendo. De acordo com o registro de temperatura da NASA, a Terra em 2021 estava cerca de 1,1 graus Celsius mais quente que a média no final do século 19, o início da revolução industrial.  A mudança climática é uma ameaça séria e crescente ao nosso bem-estar e à saúde do planeta. Segundo o sexto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), está alterando a natureza de forma perigosa e generalizada, além de afetar a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo, apesar das medidas tomadas para reduzir os riscos.  Conforme indicado no relatório sobre as bases físicas das mudanças climáticas elaborado pelo Grupo de Trabalho I do IPCC, o número de eventos extremos atinge valores nunca antes observados e aumentará à medida que o aquecimento global aumentar. Cada décimo de grau importa.  O relatório também observa que as mudanças climáticas causadas por atividades humanas já estão influenciando muitos eventos climáticos e climáticos extremos em todas as regiões do mundo. Desde que o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC foi publicado em 2014, ficou cada vez mais claro que eventos extremos (como ondas de calor, eventos de precipitação intensa, secas e ciclones tropicais) estão mudando, e que essa evolução se deve à influência humana.  Essa situação está se agravando gradativamente, gerando incêndios nos países centrais e periféricos, principalmente incêndios florestais causados ​​por negligência humana ou por fenômenos naturais favorecidos por um ambiente mais quente e seco, com clara incidência de seres humanos.  É por isso que Potter desde a década de 1970 tem se preocupado com a bioética como um campo de conhecimento voltado para o estudo da sobrevivência da civilização humana no contexto da sobrevivência de todo o planeta, buscando superar a dicotomia entre os extremos do antropocentrismo e o bioecocentrismo que dominou as ciências médicas e a ética ambiental

Na última década do século XX, encontrou-se um ponto comum entre as duas culturas, sendo este aspecto a crise ambiental total. A crise tem duas partes: a primeira é aquela que implica a destruição de muitas espécies de plantas e animais, bem como a perda de vários ecossistemas; a segunda é a ameaça à segurança da cultura humana. Cientistas, historiadores e pesquisadores de todas as disciplinas estão se unindo para encontrar a resposta para a crise. Para Potter, essa crise é claramente global por natureza, afetando não apenas os indivíduos e a sociedade, mas também o meio ambiente.
Isso coloca um grande problema ético, pois a ação do homem está produzindo a destruição de grandes territórios naturais, que abrigam flora e fauna muito diversificadas, que levarão muitos anos para alcançar um ecossistema sustentável que permita o retorno de toda a flora e fauna. vida selvagem perdida.
Entendindo al Princípio da justiça restitutiva como el que Ordena restituir ao animal ou ao ecossistema natural as condições nas quais tinha oportunidade de desenvolver-se plenamente. Tal prática restabelece o equilíbrio na balança da justiça.
Da mesma forma, a declaração de bioética e direitos humanos da UNESCO em 2005 afirma em seu artigo 17, "Proteção do meio ambiente, da biosfera e da biodiversidade: a interconexão entre os seres humanos e outros modos de vida, a importância do acesso adequado e uso de recursos biológicos e genéticos, o respeito ao conhecimento tradicional e o papel do ser humano na proteção do meio ambiente, da biosfera e da biodiversidade”. Unesco, 2005.
A própria declaração nos deixa claro que a responsabilidade é dos Estados, empresas e indivíduos individualmente, sendo esta declaração um documento essencial para estabelecer princípios universais que servem de base para uma resposta da humanidade aos dilemas e controvérsias que são cada vez mais numerosos que a ciência e a tecnologia representam para a espécie humana e para o meio ambiente.

Essas situações que vivenciaremos com mais frequência no futuro são de responsabilidade da ação do ser humano e do sistema capitalista que se impôs como modelo econômico e de desenvolvimento, deixando o meio ambiente relegado a um simples papel de provedor de recursos para o uso do ser humano, com uma visão totalmente antropológica.
Programas nacionais e também internacionais devem ser criados, pois vivemos em um mundo totalmente globalizado que nos coloca na obrigação de abordar essas questões de uma perspectiva global. É necessário aplicar o princípio da justiça restaurativa no momento de planejar e lidar com as consequências causadas por esses eventos extremos. O retorno de lares perdidos por humanos, animais e flora deve estar no centro dos debates.
Vivemos em um mundo globalizado, com pluralismo filosófico e princípios universalmente aceitos, como o fundamento dos direitos humanos e da democracia, a dignidade é considerada um elemento fundamental quando se trata de diálogos no âmbito da saúde global.
A bioética como defensora da dignidade humana, dos direitos humanos e da saúde planetária no quadro da saúde global tem um papel muito importante, podendo ser uma referência teórica e prática fundamental para marcar essa discussão, como mediadora do diálogo. Dessa forma, poderia mediar os conflitos e dilemas morais que emergem da vida humana, bem como de todos os seres vivos e do planeta.
Com seus princípios, interdisciplinaridade, busca pelo diálogo e construção de possíveis acordos e solidariedade, pode contribuir para o desenvolvimento de parâmetros éticos que sustentem as conceituações de saúde global, além de servir de instrumento para questionar os valores e princípios éticos que orientam a saúde. a práxis da saúde global.
Esses espaços globais de diálogo devem ser espaços onde se possa avançar na criação de uma sociedade que supere o modelo capitalista, predatório, que destrói o ecossistema e que está nos deixando com um mundo destruído, pensando a saúde como um campo social e político, onde a única forma de progredir na saúde é melhorando as condições de vida.
Eu como futuro bioeticista acredito que A bioética tem um papel central a desempenhar nos diálogos globais que permitem uma mudança a nível planetário do sistema em que vivemos. Procura-se um modelo que permita o desenvolvimento harmonioso de todos os seres que habitam a terra, sem pensar no ser humano como um ser superior com direito a apropriar-se indiscriminadamente de todos os recursos. O princípio da justiça restaurativa é uma alternativa válida atualmente para a elaboração de políticas e programas que abordem o problema.



Este ensaio foi elaborado para disciplina de Fundamentos da Bioética Ambiental se baseando nas seguintes obras:

Fischer, M. L., Cunha, T., Renk, V., Sganzerla, A., & Santos, J. Z. dos. (2017). Da ética ambiental à bioética ambiental: Antecedentes, trajetórias e perspectivas. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 24(2), 391-409. https://doi.org/10.1590/s0104-59702017000200005

Fischer, M. L., Parolin, L. C., Vieira, T. B., & Garbado, F. R. A. (2017). Bioética Ambiental e Educação Ambiental: Levantando a reflexão a partir da percepção. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), 12(1), Art. 1. https://doi.org/10.34024/revbea.2017.v12.2271

Junges, J. R. (2014). Bioética e Meio Ambiente num Contexto de América Latina Bioethics and Environment in a Context of Latin America. 7.

Márquez Vargas, F. (2021). Bioética ambiental en perspectiva latinoamericana. Revista Latinoamericana de Bioética, 20(2), 55-73. https://doi.org/10.18359/rlbi.4910

Mudanças Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade. IPCC, 2022. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-report-working-group-ii/. Acesso em: 30 oct. 2022.

A preferência por animais de companhia substituindo a maternidade

 Série Ensaios: Sociobiologia


Por Ana Julia, Beatriz Duarte Rangel, Eduardo Salgado Boza, Luiza Valeria Veiga de Moraes e Mirelle Nunes Hein

Acadêmicos de Biologia e Medicina Veterinária



O comportamento de adotar um animal de outra espécie pode ser encontrado tanto no reino animal quanto na realidade dos seres humanos. A notícia publicada pelo UOL, intitulada “Cadela adota filhote de gato após perder a própria cria: “eles querem e dão amor incondicional”, mostra uma cadela que ao chegar em um abrigo, depois de perder seu filhote, acabou adotando três gatinhos que foram levados ao abrigo logo em seguida. O abrigo Jelly’s Place acolheu esses três gatos que perderam a mãe e precisavam que eles se alimentassem por meio da amamentação e que fossem cuidados, portanto a ideia foi juntar os felinos com uma cadela que havia perdido a sua prole recentemente e acabou dando certo quando perceberam que o cão havia adotado os gatos. De acordo com a bióloga Maria Adélia de Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco, “quando fêmeas ficam muito fragilizadas pela perda repentina da prole, podem confundir os sinais de um bicho de outra espécie com os de seus filhotes”, isso acontece pelo desequilíbrio hormonal que é causado.

Durante a gestação e o parto existem diversas mudanças hormonais com o propósito de condicionar o comportamento materno na fêmea, um desse hormônios é a ocitocina, que atua na contração uterina, produção de leite, reconhecimento de elementos do grupo, ligações entre a mãe e o filhote, entre outros (HEON et al., 2009). Portanto, como esse hormônio ainda está em uma grande quantidade no corpo da cadela mesmo tendo perdido o filhote, isso explica a ligação afetiva com filhotes de outra espécie.

Em uma publicação feita pela revista Veja, foi divulgada uma análise desenvolvida por cientistas americanos, comparando a ativação de determinadas estruturas cerebrais em mulheres quando veem uma imagem de seus filhos e outra de seus cães. Além de vários estudos terem anteriormente apontado que animais de estimação contribuem para um bem-estar maior das pessoas, físico, emocional e social, pesquisas também apontaram que após interagirem com um pet, as pessoas apresentaram mudanças no seu condicionamento biológico também, com um aumento do nível de produção de ocitocina, hormônio relacionado com a ligação materna.

Tendo esses conhecimentos em mente, a pesquisa foi realizada com quatorze mulheres, com filhos de idades entre os 2 e os 10 anos e que tenham um cão há pelo menos dois anos. O estudo começou com os pesquisadores primeiramente perguntando sobre o relacionamento que tinham com os filhos e animais e depois fotografaram estes. Foram feitos então exames de ressonância magnética nessas mulheres, sendo analisadas suas atividades cerebrais enquanto elas viam imagens de seus filhos e cães. Os resultados das mulheres mostraram semelhanças, com aumento da atividade tanto ao ver imagens dos filhos como dos animais em áreas relacionadas a funções de emoção, recompensa, afiliação, processamento visual e interação social. A região associada à formação de vínculos, mostrou-se ativa apenas quando visualizava a imagem do filho, já a área do giro fusiforme (área que promove reconhecimento facial) teve resposta maior com a imagem dos cães.

Demonstrando que determinada região do cérebro é importante para ativar o estímulo de visualizar a imagem do filho e do cão, é necessário que essas pesquisas se aprofundem com um maior número de pessoas, em diferentes populações, incluindo testes em mulheres sem filhos, homens com filhos, pais com crianças adotadas, e em diferentes espécies de animais de estimação.


Um componente etológico presente seria após o nascimento de um descendente certos animais possuírem o hábito de cuidar deles e supervisioná-los, a partir do cuidado parental. Isso gera tanto benefícios para a evolução desses animais (vantagens quanto à sobrevivência do grupo) quanto custos (mortalidade parental podendo aumentar). Com isso em mente, seres vivos precisam escolher quando e quanto de cuidado eles oferecem para a prole. Em relação ao componente evolutivo, o amor e cuidado parental surgem em aves e mamíferos junto com a
endotermia, fazendo com que os genitores comecem a ter um contato maior com a prole para mantê-los vivos, trazendo um sentimento positivo por meio da endorfina. Posteriormente, isso acaba condicionando a vontade de cuidar de um filhote quando ele é visto. Em outros casos, os animais percebem que a sobrevivência da prole seria improvável, e começam a reduzir ou interromper seus investimentos em cima do filhote para poder dar esses recursos para outro mais atual e viável (ALCOCK et al., 2011).

Segundo Alcock et al. (2011), antigamente os humanos não acreditavam que iriam ter uma vida muito longa, portanto tiveram adaptações para a espécies gastar todos os seus recursos de uma vez para conseguir ter uma maior quantidade de filhos assim que possível, isso estaria diretamente relacionado ao componente biológico do comportamento parental.

Uma matéria (AGÊNCIA, 2009) que demonstrou a preferência de pessoas adotarem animais de estimação invés de terem filhos seria do site Bem Paraná. Nessa matéria a entrevistada, chamada Flávia Castanheira, de 44 anos, falou: “Criança você não cria, educa. Eles aprendem mais vendo o que as pessoas fazem do que pelo o que você fala. Você não tem controle. A verdade é que não sinto falta de ter um filho, mas se tirar um dos meus cães não suportaria”. Nisso se pode observar que uma das razões de não possuírem filhos seria seu medo em cima da maternidade. Segundo uma matéria veiculada na revista Hoje, uma pesquisa realizada pela Comissão de Animais de Companhia (COMAC) do Sindicato da Indústria de produtos para Saúde Animal (SINDAN) e a Radar Pet em 2021 indicaram que das famílias que possuíam cães, 21% eram de casais sem filhos, 9% de pessoas que moram sozinhas e 65% de famílias com filhos.

Para a socióloga Dilze Percílio , o fato de famílias optarem por ter apenas pets em casa pode ser explicado pela questão econômica dos casais, que muitas vezes os impedem de estarem estáveis o suficiente para terem seus próprios bebês e poderem suprir todas as suas necessidades básicas. Também ocorreu a mudança do estilo de vida dos seres humanos, os quais antigamente eram majoritariamente rurais e dependiam da contribuição do trabalho dos filhos para que pudessem se sustentar, agora se urbanizaram e essa contribuição passou a ser desnecessária e os filhos mais caros, enquanto animais de estimação são uma opção mais barata.


Cabe ressaltar que a
responsabilidade de adotar um animal é muito grande, ela não se restringe a apenas decidir adotar e sim no comprometimento de criar um ambiente que forneça bem-estar, alimentação de qualidade, vacinação e momentos de lazer. Portanto, apenas gostar de animais não é razão suficiente, é importante lembrar que por mais que seja uma espécie diferente, ainda é uma vida.

Nós como futuros biólogos e médicos veterinários acreditamos que em certos casos, possíveis mulheres que querem ser mães, escolhem ter um pet invés de um filho acreditando ser algo mais simples e que não impõe tantos problemas. Porém adotar um animal precisa de comprometimento e responsabilidade, assim como no caso de um filho. Um desses comprometimentos é em relação a necessidade de dar a esse filho/pet necessidades para sua sobrevivência. Além disso, há situações em que as mães teriam os filhos, porém sua ocitocina estaria baixa no momento ou até não foi liberada ainda, se desapegando do filho facilmente. Pois é esse hormônio da ocitocina que acaba aumentando a vontade da mãe de manter o seu filho. Todos esses fatores devem ser considerados tanto no momento de adoção de um filhote, quanto na decisão de se tornar mãe.





O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Biologia e Evolução do Comportamento Animal tendo como base as obras:



ADIMAX, Indústria e Comércio de Alimentos, 2021. Posse responsável de animais - Entenda esse conceito. Disponível em: Link. Último acesso em: 11 de novembro de 2022.
AGÊNCIA ESTADO. 2009. Em vez de filhos, casais preferem ter bichos: A ideia de não ter filhos já é realidade para muitos casais. Disponível em: Link. Último acesso em: 11 novembro de 2022.
ALCOCK, J. 2011. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. Porto Alegre: Artmed Grupo A. Disponível em: Link. Último acesso em: 13 de outubro de 2022.
DA REDAÇÃO. Animais adotam? 2016. Disponível em: Link. Último acesso em: 7 de outubro de 2022.

HEIDEN J. & SANTOS, W. 2012. BENEFÍCIOS PSICOLÓGICOS DA CONVIVÊNCIA COM ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO PARA OS IDOSOS. ÁGORA: Revista de divulgação científica v. 16, n. 2(A), Número Especial: I Seminário Integrado de Pesquisa e Extensão Universitária.

HEON, J. L. et al. 2009. Oxytocin: the great facilitator of life. Prog Neurobiol. v. 2, p. 127-151.

IBGE, 2022. População rural e urbana. Disponível em Link. Último acesso em: 11 de novembro de 2022.

NASCIMENTO, P. S. Endotermia. InfoEscola. Disponível em: Link. Último acesso em: 11 de novembro de 2022.

REDAÇÃO PAIS&FILHOS. 2022 Cadela adota filhote de gato ápos perder a própria cria: “Eles querem e dão amor incondicional”. Disponível em:Link. Último acesso em: 7 de outubro de 2022.

VEJA.ABRIL. 2014. Seu pet é como um filho pra você? Estudo explica por quê. Disponível em: Link. Último acesso em: 12 de outubro de 2022.
VILELA, S. 2022. Casais preferem adotar pets em vez de ter filhos: Falta de estabilidade financeira e preocupação com emprego são alguns dos motivos que levam casais a adotarem pets. Ohoje. Disponível em: Link. Último acesso em 13 de outubro de 2022.  

Vulnerabilidade Ambiental Evidenciada por Ondas de Calor Extremo Série Ensaios: Bioética Ambiental

Série Ensaios: Bioética Ambiental


Por Eliana Benatti e Isabella Sassaki Ricca

Mestrandas em Bioética





Em 24 de agosto de 2022, Carolina Fioratti publicou no site da UOL uma reportagem sobre o calor mais severo do planeta, onde foram registradas temperaturas de 45°C na China. As temperaturas extremas são reflexos de um desequilíbrio ambiental previsto por cientistas há alguns anos, o que evidenciou a vulnerabilidade ambiental. Essa mudança climática fez dezenas de rios secarem na China, o que prejudicou o fornecimento de energia através de hidrelétricas. O país que prometeu neutralizar a produção de carbono até 2060 se viu obrigado a usar carvão para evitar um prejuízo energético maior. A China também evidenciou a vulnerabilidade na produção de alimentos, devido a perda da produção causada pelo calor extremo.

Mas afinal, o que são as mudanças climáticas? As mudanças climáticas são alterações, a longo prazo, do clima e temperatura do planeta e são atribuídas a atividades humanas como:

1- O consumo desenfreado de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e o gás natural) liberam o dióxido de carbono (CO2) fazendo com que a quantidade de gases na atmosfera esteja acima do ideal e é responsável por 70% do aquecimento global causando o efeito estufa.

2- A agricultura, a produção animal e os aterros sanitários liberam o metano, que tem o potencial de aquecimento 20 vezes maior que o CO2.

3- A produção de aerossóis, plásticos e equipamentos de refrigeração liberam o óxido nitroso e clorofluorcarbonos que mesmo em uma quantidade muito menor na atmosfera possui poder de reter calor 310 a 7.100 x maior que o CO2.

4- O desmatamento, pois as florestas e os ecossistemas naturais são grandes reservatórios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2.


Os gases CO2, metano, oxido nitroso e clorofluorcarbonos contribuem para a destruição da camada de ozônio, responsável por filtrar os raios ultravioleta e impedir que atinjam a superfície terrestre. Estima-se que no último século as temperaturas tenham se elevado em uma média de 0,7ºC e que no próximo século as elevações térmicas irão oscilar entre 1,6ºC e 4ºC. O principal ator responsável pelo aumento da temperatura do planeta, e alterações climáticas, é o ser humano. É, também, o maior prejudicado, além do meio ambiente. Entre os países responsáveis pela maior liberação de gases de efeito estufa (GEE) na atualidade, estão Estados Unidos, China e Índia. Historicamente, os Estados Unidos emitiu ¼ de todo o CO2 desde 1850. A contribuição do Brasil para o aumento da temperatura global está no desmatamento e uso do solo com a agropecuária. As consequências do aumento da temperatura global incluem eventos climáticos extremos: secas intensas, escassez de água, incêndios severos, inundações, tempestades tropicais, tsunamis, tornados, nevascas, furacões, derretimento das calotas polares com aumento do nível do mar, podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litorâneas. Esses eventos podem causar o declínio da biodiversidade, podendo ocasionar extinção de espécies animais e de plantas. As temperaturas extremas podem afetar nossa saúde, a capacidade de cultivar alimentos, a habitação, a segurança e o trabalho; comprovando que os seres humanos, assim como o meio ambiente, também são vulneráveis. Em 1979, Tom Beauchamp e James Childress apresentam, pela primeira, vez o princípio bioético da Justiça. Entende-se por justiça distributiva a distribuição justa, equitativa e apropriada na sociedade, de acordo com normas que estruturam os termos da cooperação social. De acordo com tal perspectiva, uma situação de justiça estará presente nesse cenário, podendo apontar soluções que sejam justas para todos os atores envolvidos, diminuindo as vulnerabilidades provocadas pelas mudanças climáticas.


O princípio da justiça restitutiva ordena devolver ao ecossistema as condições para se desenvolver plenamente, restabelecendo o equilíbrio. Existem várias maneiras de reduzir as emissões dos gases de efeito estufa e os efeitos no aquecimento global. Três categorias de ação são:

1- Redução das emissões de GEE (diminuir o desmatamento, reflorestamento, uso de energias renováveis como a solar e eólica, preferir biocombustíveis - etanol, biodiesel - a combustíveis fósseis, eficiência energética, reciclar materiais, melhorar o transporte público)

2- Adaptação aos impactos climáticos (transformações arquitetônicas, de engenharia, adaptação por ecossistemas, sistemas de alerta de catástrofes precoce)

3- Financiamento dos ajustes necessários (os países industrializados se comprometeram a fornecer 100 bilhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento para que possam se adaptar e avançar em direção a economias mais verdes – Acordo de Paris)

A primeira Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) que ocorreu em 1992 durante a Eco 92 no Rio de Janeiro, onde 175 países assinaram e ratificaram o texto reconhecendo a necessidade de um esforço global para o enfrentamento das questões climáticas. Desde então, as nações estipularam metas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa – principalmente o dióxido de carbono. As principais metas do governo brasileiro são: aumentar o uso de fontes alternativas de energia; aumentar a participação de bioenergias sustentáveis na matriz energética brasileira para 18% até 2030; utilizar tecnologias limpas nas indústrias; melhorar a infraestrutura dos transportes; diminuir o desmatamento; restaurar e reflorestar até 12 milhões de hectares. A Terra é um sistema, onde tudo está conectado, mudanças em uma área podem influenciar mudanças em todas as outras. Limitar o aumento da temperatura global a não mais que 1,5°C nos ajudaria a evitar os piores impactos climáticos e a manter um clima habitável e um ambiente saudável.
  Nós como futuras bioeticistas acreditamos que a Terra é um sistema, onde tudo está conectado, mudanças em uma área podem influenciar mudanças em todas as outras. Limitar o aumento da temperatura global a não mais que 1,5°C nos ajudaria a evitar os piores impactos climáticos e a manter um clima habitável e um ambiente saudável


O presente ensaio foi elaborado para a disciplina Bioética Ambiental, tendo como referência os sites:






http://www.bioetica.org.br/?siteAcao=BioeticaParaIniciantes&id=25

Agressividade é um instinto ou um comportamento adquirido durante a vida?



Série ensaios: Sociobiologia

Por: Jaqueline Kliemke Carneiro, Kauane Caroline Ferreira, Maria Eduarda Behrens de Oliveira Viana.

Graduandas de ciências biológicas







A primeira notícia a ser abordada será a da guerra por território que está ocorrendo na Ucrânia, onde a Rússia a invadiu para anexar territórios do país. Putin, quer impedir que a Ucrânia se torne membro ativo da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar que visa impedir o poder bélico da antiga URSS (União das Repúblicas Soviéticas) atual Rússia. Podemos supor que este comportamento do líder russo visa a sobrevivência de seu país, onde ele quer impedir que um país que divide fronteira com o seu está perto de se tornar membro de uma organização que visa seu extermínio.

A segunda matéria a ser apresentada será relativa aos dos chimpanzés, onde bandos fizeram guerras e anexaram territórios inimigos. Estudos de 10 anos com chimpanzés em Ngogo, localizado no parque nacional de Uganda, concluíram que primatas possuem comportamento bélico apurado estimulado pelo instinto de sobrevivência. O pesquisador John Mitani e sua equipe reuniram dados e foram seguindo os chimpanzés nos momentos das investidas, onde apontaram 18 ataques fatais no período dessas observações de estudo, que levou ao entendimento que a prática de guerra gerou a então tomada e consequente posse do território vizinho.

Um grupo de machos analisa os limites do território e procura por possíveis indivíduos de outras comunidades, observando em silêncio o topo das árvores. Ao avistar um inimigo, a reação vai depender da avaliação que faz da força inimiga, se for um número menor, os membros que estavam fazendo a ronda se separam e retornam ao território de origem, porém se um único chimpanzé atravessa o caminho deles, o ataque é certeiro. Eles mordem e espancam machos inimigos até a morte, apenas liberam fêmeas, mas os bebês são devorados.

John Mitani e seus colegas de pesquisa concluíram que o objetivo da campanha, que durou 10 anos, foi realmente a captura do território, pois ao ter maior disponibilidade de árvores frutíferas para as fêmeas que se alimentariam melhor, reproduzindo mais rápido, fazendo com que o grupo tenha tendência a crescer mais forte. Sendo herdado esse comportamento porque significa que a seleção natural cunhou o comportamento no circuito neural dos chimpanzés pois ele acaba por promover a sobrevivência.

O presente ensaio tem como objetivo identificar componentes biológicos, etológicos e psicológicos de um comportamento social humano focando em agressividade em relação à territorialidade.

Neste serão apresentadas duas matérias onde o foco principal é a agressividade na territorialidade nestes dois grupos, humanos e chimpanzés, e mostrar coincidência dos atos feitos por animais e humanos.

De acordo com Freud a agressividade é um instinto herdado que é manifestado como um impulso podendo ter uma realização de um comportamento, reproduzindo assim uma tensão crescente que irá ser descarregada por uma ação impulsiva, podendo desta forma ocorrer uma agressão efetiva (SIMANKE, 2014).

Há muitos aspectos em que o comportamento bélico entre grupo de humanos caçadores/coletores se assemelha ao comportamento dos chimpanzés. Ocorrem ataques e emboscadas, onde há poucas mortes de pessoas, porém a partir de conflitos incessantes o número tende a aumentar. O que Wrangham argumenta é que os humanos e chimpanzés teriam herdado uma propensão à territorialidade agressiva a partir de um ancestral comum parecido com o chimpanzé.

Segundo Mendes et al. em seu estudo os principais condicionantes da agressividade no contexto biológico foram: genético (onde houve uma baixa expressão do gene monoaminaoxidase e do gene transportador de serotonina, havendo uma variação nos genes transportadores e receptores de dopamina), durante o desenvolvimento intrauterino houve uma exposição a substâncias como álcool, cocaína e tabaco e nutricionais, como desnutrição infantil.

Em relação aos mecanismos cerebrais podendo gerir uma agressividade, no estudo Agressividade: significado social e psicológico, os autores apontam que em determinadas pessoas, proteínas responsáveis pelos neurotransmissores cerebrais são desativadas em momentos distintos, principalmente pessoas que vivem em ambientes hostis, convivendo com transgressões e violência. Os autores apontam que estes resultados são contraditórios ou não conclusivos.


Eles apresentam pesquisas que aparentam evidências conclusivas de que de fato existe uma grande possibilidade para que determinadas pessoas que convivem em um ambiente violento, e que possuem um perfil genético suscetível a desenvolverem comportamentos agressivos também sejam violentas. Mostrando que estes comportamentos agressivos estão correlacionados com a sociedade em que estão inseridos, de sua estrutura e de seus valores. Dependendo assim das influências sociais, ambientais, genéticas e desenvolvimentais.

Nos estudos de KRISTENSEN, et al. são apontados dois comportamentos que propuseram uma distinção da terminologia etologista em relação ao estudo, estes são: comportamento predatório e comportamento agonístico. Onde o primeiro se caracteriza em ataques entre animais de diferentes espécies em busca de alimento, já o segundo refere-se a comportamento de ameaças e lutas de animais de uma mesma espécie. Assim, a classificação etológica mais assentida é a que divide o comportamento agressivo em: predatório, inter-machos, territorial, defensivo, induzido pelo medo, maternal, irritável e instrumental, sendo que, nos estudos de MOYER (1976), para cada há o controle a partir de substratos neuroanatômicos e neuroquímicos diferentes e até sobrepostos.

Nós como futuras biólogas acreditamos que os comportamentos de agressividade em relação a territorialidade são herdados a partir da associação instintiva dos comportamentos, deste modo se dá há a relevância da continuidade da pesquisa neste campo, buscando a compreensão integral destes comportamentos que possuímos em similaridade com os chimpanzés, pois assim podemos antecipar e assimilar de modo mais eficaz as ações humanas e, por consequência, sermos capazes de alcançar a melhor adaptação. Assim que, a partir da análise das matérias foi possível perceber a correlação da agressividade como comportamento etológico em coexistência com a própria concomitância humana sob o aspecto da agressividade, que se mostra presente não somente no reino animal, mas também no âmbito antropológico.


O presente ensaio foi elaborado para a disciplina Biologia e Evolução do Comportamento Animal tendo como base as seguintes obras:

KRISTENSEN, C; H. et al. Fatores etiológicos da agressão física: uma revisão teórica. Estudos de Psicologia (Natal) [online]. 2003, v. 8, n. 1.

MENDES, D; D. et al. Estudo de revisão dos fatores biológicos, sociais e ambientais associados com o comportamento agressivo. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 2009, v. 31, suppl 2.

SIMANKE, R; T. O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade. Scientiae. São Paulo, v. 12, n. 3, p. 439-64, 2014.




Desafio Contemporâneo: Ser e Viver de Maneira Sustentável


Série Ensaios: Bioética Ambiental

 Por Estela Galvão Alves, Fabiane Olivia Ardenghi e Renato Damasceno Neto

Mestrandos em Bioética


Em 2 de dezembro de 2018, a Folha de São Paulo por meio do site UOL veiculou notícia relativa à realização da COP-24 – Conferência do Clima, organizada pela Organização das Nações Unidas - ONU. A chamada jornalística apresentou algumas inquietações, pois alertou que o evento se iniciava com senso de urgência e tensões políticas. O evento foi programado para ocorrer na cidade polonesa de Katowiceh e os negociadores dos países participantes discutiram a regulamentação do acordado no encontro de Paris, em 2015, que se tornou Lei em 184 países, entre eles o Brasil. A intenção da reunião era tratar do financiamento das ações, transparência e monitoramento dos progressos e atribuição de responsabilidades diferenciadas entre os países, considerando o estágio de desenvolvimento de cada um deles. 

Eventos dessa natureza colocam frente a frente atores diversos, que possuem uma amplitude global, em nível mundial, porém com repercussões nacionais em níveis micro ambientais. São buscadas formas de se ter um desenvolvimento sustentável. 

 

 

Diversos segmentos econômicos são envolvidos, dentre muitos, podemos citar a matriz energética, a indústria, os transportes, o combate ao desmatamento. Destacam-se, em nível global, dois grupos de países: um composto pelos países desenvolvidos (maiores emissores de gases de efeito-estufa) e outro constituído pelos países mais vulneráveis (nações menos desenvolvidas e pequenas ilhas). Há argumentações de ambos os lados. Contudo, constata-se que os resultados práticos desses encontros têm se mostrado ineficazes, pois os compromissos assumidos e as metas pactuadas não são cumpridos por razões de natureza diversas. 

A notícia aponta que o aquecimento global provoca alterações climáticas com impactos desiguais para os países. E aqui podemos citar a Justiça Climática, que evidencia, que as alterações climáticas provocam, para a população mundial, períodos de secas, inundações e outros desastres extremos, que sempre trazem impactos maiores para as populações mais pobres o que amplia as desigualdades sociais. No Brasil, há aumento das doenças cardiorrespiratórias e proliferação de mosquitos da dengue nas últimas seis décadas.

O Acordo de Paris, instituído em 2015 unicamente para fins de redução do aquecimento global, visa proteger a vida que conhecemos e propiciar uma possibilidade de futuro para as gerações vindouras.  

A priori o aumento da temperatura nos níveis estipulados (média global até 2ºC com objetivo específico de 1,5ºC ) pode parecer trivial e irrelevante. Contudo, ao refletirmos os pequenos detalhes em maior escala, visualizamos que esta “singela” mudança acarreta de forma significativa nos impactos ambientais previamente citados. Este avanço a qualquer custo, fruto de uma falsa concepção de que a natureza é infinitamente renovável, extrapola o limite da exploração e respalda as preocupações evidenciadas  na COP24, com previsão de uma COP27 (a ser realizada nos dias 06 a 18 de novembro de 2022) com pouca força para mudança. O evento acontecerá em Sharm El Sheikh, no continente Africano, lugar paradisíaco marcado por receber turistas de altíssima renda em resorts all inclusive, acarretando baixíssimo acesso a ONGs e ativistas com recursos financeiros mais frágeis, mas com potencial para exercer pressão em busca de melhorias climáticas.

Os problemas éticos e os respectivos argumentos

Em detrimento das inúmeras sinalizações climáticas, iniciativas em prol da preservação do meio ambiente têm sido pouco visualizadas. A probabilidade de termos uma elevação superior ao teto protetivo previamente concebido de 1.5ºC continua em ascensão desde 2015. Precisaríamos atingir um limite de emissão de gases até 2020 com redução gradual até ZERO em 2040. Contudo, na contramão surgem grandes nações (incluindo o Brasil) retirando seu apoio ao Acordo em um claríssimo conflito de interesses em que o poderio econômico se mostra imperioso. A queima de matéria prima para produção energética e a degradação florestal mantêm-se apesar das metas de redução total autodeterminadas pelo próprio Brasil. As medidas de redução da eliminação de gases precisariam ser de 3 a 5 vezes maiores para o alcance da meta. 

Princípio da Sustentabilidade

Em 2015, a Organização das Nações Unidas – ONU propôs aos seus países membros uma nova agenda de desenvolvimento sustentável para os próximos 15 anos (2030) composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS.


































A partir dos ODS estrutura-se o princípio da sustentabilidade em três pilares: econômico, social e ambiental. De suas interligações devem surgir ações que conduzam à sustentabilidade.

O quadro abaixo apresenta, em resumo, os agentes, diretos ou indiretos, envolvidos nas Conferências sobre assuntos climáticos e aquecimento global; aponta qual é o lugar de suas participações; as contribuições que são esperadas, seus argumentos e seus valores.

AGENTE

 

PARTICIPAÇÃO

CONTRIBUIÇÃO ESPERADA

ARGUMENTOS

VALORES

ONU

 

Organizador

Gestão

Promover diálogo

Sustentabilidade Global

Justiça ambiental

Comunicação

 

 

 

Países desenvolvidos

 

 

Maiores emissores de gases de efeito-estufa

Políticas públicas

Investimentos sociais responsáveis

Transparência

Redução de desperdícios

 

 

 

Econômicos

 

 

Lucros financeiros

 

 

Segmentos econômicos

 

 

Chamados a realizar mudanças drásticas

Eficiência na produção, transporte e consumo com ênfase para a reciclagem, energia, emissões, água

 

 

 

Econômicos

 

 

 

Lucros financeiros

 

 

Países vulneráveis

 

Maiores sofredores e com dificuldades de recuperação de desastres

Políticas públicas

Transparência

Redução de desperdícios

 

 

Justiça sócio-ambiental

 

 

Direitos humanos

 

 

Fonte: os autores

A transgressão do Princípio da Sustentabilidade é claro uma vez que as inúmeras Conferências sobre o tema não têm trazido avanços quanto às questões climáticas e as suas consequentes implicações na saúde e qualidade de vida, evidenciando a prevalência hierárquica dos valores econômicos (lucros financeiros) sobre os valores humanos e socioambientais.

Hoje, cientistas de diversos campos da Ciência reconhecem que as questões climáticas decorrem do que se usa para chamar de uma nova Era Geológica. O ser humano tornou-se um “agente geológico”. Para alguns pesquisadores as soluções para os problemas pelos quais a humanidade e nosso planeta atravessam somente ocorrerão com a consciência profunda de uma “virada civilizatória”.  Não teria sido essa a intuição de Van Rensselaer Potter, desde 1970, quando cunhou o neologismo Bioética - Ciência da Sobrevivência? Estaríamos perdendo tempo?     

Um olhar bioético:

O redimensionamento do olhar sobre o essencial e o excedente tem transitado nas discussões bioéticas com foco na construção de paradigmas que ressignifique a simplicidade de um ser e viver em sociedade, de uma maneira sustentável e equânime. As disparidades individuais atreladas a políticas públicas inconsistentes promovem desigualdades e permitem a perpetuação de um ciclo de desequilíbrios.

 

O progresso tecnológico e suas promessas de melhoria da qualidade de vida apresentam uma face obscura, paralela à ideologia evolutiva, que ameaçam a sobrevivência do humano e seus pares, com uma violência determinante sobre o ecossistema.

Apesar do pessimismo das evidências e da crença de um desenvolvimento demográfico atrelado obrigatoriamente a agressivas explorações do meio ambiente, ainda se ambiciona o alcance de uma qualidade de vida futura com o uso de tecnologias sustentáveis, que agreguem permanência e proteção social, econômica e acima de tudo ambiental. Esta responsabilidade deve ser equânime ao nível de desenvolvimento de cada país tendo em vista a equivalência do potencial de dano com a liberação de gases-estufa

A bioética através dos seus vários princípios, procura ajudar numa correta interação do ser humano com a vida e deste com os outros seres vivos, ocupando-se da proteção do meio ambiente. Somente a coesão dos valores morais e éticos dos cidadãos com respeito e cuidado ao ecossistema garantirão a mitigação das mudanças climáticas e a sobrevivência das futuras gerações.

A necessidade de uma incessante construção de um pensamento desde a micro à macrobioética é de elementar relevância no alcance do equilíbrio entre desenvolvimento tecnológico e sobrevivência.

Como futuros Bioeticistas acreditamos que não existem soluções mágicas e simplistas para esta questão da sustentabilidade e qualidade de vida, mas que precisamos da visão mais ampla, como nos diz Potter:

“Chegou o momento de reconhecer que não podemos mais examinar opções médicas sem levar em conta a ciência ecológica e os

problemas da sociedade numa escala global [...] A bioética global,

portanto é “a unificação da bioética médica com a bioética ecológica” [...] 

Os dois ramos deste saber necessitam ser harmonizados e unificados para se chegar uma visão consensual que pode ser denominada bioética global, destacando os dois significados do termo global, a saber: um sistema de ética é global, de um lado, se

ele for unificado e abrangente, e de outro, se tem como objetivo

abraçar o mundo todo” (Potter- 1988, p. 76-78)

 

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Bioética Ambiental do Programa de Pós Graduação em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, tendo como base a obra:

POTTER, Van Rensselaer. Global bioethics: building on the Leopold Legacy. East Lansing: Michigan State University Press, 1988