Direito intergeracional como manifestação da identidade humanitária, aportes da Bioética Budista.



Por Valéria El Horr,
psicóloga e mestranda em Bioética


Em tempos de crise ambiental aguda, de recursos naturais escasseados e de crescente individualismo, é necessário entender nossa relação com as práticas construídas a partir da noção do direito intergeracional e o princípio da solidariedade.

Por direito intergeracional se entende o ramo do direito que pretende ações compartilhadas e compromissadas que visem a preservação do patrimônio material e imaterial em respeito às gerações futuras. No  Direito Ambiental, configura-se como o princípio da solidariedade intergeracional  que pretende também, para além do conceito de preservação, ampliar a perspectiva de humanidade através da passagem do tempo.

A bioética budista surgiu nos países da Ásia e tem como base filosófica as diferentes vertentes budistas que se desenvolveram inicialmente na Àsia por meio de duas principais denominações, o budismo Hinayana e o budismo Mahayana, que tem desenvolvido importantes discussões e ações éticas nos campos da saúde desde o âmbito individual ao planetário.

Para compreender como a bioética budista pode , por meio de suas reflexões promover ações  onde o dever de preservar a vida e o ambiente é imperativo, o conceito de homem integrado com seu ambiente é um conceito central. Sobre este ponto o filósofo Daisaku Ikeda, comenta:

"Na medida em que a vida estende sua influência à circunvizinhança, o meio ambiente automaticamente muda de acordo com a condição da vida. Então, o meio ambiente que é um reflexo da vida interior dos seus habitantes - sempre adquire as características dos que nele existem." (2010).

A concepção cosmológica do budismo, postula o princípio de origem dependente entendendo, portanto, que a vida em todas as suas manifestações possuem a mesma essência digna do mais alto respeito, ou seja, a existência de todas essas formas é interdependente. o homem e o ambiente são unos e indissociáveis e não pode existir um sem o outro.

Em japonês esho funi, o princípio da inseparabilidade do homem e seu ambiente, revela que ambos se manifestam como um fenômeno único, dessa forma a consciência de repercussões mútuas de causas e efeitos transformam o binômio “homem E natureza”  em uma fórmula unificadora “dois, mas não dois”.

O planeta está agonizando, segundo a concepção da medicina Ayurveda, base da medicina oriental e da concepção budista de saúde, a doença surge como um pedido de socorro, diante de um desequilíbrio entre os quatro elementos, terra, fogo, água e ar, elementos constituintes do homem e do Universo.

Sob essa perspectiva podemos entender que a atual pandemia desempenha esse papel sinalizador da doença que temos provocado no Planeta e em nós mesmos, e que é preciso acordar para o fato de nossa existência interdependente, e contrariando dualismos que nos levaram à instrumentalização da natureza, fica claro que não é possível garantir nossa sobrevivência sem a sobrevivência planetária.

Outro princípio central da bioética budista reside na Lei da causalidade, quer dizer,  todas as intervenções que ocorrem por meio dos pensamentos , palavras e ações geram causas e efeitos, ou seja, qualquer ação emitida pelo homem retornará a ele e afetará sua circunstância em alguma medida, a seu tempo. Dessa forma a responsabilização por tudo o que nos cerca é o princípio mais rigoroso no que se refere à ética budista. Não se tratam de ditames comportamentais restritivos, mas de uma autêntica responsabilização pela vida que envolve, mais do que si mesmo.

O reconhecimento dessa responsabilidade natural, pretende deixar claro que as ações individuais não estão alicerçadas na perspectiva do que o Budismo chama de pequeno eu, ou seja, no eu construído a partir da identidade social e impermanente do que somos neste momento da vida, mas sobre a concepção do grande EU, aquele que nos alerta para nosso pertencimento à espécie humana e mais ainda que nos apresenta como uma manifestação do Cosmos.

Dessa forma tudo o que fazemos ao outro, é a nós mesmo que fazemos, é uma lógica que se vê a olhos nus, o ambiente somos nós e também as próximas gerações são um desdobramento de nossa existência presente. Por meio do princípio da eternidade da vida e do ciclo infindável do nascimento, envelhecimento doença e morte, o Budismo elucida que a vida é eterna, estamos, portanto, implicados de forma absoluta com as gerações futuras, já que renasceremos infinitamente, no momento oportuno sofreremos algum impacto resultante de nossas ações de preservação ou não, de nossa vida neste momento.
O princípio do direito intergeracional e a concepção budista da vida, seguem de mãos dadas, e esta última lança-nos a uma perspectiva transcendente, que provoca uma consciência de pertencimento planetário, tão necessária na atual época de degradação violenta da vida em todas as suas manifestações.
Referências Bibliográficas
CARNEIRO, D. M. “ Ayurvedha: saúde e longevidade na tradição milenar da Ìndia.” Ed. Pensamento 2007.
ENDO  P. K. Os fundamentos do budismo Nichiren para a nova era do Kossen Rufu mundial, vol 1 e 2 São Paulo Ed Brasil Seikyo 2016.
IKEDA, D. Vida um enigma, uma jóia preciosa.  São Paulo Ed. Brasil Seikyo 2010
MACHADO, Jeanne S. A solidariedade Social e a Sustentabilidade na Responsabilidade Ambiental Globalizada. Ed Processo Rio de Janeiro 2019.




  




Coronavírus e responsabilidade social

por Tuany Maciel
Psicóloga e Mestranda em Bioética

Imersos num panorama de pânico crescente causado por uma pandemia chamada coronavírus que vem se estendendo da China até o Brasil, o receio de que a história assombrosa se repita aqui se faz presente e há uma crescente necessidade de autocuidado. Recomendações bem como orientações indispensáveis como evitar aglomerações, higienizar as mãos, evitar contato físico e troca de objetos para diminuir as chances de pegar o vírus, fazem parte de um cuidado que não implica apenas na responsabilidade consigo mesmo, mas com os outros sendo também uma responsabilidade ética social. Ao evitar a propagação do vírus mesmo que este não lhe pareça uma grande ameaça por não pertencer a grupo de riscos ou dispor de ótima saúde, há uma demonstração de responsabilidade social e empatia, visto que nesta situação se revela a prática de autocuidado. Numa situação como essa, surgem comportamentos de autocuidado até mesmo por questão de sobrevivência, visto que para se garantir menos risco é fundamental que a pessoa ao lado esteja saudável e vice-versa. Mas mesmo que essa situação implique ainda em um suposto egoísmo, devido a pessoa querer que os outros estejam bem, como uma espécie de garantia de que também ficará fora de risco de contaminação, acaba sendo construída uma ponte, e pessoas passam a lutar pelo mesmo ideal se aproximando uma das outras. Em um cenário de receio e insegurança, pode ocorrer muita divergência de opiniões e posicionamentos, gerando conflitos que podem provocar atitudes desesperadoras como estocar comida, álcool e remédios, sem ao menos a percepção de que se pode prejudicar aqueles que não possuem mobilidade ou por questões financeiras não conseguem comprar, pois assim, os produtos somem rapidamente das prateleiras e em função disso os preços também aumentam, prejudicando ainda mais a situação de quem já é vulnerável. Apesar das orientações serem para quem esta acima dos sessenta anos permanecer em casa, vale ressaltar que qualquer idade corre o risco de pegar o vírus, jovens e crianças não estão imunes, além do fator de transmitir aos indivíduos que se encaixam nos grupos de risco. A realidade mutante que se apresenta hoje impõe uma nova visão do autocuidado e sua responsabilidade ética como uma alavanca essencial para que possamos sair menos afetados por tudo isso.

Cuidar da Mente é Cuidar do Espírito: Espiritualidade e Saúde em tempos de Coronavirus COVID – 19


Dra. Mary Rute Gomes Esperandio 

Programa de Pós-Graduação em Bioética 

Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PR 





Texto Publicado na GAzeta do Povo em: 25/03/2029



Para começar essa “conversa”, é preciso fazer uma diferenciação mínima entre cérebro, mente e espírito. Para maior aprofundamento dessa diferença remeto o leitor e a leitora aos estudos do pesquisador dessa temática, Dr. Alexander Moreira-Almeida, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora. 

O cérebro não é a mente. O cérebro “não gera a mente” (Moreira-Almeida, 2015). Há muitas pesquisas que mostram que determinados pensamentos e sensações geram “vivências mentais” e que o estímulo de determinadas áreas do cérebro provoca certas percepções ligadas àquelas áreas estimuladas. Contudo, não é daquelas regiões estimuladas que vem a “consciência”. Por um lado, o cérebro é um “instrumento de manifestação da consciência”, afirma o pesquisador (Moreira-Almeida, 2015). Por outro lado, a mente não se reduz às ativações químicas que ocorrem no cérebro. A mente é algo independente do cérebro, mas se relaciona intimamente com este (Moreira-Almeida, 2015). Embora mente e cérebro interfiram um no outro, as pesquisas ainda não alcançaram um entendimento suficientemente amplo da mente e de sua relação com o cérebro. 

Há muitas experiências espirituais que não podem ser explicadas pelas atividades cerebrais, pelo cérebro, pois “há uma dimensão extrafísica na natureza humana” (Moreira-Almeida, 2015). 

Esse entendimento da mente como uma dimensão extrafísica aproxima-se ao conceito de espírito/espiritualidade assumida aqui. Espiritualidade diz respeito à dimensão humana onde reside “a vontade de sentido”. Temos necessidade de dar sentido às nossas experiências, sobretudo aquelas que nos trazem sofrimento. Queremos entender “por que”, “para que”, “por que agora”, “por que conosco”, etc. Viktor Frankl (1988; 2013) diz que a capacidade de enfrentar o sofrimento só é possível pela via da construção de sentido. É o sentido que construímos que nos ajuda no fortalecimento físico e espiritual, e nos transforma como seres humanos. Mas as pessoas podem “se perder” nesse processo. Pode ser que elas vivenciem o sofrimento de forma traumática, quando não com um profundo estado de ansiedade. 

Assim, quando alguém diz que “não dá conta do isolamento social”, ou quando chega a confundir sintomas físicos de Ansiedade com sintomas do Coronavirus (ambos apresentam um sintoma comum: a dificuldade de respirar), é preciso prestar atenção, pois isso indica profundo sofrimento. 

Os sintomas físicos da Ansiedade, como falta de ar, taquicardia e fadiga, podem potencializar o sintoma emocional da Ansiedade que é o medo (e mesmo o medo de morrer), angústia, nervosismo, irritação e outros sintomas. 

Em tempos de Coronavirus o nível de ansiedade se exacerba e isso é perfeitamente compreensível. O mundo mudou da noite pra o dia. Esse novo mundo no qual passamos a habitar, não nos mudamos pra lá por livre vontade. Na verdade, sequer saímos do lugar. Esse mundo se mudou pra cá repentinamente. Esse “novo mundo” impõe novas regras. Impõe outras formas de nos comportar e relacionar. Tais mudanças trazem, em um tempo extremamente curto, uma exigência de adaptação também extrema. Nesse novo mundo temos mais trabalho a fazer, temos de executar tarefas que exigem habilidades tecnológicas que não tínhamos antes, habitamos um local de trabalho que não é físico, e a percepção do tempo se modifica substancialmente. Em uma semana de distanciamento social, parece que já vivemos um mês! 

Resistências para “habitar nesse mundo de novos hábitos” são compreensíveis. Também compreensível é a ansiedade que nos toma. E aí nosso espírito pode adoecer. Nossa mente adoecida pela consciência dessas exigências nos faz sentir como que incapazes de dar conta. Essa mente adoecida pode afetar as funções cerebrais podendo comprometer nossa performance profissional/laboral, gerando ainda mais adoecimento. Nesse contexto parece que a subjetividade entra em um “looping” de adoecimento: do cérebro, da mente e do espírito. Mas isso tudo nós sabemos. A questão é: como sair desse looping? Como manter a saúde da mente e do espírito? 



Algumas sugestões práticas (para melhorar atitudes e incrementar comportamentos): 

1. Autocompaixão: Acolha-se nas suas dificuldades e limitações com a tecnologia. Você não é menos inteligente ou “idiota” apenas porque não domina certas ferramentas tecnológicas. Aqui entra o exercício da autocompaixão. Afaste a voz crítica que insiste em dizer: “Você é uma burra mesmo!”; “Você está velho demais pra isso, já é peça fora do baralho, seu tempo já passou”; “Você nunca vai dominar isso, desista!”. Essas vozes críticas querem lhe proteger do sofrimento de tentar algo novo e difícil pra você. Mas elas não lhe ajudam. Diga a si mesma: “Tudo bem ter dificuldades com a tecnologia. Mas vou dar um passo de cada vez. Cada aula (se for esse o caso) vou aprender uma coisa nova e vou aprendendo aos poucos”. Seja paciente e gentil com você mesmo/a! 

2. Compaixão nas relações: Acolha as outras pessoas que parecem estar tão ansiosas quanto você, ou mais. Ofereça compreensão. Ofereça apoio naquilo que você sabe e a outra pessoa ainda não domina. Colocá-la para baixo, criticando sua resistência ao novo ou suas limitações, não vai ajudar. Exerça sua compaixão ajudando a aliviar o sofrimento do outro. Seja um veículo de amor e bondade. Lá fora já temos ameaça real e suficiente que pode nos tirar de cena. 

3. Estabeleça fronteiras nesse espaço virtual (que é sem fronteiras de espaço e tempo) Trabalhar de casa, tendo de estar online a maior parte do tempo, pode fazer você se perder nos compromissos em função das demandas tecnológicas. Por exemplo: Não olhe o WhatsApp o tempo todo. Esse aplicativo lhe consome! Estabeleça horários específicos para ver e responder as mensagens de WhatsApp e de e-mails. 

4. Estabeleça uma rotina com horário de trabalho. É muito fácil ficar ocupado/a cerca de 18 a 20 horas por dia e ao final do dia ter o sentimento de que “não fez nada”; 

5. Faça exercícios físicos; 

6. Beba água; 

7. Telefone para os seus queridos que também estão isolados (ou trabalhando por força da circunstância); faça chamadas de voz e vídeo; 

8. Não deixe de tomar banho, de limpar sua casa e de tirar o pijama ao levantar. Não é porque está trabalhando de casa que essas coisas podem ser deixadas de lado! 

9. Reserve tempo para uma atividade espiritual: ouça músicas, poemas, cante, faça meditação, ore, reze o seu terço ou participe de algum encontro espiritual online; 

10. Importe-se com seus amigos, amigas e familiares. Ao entrar em relação com seus queridos e queridas, não faça cobranças do tipo: por que não me ligou? (Você gostaria de falar ao telefone? Então ligue você!). Ofereça-se para eles e elas. Não os busque na tentativa de receber algo delas. Seja você o canal da oferta e verá o quanto isso promove saúde, bem-estar e crescimento espiritual, resiliência e diminuição da ansiedade e do sofrimento; 



Estamos todas e todos num mesmo barco que não escolhemos estar. Mas você pode escolher ficar nele, ajudar-se e ajudar os outros/as. Ou sair dele, ser agarrado pelo vírus, e contigo levar outras pessoas que não necessariamente gostariam de sair agora. Sim, você ainda tem escolha, e esta interfere na escolha de outras pessoas. E é hora de pensarmos, também, na coletividade. Só sairemos dessa crise se trabalharmos em conjunto! Escolha cuidar da sua mente! Cuidar dela é cuidar de seu espírito! É cuidar da vida! É escolher viver! 



Referências



Frankl, V. E. (1988). The will to meaning: Foundations and applications of logotherapy : expanded edition, with a new afterword by the author. Meridian.

Frankl, V. E. (2013). Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração. Ed. Sinodal.

Moreira-Almeida, Alexander, & Araujo, Saulo de Freitas. (2015). O cérebro produz a mente? Um levantamento da opinião de psiquiatras. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), 42(3), 74-75. https://doi.org/10.1590/0101-60830000000051

Sofrimento psicológico de profissionais da saúde em tempos de Covid-19

L

Por Aline Maran Brotto

Psicóloga e mestranda em Bioética


Entrar em isolamento social ou quarentena, são medidas difíceis de realizar quando se pensa na saúde mental das pessoas, pois “o que farei em casa?”, muitas vezes, esse ficar em casa, de fato é sem a presença de absolutamente ninguém, o que causa aflição e receios. Pois, como será depois do Covid-19? Quando irá acabar isso?
Bem, talvez tão difícil quanto, ou ainda mais, é a relação de quem é um profissional da saúde. Existe uma diferença bastante importante quando se trata do que estamos vivenciando com o COVID-19. Acredito que a maior diferença se dá pelo desconhecimento do que está acontecendo. Bem, sabe-se que a prevenção é a melhor forma de combate, e obviamente sabe-se que ainda não há cura definitiva conhecida para esse vírus, mas, e o mais disso? Como trabalhar mediante sintomas, sem saber o que vem depois? Ou quando é esse depois? Já que temos o conhecimento do que ocorreu e ocorre em outros países. Como não deixar a ansiedade – por exemplo – falar mais alto?!
O atendimento de inúmeros paciente, a grande pressão e necessária atenção em um ambiente contingente ao stress, podem derivar em uma síndrome denominada de Burnout. Esta, foi descrita pela primeira vez pelo psicólogo H.J. Freudenberger, no ano de 1974, para descrever um sentimento de fracasso e exaustão causado por um excessivo desgaste de energia, força e recursos. A síndrome da exaustão constitui um quadro caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal. A exaustão emocional representa o esgotamento dos recursos emocionais do indivíduo. É considerado o traço inicial e decorre principalmente da sobrecarga e do conflito pessoal nas relações interpessoais. 
Como podemos cuidar de nossos profissionais da saúde, para que não entrem em exaustão emocional?
Diferentemente de situações em que ao sair do Hospital ou Unidade de saúde, o profissional da saúde não se depara com a situação vivenciada em seu trabalho, com o Covid-19, o profissional de saúde sai do trabalho e recebe notícias do vírus com grande frequência. Já que grande parte da população, inclusive os meios de comunicação fornecem informações sobre a pandemia. O profissional da saúde depara-se com a situação que trabalha, além das paredes do hospital. Expressões como "isto é natural na unidade", "faz parte da rotina", não são comuns para a atual realidade a qual vivenciamos.
Como ressignificar tudo que está acontecendo? Como conviver com o estresse que agora pode estar além do considerado “normal”?
Nesse momento os profissionais da saúde – bem como outros profissionais que estão na linha de frente do cuidado com a população – também podem desenvolver uma depressão situacional, que seria uma depressão a curto prazo que ocorre como resultado de um evento traumático ou mudança na vida de uma pessoa. A depressão situacional decorre da luta de uma pessoa para chegar a um acordo com as mudanças que ocorreram, e nesse momento há muita luta! E o pensamento está majoritariamente no contexto de saúde que vivemos.
Mas, para a saúde mental de todos, é necessário estratégias que auxiliem nesse contexto, a psicologia auxilia no enxergar para além do que está acontecendo, e que outras situações acontecem enquanto penso na saúde dos pacientes. Viver o momento presente é fundamental! De que modo a Bioética poderia contribuir nesse contexto?
Bem, a bioética narrativa, por sua vez, pontua que isso é passageiro, que está sendo escrita um capítulo importante em nossa história.
Logo, qual a narrativa que a bioética pode dar para esse enredo que vivenciamos? A bioética narrativa vem trazer a reflexão que somos autores de nossas próprias vidas, e que enquanto profissionais da saúde – por exemplo – está sendo preenchida uma história com uma narrativa até então não vivenciada, logo, deparamo-nos que somos únicos, autênticos!
A noção de sermos únicos é benéfica quando nos dispomos a pensar que vale a pena se cuidar e viver o cuidado do paciente. Pensar no todo muitas vezes, e não no que está sendo feito no momento, pode ser prejudicial, pois abre margem para a inúmeros pensamentos hipotéticos e ansiosos. A bioética narrativa traz uma consideração muito relevante neste momento, para que uma narrativa de vida faça sentido, ela precisa ser contada como uma história com começo, meio e fim. Iniciamos uma história com o Covid-19, ainda há muito a se caminhar, mas de alguma maneira, estamos vivenciado a nossa história.
A psicologia afirma a importância das redes de apoio, que não necessitam ser presenciais, ainda mais nesse momento. Levarmos em conta que não estamos sós, e que outros profissionais da saúde – bem como, outras profissões – estão vivenciando algo parecido, pode trazer um sentimento de empatia, que faz com que nos movamos por um objetivo em comum.
É importante que todos tenham -inclusive os profissionais da saúde – espaço para falar sobre os seus temores, se permitir sentir a falta de abraçar uma pessoa querida, por exemplo, e dar valor quando isso puder acontecer. Estamos abrindo espaço para a sensação da possibilidade de contrair o vírus, ou estar diante dele no trabalho? É possível observar os pensamentos e sentimentos vivenciados, mas não esquecer valores de proteção e autocuidado. 
Assim sendo, profissionais da saúde estão vivenciando um momento delicado, mas, que deve ser sentido! Esse momento, já faz parte de uma história que cruza com inúmeras histórias, com diversos autores, e vivenciar este “aqui e agora”, nos ensina a aprender com nossas histórias, e não apenas passar por elas. 


Referências
American Psychiatric Association (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
Beck, C. L. C. (2000). Da banalização do sofrimento à sua re-significação ética na organização do trabalho. Tese de doutorado não-publicada. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
Manchola, C. Brazão, E. Pulschen, A. Santos, M. (2016). Cuidados paliativos, espiritualidade e bioética narrativa em unidade de saúde especializada v. 24, n. 1. Disponível em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article /view /1195
Martins, L. A. N. ( 2003) Saúde mental dos profissionais de saúde. Mental health of health care workers, v 1, N 1. Disponível em: http://www.rbmt.org.br/related-content/281/pt-BR
Mateus, S. (2016). Uma Abordagem Narrativa Da Bioética: A Ética Da Autenticidade E As Tecnologias De Aprimoramento. Rev. P E R I, v . 0 8 - n . 0 1. Disponível em: http://www.nexos.ufsc.br/index.php/peri/article/view/1068/843
Rodrigues AL, O "stress’' no exercício profissional da medicina - urna abordagem psicossocial. [Tese] Pontifícia Universidade Católica; 1998.
Soares, L. R. Cunha, C. E. C. (2007). A Síndrome Do “Burn-Out”: Sofrimento Psiquico Nos Profissionais De Saúde. Revista do Departamento de Psicologia - UFF, v. 19 - n. 2, p. 505-506. Disponível em: http://www.scielo.b r/pdf/rdp si/v19n2/21.pdf














MEDICINA GUIADA PELA COMPAIXÃO


Dr. Teri Roberto  Gueiros
Médico ortopedista mestre em Bioética 

A formação do profissional em saúde tende a priorizar uma capacitação aos aspectos técnicos e científicos. Busca se privilegiar muito mais a doença do que a pessoa doente, a cura do que o cuidado. Acaba por se construir a ideia de que é preciso estar atento apenas às sanções e penalidades previstas no código profissional. Um temor advindo de uma provável coerção adstrita à deontologia existente nesses códigos, acaba gerando a ideia de que apenas existe uma única abordagem ética a ser conhecida e “temida”: a deontologia definida pelo Código de Ética Médica (CEM) e pelos Códigos Penais. Se aos profissionais da medicina “interessa diagnosticar e curar” (CANGUILHEM, 2011), não se estranha que sejam refratários no mais das vezes a questionar ou pensar na validade ou não da ética adstrita aos códigos. Defendemos que possuir virtudes é um requisito a todos os seres humanos que compõem e estão diretamente vinculados à relação médico-paciente. Estas virtudes, quando autenticamente exercidas, ou treinadas, conduzirão os médicos de forma autônoma no agir moral mesmo que heteronomamente conduzidos por códigos de ética; não agirão por puro receio de sanções ou punições. Lança-se como hipótese que de uma espontânea confluência entre a deontologia conduzida de modo virtuoso, abrem-se portas para que um outro motor moral, a compaixão, possa apoiar a ética biomédica. De todos os artigos elencados no último código de ética médica (CEM) (BRASIL, 2018), em 117, seus enunciados iniciam com a expressão “é vedado ao médico”. A expressão escolhida como orientadora de conduta, “é vedado”, remete a uma normatização moral negativa, onde vedar se aproxima de “não permitir”. Destarte o detalhe semântico, o respeito ao “não permitido” do CEM (BRASIL, 2019), dar-se-á, apenas, movido por dois motores possíveis: (1)- um agir que se dê “não” como uma consequência direta das crenças e normas adstritas ao sujeito ativo, no caso o médico, mas sim um agir coordenado por regras, lei ou normas externas; um agir não sustentado por convicções, mas por medo de coerção; não por autonomia, mas por heteronomia. (2)- um agir que se faça frente a uma consequência direta das crenças e normas adstritas ao sujeito ativo, o médico; um agir coordenado por um critério em que se pode estabelecer que o correto a ser feito é perguntar como faria uma pessoa com caráter virtuoso em determinada circunstância. Um agir ético por autonomia, ou, apoiado nas virtudes do indivíduo (DALL’AGNOL, 2014). Conclui-se que o CEM é passível de uma reflexão filosófica e assim servir como fundamentação bioética inicial do agir médico. O livro Princípios de ética biomédica, Tom L. Beauchamp e James F. Childress, de 1979, é utilizado largamente como fonte para fundamentar a ética médica na condução das relações morais entre profissionais da saúde e pacientes. Os autores afirmam que os princípios que devem dirigir a Bioética são autonomia, não-maleficência, beneficência e justiça. Entre esses princípios não há nenhum caráter hierárquico. Porém, colocam como fundamental, a autonomia, que é entendida como a capacidade do indivíduo e das suas instituições de deliberar, escolher livremente e agir (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002, p. 138-139). O livro é uma análise filosófico, e remete a um agir pelas leis após uma forte avaliação racional do sujeito ativo. Porém, não é este enfoque filosófico que motiva a ideia de numa Ética Jurídica. Para o jurista, o dever não cumprido não implica numa sanção moral filosófica, mas numa coerção penal. A consequência do ato, qual seja, o agir corretamente (no caso dentro dos conformes da lei), não depende de nenhum valor ou escolha do indivíduo. Dar-se-á por uma normatização ética que está acima da opinião individual. A penalidade imposta pela lei não impede o indivíduo de a descumprir quando assim o desejar. Contanto que esse encare a possibilidade de coerção atrelada ao descumprimento. Um agir na perspectiva bioética poderia ser fundado numa ética das virtudes (EV) como uma opção factível para que haja uma correta condução de uma ética deontológica a partir dos códigos de. A diferenciação entre as pessoas, justificada por diferentes contextos, não impediria que a virtuosidade moral fosse ensinada pelo hábito e para todos (SÓCRATES, 1987; DURANT, 1996; DALL’AGNOL, 2014). As virtudes, que para os gregos embasavam tanto a capacidade de agir moral como outros dos inúmeros pontos da vida humana (agir intelectual, p. ex.), estavam presentes em graus variáveis em todos os indivíduos (DURANT, 1996; DALL’AGNOL, 2014). Pellegrino e Thomasma citam sobre um indivíduo virtuoso que “esta pessoa agirá bem mesmo que não tenha ninguém para aplaudir, simplesmente porque agir de outra maneira é uma violação do que é ser um bom ser humano” (2018). Desse modo, do médico(a) virtuoso(a) se espera que professe o bem intrínseco à sua prática, pois a virtude está vinculada à disposição de fazer o bem, “fim último da medicina” (PELLEGRINO; THOMASMA, 2018). Se aos profissionais da medicina “interessa diagnosticar e curar” (CANGUILHEM, 2011), não se estranha que sejam refratários no mais das vezes a questionar ou pensar na validade ou não da ética adstrita aos códigos. Estes profissionais, de modo geral, mantêm um enorme distanciamento de outros temas importantes da natureza humana, mas que são importantes na condução de pontos como a ética. Com a união do binômio deontologia e virtudes atuando de maneira conjunta, é possível alcançar o objetivo maior da medicina, qual seja, o bem cuidar do paciente, fazer o que é melhor para ele. Essa prática, pensa-se, permitirá o florescimento de uma ética da compaixão que norteará a relação entre o médico e o paciente. Schopenhauer alegando que a compaixão se apresenta de imediato quando frente ao sofrimento do outro, e não considera errado colocar-se no lugar do sofredor, “na verdade, tendo compaixão, sofremos com ele, portanto nele; sentimos a dor dele como sua mesma, e não temos a imaginação que seja nossa” (SCHOPENHAUER, 2001). Beauchamp e Childress apontam a compaixão como sendo necessária à assistência na saúde e ao que a esta promove, pois a entendem como “a habilidade de compreender o que precisa ser feito pelo paciente”, que leva a um “agir de modo sensível” (2002). Relatório Francis, que no ano de 2013 apontou a importância da Compaixão, identificando a sua falta nos serviços de saúde Ingleses como uma das principais causas de falhas nestes. E dos achados que sustentaram a confecção deste relatório, surgiram três recomendações atinentes ao treinamento do profissional da saúde:1) treinar todos os profissionais de saúde em compaixão; 2) considerar e avaliar a compaixão como uma competência fundamental dos profissionais de saúde; 3) adotar e implementar normas e cuidados compassivos nos cuidados de saúde (FRANCIS, 2013). Embora o médico não possa sentir a dor e o sofrimento nas mesmas condições daquele que está doente e vulnerável, a presença da compaixão em sua prática fará com que ele se coloque ao lado daquele que está precisando de sua ajuda. Infere-se assim que um agir profissional não será mais ético e humanizado apenas por conta das normas deontológicas, e sim, que podem ser estimulados e educados outros aspectos normativos próprios do ser humano para que se possa esperar uma educação para a ética. Essa educação para a ética está em sintonia com o universo da bioética, que tem entre um dos seus maiores princípios a beneficência, o maior princípio norteador de uma EV. Resta, portanto, o desafio de agregar o arcabouço da bioética ao CEM para que este possa colaborar na construção de um agir ético de excelência na prática médica.

Jogos Olímpicos de 2020: adiar para preservar


Por Matheus Edilberto Roth 
 Mestre em Bioética. Professor de Educação Física na Educação Básica.



Restando 125 dias¹ para o início dos Jogos Olímpicos de Tóquio, e em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, mantém o discurso de que o evento será iniciado na data prevista (24 de julho de 2020)²,³. Além disso, um membro do COI descartou a ideia de realizar os jogos sem a presença de público: “Isso iria contra tudo que defendemos. As Olimpíadas são mais do que uma série de competições, é sobre reunir todos para celebrar o esporte. Um evento com portões fechados e sem expectadores não é uma opção”4.

No entanto, o posicionamento dos representantes da entidade segue na contramão do mundo esportivo. Famosas ligas esportivas como a NBA (Basquete), Premier League (Futebol), Fórmula 1 (Automobilismo) e World Surf League (Surf) tiveram datas adiadas ou até mesmo canceladas. A Conmebol e a UEFA, responsáveis pela realização da Copa América de Futebol e da Eurocopa, respectivamente, transferiram os torneios para os meses de junho e julho de 2021. Antes, seriam realizados entre junho e julho de 20205. Nesse cenário, 42 das 50 modalidades olímpicas ainda não têm vagas definidas, devido ao adiamento e cancelamento de competições4.

Atletas do mundo todo têm contestado o posicionamento do COI. A atual campeã olímpica do salto com vara, Katerina Stefanidi, através de seu perfil no Twitter, disse: “This is not about how things will be in 4 months. This is about how things are now. The IOC wants us to keep risking our health, our family’s health and public health to train every day? You are putting us in danger right now, today, not in 4 months”6. Corroborando com a linha de raciocínio da atleta grega, o presidente das federações de natação da Itália e da Europa, Paolo Barelli, lembrou que há atletas que não estão podendo treinar de maneira adequada: “Até 15 de abril, haverá atletas que não treinam há dois meses. Atletas são como relógios. Eles precisam treinar para funcionar de forma impecável. A maioria deles precisa ainda se classificar, então eles precisam treinar não só para se classificar, mas também para as Olimpíadas”7. O ginasta alemão Andreas Toba alegou que não há como promover uma disputa justa em meio ao caos: “Agora é mais do que claro para mim que os Jogos Olímpicos precisam ser adiados. Nosso mundo está em uma das crises mais graves, todos são convidados a ficar em casa. Após a minha grave lesão no Rio, participar dos Jogos em Tóquio foi a minha motivação diária. Mas estou convencido de que as Olimpíadas de 2020 não podem ocorrer a partir de julho. Não podemos manter os valores do esporte, como justiça, espírito de equipe e respeito na atual crise. As diferenças internacionais são muito grandes quando se trata de oportunidades de treinamento. De uma proibição completa ao treinamento normal, não há justiça aqui8”.
                A indignação de atletas e dirigentes é justificável: quando um atleta é privado de prosseguir com a preparação programada para uma competição, o desempenho é afetado. Para se ter uma ideia, há uma preparação planejada ao longo de 4 anos para que se atinja o auge de desempenho esportivo durante os Jogos Olímpicos. O período é chamado de “ciclo
 olímpico”.

FIGURA 1: Exemplo de periodização de um ciclo olímpico9.


O treinamento de um atleta de alto rendimento depende de vários fatores, como por exemplo, o volume e a intensidade de treinamento. Atualmente, muitos atletas estão em quarentena ou sem local adequado para manter os treinos. A “dosagem” correta desses fatores pode definir quem subirá ao pódio ou quem apresentará um desempenho aquém do esperado:

FIGURA 2: Relação entre volume e intensidade na preparação para uma competição9.



Além disso, ao não abrir mão da presença de público, o COI age de maneira irresponsável, criando condições favoráveis para a disseminação do COVID-19. Em uma simulação, publicada pelo portal The Washington Post10, é possível constatar que o distanciamento social é a maneira mais racional de conter a propagação do vírus, evitando superlotações em hospitais e, consequentemente, poupando milhares de vidas:



FIGURA 3: Simulação de proporção de infectados (cor marrom), não infectados (cor azul) e curados (cor lilás) pelo COVID-19, perante cada medida adotada10.


A medida torna-se ainda mais prudente se for considerado o recente artigo publicado pela Science11, onde os autores afirmam que 86% das infecções pelo coronavírus não são identificadas, e 79% das transmissões acontecem a partir de pessoas assintomáticas.

Se o COI não rever seu posicionamento, estará na contramão de vários princípios promulgados na Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos12, dentre os quais pode-se destacar o artigo 10: “Igualdade, Justiça e Equidade” e o artigo 14 “Responsabilidade Social e Saúde”.

Contudo, se os Jogos Olímpicos de 2020 não forem adiados, não poderão ser considerados essencialmente “Olímpicos”, visto que ferirão o ideal do Olimpismo, cujo objetivo é “contribuir na construção de um mundo melhor, sem qualquer tipo de discriminação, e assegurar a prática esportiva como um direito de todos”13. Afinal, qual é o sentido de realizar Jogos Olímpicos que não atendem por seus princípios de “amizade, compreensão mútua, igualdade, solidariedade e “fair play13?



Referências:

1. INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. TOKYO 2020. 2020. Disponível em: https://www.olympic.org/tokyo-2020. Acesso em: 20 mar. 2020;

2. GLOBOESPORTE.COM (Lausanne). Presidente do COI se reúne com atletas e reafirma realização das Olimpíadas: Temos quatro meses. 2020. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/olimpiadas/coronavirus/noticia/presidente-do-coi-se-reune-com-atletas-e-reafirma-realizacao-das-olimpiadas-temos-quatro-meses.ghtml. Acesso em: 20 mar. 2020;

3. GLOBOESPORTE.COM (São Paulo). Bach: É claro que estamos considerando cenários diferentes para as Olimpíadas. 2020. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/olimpiadas/coronavirus/noticia/bach-e-claro-que-estamos-considerando-cenarios-diferentes-para-as-olimpiadas.ghtml. Acesso em: 20 mar. 2020;

4. GLOBOESPORTE.COM (Tóquio). COI descarta realizar as Olimpíadas com portões fechados por causa do coronavírus. 2020. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/olimpiadas/coronavirus/noticia/coi-descarta-realizar-as-olimpiadas-com-portoes-fechados-por-causa-do-coronavirus.ghtml. Acesso em: 20 mar. 2020;

5.  JOVEM PAN. Oficial! Copa América e Eurocopa são adiadas para 2021. 2020. Disponível em: https://jovempan.com.br/esportes/futebol/oficial-copa-america-e-eurocopa-sao-adiadas-para-2021.html. Acesso em: 20 mar. 2020;

6. STEFANIDI, Katerina. This is not about how things will be in 4 months. 17 mar. 2020. Twitter: @KatStefanidi. Disponível em: https://mobile.twitter.com/KatStefanidi/status/1239924265803284480. Acesso em: 20 mar. 2020;

7. GLOBOESPORTE.COM (Roma). Dirigentes do esporte na Itália pedem que COI adie Olimpíadas:: Vida vale muito mais. 2020. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/olimpiadas/coronavirus/noticia/dirigentes-do-esporte-na-italia-pedem-que-coi-adie-olimpiadas-vida-vale-muito-mais.ghtml. Acesso em: 20 mar. 2020;

8. GLOBOESPORTE.COM (Rio de Janeiro). Coronavírus: cresce pressão de atletas para o adiamento das Olimpíadas. 2020. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/olimpiadas/coronavirus/noticia/coronavirus-cresce-pressao-de-atletas-para-o-adiamento-das-olimpiadas.ghtml. Acesso em: 20 mar. 2020;

9. GOMES, Antonio Carlos. Treinamento desportivo: estruturação e periodização. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009;

10. STEVENS, Harry. Why outbreaks like coronavirus spread exponentially, and how to "flatten the curve". 2020. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/graphics/2020/world/corona-simulator/. Acesso em: 20 mar. 2020;

11. LI, Ruiyun; PEI, Sen; CHEN, Bin; SONG, Yimeng; ZHANG, Tao; YANG, Wan; SHAMAN, Jeffrey. Substantial undocumented infection facilitates the rapid dissemination of novel coronavirus (SARS-CoV2). Science, 16 mar. 2020. American Association for the Advancement of Science (AAAS). http://dx.doi.org/10.1126/science.abb3221. Disponível em: https://science.sciencemag.org/content/early/2020/03/13/science.abb3221. Acesso em: 20 mar. 2020;

12. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA. Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos. 2005. Disponível em: http://www.bioetica.org.br/?siteAcao=DiretrizesDeclaracoesIntegra&id=17. Acesso em: 20 mar. 2020;

13. COMITÊ OLÍMPICO DO BRASIL. O Olimpismo. Disponível em: https://www.cob.org.br/pt/cob/movimento-olimpico/o-olimpismo. Acesso em: 20 mar. 2020.

Educar para a espiritualidade" em tempos de coronavirus - COVID 19



Dra. Mary R. G. Esperandio
Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR

Fiz um áudio muito breve destacando o aspecto espiritual e a necessidade de educar para a espiritualidade em tempos de Coronavirus! Estamos vivendo uma situação desconhecida, sem precedente, que nos rouba a rotina e promove estados ansiosos generalizados, coletivos, que nos causa muito sofrimento. O modo como cuidamos de nossa própria espiritualidade e da do/a outro/a tem impacto nos resultados em saúde.
Antes de prosseguir na leitura, você pode ouvir o áudio aqui
Este é o contexto onde a necessidade do áudio emergiu:
Minha filha é Médica de Família no Rio de Janeiro. Conversando com ela ontem à noite sobre como foi o seu dia, ela me disse: “foi um dia muito intenso, mãe... os casos graves estão começando a aparecer e eu senti na pele o quanto estou vulnerável nesse lugar. Estamos tomando os devidos cuidados. Mas estou bastante consciente do quanto estou exposta. Com lágrimas nos olhos, ela disse: “mas se alguma coisa acontecer comigo, mãe, saiba que eu terei morrido feliz por estar fazendo o que fui chamada pra fazer na vida: que é cuidar de pessoas que precisam e por lutar por uma saúde pública de qualidade para a população”.
Claro, tive dificuldade pra dormir... e daí, mais uma vez, caiu a ficha da pesquisadora em "espiritualidade e saúde" e da necessidade de integrar o cuidado espiritual nos cuidados sanitários.
Depois da postagem do áudio, uma amiga compartilhou comigo uma preocupação legítima, relacionada ao comportamento insano de membros de sua família que estão comprando, para uso próprio (e até querendo importar), a Cloroquina, em razão da notícia de ontem, veiculada nos grupos de WhatsApp sobre seus “possíveis benefícios”.
O nosso espírito, o nosso interior é determinante em nossas atitudes e comportamentos. Então, se a espiritualidade não estiver bem integrada, informações importantes se perdem, se "tomam os pés pelas mãos", e as tomadas de decisão em Saúde ficam mais complicadas, quando não caóticas e com mais prejuízo e sofrimento para todos/as. Por isso precisamos integrar a dimensão do cuidado espiritual junto com os cuidados sanitários! Isso é o que significa “cuidado ético”.



Os Zoológicos estão fechados? E os humanos confinados?


Por Marta L Fischer
Docente PPGB-PUCPR

Os zoológicos estão fechados!!!! ao ouvir essa notícia milhares de sentimentos me tomaram. Esperava ouvir essa decisão em breve, mas não tão em breve e nem tampouco sob essas condições, mas é inevitável não vibrar, obviamente na expectativa que os animais continuarão sendo bem cuidados. Imagino que enquanto todos estão em suas casas apreensivos esperando os desdobramentos, os animais há tanto tempo confinados involuntariamente, tal como os humanos agora, podem desfrutar da tranquilidade de seus recintos, sem humanos gritando, gesticulando, atirando objetos, milhares de estímulos visuais, odoríferos e sonoros. O que será que aconteceu com mundo? De repente ficou silencioso, o ar ficou mais leve. Fico imaginando o impacto dessas mudanças nas suas percepções. 
Invertemos os papéis, agora podemos sentir um pouco do que eles sentem. Temos diante do nosso recinto um mundo virtual cheio de estímulos, dados e projeções, igualmente incompreensíveis, mais sensíveis. O que aconteceu com o mundo? Como as perspectivas mudaram tão rápido? o que eu fiz para que isso esteja acontecendo comigo? Talvez essas indagações sejam análogas aos dos animais que confiamos, usamos e maltratados sentem todos os dias. Provavelmente não refletem no nível de uma autoconsciência como a dos humanos, mas muito possivelmente sentem ao nível inconsciente como estamos imersos agora. Mesmo que nesse momento estejamos obedecendo as determinações legais mecanicamente, procuram álcool em gel em todos os espaços e não encostando em nada, armazenando alimentos, e procurando referências de acolhimento em todos os humanos e deuses por qual nos deparamos, lá no fundo o nosso inconsciente  sente medo, angústia, abandono, insegurança, vazio diante de estruturas tão sólidas que nos davam segurança e que agora desabam diante de nós. Nossos limites foram seriamente abalados, depois dessa pandemia, algumas coisas já não serão mais aceitas, embora acredito que haverá um movimento favorável à voltar as referências rigidamente estruturadas. Os zoológicos estão fechados! porém incluo nessa reflexão tantos outros animais que também sofrerão os impactos da pandemia. Alguns reagirão positivamente por  desfrutar um ar com menos poluição, águas mais limpas, cidades menos barulhentas e com menos movimentação. Já ouvi as aves urbanas estabelecendo comunicação entre elas. Os pets que sofriam por ficarem sozinhos agora terão a companhia de seus tutores, obviamente elevando seu grau de bem-estar-animal, talvez a exceção daqueles que estão sendo abandonados por medo deles poderem transmitir o vírus Covid-19. Abrigo de animais alertam que devido ao isolamento social, os voluntários deixaram de doar alimento e os animais estão em risco. Os zoológicos estão fechados! A China operacionaliza legislações de conservação da fauna nativa e proíbe o consumo de animais silvestres. Será que a partir de agora ficarão em paz ou serão os culpados pela pandemia. Os Zoológicos estão fechados!... Os confinados são os humanos que se perdem em suas mentes procurando uma resposta! Minha curiosidade por saber como estarão os animais sem os seres humanos encontrei transmissão simultânea de recintos em muitos animais. Se você quiser dar uma olhadinha:
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É imoral continuar o mesmo após a pandemia do Covid-19



Por Marta L Fischer 

Docente PPGB-PUCPR 


É impossível que toda essa situação - singular para nossos dias - presenciada com a pandemia do Covid-19 não toque as pessoas de alguma forma. O impacto na sociedade foi enorme e com certeza essa onda vai deixar marcas no rumo da nossa trajetória, tal como a peste negra no século XIV com seus 200 milhões de mortos. As pessoas mais sensíveis acreditam que o está acontecendo é fruto de inconsciente coletivo que conclamava por uma desaceleração, proximidade com familiares, revisão dos valores e prioridades. Consequentemente, têm a expectativa que após a onda da pandemia passar as pessoas se conscientizarão de que é possível ter uma vida com menos. Outras pessoas acreditam que só aqueles que olham para situação com esse olhar é que de fato almejam essa mudança de vida e que deverão refletir a situação sob a sua ótica e prover essas mudanças pessoais. Embora algumas pessoas concebam o isolamento social como uma boa oportunidade de desfrutar do conforto do seu lar exercendo suas atividades profissionais remotamente, curtindo seu espaço, seus familiares e seus pets e até adotando a medida restritiva antes mesmo de uma determinação legal, um olhar mais atento para sociedade revela muitas vulnerabilidades. 
Ficar em isolamento social não é mesma coisa que ficar em quarentena, enquanto as pessoas ainda podem sair, optar por ficar em casa, pode ser muito confortável, principalmente nos dias de hoje, em que as redes sociais já tem provido esse isolamento físico. Porém, a partir do momento em que uma restrição legal de circulação é imposta, essa situação pode gerar sentimentos negativos, muitas vezes externados nas redes sociais, com expressão de ódio e confronto. Soma-se a sensação de confinamento, a angústia pela indeterminação do fim do confinamento, a ansiedade pela contabilização no aumento do número de infectados e mortos, a insegurança pela possibilidade de faltar alimentos, remédios e até entretenimento e, obviamente, o medo de ser contaminado ou do vírus trazer morte para próximo de si. 
Mas essas não são as únicas vulnerabilidades, o confinamento restringe a percepção a um espectro muito estreito, quase não se fala das populações mais pobres que moram em comunidades em casas muito pequenas com muitos habitantes, não se fala dos moradores de rua, não se fala dos pets que são abandonados, não se fala das pessoas que moram sozinhas... Ser dispensado do trabalho e passar um tempo em casa com seus rendimentos parece bom, mas quantas pessoas não terão condições de arquearem com suas contas por prestarem serviços ou produtos para essas pessoas que estão isoladas. Por outro lado, outro segmento está sobrecarregando alguns profissionais, tais como os da saúde demostram além de uma exaustão imensurável, também uma apreensão por estar tão próximos do perigo. As pessoas que trabalham em farmácias e mercados igualmente continuam sua rígida jornada de trabalho, se expõe ao risco e não desfrutam da oportunidade de refletir sobre o quanto é bom desacelerar, curtir o lar e a família, descobrir o que realmente tem valor na vida, eles estão pagando o maior preço dessa situação apocalítica. Eles e as milhares de vidas que foram interrompidas. Como é possível deixar que todo esse sofrimento e que todas essas mortes tenham sido em vão? 
O momento é de solidariedade, sim! Estamos vivenciando algo que seria improvável, o autocuidado com um intuito comunitário, prestar serviços voluntariados, ser empático com aquele que está sofrendo como eu. Será? Há pessoas que compram o estoque de produtos que todos precisam, há pessoas que aumentam o preço de produtos e serviços, há pessoas que aplicam golpes na internet, há pessoas que produzem pânico e fake News, há pessoas que promovem arrastão se passando por agende de saúde. 
As mudanças são individuais, mas o que impulsionou essa mudança foi a compressão na nossa conexão: é ilusório o bem-estar individual se o coletivo está no caos. É imoral não aprendermos algo com todas essas perdas.

Sobre responsabilidade em tempos de pandemia



Francine Milenkovich Belinetti

Médica dermatologista em Londrina formada pela UEL, residência médica na UEL. Professora do curso de medicina da PUC, Mestranda em Bioética




“Somos todos culpados de tudo e de todos perante todos, e eu mais do que os outros”. Esta é uma frase de Dostoievsky muito pertinente para essa situação de pandemia que estamos vivendo. Ela fala da irrecusável tarefa ética que temos perante os outros. Da tarefa de colocar o centro de gravidade de nossas ações fora de nós e de assumir o protagonismo do enfrentamento desta crise. Infelizmente, muitas pessoas ainda estão presas na intriga entre o seu egoísmo e a sua responsabilidade perante a sociedade como um todo.
A cada dia surgem novas estimativas negativas em relação ao impacto da pandemia do novo coronavírus. As projeções matemáticas construídas de acordo com o que sabemos sobre a doença (contagiosidade, suposta mortalidade etc.) apontam para cenários que podem chegar a milhões de mortes. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (IOT), ela poderá resultar em até 25 milhões de novos desempregados no mundo, além de trazer mais pobreza e prejuízos bilionários que afetarão o consumo globalmente.
Esses dados, muito além de escancarar a nossa interconexão com o nosso sistema ecológico, ora, tudo partiu da mutação de um vírus de outro animal para nós, também demostra a nossa conexão com todas as pessoas, além do próprio relacionamento entre saúde, doença e a conduta humana. Frente a esse cenário, é preciso aumentar a conscientização das pessoas, estimular a sua sabedoria prática que, como expôs Aristóteles, é aquele “estado racional e verdadeiro da capacidade de agir em relação ao bem humano”. A dinâmica da pandemia suprime as fronteiras do perigo. Todos, de alguma forma, serão afetados, como um castelo de cartas que desmorona.
Para Emmanuel Levinas, quanto mais as situações se expõe em precariedade, mais elas impõe obediência e obrigação perante as pessoas. Todos somos sujeitos livres, mas essa liberdade implica em responsabilidade. O eu, no exercício de sua liberdade, nunca pode desconsiderar o outro! Hans Jonas desenvolveu especialmente bem esse conceito de responsabilidade. Argumenta que ela “é algo que pertence tão indissociavelmente ao ser do homem que... há de incorporá-lo à sua definição.” Portanto, mediante o exercício de responsabilidade pelo próximo, o ser humano se enobrece e assume plenamente a sua humanidade.
Nessa perspectiva, observamos muitas pessoas estocando alimentos, buscando lucrar com a situação e tocando suas vidas normalmente, sem as devidas medidas sanitárias preventivas. São pobres almas que ainda não tiveram a sua subjetividade tocada pelo rosto das outras pessoas. Não devemos nos espelhar nelas! Mesmo que esses muitos não estejam tomando as devidas precauções para proteger o próximo, o Eu tem sempre uma responsabilidade a mais do que todos os outros. De dar o exemplo, de cuidar daqueles em que a vulnerabilidade se expressa, de propagar boas ações, como ondas na água. Onde há responsabilidade, onde há cuidado, há, enfim, humanidade.

Os efeitos da desigualdade social em meio a pandemia do (covid-19): Uma reflexão bioética

por Elisângela de Oliveira Cardozo   
Coordenadora  Núcleo de Pesquisa do  Hospital IPO 


O Ministério da Saúde esclarece que Coronavírus (COVID 19) é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China a doença é chamada de coronavírus (COVID-19).

Desde o dia 11 de março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde OMS declarou o surto do coronavirus como pandemia depois de constatados casos da doença confirmados em mais de 160 países que estamos acompanhando uma explosão infindável de informações. 
Porém de todas as informações a mais difundidas a todo o momento é a questão de como evitar a proliferação do vírus e a receita é a mesma desde o surgimento da humanidade, ou seja, a higienização das mãos. O simples hábito de lavar as mãos pode quebrar a cadeia de transmissão do vírus e evitar uma pandemia ainda mais catastrófica.
Diante dessa confirmação devemos ter em mente que vivemos em um país onde aproximadamente 35 milhões de brasileiros não possuem acesso à água tratada, mesmo sabendo que o acesso à água de boa qualidade é um direito fundamental de todo o ser humano essa realidade não é exclusiva do nosso país. Em reportagem da jornalista Heloisa Cristaldo da Agência Brasil publicada em março de 2019, segundo o relatório da ONU quase 2 bilhões de pessoas no mundo ainda não tem acesso a saneamento básico e segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) este número pode chegar a 3 bilhões de pessoas.

De acordo com o relatório, apesar do progresso nos últimos 15 anos, o direito à água potável segura e limpa e ao saneamento é inacessível para grande parte da população mundial. Em 2015, três em cada 10 pessoas (2,1 bilhões) não tinham acesso à água potável e 4,5 bilhões de pessoas, ou seis em 10, não tinham instalações de saneamento com segurança.
E o que isso quer dizer?????? A resposta é simples, a população mais pobre não vai ter acesso a esta medida profilática. E o que o restante da sociedade tem a haver com isso? A resposta também é simples, todos nós temos mais chances de nos contaminarmos já que o vírus simplesmente se espalha, entre partículas e superfícies, de um corpo para o outro e pode estar em qualquer lugar.
Diante deste contexto que prevê a uma grande epidemia mundial e global a certeza que temos é que não vivemos em uma bolha, somos seres sociais e como disse brilhantemente Margaret Thatcher (1987): “E, você sabe, não existe sociedade. Existem homens e mulheres individuais e há famílias” 

Não podemos esquecer que A Bioética como é conhecida atualmente surgiu na década de 70 com Van Rensselaer Potter, um oncologista americano, cuja preocupação inicial estava relacionada com a sobrevivência humana, ou seja, na sobrevivência de todos os seres humanos diante das obstantes descobertas tecnológicas que podiam e podem trazer o fim da humanidade. Sendo assim a Bioética desde sempre teve essa preocupação, cuidar do outro.
E nesta perspectiva a Bioética de proteção torna-se uma importante aliada na luta contra as desigualdades que permeiam o cenário atual. Inicialmente pensada no contexto bioético como uma ferramenta norteadora na resolução dos conflitos de interesse de quem possui os meios de poder econômico e suas capacidades de distribuição para aqueles que não os tem, priorizando os “vulnerados”.

Segundo o professor Dr. Fermin Roland Schramm “A Bioética da Proteção se dedica aos sujeitos e às populações que não contam, por exemplo, com acesso aos serviços de saúde; que vivem na miséria; aos meninos que vivem nas ruas etc, e que, portanto, deveriam ser apoiados pelo Estado e pela sociedade organizada.”, nessas palavras encontramos o sentido da Bioética de proteção, que principalmente neste momento de “crise” jamais poderia ser esquecida.
Também podemos destacar aqui a Bioética da Intervenção, idealizada pelo professor Dr. Volnei Garrafa e mais precisamente difundida á partir da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos em 2005 que trouxe grandes contribuições para a busca de soluções de conflitos sociais que até então pareciam demandas exclusivas dos países da América Latina.
“ Ao tratar das questões éticas suscitadas pela medicina, ciências da vida e tecnologias associadas na sua aplicação aos seres humanos, a Declaração, tal como o seu título indica, incorpora os princípios que enuncia nas regras que norteiam o respeito pela dignidade humana, pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.”
Estamos acompanhando a sociedade e percebendo um movimento do que podemos chamar do “Salve-se quem puder”, já que muitos seres humanos são incapazes de perceber que o mundo é total e que somos seres sociais. A Histeria em alguns casos de estocar alimentos e produtos de higiene em detrimento a falta que estes produtos podem fazer para os outros é um exemplo clássico disso, ou seja, quem tem condições faz o que pode para proteger os seus e assim a pandemia só tende a se espalhar,

As preocupações com os “menos favorecidos” não podem de forma nenhuma ficar ausente em momentos de crise como este que estamos vivendo, e aqueles que insistem que a Bioética não pode ser parte de um movimento político, fica claro que a Bioética é política, já que tudo na vida é política, gostemos ou não, as preocupações com a falta de acesso a necessidades básicas como água potável e saneamento básico aqui no Brasil, na China ou na África, com certeza fará a maior diferença na luta contra a disseminação e proliferação contra o novo coronavirus e tantos outros que ainda vão continuar aparecendo.
Sendo assim, em todo e qualquer contexto a Bioética continua incessantemente buscando e permeando a discussão de forma crítica, racional e sensata, preocupando-se com o ser integral e global, com as situações pontuais e universais, tendo sempre como princípio básico o bem estar de todos os indivíduos, principalmente objetivando o bem estar da coletividade.



Referências

https://coronavirus.saude.gov.br/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Profilaxia
https://www.unicef.org/brazil/sobre-o-unicef
https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-03/falta-saneamento-basico-para-2-bilhoes-de-pessoas-no-mundo-diz-onu#
https://noticias.r7.com/internacional/sob-crise-do-coronavirus-bilhoes-de-pessoas-nao-tem-onde-lavar-as-maos-14032020
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5657%3Ano-dia-mundial-de-higienizacao-das-maos-oms-alerta-para-prevencao-da-sepse-nos-cuidados-de-saude&catid=1272&Itemid=836
http://www.bioetica.org.br/?siteAcao=Destaques&id=134