Mudanças Climáticas Populações Urbanas: Reflexão Bioética a partir do Princípio da Igual Consideração de Interesses


Série Ensaios: Bioética Ambiental


por Monica de F. M. da Rosa, Tâmara Isis Cagnin e Naiara Daiane Camargo

mestrandas em Bioética






As mudanças climáticas são transformações em longo prazo nos padrões de temperatura e clima. Essas mudanças podem ser naturais, como por meio de variações no ciclo solar. Mas, desde 1800, as atividades humanas têm sido o principal impulsionador das mudanças climáticas, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás.
A ação humana, como a queima de combustíveis fósseis e toda a emissão excessiva de gases à atmosfera leva ao agravamento do efeito estufa que é um fenômeno natural essencial para manutenção da vida na Terra. Essa emissão é provocada por atividades antrópicas, como queima de combustíveis fósseis, gases emitidos por escapamentos de carros, tratamento de dejetos, uso de fertilizantes, atividades agropecuárias e diversos outros processos industriais. O efeito estufa é um fenômeno natural essencial para manutenção da vida na Terra, já que mantém as temperaturas médias, evitando grandes amplitudes térmicas e o esfriamento extremo do planeta. Contudo, a intensificação de atividades industriais e agrícolas, que demandam áreas para produção e, consequentemente, gera desmatamento, e o uso dos transportes aumentaram a emissão de gases de efeito estufa à atmosfera.

As consequências das mudanças climáticas agora incluem, entre outras, secas intensas, escassez de água, incêndios severos, aumento do nível do mar, inundações, derretimento do gelo polar, tempestades catastróficas e declínio da biodiversidade. As mudanças climáticas podem afetar nossa saúde, capacidade de cultivar alimentos, habitação, segurança e trabalho. Alguns de nós já são mais vulneráveis aos impactos do clima, como as pessoas que vivem em pequenas nações insulares e outros países em desenvolvimento.
Nos últimos 60 anos o crescimento das cidades foi extraordinário, embora alguns núcleos urbanos sejam tão antigos quanto o início da colonização. O crescimento das cidades brasileiras foi profundo e rápido, mas deixou grandes carências. Segundo os dados do censo demográfico de 2010, as 20 regiões metropolitanas (RM) brasileiras concentravam 88,6% dos domicílios em aglomerados subnormais (assentamentos irregulares ou favelas).A população de baixa renda vem sofrendo há décadas um processo de expulsão das zonas com maior zona de infraestrutura urbana instalada. As zonas perigosas, a irregularidade, a insalubridade fundiária, entre outros fatores, são as condições que vão colocar o custo de um terreno ou aluguel acessível no orçamento dessas famílias de baixa renda. Então são milhões de pessoas envolvidas nesse processo de 'apartheid social geográfico' da região metropolitana de todas as grandes cidades brasileiras.
Diante da emergência climática e ambiental, somente com investimento em infraestrutura, eliminação da pobreza, redução das desigualdades e a construção de cidades ecológicas se pode pensar em sustentabilidade urbana com bem-estar social. A falta de planejamento urbano na construção das cidades – tem causado problemas de mobilidade, habitação, saneamento, entre outros – é um dos males da sociedade atual a ser enfrentado pelos municípios, estados e governo federal. Esta falta de planejamento também potencializa os efeitos dos temporais, provocando deslizamento de terras e inundações.
Neste contexto de mudanças climáticas é possível evidenciar problemas éticos que estão relacionados com o enfrentamento das alterações do clima, bem como as dificuldades encontradas para sobrevivência e qualidade de vida das pessoas. As desigualdades sociais impactam em violação dos direitos humanos, como acesso a moradia segura, disponibilidade e acesso a água e alimentos ficam prejudicados em situações de seca ou chuvas intensas. Também podemos destacar o agravamento dos problemas de saúde que estão relacionados diretamente com os diferentes tipos de alterações climáticas e que mais uma vez são agravados pelas desigualdades socias.
Neste sentido a bioética utilitarista e o princípio da igual consideração de interesse, coloca a ética além dos interesses pessoais ou de algum grupo em particular, sendo necessária a universalização, igualdade entre os seres sencientes humanos e não humanos. As consequências das ações do ser humano sobre a natureza, suas ações não podem considerar somente os seus interesses, mas deve igualmente considerar os interesses de todos os outros afetados pelas suas ações, inclusive gerações futuras. Percebemos que toda essa agressão a natureza está relacionada ao fato da maior parte das cidades não estarem preparadas com a infraestrutura básica necessária para o seu crescimento. Falta planejamento e infraestrutura em relação as consequências que isso traria para a sociedade e também para a própria natureza que não tem intenção em sofrer. Nós como futuras biooeticistas acreditamos que a partir de toda a contextualização fica a provocação para que a sociedade em geral pense em suas atitudes que afetam o meio ambiente ocasionando alterações climáticas que afetam não somente a natureza, mas o ambiente como um todo. E para que as políticas públicas sejam voltadas para essa sociedade vulnerável que paga um preço alto pelas atitudes impensadas e egoístas por parte dos seres humanos.

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Bioética Ambiental, do Programa de Pós-graduação em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, tendo por base as seguintes referências bibliográficas:

FISCHER M.L.; MOLINARI, R. B. Bioética ambiental: a retomada do cunho ecológico da bioética. in SGANZERLA, A. SCHRAMM F.R. (Org). Fundamentos da Bioética. Série Bioética vol. 3 Curitiba: CRV, 2016 p. 233-253.
BAPTISTA, R. Fenômeno climático influencia fortes chuvas no Sudeste, mas falta planejamento urbano na gestão de áreas de risco. G1SP e Globonews, 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/02/04/fenomeno-climatico-influencia-fortes-chuvas-no-sudeste-mas-falta-planejamento-urbano-na-gestao-de-areas-de-risco-dizem-especialistas.ghtml
Mudanças Climáticas: ameaça ao bem- estar humano e à saúde do planeta. Nações Unidas Brasil, 2022. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/173693-mudancas-climaticas-ameaca-ao-bem-estar-humano-e-saude-do-planeta

Poluição Ambiental: dois lados da mesma moeda

Série Ensaios: Bioética Ambiental

Por João Carlos de Aquino Almeida, Daniel Amaral e Rosana Da Ros

Mestrado em Bioética




A poluição ambiental é o resultado de qualquer tipo de ação ou obra humana capaz de provocar danos ao meio ambiente. É a introdução na natureza de substâncias nocivas à saúde humana, aos outros animais e ao próprio ambiente, que altera de forma significativa o equilíbrio dos ecossistemas. Na antiguidade, essa ação era insignificante, pois a natureza podia se recuperar da ação humana, que trazia pouco impacto, e a natureza era capaz de se recuperar desse desequilíbrio eventual causado pela ação humana. No entanto, em especial após a revolução industrial, com a produção em massa de insumos, aliada à visão de que a natureza era um depósito infinito de recursos sujeito à exploração do homem, esse impacto passou a ser grandemente significativo, e em certos casos, irreversível. A poluição é considerada um dos principais problemas ambientais nos dias de hoje, e passou a ser cada vez mais crítica com o aumento da densidade demográfica, urbanização e industrialização. O agente contaminante é chamado de poluente, que pode ser químico ou físico, em forma de energia, como calor, luminosidade e radiação.
Existem várias formas de poluição como a das águas, do ar, sonora, visual. Ao longo do tempo, essa visão do meio ambiente como algo sem valor, e cuja destruição e abuso não nos afetava ou merecia a nossa atenção, foi aos poucos se modificando, através da percepção de alguns cientistas e filósofos sobre as consequências dessas ações sobre o ambiente. Nos anos de 1960, pós segunda guerra mundial, uma obra chamada “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson1 levanta de forma crítica o tema a respeito do uso de agrotóxicos e produtos químicos na agricultura norte-americana que afetava diretamente o ecossistema. O livro causou impacto na época por analisar que o DDT, pesticida muito utilizado, tinha um efeito acumulativo notável em aves, em particular as predadoras, fazendo com que as cascas dos seus ovos ficassem muito finas, ao ponto dessas aves não conseguirem se reproduzir, o que foi observado nas águias carecas, símbolo nacional americano, quase às levando à extinção. Esse livro foi um marco do então emergente movimento ambientalista, que de forma modesta vai aos poucos se consolidando. Em suas linhas críticas, se levanta a reflexão a questão da saúde humana e do meio ambiente, e apresenta ao mesmo tempo, a necessidade de criar uma responsabilidade coletiva sobre a mãe terra e a proteção a saúde e o bem-estar desse ecossistema.

Um pouco mais tarde, no ano de 1971, o oncologista Van Rensselaer Potter, escreve um livro intitulado Ponte para o Futuro, onde aborda o diálogo que irá marcar o ponto inicial da bioética como uma visão ética prática de cunho global, e não apenas relacionada à biomedicina, visando a preservação da vida não só do homem, de maneira apartada da natureza, mas postulando que a nossa sobrevivência era dependente da sobrevivência do planeta, e que deveria haver uma junção entre as ciências médicas e sociais de forma a firmar um compromisso ético que comportasse a preocupação e a responsabilidade com o ambiente. A humanidade depende da disponibilidade dos recursos naturais do planeta, e com a população humana atingindo hoje a casa dos 8 bilhões de habitantes, essa conciliação entre o desenvolvimento e a sustentabilidade parece cada vez mais difícil despertando o mundo para a necessidade cada vez mais premente da progressiva redução da poluição ambiental. Um dos efeitos mais notáveis desse efeito nocivo da poluição sobre o meio ambiente é a modificação do clima. Segundo o GreenPeace3, se não reduzirmos o efeito estufa até a metade desse século, o aumento da temperatura do planeta pode colocar em risco a própria existência da humanidade O desmatamento é um dos fatores que pode contribuir para a intensificação do efeito estufa. Isso ocorre pelo fato de as árvores serem uma das responsáveis pela absorção do CO2, um dos gases que intensificam o efeito estufa. Além disso, as queimadas, um dos processos utilizados no desmatamento, libera CO2 na atmosfera. As árvores também contribuem com o aumento da umidade do ar, controlando o regime de chuvas de determinadas regiões. Além da poluição causada pelo homem, podemos ter a contribuição de vulcões em erupção, terremotos, tempestades de areia e meteoritos que se chocam contra a crosta do planeta Terra, fenômenos naturais que podem causar mudanças climáticas e poluição do ar, agravando ainda mais esse quadro.
Além dessas ameaças potenciais, o ser humano também tem de estilos de vida que usam recursos de forma intensiva. Produzimos e consumimos mais do que nunca e, como resultado, estamos gerando mais gases do efeito estufa, bem como poluentes, sob a forma de químicos e material particulado, incluindo o “carbono negro”, forma altamente poluente de resíduos de carbono, produzido através da combustão de combustíveis fosseis, madeira e outras fontes orgânicas4. É imprescindível que medidas sejam tomadas para que as taxas de desmatamento diminuam. Entre essas medidas está a educação ambiental. É importante que as pessoas saibam a importância da vegetação natural, como as florestas, conheçam todos os benefícios gerados por elas, ambientais, econômicos e sociais, para que, assim, compreendam a necessidade de sua preservação. Além disso, políticas de reflorestamento, manejo sustentável, proteção e fiscalização são essenciais para o controle do desmatamento e a preservação do meio ambiente.
Impactos sociais: diversos povos dependem das florestas tanto para obterem diretamente dela seu alimento como para retirarem outros produtos, os quais garantem a sua subsistência, como como fibras, resinas, frutos e produtos medicinais. A destruição desses ambientes afeta essas pessoas de tal modo, aumentando a sua pobreza e obrigando-as, muitas vezes, a mudarem-se para outras regiões, buscando uma forma de manter-se. Mas como criar uma justificativa moral que para ser razoável para explicar para as pessoas comuns porque não é certo destruir ou abusar do meio ambiente? Seres vivos de todas as espécies têm sido considerados objetos de propriedade, passíveis de serem explorados para atender aos desejos, fantasias e necessidades humanas. Filósofos morais utilitaristas, a exemplo de Peter Singer5, têm tido um papel muito significativo no que diz respeito ao estabelecimento de princípios éticos para definir os limites da liberdade humana em relação a todos os seres sencientes. Mas, o critério da senciência, no caso da formulação de uma ética ambiental genuína, não pode ser aplicado ao meio ambiente como um todo, nem mesmo a todos os seres vivos. Ou seja, dizer que devemos preservar a vida de um animal porque ele sente dor ou ansiedade não é suficiente como justificativa moral para promover a preservação do meio ambiente. Tom Regan, outro filósofo ambientalista, defende que devemos considerar a natureza como algo que possui um valor inerente a ser respeitado6. Inerente significa o que está ligado de forma inseparável ao ser. É aquilo que está intimamente unido e que diz respeito ao próprio ser. Inerente é o que faz parte da pessoa ou coisa e que lhe é inseparável por natureza. É o que é intrínseco, peculiar, específico e que pode servir para caracterizar algo ou alguém. O termo também se refere às responsabilidades ou obrigações próprias de determinada atividade ou função. Desta forma, devemos respeitar a natureza não como algo que é inferior a nós ou que tem uma função subserviente aos nossos desejos, mas como algo que tem um valor em si, que nós temos por isso o dever de respeitar. Pequenas atitudes, como reduzir o uso de automóveis e reciclar o lixo, são medidas que podem reduzir a poluição ambiental, e devem ser tomadas tendo em vista a consideração desse valor inerente da natureza. Educar a população a respeito da importância de se cuidar do meio ambiente é fundamental para que o problema da poluição não seja agravado, e para que venhamos não só proteger o planeta, mas preservar a própria existência futura da humanidade. 

Como futuros bioeticistas, cremos que é preciso antes de tudo modificar a visão crítica sobre a natureza, buscando respeitá-la pelo valor que ela tem em si mesma. Algumas correntes bioéticas e preservacionistas buscam justificar a necessidade de conservação da natureza com justificativas antropocêntricas, ou seja, de certa forma dizendo que isso deve ser feito porque é útil ao homem ou tendo em vista as consequências que a humanidade poderá sofrer caso isso não ocorra. Na realidade, podemos refletir que tudo o que somos até hoje é resultado da nossa interação com a natureza e todos os seus componentes, com os animais, com os vegetais, e com o clima. Mesmo que a resposta evolutiva da humanidade, ou seja, como os seres humanos reagem à mudança climática, a um animal predador ou a uma planta que nos serve de alimento que passamos a cultivar, seja bem mais complexa do que animais não humanos, por exemplo, que não desenvolvem cultura ou tecnologia de forma tão notável como a nossa espécie, nós evoluímos junto com a natureza, respondendo ao meio ambiente, e fazemos parte dela. Cremos assim que é preciso antes de tudo respeitarmos a natureza, não apenas na visão do que ela pode ser útil ou nos servir e prover, mas como um todo do qual fazemos parte e com o qual nos integramos.

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina Bioética Ambiental, do Programa de Pós-graduação em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, tendo por base as seguintes referências Bibliográficas:

1. Carson, R. Primavera Silenciosa. (Editora Gaia, 2010).

2. Potter, V. R. Bioética: Ponte para o futuro. (Edições Loyola, 2016).

3. Gerhardt, R. Ou agimos agora ou será tarde demais - Greenpeace Brasil. https://www.greenpeace.org/brasil/blog/ou-agimos-agora-ou-sera-tarde-demais/?utm_term=o%20aquecimento%20global&utm_campaign=%5BMAIO/20%5D+Mudan%C3%A7as+Clim%C3%A1ticas+(25+a+65+anos)&utm_source=adwords&utm_medium=ppc&hsa_acc=7235609613&hsa_cam=10021110653&hsa_grp=102663243482&hsa_ad=437670223648&hsa_src=g&hsa_tgt=kwd-310625624343&hsa_kw=o%20aquecimento%20global&hsa_mt=b&hsa_net=adwords&hsa_ver=3&gclid=Cj0KCQiAsoycBhC6ARIsAPPbeLuDi06klPo4Fk9NHB451EIMfzoJn_ySigi_9ISff-DacO-2l2nhoI8aAjhsEALw_wcB (2018).

4. Alves, C. Aerossóis atmosféricos: perspectiva histórica, fontes, processos químicos de formação e composição orgânica. Quim Nova 28, 859–870 (2005).

5. Singer, P. Libertação animal: O clássico definitivo sobre o movimento pelos direitos dos animais . (WMF Martins Fontes, 2010).

6. de Almeida, J. A. M. A ética ambiental de Tom Regan: crítica, conceitos, argumentos e propostas. Ethic@: An International Journal for Moral Philosophy 5, 147–151 (2006).

 

O preço das mudanças climáticas

 Série Ensaios: Bioética Ambiental

Por Gislaine T. Queiroz e Larissa Prestes

Mestrandas em Bioética




Em setembro de 2022, o jornal A tribuna, em texto de Yamara Tovar, abordou o prejuízo financeiro causado por um período de estiagem prolongado e incomum no estado do Espírito Santo. Em Marataízes, cidade que depende economicamente do plantio de abacaxi, estima-se um prejuízo de R$20 milhões com perda de 80% da safra. Na região de Cachoeiro de Itapemirim, a seca causou a morte de aproximadamente 250 animais, estimulando o aumento no preço da carne e dos alimentos lácteos. Acredita-se que os pecuaristas da região estejam deixando de ganhar aproximadamente R$ 8 milhões ao mês. Em contrapartida, a prefeitura de Marataízes decretou estado de vulnerabilidade hídrica, enquanto, autoridades locais de Cachoeiro do Itapemirim tentam evitar o agravamento da crise por meio de fornecimento de subsídios e insumos.


Desde os anos de 1970 estudos associam o desenvolvimento tecnológico com as mudanças climáticas. Essas mudanças são caracterizadas por eventos como ondas de calor, inundações, secas, aumento do nível dos mares e poluição atmosférica. Percebemos que esses eventos podem influenciar diretamente na produção de alimentos levando a escassez e ao aumento de preço. E, indiretamente levando ao aumento do consumo de alimentos ultra processados. Ou seja, as mudanças climáticas possuem interface com a má nutrição e com a insegurança alimentar e nutricional: desnutrição/ déficit nutricional e sobrepeso/obesidade.

Por este motivo, a discussão sobre as implicações das mudanças climáticas na produção de alimentos faz parte dos temas de interesse da Bioética Ambiental. É importante destacar que:






Quando voltamos nosso olhar novamente para a situação dos agricultores atingidos pela seca no Espírito Santo, percebemos que eles fazem parte tanto do grupo responsável pela mudança climática quanto do grupo que sofre as suas consequências. No Brasil a emissão de gases de efeito estufa a partir das queimadas, desmatamento e expansão agrícola é muito maior do que a industrial e da queima de combustíveis fósseis e o país tem sido considerado como um dos maiores emissores do mundo. Entretanto, como pais em desenvolvimento também apresenta uma baixa capacidade de se defender dos impactos das mudanças climáticas.


Neste contexto temos o Princípio da Vulnerabilidade. “Vulnerabilidade” é uma palavra de origem latina, derivando de vulnus (eris), que significa “ferida”. Assim sendo, a vulnerabilidade é irredutivelmente definida como susceptibilidade de se ser ferido. A qualificação de pessoas e populações como vulneráveis impõe a obrigatoriedade ética da sua defesa e proteção, para que não sejam “feridas”, maltratadas, abusadas. Portanto, é de fundamental importância a mudança nas práticas de expansão agrícola, promovendo uma agricultura sustentável não baseada em queimadas e desmatamentos. Bem como, o fomento e o desenvolvimento de pesquisas sobre os impactos das mudanças climáticas sobre a agricultura e pecuária. Como forma de proteção dos próprios agricultores.

Nós como futuras bioeticistas acreditamos que respeitar a Gaia em sua magnitude absoluta formará alicerces robustos para o equilíbrio entre os envolvidos: natureza, homem e animais. É de extrema importância a consciência do todo, deixando de lado o pensamento utilitarista ao tratamos dos assuntos relacionados a natureza.



O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Fundamentos da Bioética ambiental tendo como base as obras:

Alpino, Tais de Moura Ariza; Mazoto, Maíra Lopes; Barros, Denise Cavalcante de; Freitas, Carlos Machado de. - Os impactos das mudanças climáticas na Segurança Alimentar e Nutricional: uma revisão da literatura - Ciência & Saúde Coletiva; 27(1); 273-286; 2022-01.

Luciane Fischer, Marta, y Caroline Filla Rosaneli. (2022) 2022. «EL “HAMBRE DE AGUA” Y SU DIMENSIÓN AMBIENTAL, BIOLÓGICA Y BIOÉTICA». Revista Inclusiones 9 (Especial):336-52. https://doi.org/10.58210/fprc3402.

PELLEGRINO, G. Q.; ASSAD. E. Q.; MARIN, F. R. Mudanças Climáticas Globais e a Agricultura no Brasil. Revista Multiciência. Campinas, SP. nº 8. p. 138 – 162, 2007.

Patrão Neves, M. (2006). Sentidos da vulnerabilidade: característica, condição, princípio. Revista Brasileira De Bioética, 2(2), 157–172. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/rbb/article/view/7966

TOVAR, Yamara. Seca destrói plantações; mata bois e vai subir preços. Tribunaonline, 2022. Disponível em: <https://tribunaonline.com.br/economia/seca-destroi-plantacoes-mata-bois-e-vai-subir-precos-124166>. Acesso em: 30 de novembro de 2022.

A Felicidade Temporária ao Nível do Mar

Série Ensaios: Bioética Ambiental


Por Manuela Truiti e  Shadya Koffke do Amaral
mestrandas em Bioética






A reportagem reforça a necessidade de atenção dos países em relação as alterações climáticas, principalmente, aqueles em regiões costeiras que serão os primeiros a precisarem se adaptar aos primeiros resultados da ação humana sobre a natureza. É o que a Climate Central, expõe em pesquisa sobre a temática.

A água sempre foi um elemento chave na questão do impacto das mudanças climáticas. Dentro deste contexto, muito tem se falado e se preocupado com a elevação do nível do mar, que é um fenômeno físico consequente ao aumento da temperatura global em decorrência do acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera.

As consequências desse aumento do nível marítimo tem gerado grande debate e preocupação, conforme ilustrado pela reportagem “Futuro debaixo d’água: como será a elevação do nível do mar no mundo todo”, publicada no site da CNN em 12/10/2021. Segundo a reportagem, cerca de 600 milhões de pessoas estarão em risco caso a previsão de aumento em 3 graus da temperatura mundial aconteça, sendo que 385 milhões vivem atualmente em terras que serão inundadas pela maré alta, mesmo se as emissões de gases de efeito estufa forem reduzidas. Isso nos trás a grande questão: como deixamos chegar a este ponto?

É fato o desequilíbrio natural causado pela ação humana, guiada e desgovernada pela ambição de “sobreviver com qualidade", muitas vezes priorizando o lucro à sustentabilidade. O homem busca a felicidade e a sobrevivência, e dentro de uma visão antropocêntrica, utilitarista e porque não dizer “ignorante”, acaba por tê-las a curto prazo, sem pesar as consequências a longo prazo. O homem usufruiu dos recursos naturais para sua felicidade, mas agora depende da conservação dessa fonte para sua sobrevivência.

Apesar das mudanças climáticas afetarem a população do mundo todo, sempre há aqueles mais vulneráveis e que sofrem piores consequências. No caso do aumento do nível marítimo, é a população costeira, principalmente da região Asiática. O prejuízo é social, com necessidade de abandono de suas casas e de tudo que construíram ao longo da vida e também econômico, relacionado à perda da pesca, turismo, comércio, entre outros.

Mas felizmente há uma luz no fim do túnel… recentemente vem acontecendo uma mobilização social e de organizações, como a ONU, para discussão e busca de estratégias para atenuar estes desfechos. E assim vemos na prática o princípio bioético da compaixão, movido pelo movimento social de avaliar e identificar os problemas globais, buscando alternativas para proteger tanto o meio ambiente quanto a população exposta à degradação desse meio natural.

Diante dessa discussão, vamos centrar dois tópicos: a “felicidade temporária do homem” e “sobreviver com qualidade”; e reforçar a visão antropocentrista e utilitarista presente e que de certa forma, até mantém ou podem ajudar no equilíbrio ambiental.

Vamos traduzir os tópicos. Primeiramente discutindo o que é “sobreviver com qualidade”. O homem vive dentro de suas limitações lutando em busca de qualidade de vida e felicidade, e por isso “sobrevive”. É uma felicidade temporária, pois senão não estaríamos discutindo desastres ambientais e prejuízos à saúde humana e animal. E por sua “ignorância”, no sentido de não ter o conhecimento sobre a causa, da necessidade de proteção e do reconhecimento da natureza como fonte ao invés de recurso, a felicidade de usufruir a natureza e manter qualidade de vida, é de curto prazo.

Sobre ser utilitarista e antropocêntrica. É utilitarista sim, pois não temos como negar a necessidade do homem em explorar a natureza para sua sobrevivência e felicidade. E antropocentrista também, pois, mesmo que o homem entenda a natureza como fonte e não recurso, só a protege porque depende dela para a sobrevivência e felicidade. E como alcançar a justiça ética dentro desse cenário? Como a ética pode proteger a saúde global; prevenir desastres ambientais, promover à saúde única?


A resposta pode estar associada ao princípio da compaixão que por hora se apresenta ausente quando analisamos o papel do homem e sua “irresponsabilidade” frente ao meio ambiente, ao contribuir para o aumento do nível do mar por conta da emissão e aumento do efeito estufa, prejudicando seu próprio semelhante. E em outro momento, esse mesmo agente moral, pela compaixão, se preocupando com a situação global, estudando a atividade humana que impacta positiva e negativamente na vida do próximo, principalmente, aos mais vulneráveis.

Se o homem na luta por sua vida acaba por prejudicá-la e por isso, uma felicidade temporária; concluímos então que ela segue o nível do mar; quanto mais elevado o nível da água maior é a felicidade temporária.

Nós como futuras bioeticistas acreditamos que a mesma mão humana que trouxe até hoje a realidade triste e preocupante de um futuro saudável incerto pode trazer momentos de “pausa e reflexão” para as próximas ações mais conscientes e sustentáveis. O mesmo homem que por hora se apresenta utilitarista precisará enxergar a natureza como fonte e protetor dela. Que o mesmo homem que se vê no centro do universo, irá se entender no contexto com o meio natural e operante e receptor de toda e qualquer mudança que faça sobre esse meio. Não há mais como separar o homem e colocá-lo no topo da cadeia, pois ele se afunda no mesmo mar que ele próprio fez crescer. A compaixão é um princípio necessário, assim como outros valores humanos que buscam a justiça ética de um globo e de tudo que nele pertence de forma indissociável.



Este ensaio foi elaborado para a disciplina de Bioética Ambiental e teve como referência os seguinte material:
FISCHER M.L.; MOLINARI, R. B. Bioética ambiental: a retomada do cunho ecológico da bioética. in SGANZERLA, A. SCHRAMM F.R. (Org). Fundamentos da Bioética. Série Bioética vol. 3 Curitiba: CRV, 2016 p. 233-253.
SGANZERLA, A.; ZANELLA, D. C.; GRAESER, V. Potter e o equilíbrio do ecossistema como fundamento da moral e da bioética. Revista Ibero-americana de Bioética, Vol. 17, 2021, p. 01- 13
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Mudanças climáticas e disponibilidade de recursos hídricos: reflexão bioética a partir do princípio da não mercantilização



Série Ensaios: Bioética Ambiental


Por Marcos Bogado Barboza e Vinicius José de Lima

mestrandos em Bioética

Durante um bom período, quando se falava em água, muitas pessoas a pensavam do ponto de vista da sua abundância, embora já existisse escassez desse recurso em muitas partes do mundo. Contudo, principalmente nos últimos anos, vemos a crescente discussão sobre a escassez de água. Nos últimos anos, o Brasil tem passado por uma crise hídrica, o que faz com que as discussões sobre a falta de água venham à tona. De acordo com pesquisadores, essa crise hídrica se deve a dois fatores, primeiro à má gestão pública dos recursos hídricos, segundo às mudanças climáticas. Do ponto de vista de uma má gestão dos recursos hídricos, pesquisadores indicam que o Brasil precisa aprender a melhor utilizar a água disponível em seu território. Os cientistas indicam a necessidade de se formular um plano de gestão dos recursos hídricos a ponto de utilizar as diversas fontes de água de maneira sustentável. Um sinal dessa má administração está no fato de mesmo com a crise hídrica, o Brasil perde em média 40% do recurso tratado devido à má conservação dos canais que conduzem a água até às pessoas. Estudiosos apontam para a necessidade de se investir em pesquisa para se descobrir meio de superar o impacto dessa crise hídrica na sociedade, descobrindo outros meios de se utilizar esses recursos.
Com efeito, a crise hídrica no Brasil não é apenas um fator gerado pela má gestão dos recursos. As mudanças climáticas, relacionadas ao aquecimento global, incidem diretamente nesse quadro crítico da crise hídrica, dando seus sinais por meio de secas prolongadas. Além disso, o desmatamento na  
Amazônia tem alterado o fluxo de chuvas no Brasil. “Isso acontece por causa de um fenômeno chamado de rios voadores, em que a umidade proveniente da transpiração das árvores da Amazônia é carregada pelas nuvens para outras regiões do país e até para algumas cidades da América do Sul – como uma bomba de água que abastece o Centro-oeste e o Sudeste do Brasil, região mais afetada pela atual crise hídrica” (https://www.dw.com/pt-br/a-crise-h%C3%ADdrica-no-brasil-%C3%A9-uma-crise-mundial-alertam-cientistas/a-60077325).
Fato é que a água é um bem valioso e necessário à vida, seja ela humana, animal e vegetal. Diante da escassez de água, a vida desses seres que necessitam dela para a sua sobrevivência encontra-se em estado de vulnerabilidade. Ao pensar a dimensão, sobretudo da segunda causa apontada para a crise hídrica, é possível afirmar que não só os seres vivos que necessitam da água estão vulneráveis, mas a própria natureza, haja vista que a ação humana sobre o meio ambiente acarreta consequências não somente para ele, mas para toda a biosfera. Assim, ao mesmo tempo que a vida humana é vulnerável, nesse contexto ela é também o agente moral que gera essa vulnerabilidade. Outra questão que também se desponta é a mercantilização da água. Recentemente, matérias vinculadas em diversos noticiários indicaram que os recursos hídricos começaram a ser negociados na Bolsa de Valores de Nova York. A proposta é que se possa investir em contratos que garantam o uso da água em momentos de seca.
Com efeito, essa ação faz com que a água se torne um bem econômico, cujo qual quanto mais escassa mais valiosa ficará. Dito de outro modo, o que se pretende é a apropriação privada fazendo com que o acesso a esse recurso natural seja somente direito de algumas pessoas, o que potencializa as situações de vulnerabilidades e a sustentabilidade dos recursos hídricos.
Ora, é moralmente válido que a água seja mercantilizada, principalmente em um contexto de crise hídrica? Quando se trata da mercantilização há sempre o risco de que se potencialize os fatores de vulnerabilidade, pois aprofunda as desigualdades à medida que nem todos conseguem ter as mesmas condições de posse. Partindo de uma concepção de que a água é um recurso natural, necessário à vida humana, animal e vegetal, não se pode admitir que esse recurso se torne um bem econômico do qual alguns podem ter posse sobre ele ao passo que outros não. Assim, o princípio bioético de não-mercantilização se desponta como referencial ético ao dilema apresentado. Além disso, uma administração correta dos recursos hídricos se apresenta como solução à esse dilema, pois é um modo de garantir o acesso democrático à água.
Assim, é possível afirmar que as mudanças climáticas incidem diretamente sobre a vida, uma vez que influenciam na disponibilidade da água, um recurso fundamental para a subsistência dos seres. Diante disso, nós como futuros bioeticistas consideramos que se faz necessária a reflexão de como o ser humano pode colaborar para a redução desses efeitos, bem como a necessidade de utilizar a água de modo responsável. Isso tudo não apenas para o seu próprio bem, mas para o bem vida de todos os seres. Por fim, a via de mercantilizar a água não se apresenta como a solução mais adequada à problemática da escassez de recursos hídricos.

Por que é anormal ser anormal?

 

Série Ensaios: Sociobiologia




por Flávia Camargo Cabral, Gabriela Meissner, Letícia Correa Marcondes, Maria Thereza Terras Pinto, Mariana Volpi Pospissil, Wilian Felipe Bugnhaki;
 Acadêmicos dos cursos de Biologia e Enfermagem.



No dia 6 de fevereiro de 2022, foi publicado no site g1.globo.com uma matéria com o título “Pessoas com deficiência são vítimas de ataques de ódio nas redes sociais”. Nessa reportagem sobre preconceito, foram relatadas três histórias sobre ataques virtuais contra pessoas portadoras de deficiência. Uma delas foi contra um menino de três anos, com Síndrome de Down. A segunda é de duas irmãs, onde uma delas tem uma síndrome rara que altera a formação dos ossos da face. Por fim, a terceira história relatada é de uma mulher cadeirante.
O Preconceito é um comportamento que está cada vez mais sendo noticiado e podemos observar esse comportamento não somente nas pessoas como também na natureza, onde os animais tendem a se agrupar com os indivíduos semelhantes e afastar aqueles que são diferentes. Isso ocorre na tentativa de manter a integridade do próprio grupo, seja por um indivíduo deficiente deixar o grupo mais vulnerável ou por poder transmitir alguma doença aos outros componentes do grupo.
Os exemplos de preconceito na natureza são vários, mas vamos demonstrar alguns desses comportamentos já observados em animais sociais, como os humanos. Um dos casos trata do preconceito e aversão a indivíduos doentes em colônias de abelhas. Infecções como a cria pútrida americana em larvas geram a liberação de substâncias químicas, como ácido oleico e β-ocimeno, que são detectadas por abelhas que retiram as larvas da colônia, segundo Alison McAfee, pós-doutoranda do departamento de Entomologia e Patologia Vegetal da Universidade Estadual da Carolina do Norte.
Outro exemplo de preconceito com doentes foi observado por Jane Goodall em 1966 quando estudava chimpanzés no Parque Nacional Gombe Stream. Um dos chimpanzés, chamado McGregor, apresentava poliomielite e foi atacado e expulso do grupo por outros chimpanzés, além de ter sido rejeitado em tentativas de contato com membros do grupo. Foram observados outros indivíduos doentes que foram excluídos, mas alguns indivíduos infectados com poliomielite eram aceitos novamente no grupo. Algumas pesquisas afirmam que os chimpanzés demonstram medo e nojo pela desfiguração causada pela poliomielite, sendo, então, a visão é o sentido responsável por detectar a presença da doença nos chimpanzés.
Outro caso de preconceito é o infanticídio de um filhote de chimpanzé na reserva florestal Budongo, na Uganda, relatado por cientistas suecos da Universidade de Zurique. O motivo do assassinato foi o albinismo apresentado pelo filhote. Não havia deformações, o grupo de chimpanzés não estava em disputa com grupos rivais e o jovem não demandava maiores cuidados pela mãe, além do que já é esperado para um filhote saudável. Sendo, portanto, apenas um preconceito racial e estético, como visto em humanos. O infanticídio pode ter sido causado por simples estranheza na aparência do filhote ou por terem confundido o mesmo com indivíduos da espécie Colobus guereza, de coloração preta e branca.
Assim, nos componentes biológicos desse comportamento, é possível observar que morfologicamente os indivíduos de um grupo expressam uma reação de espanto, ao ver algum organismo da mesma espécie que seja diferente dele, esse comportamento pode ser devido ao medo do diferente, gerando uma cascata metabólica que altera fisiologicamente o animal, gerando seu afastamento e repulsa sobre o indivíduo estranho do grupo, sendo uma reação selecionada pela evolução, dificultando por exemplo a contaminação com agentes infecciosos. Outra explicação seria a sensação de ameaça, visto que o cérebro do animal pode entender que o outro indivíduo não é da mesma espécie ou possui alguma característica que pode trazer risco a saúde e integridade do animal. Quando o animal se sente ameaçado sabemos que diversas reações acontecem em seu sistema nervoso. Já a visão e o olfato são sentidos muito envolvidos no desencadeamento do comportamento de preconceito, visto que o cheiro de um animal doente ou a aparência deformada ou diferente de algum indivíduo do grupo pode levar a aversão, nojo, expulsão do indivíduo do grupo e até agressão e assassinato.
Nos humanos isso não é diferente pois ao nos sentirmos ameaçado, em situação de risco, medo ou estresse nosso organismo ativa um mecanismo que se chama reação de luta e fuga e na presença de estímulos ameaçadores há uma ativação do sistema nervoso simpático que é responsável pela liberação de substâncias importantes para que nosso organismo escolha entre a luta ou a fuga. E essa resposta ao estresse é responsável pela manutenção da vida e é extremamente essencial ao nosso organismo.
E para nós os componentes psicológico, cultural e o aprendizado têm mais importância com relação ao preconceito, visto que atitudes ensinadas e reforçadas durante a infância se tornam normais na vida adulta. Isso ocorre porque temos o contexto social, que têm grande interferência na prática do preconceito, então nos é ensinado, se não pelos pais, pela sociedade, que praticar preconceito é errado, e que em uma sociedade diversificada nós devemos aceitar as diferenças dos outros indivíduos. A moral, presente nas sociedades humanas, não é vista na natureza. Quando um indivíduo é expulso do grupo por ser diferente ou estar doente não existe empatia pelos outros membros, não se tem a noção do que seria certo ou errado, mas sim o que é instintivo e o que beneficia o grupo como um todo, independente dos males causados a um ou alguns membros desse bando.

Como contexto etológico, é possível observar que em outras espécies o preconceito também ocorre para garantir a integridade do grupo. Isso ocorre em colmeias de abelhas, onde os indivíduos que estão contaminados com uma doença bacteriana são removidos da colônia para não contaminarem os outros indivíduos. Nós, quando pegamos poliomielite, também desenvolvemos deficiências físicas devido ao comprometimento de neurônios motores. Esse comprometimento acometido por uma doença pode ser uma das explicações para o preconceito associado a pessoas com deficiência física.
Outro fator evolutivo, é que animais no ambiente natural ficam expostos à predadores, mas em grupo eles conseguem garantir a sua sobrevivência. Porém, grupos que possuem indivíduos com deficiência física, precisam depositar um cuidado maior sobre esse indivíduo que é mais vulnerável, fazendo com que o grupo todo se torne mais vulnerável, então é muito comum no reino animal o sacrifício ou abandono de filhotes mais fracos ou com deficiência. Essa pode ser mais uma explicação para o preconceito e isolamento contra os indivíduos portadores de deficiência física na nossa sociedade atual.
Nós como futuros Biólogos e Enfermeiros acreditamos que o comportamento animal é moldado por instinto, reflexo e aprendizagem. A aversão a certas aparências, por exemplo, foi muito importante para a sobrevivência das espécies, evitando a contaminação de todos os membros do grupo com alguma deficiência e que possuíam sentidos mais aguçados para essas situações, foi perpetuado pelas gerações e é mantido até hoje em várias espécies de animais, até invertebrados, como no caso das abelhas já citadas no texto. Entretanto, os humanos instituíram a moral e possuem consciência dos seus atos, sabendo quando suas atitudes prejudicam outras pessoas.
Logo, apesar do preconceito ser natural e estar presente em várias espécies, nas sociedades humanas ele deve ser repreendido, devido aos prejuízos que causa nos indivíduos que sofrem preconceito. Além disso, diferente de outros animais, possuímos tecnologias capazes de resolver certos problemas, como a criação de vacinas e medicamentos para evitar determinadas doenças e tratar certas patologias, evitando que elas se espalhem pela população.
Além disso, atualmente sabe-se que possuir uma deficiência não é algo que representa perigo a vida das outras pessoas, algo que, séculos atrás era tido como verdade, e, por isso muitas sociedades humanas da antiguidade excluíam ou sacrificavam pessoas portadoras de deficiência, acreditando que estas poderiam transmitir a deficiência, ou que simbolizavam azar ou trariam energias negativas. Pensamento que hoje não faz sentido, e que deve ser punido, pois a diversidade de cada um deve ser respeitada para que possamos viver harmoniosamente em sociedade.


O Presente ensaio foi elaborado para disciplina Biologia e Evolução do Comportamento Animal tendo como base as obras:

Chimpanzé albino é linchado e morto em infanticídio inédito; veja vídeo. Disponível em: <https://etosocio.com/comportamento-animal/infanticidio/>. Acesso em: 18 out. 2022
Disciplinas Fisiologia Veterinária I e II Universidade Federal Fluminense. Disponível em: <http://fisiovet.uff.br/sistema-nervoso/>.
O que é síndrome de Down. Disponível em: <http://www.movimentodown.org.br/sindrome-de-down/o-que-e/>.
Preconceito: o que é, quais os tipos, como existe no Brasil e mais! Disponível em: <https://www.stoodi.com.br/blog/portugues/preconceito/#:~:text=tipos%20de%20preconceito.->. Acesso em: 1 nov. 2022.







Incêndios devido a eventos climáticos extremos são um problema para a sobrevivência do planeta

 Série Ensaios: Bioética Ambiental

Por Renzo Di Siervi

Dentista



Em 23 de fevereiro de 2022, o jornal La Vanguardia informou que é esperado um aumento global de incêndios extremos de até 14% até 2030, 30% até 2050 e 50% até o final do século. Eventos climáticos extremos podem ter um enorme impacto na sociedade. Calor e chuvas recordes, incêndios devastadores e secas severas estão entre os eventos climáticos, climáticos e hídricos extremos com impactos humanos, econômicos e ambientais que apareceram nas capas da mídia em todo o mundo, principalmente em tempos recentes. De acordo com análises independentes da NASA e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), a temperatura média global da superfície da Terra em 2021 empatou com a de 2018 como a sexta mais quente já registrada. Continuando a tendência de aquecimento de longo prazo do planeta, as temperaturas globais em 2021 ficaram 0,85 graus Celsius acima da média do período de referência da NASA, de acordo com cientistas do Goddard Institute for Space Studies (GISS). 

A NASA usa o período 1951-1980 como linha de base, ou referência, para ver como a temperatura global muda ao longo do tempo. Juntos, os últimos oito anos são os oito mais quentes desde que os registros modernos começaram em 1880. Esses dados anuais de temperatura compõem o registro da temperatura global, informando aos cientistas que o planeta está aquecendo. De acordo com o registro de temperatura da NASA, a Terra em 2021 estava cerca de 1,1 graus Celsius mais quente que a média no final do século 19, o início da revolução industrial.  A mudança climática é uma ameaça séria e crescente ao nosso bem-estar e à saúde do planeta. Segundo o sexto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), está alterando a natureza de forma perigosa e generalizada, além de afetar a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo, apesar das medidas tomadas para reduzir os riscos.  Conforme indicado no relatório sobre as bases físicas das mudanças climáticas elaborado pelo Grupo de Trabalho I do IPCC, o número de eventos extremos atinge valores nunca antes observados e aumentará à medida que o aquecimento global aumentar. Cada décimo de grau importa.  O relatório também observa que as mudanças climáticas causadas por atividades humanas já estão influenciando muitos eventos climáticos e climáticos extremos em todas as regiões do mundo. Desde que o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC foi publicado em 2014, ficou cada vez mais claro que eventos extremos (como ondas de calor, eventos de precipitação intensa, secas e ciclones tropicais) estão mudando, e que essa evolução se deve à influência humana.  Essa situação está se agravando gradativamente, gerando incêndios nos países centrais e periféricos, principalmente incêndios florestais causados ​​por negligência humana ou por fenômenos naturais favorecidos por um ambiente mais quente e seco, com clara incidência de seres humanos.  É por isso que Potter desde a década de 1970 tem se preocupado com a bioética como um campo de conhecimento voltado para o estudo da sobrevivência da civilização humana no contexto da sobrevivência de todo o planeta, buscando superar a dicotomia entre os extremos do antropocentrismo e o bioecocentrismo que dominou as ciências médicas e a ética ambiental

Na última década do século XX, encontrou-se um ponto comum entre as duas culturas, sendo este aspecto a crise ambiental total. A crise tem duas partes: a primeira é aquela que implica a destruição de muitas espécies de plantas e animais, bem como a perda de vários ecossistemas; a segunda é a ameaça à segurança da cultura humana. Cientistas, historiadores e pesquisadores de todas as disciplinas estão se unindo para encontrar a resposta para a crise. Para Potter, essa crise é claramente global por natureza, afetando não apenas os indivíduos e a sociedade, mas também o meio ambiente.
Isso coloca um grande problema ético, pois a ação do homem está produzindo a destruição de grandes territórios naturais, que abrigam flora e fauna muito diversificadas, que levarão muitos anos para alcançar um ecossistema sustentável que permita o retorno de toda a flora e fauna. vida selvagem perdida.
Entendindo al Princípio da justiça restitutiva como el que Ordena restituir ao animal ou ao ecossistema natural as condições nas quais tinha oportunidade de desenvolver-se plenamente. Tal prática restabelece o equilíbrio na balança da justiça.
Da mesma forma, a declaração de bioética e direitos humanos da UNESCO em 2005 afirma em seu artigo 17, "Proteção do meio ambiente, da biosfera e da biodiversidade: a interconexão entre os seres humanos e outros modos de vida, a importância do acesso adequado e uso de recursos biológicos e genéticos, o respeito ao conhecimento tradicional e o papel do ser humano na proteção do meio ambiente, da biosfera e da biodiversidade”. Unesco, 2005.
A própria declaração nos deixa claro que a responsabilidade é dos Estados, empresas e indivíduos individualmente, sendo esta declaração um documento essencial para estabelecer princípios universais que servem de base para uma resposta da humanidade aos dilemas e controvérsias que são cada vez mais numerosos que a ciência e a tecnologia representam para a espécie humana e para o meio ambiente.

Essas situações que vivenciaremos com mais frequência no futuro são de responsabilidade da ação do ser humano e do sistema capitalista que se impôs como modelo econômico e de desenvolvimento, deixando o meio ambiente relegado a um simples papel de provedor de recursos para o uso do ser humano, com uma visão totalmente antropológica.
Programas nacionais e também internacionais devem ser criados, pois vivemos em um mundo totalmente globalizado que nos coloca na obrigação de abordar essas questões de uma perspectiva global. É necessário aplicar o princípio da justiça restaurativa no momento de planejar e lidar com as consequências causadas por esses eventos extremos. O retorno de lares perdidos por humanos, animais e flora deve estar no centro dos debates.
Vivemos em um mundo globalizado, com pluralismo filosófico e princípios universalmente aceitos, como o fundamento dos direitos humanos e da democracia, a dignidade é considerada um elemento fundamental quando se trata de diálogos no âmbito da saúde global.
A bioética como defensora da dignidade humana, dos direitos humanos e da saúde planetária no quadro da saúde global tem um papel muito importante, podendo ser uma referência teórica e prática fundamental para marcar essa discussão, como mediadora do diálogo. Dessa forma, poderia mediar os conflitos e dilemas morais que emergem da vida humana, bem como de todos os seres vivos e do planeta.
Com seus princípios, interdisciplinaridade, busca pelo diálogo e construção de possíveis acordos e solidariedade, pode contribuir para o desenvolvimento de parâmetros éticos que sustentem as conceituações de saúde global, além de servir de instrumento para questionar os valores e princípios éticos que orientam a saúde. a práxis da saúde global.
Esses espaços globais de diálogo devem ser espaços onde se possa avançar na criação de uma sociedade que supere o modelo capitalista, predatório, que destrói o ecossistema e que está nos deixando com um mundo destruído, pensando a saúde como um campo social e político, onde a única forma de progredir na saúde é melhorando as condições de vida.
Eu como futuro bioeticista acredito que A bioética tem um papel central a desempenhar nos diálogos globais que permitem uma mudança a nível planetário do sistema em que vivemos. Procura-se um modelo que permita o desenvolvimento harmonioso de todos os seres que habitam a terra, sem pensar no ser humano como um ser superior com direito a apropriar-se indiscriminadamente de todos os recursos. O princípio da justiça restaurativa é uma alternativa válida atualmente para a elaboração de políticas e programas que abordem o problema.



Este ensaio foi elaborado para disciplina de Fundamentos da Bioética Ambiental se baseando nas seguintes obras:

Fischer, M. L., Cunha, T., Renk, V., Sganzerla, A., & Santos, J. Z. dos. (2017). Da ética ambiental à bioética ambiental: Antecedentes, trajetórias e perspectivas. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 24(2), 391-409. https://doi.org/10.1590/s0104-59702017000200005

Fischer, M. L., Parolin, L. C., Vieira, T. B., & Garbado, F. R. A. (2017). Bioética Ambiental e Educação Ambiental: Levantando a reflexão a partir da percepção. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), 12(1), Art. 1. https://doi.org/10.34024/revbea.2017.v12.2271

Junges, J. R. (2014). Bioética e Meio Ambiente num Contexto de América Latina Bioethics and Environment in a Context of Latin America. 7.

Márquez Vargas, F. (2021). Bioética ambiental en perspectiva latinoamericana. Revista Latinoamericana de Bioética, 20(2), 55-73. https://doi.org/10.18359/rlbi.4910

Mudanças Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade. IPCC, 2022. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-report-working-group-ii/. Acesso em: 30 oct. 2022.

A preferência por animais de companhia substituindo a maternidade

 Série Ensaios: Sociobiologia


Por Ana Julia, Beatriz Duarte Rangel, Eduardo Salgado Boza, Luiza Valeria Veiga de Moraes e Mirelle Nunes Hein

Acadêmicos de Biologia e Medicina Veterinária



O comportamento de adotar um animal de outra espécie pode ser encontrado tanto no reino animal quanto na realidade dos seres humanos. A notícia publicada pelo UOL, intitulada “Cadela adota filhote de gato após perder a própria cria: “eles querem e dão amor incondicional”, mostra uma cadela que ao chegar em um abrigo, depois de perder seu filhote, acabou adotando três gatinhos que foram levados ao abrigo logo em seguida. O abrigo Jelly’s Place acolheu esses três gatos que perderam a mãe e precisavam que eles se alimentassem por meio da amamentação e que fossem cuidados, portanto a ideia foi juntar os felinos com uma cadela que havia perdido a sua prole recentemente e acabou dando certo quando perceberam que o cão havia adotado os gatos. De acordo com a bióloga Maria Adélia de Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco, “quando fêmeas ficam muito fragilizadas pela perda repentina da prole, podem confundir os sinais de um bicho de outra espécie com os de seus filhotes”, isso acontece pelo desequilíbrio hormonal que é causado.

Durante a gestação e o parto existem diversas mudanças hormonais com o propósito de condicionar o comportamento materno na fêmea, um desse hormônios é a ocitocina, que atua na contração uterina, produção de leite, reconhecimento de elementos do grupo, ligações entre a mãe e o filhote, entre outros (HEON et al., 2009). Portanto, como esse hormônio ainda está em uma grande quantidade no corpo da cadela mesmo tendo perdido o filhote, isso explica a ligação afetiva com filhotes de outra espécie.

Em uma publicação feita pela revista Veja, foi divulgada uma análise desenvolvida por cientistas americanos, comparando a ativação de determinadas estruturas cerebrais em mulheres quando veem uma imagem de seus filhos e outra de seus cães. Além de vários estudos terem anteriormente apontado que animais de estimação contribuem para um bem-estar maior das pessoas, físico, emocional e social, pesquisas também apontaram que após interagirem com um pet, as pessoas apresentaram mudanças no seu condicionamento biológico também, com um aumento do nível de produção de ocitocina, hormônio relacionado com a ligação materna.

Tendo esses conhecimentos em mente, a pesquisa foi realizada com quatorze mulheres, com filhos de idades entre os 2 e os 10 anos e que tenham um cão há pelo menos dois anos. O estudo começou com os pesquisadores primeiramente perguntando sobre o relacionamento que tinham com os filhos e animais e depois fotografaram estes. Foram feitos então exames de ressonância magnética nessas mulheres, sendo analisadas suas atividades cerebrais enquanto elas viam imagens de seus filhos e cães. Os resultados das mulheres mostraram semelhanças, com aumento da atividade tanto ao ver imagens dos filhos como dos animais em áreas relacionadas a funções de emoção, recompensa, afiliação, processamento visual e interação social. A região associada à formação de vínculos, mostrou-se ativa apenas quando visualizava a imagem do filho, já a área do giro fusiforme (área que promove reconhecimento facial) teve resposta maior com a imagem dos cães.

Demonstrando que determinada região do cérebro é importante para ativar o estímulo de visualizar a imagem do filho e do cão, é necessário que essas pesquisas se aprofundem com um maior número de pessoas, em diferentes populações, incluindo testes em mulheres sem filhos, homens com filhos, pais com crianças adotadas, e em diferentes espécies de animais de estimação.


Um componente etológico presente seria após o nascimento de um descendente certos animais possuírem o hábito de cuidar deles e supervisioná-los, a partir do cuidado parental. Isso gera tanto benefícios para a evolução desses animais (vantagens quanto à sobrevivência do grupo) quanto custos (mortalidade parental podendo aumentar). Com isso em mente, seres vivos precisam escolher quando e quanto de cuidado eles oferecem para a prole. Em relação ao componente evolutivo, o amor e cuidado parental surgem em aves e mamíferos junto com a
endotermia, fazendo com que os genitores comecem a ter um contato maior com a prole para mantê-los vivos, trazendo um sentimento positivo por meio da endorfina. Posteriormente, isso acaba condicionando a vontade de cuidar de um filhote quando ele é visto. Em outros casos, os animais percebem que a sobrevivência da prole seria improvável, e começam a reduzir ou interromper seus investimentos em cima do filhote para poder dar esses recursos para outro mais atual e viável (ALCOCK et al., 2011).

Segundo Alcock et al. (2011), antigamente os humanos não acreditavam que iriam ter uma vida muito longa, portanto tiveram adaptações para a espécies gastar todos os seus recursos de uma vez para conseguir ter uma maior quantidade de filhos assim que possível, isso estaria diretamente relacionado ao componente biológico do comportamento parental.

Uma matéria (AGÊNCIA, 2009) que demonstrou a preferência de pessoas adotarem animais de estimação invés de terem filhos seria do site Bem Paraná. Nessa matéria a entrevistada, chamada Flávia Castanheira, de 44 anos, falou: “Criança você não cria, educa. Eles aprendem mais vendo o que as pessoas fazem do que pelo o que você fala. Você não tem controle. A verdade é que não sinto falta de ter um filho, mas se tirar um dos meus cães não suportaria”. Nisso se pode observar que uma das razões de não possuírem filhos seria seu medo em cima da maternidade. Segundo uma matéria veiculada na revista Hoje, uma pesquisa realizada pela Comissão de Animais de Companhia (COMAC) do Sindicato da Indústria de produtos para Saúde Animal (SINDAN) e a Radar Pet em 2021 indicaram que das famílias que possuíam cães, 21% eram de casais sem filhos, 9% de pessoas que moram sozinhas e 65% de famílias com filhos.

Para a socióloga Dilze Percílio , o fato de famílias optarem por ter apenas pets em casa pode ser explicado pela questão econômica dos casais, que muitas vezes os impedem de estarem estáveis o suficiente para terem seus próprios bebês e poderem suprir todas as suas necessidades básicas. Também ocorreu a mudança do estilo de vida dos seres humanos, os quais antigamente eram majoritariamente rurais e dependiam da contribuição do trabalho dos filhos para que pudessem se sustentar, agora se urbanizaram e essa contribuição passou a ser desnecessária e os filhos mais caros, enquanto animais de estimação são uma opção mais barata.


Cabe ressaltar que a
responsabilidade de adotar um animal é muito grande, ela não se restringe a apenas decidir adotar e sim no comprometimento de criar um ambiente que forneça bem-estar, alimentação de qualidade, vacinação e momentos de lazer. Portanto, apenas gostar de animais não é razão suficiente, é importante lembrar que por mais que seja uma espécie diferente, ainda é uma vida.

Nós como futuros biólogos e médicos veterinários acreditamos que em certos casos, possíveis mulheres que querem ser mães, escolhem ter um pet invés de um filho acreditando ser algo mais simples e que não impõe tantos problemas. Porém adotar um animal precisa de comprometimento e responsabilidade, assim como no caso de um filho. Um desses comprometimentos é em relação a necessidade de dar a esse filho/pet necessidades para sua sobrevivência. Além disso, há situações em que as mães teriam os filhos, porém sua ocitocina estaria baixa no momento ou até não foi liberada ainda, se desapegando do filho facilmente. Pois é esse hormônio da ocitocina que acaba aumentando a vontade da mãe de manter o seu filho. Todos esses fatores devem ser considerados tanto no momento de adoção de um filhote, quanto na decisão de se tornar mãe.





O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Biologia e Evolução do Comportamento Animal tendo como base as obras:



ADIMAX, Indústria e Comércio de Alimentos, 2021. Posse responsável de animais - Entenda esse conceito. Disponível em: Link. Último acesso em: 11 de novembro de 2022.
AGÊNCIA ESTADO. 2009. Em vez de filhos, casais preferem ter bichos: A ideia de não ter filhos já é realidade para muitos casais. Disponível em: Link. Último acesso em: 11 novembro de 2022.
ALCOCK, J. 2011. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. Porto Alegre: Artmed Grupo A. Disponível em: Link. Último acesso em: 13 de outubro de 2022.
DA REDAÇÃO. Animais adotam? 2016. Disponível em: Link. Último acesso em: 7 de outubro de 2022.

HEIDEN J. & SANTOS, W. 2012. BENEFÍCIOS PSICOLÓGICOS DA CONVIVÊNCIA COM ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO PARA OS IDOSOS. ÁGORA: Revista de divulgação científica v. 16, n. 2(A), Número Especial: I Seminário Integrado de Pesquisa e Extensão Universitária.

HEON, J. L. et al. 2009. Oxytocin: the great facilitator of life. Prog Neurobiol. v. 2, p. 127-151.

IBGE, 2022. População rural e urbana. Disponível em Link. Último acesso em: 11 de novembro de 2022.

NASCIMENTO, P. S. Endotermia. InfoEscola. Disponível em: Link. Último acesso em: 11 de novembro de 2022.

REDAÇÃO PAIS&FILHOS. 2022 Cadela adota filhote de gato ápos perder a própria cria: “Eles querem e dão amor incondicional”. Disponível em:Link. Último acesso em: 7 de outubro de 2022.

VEJA.ABRIL. 2014. Seu pet é como um filho pra você? Estudo explica por quê. Disponível em: Link. Último acesso em: 12 de outubro de 2022.
VILELA, S. 2022. Casais preferem adotar pets em vez de ter filhos: Falta de estabilidade financeira e preocupação com emprego são alguns dos motivos que levam casais a adotarem pets. Ohoje. Disponível em: Link. Último acesso em 13 de outubro de 2022.