Etologia e conservação: Conhecer para preservar



Série de ensaios: Aplicação da etologia

Por: Bruno Madalozzo, Luan Andrioli, Samuel Busnardo e Vinicius Saragoza

Acadêmicos do curso de biologia PUCPR

  
O aquecimento global e suas consequências sobre os ambientes e seres vivos são de longe um dos temas mais discutidos no cenário da conservação. Os impactos causados por esse problema ambiental vem preocupando biólogos e profissionais da área em todo o mundo. Um exemplo atual do impacto causado pelo aquecimento global esta sendo visto no comportamento dos    ursos polares que com o derretimento de seu território e mudanças climáticas estão sendo obrigados a mudarem seus hábitos alimentares. Populações migrando para o leste da Groelândia e se alimentando de focas carregadas de contaminantes químicos.       Essas focas subárticas viajam para o sul para lugares mais próximos de ambientes industrializados e se alimentam da poluição humana.                                                      O resultado indica que os ursos estão buscando mudar seu comportamento e se alimentar mais de focas subárticas contaminadas, e isso acarreta baixo grau de bem-estar dos animais.

Um outro problema que afeta o equilíbrio ecológico envolve a introdução de uma espécie exótica em um ambiente onde existe a ocorrência de espécies nativas ou ainda endêmicas. Tal evento pode se mostrar catastrófico quando levamos em conta que o comportamento dos animais de uma região específica é adaptado para lidar com eventos comuns que ocorrem no dia a dia naquele ambiente; quando uma espécie exótica é introduzida, muitas vezes as espécies nativas da região podem não ter a capacidade de reagir de forma adequada perante o intruso, tendo alto risco de ser subjugada se houver competição por recursos ou sofrer grande redução de população se houver interação interespecífica de predação. Em muitos casos a invasão de espécies exóticas em um local pode se dar pela fragmentação de habitats, na qual a perda de habitat original ocasiona a dispersão das espécies e migração para outros ambientes, fazendo com que haja encontro entre as espécies que, em seus ambientes naturais, não encontrariam.
      Darwin utilizava do estudo do comportamento em seus trabalhos e a partir dai podemos ver que conservação e Etologia andam lado a lado desde o começo do estudo da vida e hoje tem laços ainda mais fortes. A cada ano que se passa o conhecimento etológico dos seres vivos vem crescendo e com dados tão importantes fica mais fácil preparar planos de manejo e saber quais decisões tomar quando proteger uma espécie for necessário. Devemos, portanto, lembrar do papel dos biólogos etólogos na conservação das espécies. Margarida Pinheiro disse no seu ensaio chamado Etologia e Conservação: “Um etólogo pode contribuir para a proteção da Natureza, em 3 níveis: Analisando comportamento humano e o funcionamento das sociedades humanas em relação com a Natureza. Estudando as espécies, ameaçadas ou não, nos seus habitats naturais, inferindo a sua situação ecológica e/ou o melhoramento dessa situação, eventualmente através de extrapolação de dados. Contribuindo para a conservação das espécies em condições de cativeiro ou seminaturais e a sua reintrodução na Natureza.” (Margarida Pinheiro, 1989).
     Nós como formandos em biologia acreditamos que o papel do etólogo é fundamental na conservação. Conhecendo o modo de vida podemos ter informações importantes para proteger e compreender espécies potencialmente ameaçadas além de entender como o homem pode influenciar em seu modo de vida natural.

O Presente ensaio foi elaborado para a disciplina de etologia se baseando nas obras:


Pinheiro, M. (1989) Etologia e Conservação
Queen, S. (2015) Ursos Polares migram para ilhas no Canadá em busca de gelo duradouro.
Disponível em: http://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2015/01/14/ursos-polares-migram-para-ilhas-no-norte-do-canada-em-busca-de-gelo-duradouro.htm  Acesso em 21/04/2015

Lorenz, K. (1995) Os Fundamentos da Ecologia

Índios e Negros: a sua liberdade é a minha liberdade



Por Marta Luciane Fischer
Docente do Programa de Pós-Graduação em Bioética PUCPR

Parece até um daqueles paradoxos evolutivos que nos fazem senti a espécie mais esquizofrênica da natureza... dia 19 comemoramos o dia do índio e no dia 21 dia de Tiradentes E o que de fato comemoramos?
Índio? Aquele povo que vivia nas terras além mar onde se plantando tudo dá e que nós consideramos como indignos de serem atribuídos status moral por não compartilharem as mesmas crenças, costumes e rituais? Índios que foram expostos em praças públicas europeias tal como os animais hoje são expostos em zoológicos? Forçados a dançarem, brigarem, se moverem para deleite da sociedade que se encantava com o exótico? São os mesmos índios que foram catequizados e dizimados nas tentativas de serem escravizados? O que comemoramos mesmo? O fracasso dos colonizadores ou o fato de tornarmos os poucos descendentes restantes dependentes de nossa proteção?  É... me parece que fantasiar as crianças de índios, contar algumas histórias e quem sabe tocar a clássica canção da Baby do Brasil já não faz sentido. E me diga por favor se alguém entendeu os motivos dos manifestos dos indígenas contra a PEC 125 que tramita na câmara e retira do governo federal a autonomia para demarcar terras indígenas, de quilombolas e zonas de conservação ambiental.


Ok, já que está difícil a identificação com o dia do índio, que tal o dia de Tiradentes? As crianças se vestem de escravos para comemorar o dia de um Martín tão importante para história do nosso país? A questão é que Tiradentes marca toda uma geração que enxergava além do seu tempo. Por não conseguirem escravizar os índios, os colonizadores se deram ao trabalho e gasto extra para trazer os africanos até aqui. Era o que tinha para o momento. Mas nenhum problema de ordem moral, afinal eles também não tinham alma, idolatravam outros deuses e falavam línguas estranhas. Não era considerado imoral tratar os negros como objetos de valor, força-los a trabalhar e condicioná-los à obedecer. Foi assim por muito tempo e o Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão, o que leva a duvidar da atitude humanitária e apostar na política. Se dependesse da boa intenção dos senhores de terra e da economia local, eles estariam inseridos no sistema escravocrata ainda. Semelhante aos animais de hoje? Os defensores da ética libertacionista animal, não vêm diferenças entre o que aconteceu com os escravos e o está acontecendo com os animais. A intenção, métodos, argumentos e consequências são as mesmas. Será que os animais terão seu Martin? Será que chegará um dia que os animais terão políticas de inserção? Será que terão sua dignidade e direitos trabalhistas preservados? Quem prevalecerá: a ética ou a lei, os valores morais ou econômicos?
E diante dessa reflexão o que me cabe a questionar é se a baixa resistência física e imunológica dos índios, os verdadeiros donos dessa terra, os libertou da escravidão do trabalho, mas os condenou a ser um povo fraco, pouco valorizado e dependente de nossa proteção. E os negros, o povo estrangeiro, pela sua força e resistência foram forma oprimidos a servir os colonizadores. A libertação do seu povo veio carregada de ódio e vingança, transformando-os em um povo utopicamente livre, marginalizado e discriminado, dependente da boa vontade daqueles que não enxergavam seu valor. E o que comemoramos mesmo? um feriado prolongado? A morte de um libertacinista, por motivos incompreensíveis para maioria dos cidadãos brasileiros? E enquanto isso nossa sociedade não percebe que quanto mais se iludem com uma falsa liberdade, mais presos vamos ficando. Nossa alma de colonizados nos fez admirar tudo que era estrangeiro, roupas de frio, peles brancas e idiomas diferentes.  Até hoje reverenciamos o estrangeiro sem questionar a idoneidade de seus atributos. Temos vários problemas éticos assolando nosso país em todas as esferas, mas obviamente que me chamam mais a atenção o que estamos fazendo com a nossa natureza. Em nome de uma inserção social internacional, compramos o que não gostamos e nem precisamos, com dinheiro que não temos e a um custo ambiental e social gigantesco. A ideia de que só seremos felizes quando tivermos esse ou aquele bem, quando pudermos ir para esse ou outro lugar, ou se vestirmos e falarmos dessa ou de outra maneira, tem nos feito tudo menos um povo independente. Não idolatramos e defendemos nossa cultura, não cuidamos de nossos animais e de nossas plantas. Queremos sentirmos inseridos no mundo consumindo....  
Quem é mesmo o liberto dessa história toda?