Muitas novidades...




Ebram 2009

Quem acompanha meu Blog deve ter sentido minha primeira ausência em todo seu tempo de sua existência... é que durante essa semana eu estava participando juntamente com o Adam, Dany e Tahise do Encontro Brasileiro de Malacologia que ocorreu no Rio de Janeiro e comemorando 40 anos da Sociedade de Malacologia. Foi minha primeira participação nesse evento e achei muito agradável, bem organizado e com temas bastante amplos. No encontro se discutiu desde moluscos de importância médica, sistemática e taxonomia e malacocultura. Aprendi muito e gostei de tudo de que vi desde as mesas redondas até as apresentações orais e painéis. Mas pra mim a melhor participação foi da Dra. Marilene de Sá Cadei da Universidade do Estado do Rio de Janeiro sobre Educação Ambiental e Educação em Saúde... pela primeira vez ao longo da minha jornada nessa área não me senti sozinha, ela expos de maneira brilhante todos os pontos fundamentais, essenciais e necessários para promover a Educação... Amei! Também participei de um grupo de trabalho de listagem de moluscos invasores e de uma mesa redonda sobre o estado dos estudos com Achatina fulica. Eu iniciei mostrando nossas idéias de elaboração de um protocolo padronizado para o diagnóstico para que de fato a situação das populações presentes no Brasil possa ser comparada (vide texto). Depois foi relato o procedimento que a prefeitura do Rio (Comlurb) está adotando, impressionante, mas se coletam toneladas de caramujos, muito deles incinerados... A Dra. Norma Salgado falou da sistemática do grupo, a Dra. Silvana Thiengo sobre o parasitismo e a Dra. Roberda Caldeira na utilização da molecular para identificação de larvas. Essas duas últimas foram muito bem expostas e trouxeram uma situação sobre o a situação. Ressalvo a palestra da Dra. Suzana Amato sobre parasitismo de Achatina fulica. Vários alunos também apresentaram seus estudos com A. fulica. Fiquei muito orgulhosa do profissionalismo do acadêmico Adam que apresentou brilhantemente seus estudos com comunicação química, mas tivemos vários outros que visaram desde a caracterização da população, educação ambiental e controle. Foi uma experiência muito boa e incentivadora para novos estudos... vamos lá... alguém tá afim?


Ecologia Urbana: Construindo a cidade sustentável...

A outra noticia é que a especialização que eu e o prof. Julio Leite estamos coordenando finalmente saiu... foi liberada e começamos nossos encontros nessa sexta... Foi simplismente fantástico, foram só metade dos alunos, mas fiquei muito satisfeita e entusiasmada com o papo que tivemos e novamente não me senti sozinha nos meus ideiais. As aulas em si começam dia 14 de agosto e estou com uma expectativa muito boa... se alguém ainda tiver interesse a matricula ainda está aberta....





Protocolo para diagnóstico e monitoramento de populações de Achatina fulica

Marta Luciane Fischer – Texto publicado no livro de Resumos do XXI EBRAM

Núcleo de Estudos do Comportamento Animal, Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

A invasão do caramujo africano Achatina fulica Bowdich, 1822 é difícil de ser diagnosticada principalmente no início do processo de colonização. Até mesmo em Miami (MEAD, 1961), principal exemplo de erradicação, os caramujos foram descobertos após dois anos da sua chegada, pois ocuparam primeiramente áreas não habitadas. Os aspectos da ecologia e biologia devem ser usados na elaboração de protocolos para diagnosticar as populações e, após a caracterização da população na realidade específica, direcionar os planos de ação e controle. Desta forma, deve-se estimar o tamanho da população e inferir se trata de uma população recente, se o ambiente está saturado e qual estratégia reprodutiva usada. Então, o monitoramento das populações servirá para avaliar a eficácia dos procedimentos de controle adotados.

Dentre os requisitos avaliados no protocolo deve ser consideradas características dos animais, do ambiente e o conhecimento e procedimento da comunidade. Como caracterização do animal é importante registrar densidade, distribuição horizontal e vertical, distância do co-específico mais próximo, tamanho da concha, presença de deformidades e manchas no corpo e na concha, atividade (repouso, estivando ou ativo) e comportamento (forrageando, copulando, raspando concha do co-específico), estágio de desenvolvimento da gônada masculina e feminina, presença de ovos com casca no manto, presença de posturas recentes, goradas e de filhotes. Deve-se registrar também conchas de animais mortos e seu respectivo tamanho. Como caracterização do ambiente é importante registrar o tamanho da área vistoriada, tipo de solo, espécies de plantas utilizadas como sítio de repouso, oviposição e alimentação e também as outras espécies vegetais presentes e que não estão sendo usadas pelo caramujo, bem como todos os demais substratos com e sem caramujo. Caracterizar também os terrenos vizinhos, levantar as peculiaridades do local, condições climáticas como temperatura, umidade relativa do ar, pluviosidade média em cada estação do ano. O conhecimento e procedimento da comunidade devem ser investigados em questionários semi-estruturados. É importante abordar questões a respeito da biologia, ecologia e comportamento do animal, questões relativas à chegada do animal, se vê o animal como problema, questões que abordem a avaliação de impactos econômicos, de saúde e ambientais. Levantar os métodos de controle utilizados e a distinção entre o caramujo invasor e os nativos. Outro ponto importante de ser abordado nos diagnósticos é a caracterização da fauna associada, principalmente a malacofauna e os possíveis predadores. A falta de conhecimento da diversidade da Floresta Atlântica impede a avaliação sobre o real impacto ambiental que essa praga de grande tamanho corporal e com elevadíssimas populações podem causar nos ecossistemas.

Para conhecer a efetividade da utilização do protocolo e quais parâmetros utilizar foram analisadas populações de A. fulica presente em quatro realidades distintas no litoral do Paraná: município de Pontal do Paraná (25º67’S e 48º51’W) (SIMIÃO; FISCHER, 2005), Guaraqueçaba sede (24º86ºS e 48º02’O) (FISCHER; COLLEY, 2004) e Ilha Rasa (25º30’S e 48º30’W), (FISCHER; COLLEY, 2005), ambos localizados no município de Guaraqueçaba e no município de Morretes (25º37’S e 48º04’ W) (FISCHER et al., 2006).

Em Pontal, Ilha Rasa e Guaraqueçaba foi evidenciada a ocorrência predominante na área urbana, possivelmente por se tratar de uma população relativamente recente de cerca de 15 anos (KOSLOSKI; FISCHER, 2002) e por dispor de recursos de substratos e alimento (FISHCER, et al. 2009), sendo a ocupação da natureza uma questão de tempo, assim que saturar o ambiente antrópico. A ocorrência de A. fulica na área urbana se dá em focos de infestação, uma vez que nem todos os terrenos possuem o caramujo, mas naqueles em que está presente ocorre em grande quantidade. A ocorrência em áreas nativas em Morretes parece se relacionar com fato do município possuir as populações mais antigas (KOSLOSKI; FISCHER, 2002). Essa população fundamenta a hipótese que os diferentes substratos presentes no ambiente antrópico favorece a instalação de mais indivíduos, aumentando o recrutamento dos filhotes, uma vez que é muito mais freqüente o registro de filhotes e jovens no ambiente antrópico. Os substratos antrópicos também amenizam as condições ambientais extremas aumentando a taxa de sobrevivência. Uma vez que, na mata nativa a maioria dos jovens era encontrada morta, provavelmente devido a alagamentos (FISCHER, 2009). Além disso, a presença de resíduos sólidos em abundância nos terrenos urbanos resulta em abrigo e alimento de fácil processamento, o qual somando com a expansão do horário de forrageamento tem como conseqüência aumento da velocidade de crescimento e maior número de animais se reproduzindo (FISCHER et al., 2009).

Diagnósticos sazonais (Ilha Rasa) são importantes apenas para compreender o padrão da espécie na região e servir como base para interpretação dos padrões de diminuição do tamanho populacional de acordo com a fenologia. Porém, uma vez existindo o protocolo, amostragens pontuais em diagnósticos rápidos (os demais municípios avaliados) podem ser comparados com os padrões sazonais.

A proposta de ação de manejo deve ser adaptável a diferentes realidades. Na Ilha Rasa o manejo das plantas ornamentais utilizadas como cerca viva, a manutenção dos quintais limpos e a utilização correta da composteira aliada a uma conscientização da comunidade foram as principais ações sugeridas. Já em Pontal o maior problema eram as residências de veranistas, cujos quintais ficavam sem manutenção ao longo do ano. A sede do município de Guaraqueçaba está inserida entre a baía e a floresta Atlântica, inviabilizando ações de limpeza dos terrenos baldios, como sugerido em Pontal. Foi verificado também uma mudança de concentração de animais do centro (próximo ao ponto de introdução) para a vegetação de encosta. Em Morretes muitos animais são encontrados na área de agricultura e agora em matas nativas. No entanto, Fischer et al. (2006) acompanhando a população presente na área natural verificaram que apesar de haver uma colonização inicial evidente com animais fortes, houve um controle natural provavelmente relacionado com a menor disponibilidade de substratos, maior dispersão e menor agregação, diminuindo encontros reprodutivos e alta mortalidade, principalmente de jovens que não eram recrutados.

O protocolo deve prever uma ação conjunta entre os moradores, a comunidade acadêmica e órgãos governamentais. Para qualquer ação de sucesso primeiro é necessário avaliar e caracterizar as populações de A. fulica, reconhecendo a distribuição e locais de predomínio das infestações, seguido pela integração comunitária de moradores locais frente à espécie invasora e à biodiversidade nativa (COLLEY; FISCHER, 2009). A conscientização, considerando os aspectos culturais é fundamental para o sucesso de qualquer ação, pois a ocorrência do animal associado ao ambiente antrópico faz de cada pessoa o principal instrumento nas corretas ações de extermínio. Profissionais capacitados na captura, identificação e sacrifício dos animais devem acompanhar as coletas. A comunidade acadêmica deve contribuir com novas pesquisas que permitam conhecer melhor o caramujo invasor e buscar métodos alternativos ou novas tecnologias para o controle, sendo as ações das três parcelas da sociedade conjuntas, claras e freqüentes.

A solução do problema da A. fulica não deve envolver apenas a conscientização para o problema do caramujo invasor que causa danos para as plantas ornamentais ou por poder transmitir algum agravo à saúde, mas deve ser visto e encarado como um termômetro de que os procedimentos dos cidadãos quanto à saúde ambiental não estão adequados. A proliferação do caramujo será, então, apenas uma conseqüência, talvez a mais evidente do momento. Essa visão ficou bem clara e nítida em uma casa de um morador de Guaraqueçaba, em que não havia caramujos africanos, mas em compensação o terreno era limpo, as garrafas estavam viradas com o gargalo para baixo, o lixo reciclável era separado, a composteira estava isolada e instalada corretamente, o morador monitorava diariamente o local em busca do caramujo. Este caso evidencia bem a consciência ecológica contribuindo para o bem-estar de todo o ambiente.

Referências

FISCHER, M. L. Reações da espécie invasora Achatina fulica (Mollusca; Achatinidae) a fatores abióticos: perspectivas para o manejo. Revista Brasileira de Zoologia (Prelo), 2009.

COLLEY, E; FISCHER, M.L. Avaliação dos problemas enfrentados no manejo do caramujo gigante africano Achatina fulica. Revista Brasileira de Zoologia (Prelo), 2009.

FISCHER, M.L; COLLEY, E. Diagnóstico da ocorrência do Caramujo Gigante Africano Achatina fulica Bowdich, 1822 Na APA de Guaraqueçaba. Estudos de Biologia. Curitiba, v. 26, p. 43-50, 2004.

FISCHER, M.L; COLLEY, E. 2005. Espécie invasora em reservas naturais: caracterização da população de Achatina fulica Bowdich, 1822 (Mollusca; Achatinidae) na Ilha Rasa, Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Biota Neotropica. São Paulo, v. 5, 2005.

FISCHER, M. L; SIMIÃO, M.S; COLLEY, E; ZENNI, R.D; SILVA, D.A.T; LATOSKI, N.M. O caramujo exótico invasor na vegetação nativa em Morretes, PR: diagnóstico da população de Achatina fulica Bowdich, 1822 em um fragmento de Floresta Ombrófila Densa aluvial. Biota Neotropica. Campinas v. 6 n. 2, p. 1-5, <http://www.biotaneotropica.org.br/v6n2/pt/abstract?shortcommunication+bn03306022006>, 2006.

FISCHER, M. L.; COSTA, L. C. M.; NERING, I. S . Utilização de recursos alimentares presentes no ambiente antrópico pelo caramujo gigante africano Achatina fulica Bowdich, 1822: subsídios para o manejo. Bioikos (Campinas), v. 22, p. 91-100, 2009.

KOSLOSKI, M. A; FISCHER, M.L. Primeira ocorrência de Achatina fulica (Bowdich, 1832) no litoral do Estado do Paraná (Mollusca; Stylommatophora; Achatinidae). Estudos de Biologia. Curitiba, v. 24, n. 49, p. 65-69, 2002.

MEAD, A.R. The giant african snail: a problem in economic malacology. Chicago: University of Chicago Press, 1961.

SIMIÃO, M.S; FISCHER, M.L. Estimativa e inferências do método de controle do molusco exótico Achatina fulica Bowdich 1822 (Stilommatophora; Achatinidae) em Pontal do Paraná, litoral do Estado do Paraná. Cadernos da biodiversidade. Curitiba, v. 4, p. 74-83, 2005.


O que nos faz humanos: sob o olhar de um aluno de Psicologia






Essa semana vou postar um e-mail que troquei com o Edvanio (com autorização obviamente), estudante de psicologia sobre o fechamento brilhante para nossas exaustivas discussões sobre sentimento, emoções e consciência animal...


“Olá Profa. Marta! Escrevo para te enviar um CONTO de um autor que eu particularmente muito aprecio (Mia Couto, natural de Moçambique, formado em biologia e que tem vários prêmios literários por seus escritos). O conto tem como personagem principal uma aranha.
E, também para agradecer pelas aulas de etologia (...) A principio pensei que ao estudar muito os animais me tornaria mais animal do que já sou. A conclusão que hoje chego é a de que, ao estudar os animais tenho me tornado ainda mais humano, uma vez percebendo as igualdades vi que há diferenças e, uma delas é a capacidade de reinventar a vida, dar novos sentidos. Recriá-la. Para isto, nada melhor do que a ARTE. A arte nos humaniza e eterniza, aquilo que aos olhos de um outro animal é só uma teia. Para o homem e a mulher verdadeiramente humanos, será uma oportunidade de tecer amigos, valores, conhecimentos... (O conto fala um pouco disso). Professora que a "arte de tecer" seja algo constante em sua vida. Um abraço. Edvanio.”

A Infinita Fiadeira de Mia Couto

Leiam o conto nos endereços abaixo
http://lucernademecenas.blogspot.com/2007/01/infinita-fiadeira.html

http://a-minha-teia.blogspot.com/2005/03/infinita-fiadeira-de-mia-couto-in-o.html

”Edvanio, Você não imagina como fiquei emocionada com essa homenagem, com esse carinho e com o "encantamento" da humanidade (...). De fato, encontrar o encantamento que nos faz humanos e que nos faz únicos é uma missão individual, não podemos esquecer que somos bichos, mas que sonhamos, que materializamos nossas emoções e que outras pessoas irão sentir só de ler, ver uma obra, ouvir uma música... podemos ter milhares de vidas em uma só, podemos ser o que quisermos quando sonhamos, é de fato muito mágico ser humanos... não sabemos que emoções os animais sentem quando olham pra dentro deles mesmos, provavelmente nunca saberemos, mas vamos celebrar a natureza que nos dotou de um cérebro que nos faz sentimos o que sentimos. Eu sou muito feliz por ter conhecido vocês, por ter feito parte (mesmo que pequena) da formação de você, de com certeza ter despertado muitas questões e muitos desejos. Termino amanhã uma etapa formal, mas estarei sempre a disposição para podermos continuar construindo... Desejo muito sucesso pra vocês, que vocês sejam excelentes psicólogos, que façam diferença no mundo, seja em escala global, seja na vida de uma pessoa.”

É possível um mundo sem preconceitos???



.... E o preconceito, é natural?



O tema do Blog dessa semana vem de algo que senti: a “segregação do grupo”. Foi algo pequeno e até banal perto do que ocorre na nossa sociedade, porém o suficiente para levantar a reflexão.

Formação de grupo

O primeiro ponto que deve ser considerado nessa reflexão é o fato de sermos uma espécie social. Qualquer espécie que decide abrir mão da sua liberdade para viver em grupos deve obter mais “vantagens” do que “custos”. Viver em grupos pode favorecer a aquisição de alimentos, a proteção e a reprodução. Porém, esses mesmos pontos podem ser comprometidos caso haja uma competição pelo recurso. De qualquer forma, para muitas espécies a vida em grupo foi muito mais importante para a sobrevivência.

Os seres humanos são altamente sociais assim como os chimpanzés, lobos, baleias..... Ressalvo aqui que há diferentes tipos de grupos socais, mais ou menos organizados. No entanto, qualquer grupo para existir deve ter dois elementos: fatores agregadores e fatores diferenciadores. Ou seja, o grupo precisa ter “algo” em comum para que se formem os elos pode ser o grupo das mulheres, dos homens, das crianças, dos corintianos, daqueles de odeiam a marta... o fato é que o grupo deverá usar a identificação com esse “algo” para se manterem unido. E grupo unido é fundamental, principalmente quando considerarmos os nossos ancestrais que precisavam atravessar grandes áreas de savanas e caçar grandes presas. O “algo” diferenciador é o que faz com que o seu grupo “unido” não se junte com outro grupo. Logo deve ficar bem claro para os integrantes do grupo o “algo” que diferenciam vocês deles. Pode ser o gênero, a raça, a crença ou o fato do outro grupo amarem a Marta.


Discriminação

Assim, temos a “discriminação” do outro para manter a identidade e união do “nosso” grupo. Isso nada mais é do que o “preconceito”. Mas o preconceito é algo bom? Por que ele é tão criticado? Por que tantas pessoas lutam para o fim da discriminação de gênero, raça, idade, peso?


Vamos por parte... os fatores de agregação e segregação são essenciais para qualquer grupo. Nós somos uma espécie extremamente social. Dependemos dos nossos grupos para sobrevivência. Logo, precisamos manter nossos grupos unidos. Nossos ancestrais provavelmente não tinham muitas opções de grupos. Atualmente nós temos inúmeros grupos: família – escola – vizinhos – igreja – curso de inglês e por aí vai... Em cada um deles vamos exibir diferentes “preferências” que nos fará aceitos ou não em determinados grupos. Se quero entrar para o grupo dos surfistas terei um determinado tipo de roupa, gírias e forma de levar a vida que me identificará com aquele grupo. Mas que posso não exibir no meu trabalho, cas

o não me seja conveniente. Mas o que é mais importante sermos um único grupo grande ou milhares de grupos pequenos? Nossos ancestrais evoluíram um cérebro para conviver em grupos com até 150 pessoas. Como fazer agora em toda essa globalização?


Nós somos a única espécie do gênero Homo que vive nesse planeta, talvez por isso somos tão pouco unidos? Dizem que a única forma da nossa espécie se unir seria se surgisse extraterrestres invadindo a terra. Daí seríamos nós contra eles. É mais ou menos o que acontece com o patriotismo brasileiro em épocas de copa do mundo, nós contra os argentinos. Esse é também o princípio da guerra. Como convencer os soldados a matar o outro se ele se identifica com o mesmo. Agora se ele é o ‘inimigo” não é igual a mim, se não é igual a mim, não tem os mesmos sentimentos que eu. Se não tem os mesmos sentimentos que eu, posso matar sem dó.....


Então poderíamos considerar o preconceito natural? Ele é natural por ser um estímulo discriminatório e essencial sim para manutenção do grupo. Então a tal paz mundial, direitos iguais para todos, aceitação das diferenças são utopias? Se pensarmos em grupos pequenos sim... mesmo porque todo mundo já sentiu preconceito quando era criança porque era criança , por ser mulhe

r, por ser gorda, por ser careca, por falar alto, por ser pobre, por ser negro, por ser branco, por ser gago, por ser analfabeto, por ser português, por ter aids... é inevitável... em espécies sociais eles elementos sempre existirão. Uma pesquisa recente mostrou que cada pessoa tem em média cinco preconceitos diferentes.


Devemos considerar que atualmente vivemos em grandes centros

urbanos e embora compartilhemos nossa área de vida com muitas pessoas, a solidão no mundo todo tem aumentado. As pessoas não estão conseguindo se inserirem nos grupos. Seria o caso de nos tornamos um único grande grupo? Se quebrarmos a barreira da distância, dos idiomas e das diferenças poderíamos

seria possível?

Uma recente pesquisa desenvolvida pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas constatou que 99,3% dos professores e alunos da rede pública de ensino admitem algum tipo de preconceito no ambiente de ensino. E 10% já viram ou vivenciaram o ‘bullying’, o assédio moral que tem sido responsável por evasão escolar. 94,2% dos entrevistados têm preconceito étnico-racial, 93

,5% de gênero, 91% de geração, 87,5% socioeconômico, 87,3% com relação à orientação sexual e 75,95% têm preconceito territorial.

Roberto Cavalcanti defende o direito natural ao preconceito considerando-o como uma pressuposição ou uma previsão. Logo, essencial para o espírito critico do ser humano bem como uma forma de prudência e proteção. Segundo Cavalcanti “a demonização do preconceito responde pela ruptura com qualquer idéia de hierarquia, seja social, cultural ou moral, com vistas à produção de uma diabólica sociedade sem classes. Qualquer diferenciação valorativa é abolida, e a feiura e a beleza, o bem e o mal, a verdade e a mentira passam a ser padrões relativos”.


Eu acredito que o preconceito seja natural e até essencial para manutenção dos grupos que promovem a sobrevivência (ou a qualidade de vida) de seus integrantes. Porém, ele cria uma ruptura em um grupo maior, se o objetivo da sociedade é manter seus integrantes passivos, ela deverá unir esses pequenos grupos em grupos maiores, fazendo não com que suas diferenças desapareçam, mas que não sejam os estímulos segregadores. Para isso deve criar estímulos agregadores maiores. A situação

que vivi revela em pequena escala essa situação. Eu estou inserida em um grupo que tem em comum freqüentar uma academia de ginástica. A proposta dessa academia é bem interessante, além de cuidar do corpo, cuida também da alma, pois promove uma série de atividades integradoras, além de ter

alguns pré-requisitos para participação que cria a identificação do grupo. Nas últimas sema-

nas, com o intuito de estimular as alunas mais antigas, criou uma série de “vantagens” para quem freqüentasse o local a mais de um ano. E “sem querer” criaram um elemento segregador. O grupo que era unido por ter elementos integradores, agora já não é um só por conta desse novo elemento. Interessante, pois socialmente é o que acon

tece e tem muito

a ver com os “modismos”. Enfim... e você, me conte, tem ou já vivem algum preconceito. Acha que é possível um mundo sem preconceitos?


Para saber mais

http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/06/17/materia.2009-06-17.8057908621/view

http://br.dir.groups.yahoo.com/group/historiacultural_go/message/2902

http://roberto-cavalcanti.blogspot.com/2008/09/pelo-direito-natural-ao-preconceito.html