O Início Do Fim: Extinção Das Espécies


Andrea Duarte Pinto
Enfermeira pela UFPR e Advogada - Bacharel em Direito pela PUC-PR;

Barbara Prebianca Hofstaetter 
Bacharel em Direito pela PUC-PR;

Michelle Cristine Herrmann
 Médica pela UNIOESTE - Cascavel, Clínica Médica pelo Hospital Universitário do Oeste do Paraná e Oncologista Clínica pela UOPECCAN.

Nova extinção em massa. Humanos aceleram em 35 vezes desaparecimento de espécies A reportagem acima aborda sobre como as ações humanas contribuem para aumentar e acelerar o desaparecimento de espécies no planeta Terra. A extinção de espécies é ocasionada pela própria natureza como consequência de eventos naturais ou através da seleção natural. Destaca-se que extinções naturais são comuns no decorrer da história do planeta e as razões para isso são diversas.
Entretanto, um grande marco para a extinção das espécies encontra-se na ação gananciosa após a revolução industrial. Com a evolução e a globalização, os humanos foram testando os limites da natureza, atuando de forma desenfreada, sem pensar nela como algo a ser preservado, tudo em nome do progresso e do desenvolvimento. (Fischer; Cunha; Renk; Sganzerla e Santos, 2017)
A ética ambiental tem origem filosófica colocando o meio ambiente como foco. A ciência inicialmente tentou dominar a natureza numa posição hierárquica, o que foi considerado até certo ponto necessário para nossa evolução enquanto sociedade, porém essa relação de exploração extrativista, está relacionada com a falta de ética ambiental. Portanto, a exploração do ambiente num mundo globalizado de maneira desestruturada configura um problema ético ambiental. (Cruz, 2015)
O surgimento da ética ambiental aconteceu após o aumento dos movimentos ecológicos dos anos 60. Veio para garantir e preservar a natureza, tendo em vista que com o aumento da exploração e do desenvolvimento, se percebeu que a natureza é finita. Com isso, veio a necessidade de preservação, e esse é o grande problema ético, dado que reconhecida a finitude da natureza se declara a possibilidade de colocar em risco a própria sobrevivência humana. (Fischer; Cunha; Renk; Sganzerla e Santos, 2017)
Nessa perspectiva, pode-se considerar a ação humana como sendo sujeito moral, que sendo um agente que é responsável por suas próprias ações, acaba por intervir de forma desordenada na natureza, meio ambiente e nas espécies atingidas por desastres, ou até mesmo extinção, como sendo os pacientes morais.
O princípio da solidariedade encontra-se insculpido no artigo 13° da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos da UNESCO (DUBDH). Sua racionalização está diretamente ligada ao direito social. Entretanto, ao final do século XIX a solidariedade deixou de se confundir com a caridade e de filantropia. (Alves,2008)
De um lado há o princípio da solidariedade intergeracional. Por outro lado, a consciência de uma solidariedade entre os seres naturais é originada pelas ameaças à vida decorrentes do processo evolutivo da civilização. (Ianegitz, 2018)
A solidariedade transgeracional, que é a responsabilidade que as gerações atuais têm de preservar o meio ambiente e garantir que as gerações futuras possam usufruir dele, é um direito metaindividual, que são direitos coletivos que transcendem o interesse individual e se estendem a toda sociedade, o qual está garantido no artigo 225 da Constituição Federal.
Em maio de 2015, o papa Francisco publicou a "Encíclica Laudato Si " que dentre os temas aborda a contínua mudança da humanidade no planeta e seus contrastes. Nesse documento, o papa relaciona um comparativo com a rapidez das ações humanas e a lentidão da evolução biológica, levando a rápida deterioração do mundo e da qualidade de vida, além de formar uma desigualdade ambiental planetária. Assim, há uma crítica quando cita que os mais pobres são os maiores prejudicados, não desfrutando dos benefícios que a exploração da natureza traz, além de fortemente criticar os países centrais que buscam mecanismos para continuar sua exploração. Ainda, no próprio laudato, há uma súplica para que o ser humano respeite a natureza, afirmando que a bíblia fala de solidariedade entre Homens e sobre ajuda aos animais necessitados, não sendo a bíblia um livro com uma visão antropocentrista (Bergoglio, 2015).
Assim, pode-se afirmar que essa interseção de assuntos, interdisciplinaridade que a bioética normalmente faz, ela também faz com a bioética ambiental. (Fischer; Cunha; Renk; Sganzerla e Santos, 2017)
Nós como futuras bioeticistas acreditamos que devemos reconhecer nossa responsabilidade em relação às espécies e garantir que as futuras gerações tenham acesso à natureza de uma forma íntegra. Dessa maneira, devemos cuidar de nossas atitudes realizadas agora, não com enfoque de que seja tudo paralisado, mas permitir que ocorra a evolução humana com ponderação de forma equitativa, na qual gere bem-estar para os humanos e para toda natureza de um modo geral. Equilíbrio é a palavra a ser seguida para um bom relacionamento.

O presente ensaio foi produzido para disciplina de Bioética Ambiental do programa de Pós-Graduação em Bioética da PUC-PR tendo como base as obras:

BERGOGLIO, Jorge Mario. CARTA ENCÍCLICA LAUDATO SI’: Sobre o Cuidado da Casa Comum. Disponível em https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html. 2015. Acesso em: 14 de novembro de 2023.



CRUZ, Luiz Henrique Santos Da. A ÉTICA AMBIENTAL: A BUSCA PARA UMA SUSTENTABILIDADE EFETIVA. Percurso, 2015. Disponível em: http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/percurso/article/view/3628/371372003. Acesso em: 24 de outubro 2023.

FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente: a dimensão ecológica da dignidade humana no marco jurídico constitucional do Estado Socioambiental de Direito, 2008

FISCHER, Marta Luciane; CUNHA, Thiago; RENK, Valquiria; SGANZERLA, Anor; SANTOS, Juliana Zacarkin dos Santos. Da ética ambiental à bioética ambiental: antecedentes, trajetórias e perspectivas. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v.24, n.2, p.391-409, abr.-jun. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-59702017000200005 . Acesso em: 25 out. 2023.

GARRAFA, V.; SOARES, S.P. O princípio da solidariedade e cooperação na perspectiva bioética. REVISTA BIOETHIKOS do CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO. Disponível em http://www.saocamilo-sp.br/pdf/bioethikos/105/1809.pdf . Acesso em 20 de novembro de 2023

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL. O princípio da solidariedade na esfera bioética: identidade pessoal e gerações futuras. Disponível em https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fadir/article/view/5160. Acesso em 15 de outubro de 2023

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Atividades humanas são as maiores causas da extinção de espécies. Disponível em https://www.ufsm.br/midias/experimental/integra/2022/02/06/atividades-humanas-sao-as-maiores-causas-da-extincao-de-especies. Acesso em 15 de outubro de 2023.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE AMBIENTAL COMO DEVER FUNDAMENTAL. Disponível em https://www.univali.br/Lists/TrabalhosMestrado/Attachments/2396/RAFAELI%20IANEGITZ.pdf . Acesso em 15 de outubro de 2023

“Panelinha” ou Estratégia de Sobrevivência? Uma Perspectiva Científica a Respeito da Formação de Grupos Sociais.


Por Cecília Oliveira de Aguiar, Maynara Cherobin Martins, Raphaella Fornazari e Tatiane Mie Arakaki Moraes da Silva

Formandas de Biologia



Posicionamento político, referência de carreira, espiritualidade, vício em substâncias, capacidades e dificuldades intelectuais e desordens psiquiátricas são algumas das diversas características que têm influência genética e moldam quem nos tornamos ao longo dos anos. São vários os genes que somados são capazes de interferir na herança da personalidade, mesmo que de forma mínima. No entanto, sabemos que as experiências vivenciadas e as situações encontradas no ambiente contribuem, e muito, para a formação da personalidade (Nerdologia, 2017).
Acredita-se que a influência seja de 50% dos genes e 50% do ambiente, desta segunda metade, segundo Harris (1995), a atuação é muito maior dos ambientes não compartilhados com aqueles que nos criam, como por exemplo a escola, do que o ambiente familiar. Isso porque, durante a formação de vínculos, a personalidade desenvolvida dependerá muito mais do papel que aquele indivíduo desempenha no grupo. Em outras palavras, no caso de uma criança em fase de desenvolvimento, ela precisará se adaptar aos ambientes em que se é inserida, não necessariamente parecidos com a realidade encontrada em casa, dessa forma ela cria a sua própria personalidade (Nerdologia, 2017).
Sendo assim, a personalidade ditará os grupos sociais que temos afinidade e que nos dê a sensação de pertencimento. São inúmeros os grupos sociais que se encontram em diversas esferas da sociedade e culturas, como, por exemplo, a música, na qual cada um consome estilos musicais que mais lhe agrada e se aproximam de pessoas que compartilham deste gosto. Instintivamente ou não, esse hábito de formação de grupos na sociedade ocorre a todo momento, nos unimos com quem nos é parecido ou nos adaptando para se associar a um determinado grupo.
Não muito diferente pode ser observado na natureza, na qual, animais também formam alianças como estratégia de sobrevivência. A exemplo tem-se, pássaros em formação “V”, grupos de suricatos vigias (SOUZA JUNIOR et al, 2018) e cardumes de peixes (SUZUKI et al. 2008). São comportamentos coletivos mas que buscam a sobrevivência individual. Outro exemplo interessante é o caso das larvas dos insetos do gênero Perreyia, que pertencem à ordem Hymenoptera, são larvas que andam em grupo e fazem isso para parecerem maiores e afugentar predadores, estratégia essa que não seria eficaz caso fossem solitárias.

Quando nos sentimos pertencentes ou acolhidos por alguém, uma série de reações biológicas, mentais e fisiológicas podem ocorrer no nosso corpo:
1. Liberação de hormônios de bem-estar: Ser agregado em um grupo social pode desencadear a liberação de hormônios como a oxitocina, conhecida como o "hormônio do amor" ou "hormônio do apego". Esse hormônio está associado à promoção de sentimentos de confiança, empatia e conexão social.
2. Redução do estresse: O sentimento de pertencimento pode reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, no organismo. Isso pode levar a uma diminuição da ansiedade e da sensação de ameaça, contribuindo para uma sensação geral de calma e segurança. Isso pode influenciar positivamente o sistema nervoso autônomo, levando a uma redução na atividade do sistema nervoso simpático, responsável pela resposta de "luta ou fuga". Isso resulta em um estado mais relaxado e menos ansioso. A interação social positiva e o apoio emocional proporcionados pelo grupo também podem modular a liberação de outros neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, que estão associados ao prazer e ao bem-estar emocional.
3. Fortalecimento do sistema imunológico: Relacionamentos positivos e sentimentos de pertencimento podem fortalecer o sistema imunológico. A redução do estresse e a liberação de hormônios associados ao bem-estar podem contribuir para uma melhor resposta imunológica.
4. Melhora no humor e na saúde mental: Sentir-se pertencente ou acolhido por alguém está associado a uma melhora no humor e na saúde mental. Relacionamentos positivos podem promover uma sensação de felicidade, satisfação e apoio emocional, reduzindo os sintomas de depressão e ansiedade.
5. Aumento da autoestima e autoconfiança: Quando nos sentimos aceitos e valorizados por outros, é mais provável que tenhamos uma visão mais positiva de nós mesmos.
6. Melhora na regulação emocional: Relacionamentos saudáveis fornecem um espaço seguro para expressar emoções, o que pode contribuir para uma melhor compreensão e gestão das mesmas.
Essas são algumas das maneiras pelas quais a sensação de fazer parte de um grupo social pode influenciar positivamente nosso corpo, mente e saúde em geral. Ter relações interpessoais saudáveis e significativas é essencial para o bem-estar. Em contrapartida, a rejeição pode, em alguns casos, aumentar a busca por afiliação e aceitação em outros grupos ou relações. Isso pode ser comparado a animais que, quando excluídos de um grupo, procuram novas associações sociais para satisfazer suas necessidades sociais. Do ponto de vista etológico, o sentimento de rejeição pode desencadear respostas comportamentais e emocionais que, em muitos aspectos, refletem adaptações evolutivas para lidar com situações sociais desafiadoras. As respostas à rejeição podem variar amplamente entre os indivíduos, mas muitas delas podem ser entendidas dentro do contexto da evolução e sobrevivência social.
A formação de grupos é um fenômeno fundamental para a sobrevivência e a evolução de diversas espécies, incluindo os seres humanos. Este processo amplamente estudado e documentado em campos como a biologia, psicologia e sociologia, apresenta inúmeras vantagens que corroboram a necessidade intrínseca de se agrupar.
Em primeiro lugar, a formação de grupos proporciona uma maior proteção contra ameaças externas. Nos reinos animal e humano, a coesão grupal aumenta a capacidade de defesa contra predadores. Esta proteção é resultante da força coletiva, onde indivíduos agem de forma colaborativa para assegurar a segurança do grupo como um todo.
Além disso, a formação de grupos está associada à otimização de recursos. A cooperação entre os membros permite a partilha de conhecimentos e habilidades, por exemplo, entre os primatas, a formação de grupos facilita a obtenção de alimentos, proteção de território e cuidado com os filhotes.
Do ponto de vista evolutivo, a formação de grupos desempenha um papel crucial na seleção natural. A tendência de se agrupar e cooperar entre indivíduos de uma mesma espécie é um traço evolutivo vantajoso, selecionado ao longo do tempo devido aos benefícios oferecidos em termos de sobrevivência e reprodução.
É importante ressaltar que estudos científicos indicam que até mesmo em sociedades humanas modernas, a formação de grupos continua sendo uma parte integral do nosso comportamento social. Desde comunidades locais até organizações globais, a capacidade de nos agruparmos e colaborarmos é a base para avanços tecnológicos, desenvolvimento econômico e inovação.
Em síntese, a formação de grupos é um fenômeno profundamente enraizado na história evolutiva das espécies, incluindo a nossa própria. Seja no reino animal ou humano, a coesão grupal representa uma estratégia adaptativa essencial para a sobrevivência, oferecendo vantagens em termos de proteção, cooperação, desenvolvimento social e evolução.
Como formandas em biologia pontuamos pelo texto a influência genética e ambiental na formação da personalidade, destacando a importância das experiências vivenciadas e do ambiente na moldagem do indivíduo. A discussão se aprofunda na ideia de que, embora os genes desempenham um papel significativo, a metade restante da formação da personalidade é fortemente influenciada por ambientes sociais. A personalidade, por sua vez, orienta a escolha de grupos sociais, evidenciando um padrão instintivo de busca por semelhanças e adaptação a diferentes ambientes. A comparação com comportamentos coletivos na natureza, como a formação de grupos de animais, reforça a ideia de que a formação de grupos é fundamental para a sobrevivência e evolução. O texto argumenta que a coesão grupal proporciona proteção, otimização de recursos, desenvolvimento social e emocional, destacando a importância contínua da formação de grupos na sociedade humana, desde comunidades locais até organizações globais, como uma parte integral do nosso comportamento social e evolutivo.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina Biologia e Evolução do Comportamento Animal e teve como base as obras:

HARRIS, J. R. Where is the child’s environment? A group socialization theory of development. Psychological Review, v. 102, n. 3, p. 458–489, 1995. Disponível em: https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/0033-295X.102.3.458 Acesso em: 18 nov. 2023.

NERDOLOGIA. O que dá nossa personalidade?, 2017 Youtube Disponível em: https://youtu.be/fiXPdWAmFyI?si=P6pzuGdJUBEX3pQG Acesso em: 18 nov. 2023.

SOUZA JÚNIOR et al. Osteologia do membro torácico de Lycalopex gymnocercus Fischer, 1814 (Carnivora, Mammalia): abordagens comparada, radiográfica e osteométrica. Pesquisa Veterinaria Brasileira, v. 38, n. 1, p. 195–221, 1 jan. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1678-5150-PVB-5270 Acesso em: 19 nov. 2023.

SUZUKI, Fábio M. e Orsi, Mário L.. Formação de cardumes por Astyanax altiparanae (Teleostei: Characidae) no Rio Congonhas, Paraná, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 2008, v. 25, n. 3, pp. 566-569. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-81752008000300026 Acesso em: 19 nov. 2023.

Espiritualidade e comportamento

 por Isabella Karine Bueno, Laíse Dec Salvego e Mikhaela Muller.


Formandas em biologia


Matéria:https://claudia.abril.com.br/noticias/cientistas-exploram-o-poder-de-cura-da-energia-das-maos

Mas será que a espiritualidade tem o poder de curar doenças? Um experimento realizado pela Faculdade de Medicina da USP, usou o reiki para testar se era possível com ele curar o câncer em ratos. Os ratos dos experimentos foram divididos em três grupos: um que não passou por tratamento algum, outro que foi tratado pela imposição de mãos do reiki, por 10 minutos diariamente e outro que ficou coberto por luvas térmicas. Foi demonstrado que os ratos que receberam reiki tiveram a capacidade de destruir os tumores pelo o seu sistema imunológico. Matérias com títulos com os abaixo noticiaram os resultados da pesquisa (GARÉ, 2008).Religião e espiritualidade são conceitos relacionados, mas têm diferenças distintas que definem suas características e abordagens. Em primeiro lugar, uma religião é geralmente uma estrutura organizada de rituais e práticas compartilhadas por um grupo de pessoas. Ela muitas vezes inclui uma posição de líderes religiosos, textos sagrados e uma comunidade de seguidores que aderem a um conjunto específico de doutrinas e dogmas. A religião tende a fornecer orientações claras sobre como adorar, o que é certo e errado e como se relacionar com um ser supremo ou divino. (ALVES, 2010).
Por outro lado, a espiritualidade é uma experiência pessoal e subjetiva de busca de significado, propósito e conexão. Ela não está necessariamente ligada a uma religião, e as pessoas espirituais podem adotar uma variedade de opiniões e práticas. A espiritualidade valoriza a experiência individual, a introspecção e a conexão pessoal, e não é limitada por dogmas ou estruturas religiosas formais (SOAREAS, 2019). A espiritualidade pode ser praticada de maneira mais flexível e informal, como meditação, oração individual ou contemplação da natureza. Além disso, a espiritualidade pode ser uma jornada solitária ou compartilhada com outros de maneira mais fluida (PANZINI, 2007).
Quando se trata do poder de cura da espiritualidade, muitas pessoas acreditam que a espiritualidade pode ter um impacto positivo na saúde física, emocional e mental, ajudando para a cura de algumas enfermidades como, bem- estar emocional (ajudando as pessoas a enfrentar desafios emocionais), redução do estresse (a prática de meditação pode ajudar a reduzir o estresse e promover a tranquilidade mental, podendo diminuir os níveis de cortisol), resiliência (a espiritualidade pode ajudar as pessoas a desenvolver a capacidade de lidar com adversidades de maneira eficaz), promoção de hábitos saudáveis (algumas tradições espirituais enfatizam a importância de cuidar do corpo como um templo sagrado) entre muitas outras coisas (DI BIASE & ROCHA & SÉRGIO, 2004).
Porém, ainda são necessários mais estudos com relação a prática, pois ainda não existem evidências suficientes que apoiem tal resultado. Outros 205 estudos com uso da prática de reiki foram analisados em uma revisão de literatura publicada em 2008, e essa mostrou que apenas nove desses estudos utilizaram bons critérios de metodologia de análise. Assim, pode ser que o reiki realmente tenha efeitos positivos no tratamento de doenças, mas ainda são necessárias análises mais criteriosas dos resultados (GARÉ, 2008).
Apesar de ainda não existir comprovação científica sobre a validade da espiritualidade na cura de doenças, é claramente observado os efeitos dela na sociedade. Ainda não se sabe se outros animais além dos seres humanos utilizam da espiritualidade em suas relações sociais, mas nos seres humanos ela vem como um ferramenta de formação de grupos e de identificação, em que cada indivíduo sente no que deve acreditar e encontra um grupo social com as mesmas crenças e isso fortalece as relações entre indivíduos. A espiritualidade tem mais relação com o psicológico, já que vai da experiência de cada pessoa, porém na evolução, como componente etológico, foi possível ver civilizações inteiras crescendo em torno da espiritualidade, de uma crença.
A espiritualidade é uma característica humana, a complexidade da mente humana foi capaz de desenvolvê-la. Como futuras biólogas entendemos que ela é uma maneira de bem-estar em que os indivíduos se sentem parte de um grupo, algo importante para a vida em sociedade. Além disso, apesar de não existirem provas da espiritualidade em outros animais é algo interessante de ser explorado e talvez descoberto.

Esse estudo foi elaborado para a disciplina de Biologia e Evolução do Comportamento Animal, tendo como base as obras:


ALVES, Rubem A. O que é religião?. Edições Loyola, 2010.
DI BIASE, Francisco; ROCHA, Mario Sergio; SÉRGIO, M. Ciência Espiritualidade e Cura. Psicologia Transpessoal e Ciências Holísticas, Rio de Janeiro: Editora Qualitymark, 2004.
PANZINI, Raquel Gehrke et al. Qualidade de vida e espiritualidade. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 34, p. 105-115, 2007.
GARÉ, Ricardo Rodrigues. Efeitos do reiki na evolução do granuloma induzido através da inoculação do BCG em hamsters e do tumor ascítico de Ehrlich induzido em camundongos. 2008. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
SOARES, Alice Ribeiro Soares Ribeiro; SABIÃO, Roseline; FERREIRA, Guilherme. Psicologia, religião e espiritualidade. Psicologia e Saúde em debate, v. 5, n. Suppl. 1, p. 43-51, 2019.

Aborto: Um problema social? ou uma situação comum natural?

por Felipe Campos Pizzatto, Felipe Martins Corrêa e Rafael Ramiro Pajenkamp.

Formandos de biologia


No cenário brasileiro, destaca-se o recente caso de uma menina de 10 anos, cuja identidade permanece anônima, na região de São Mateus, Espírito Santo, que engravidou após ser violentada pelo próprio tio. O Tribunal de Justiça autorizou o aborto, considerando o risco da gestação em sua idade. Este episódio traz à tona a complexidade do debate sobre o aborto no Brasil. Paralelamente, é relevante mencionar que no Nordeste, especificamente no Recife, a saúde pública lida com casos similares sem a necessidade de intervenção judicial, seguindo o protocolo do Ministério da Saúde. Este contraste destaca a urgência de discutir o apoio a vítimas de estupro e o papel da saúde em casos sensíveis como esse, em meio a um contexto em que o tema do aborto se torna palco de jogos políticos e polarizações ideológicas.
A análise abrangente dos condicionantes biológicos, etológicos e sociais do aborto no Brasil destaca a complexidade do tema e a necessidade imperativa de uma abordagem multidisciplinar para compreender e enfrentar esse desafio. A questão do aborto e sua possível descriminalização no país permanecem em pauta, suscitando debates intensos. Dados alarmantes evidenciam que o aborto é uma séria questão de saúde pública, resultando na trágica morte de milhares de mulheres em procedimentos clandestinos. Somente em 2020, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 80.948 procedimentos após abortos mal-sucedidos, seja por causas provocadas ou espontâneas, ressaltando a urgência de abordagens legais e seguras para evitar riscos à vida das mulheres.

Com relação à situação do aborto no Brasil, é comum que diversos grupos sociais sejam desenvolvidos em decorrência de diferenças ideológicas, como os grupos pró-escolha, pró-vida, religiosos, comunidades de fé, entre outros. Esses grupos funcionam como maneiras de impor seus pensamentos sobre o que este grupo concorda em relação a uma situação em comum movimentando milhões de pessoas para lutar ao direito a vida destas “crianças”, como no caso em questão que foram realizadas manifestações na frente do hospital onde a menina realizara o procedimento, oque demonstra uma proposta de intervenção dos direitos das mulheres e meninas que sofre de abusos de terem um controle sobre suas próprias vidas. Sendo afetadas tanto em situações como a citada, quanto em qualquer situação social que esta informação acabe por ser dispersa.
Ao avaliarmos o aborto dentro dos animais, podemos encontrar o aborto natural que pode ocorrer devido a uma variedade de fatores, como doenças, lesões, estresse, má nutrição e, entre outros. Em alguns casos, o aborto natural pode ser uma forma de conservar energia em reprodução, no caso de produzirem mais descendentes do que o necessário para compensar as perdas que ocorrem durante o desenvolvimento, além disso também sendo observado o caso de fêmeas principalmente de primatas quando à uma troca de alfas algumas fêmeas se alimentam de plantas abortivas para serem melhor tratadas dentro do grupo.
Contudo podemos expressar que o aborto é um tema polêmico no Brasil e em todo o mundo, e a sua legalidade é um assunto em debate. A Constituição Federal de 1988 estabelece a laicidade do Estado, que deve se manter imparcial no sentido de religiosidade e o direito como um todo. No entanto, a legislação brasileira atual criminaliza o aborto, com exceção de três situações específicas: risco à vida da mulher, gravidez resultante de estupro e feto anencefálico. Em 2016, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o aborto não deve ser considerado crime quando realizado nos primeiros três meses de gestação. Em setembro de 2023, o STF está considerando um caso que poderia descriminalizar o aborto até as doze semanas de gestação.
A questão do aborto é complexa e envolve questões éticas, religiosas, políticas e de saúde pública. A descriminalização do aborto é um assunto em debate em todo o mundo, e muitos países já legalizaram o procedimento em algumas circunstâncias. No Brasil, a criminalização do aborto tem sido criticada por grupos de direitos humanos, que argumentam que a proibição do procedimento coloca em risco a vida e a saúde das mulheres, especialmente as mais pobres e vulneráveis. Por outro lado, grupos religiosos e conservadores argumentam que o aborto é um ato imoral e que a vida começa na concepção.
No entanto, ao refletirmos sobre o tema do aborto, nós, como futuros biólogos, reconhecemos a complexidade intrínseca desse assunto que transcende as fronteiras da biologia para alcançar esferas éticas, sociais e políticas. Defendemos a perspectiva de que a decisão sobre a continuidade ou interrupção de uma gravidez deve ser uma escolha individual da mulher, baseada em suas circunstâncias únicas, saúde mental e física. Acreditamos que a autonomia sobre o próprio corpo é um direito fundamental da mulher, e impor decisões alheias sobre seu destino reprodutivo é uma violação desse direito. Como defensores da ciência e da saúde, encorajamos uma abordagem mais aberta e inclusiva para lidar com a questão do aborto, respeitando as escolhas individuais das mulheres e promovendo um ambiente que assegure cuidados adequados e apoio psicológico quando necessário.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina Biologia e Evolução do Comportamento animal baseado nas obras:



Freire. D. GAZETA DO POVO. Manifestação contra o aborto reúne multidões em cem cidades brasileiras. 2023. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/manifestacao-contra-o-aborto-reune-multidoes-em-cem-cidades-brasileiras/>. Acesso em: 15 nov. 2023.

HUMAN RIGHTS WATCH. Brazil: Descriminalize Abortion. 2018. Disponível em: <https://www.hrw.org/news/2018/07/31/brazil-decriminalize-abortion>. Acesso em: 15 nov. 2023.

Jiménez, C. EL PAÍS. Menina de 10 anos violentada faz aborto legal, sob alarde de conservadores à porta do hospital. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2020-08-16/menina-de-10-anos-violentada-fara-aborto-legal-sob-alarde-de-conservadores-a-porta-do-hospital.html>. Acesso em: 15 nov. 2023.

Langer. A. Harvard School of Public Health. The negative health implications of restricting abortion access. 2021. Disponível em: <https://www.hsph.harvard.edu/news/features/abortion-restrictions-health-implications/> Acesso em: 15 nov. 2023.

Motta, J. Revista Forum. Aborto: Dados mostram que o assunto é questão de saúde pública no Brasil. 2023. Disponível em: <https://revistaforum.com.br/direitos/2023/9/22/aborto-dados-mostram-que-assunto-questo-de-saude-publica-no-brasil-144599.html>. Acesso em: 15 nov. 2023.

Yong E. National Geographic. The Bruce effect- why some pregnant mokeys abort wen new males arrive. 2012. Disponível em: <https://www.nationalgeographic.com/science/article/the-bruce-effect-why-some-pregnant-monkeys-abort-when-new-males-arrive>. Acesso em: 15 nov. 2023.

 

A Urgência da Bioética Ambiental na Era das Mudanças Climáticas e da Poluição do Ar

Por Carina Del Pino Sandrini e Daihany Silva dos Santos
 bachareis em direito 


Segundo notícia publicada em 22/07/2023, por Roberto Peixoto no site G1 Globo, o mundo está mais quente, e as causas do fenômeno El Ninõ estão cada vez mais incertas. Relata que as razões ligadas à situação de aquecimento incomum do planeta são uma combinação de elementos, especialmente no que diz respeito às alterações climáticas e à poluição do ar.
Mais especificamente, com base nos dados da Organização Mundial Meteorológica (OMM), agência especializada das Nações Unidas (ONU), o planeta terra teve o trimestre mais quente já registrado com temperaturas da superfície do mar atingindo níveis sem precedentes e condições climáticas extremamente severas. O acontecimento de ondas de calor extremas, está aliada à ocorrência de incêndios florestais e à propagação da poeira do deserto, que afeta gravemente a qualidade do ar, a saúde das pessoas e o ambiente.
Dentre as causas das mudanças climáticas é relevante mencionar o consumo excessivo humano, posto que o uso de combustíveis fósseis, o desmatamento, a produção de alimentos, o uso de transportes e o consumo intensivo de recursos, servem para manter o estilo de vida humano.
Assim, o ser humano, em sua posição de agente moral, manifesta sua ação antrópica por meio do aumento na produção e consumo da população, atingindo diretamente a parte mais vulnerável nessa relação, insto é, a natureza, sendo a principal consequencia dessa ação antrópica o aumento da produção de gases com efeito de estufa e ao aumento das emissões de poluentes, incluindo produtos químicos e partículas como o “carbono negro”.
Tanto as alterações climáticas como a poluição atmosférica possuem causas comuns. As principais fontes de poluição do ar, como a queima de combustíveis fósseis em veículos e usinas de energia, também são as principais fontes de emissões de gases de efeito estufa, como CO2 e metano. Sendo assim, as mudanças climáticas e a poluição do ar estão intrinsecamente ligadas, de modo que ao reduzir a poluição do ar, também será reduzido as mudanças climáticas.
Ao que se percebe, o mundo se direciona a um caminho sem volta, considerando que a degradação ambiental se apresenta cada vez mais extensiva, ao ponto de elevar o nível de poluição atmosférica. Nesse contexto, buscando garantir que a mudança climática seja minimizada, ou até evitada, torna-se importante partir da premissa que a natureza possui um valor inerente, ou seja, possui um fim em si mesmo, e isso independe de sua utilidade para os seres humanos.
Para a efetiva valoração da natureza como um fim em si mesma, sob o prisma da Bioética Ambiental, é imprescindível que as ações humanas sejam guiadas através do princípio do valor inerente. Basicamente, tal princípio expressa que os seres vivos não devem ser usados como meios para fins humanos, mas sim dignos de consideração ética, com valor inerente em si mesmos, o que os tornam únicos e insubstituíveis.
Com isso, o meio ambiente, e consequentemente, todos os seres que compartilham a vida e a existência no planeta, começam a ser tratados com dignidade, levando em conta serem detentores de um valor intrínseco, que merecem respeito e consideração por si mesmos, e não como um mero instrumento passível de exploração. Cabe ressaltar que o valor inerente não é quantificável, mas sim igualitário, ou seja, todos os agentes morais possuem igual valor moral.
Portanto, na perspectiva da bioética ambiental, a ação antropocêntrica, diretamente ligada ao consumo excessivo de recursos naturais, viola o princípio do valor inerente, pois impacta diretamente na biodiversidade, causando poluição, destruição de ecossistemas e o sofrimento de todos os seres vivos. Nesse contexto, a Bioética Ambiental nos lembra que a proteção do meio ambiente e a promoção da saúde planetária não são apenas imperativos éticos, mas também uma necessidade urgente para garantir um futuro sustentável para as gerações presentes e futuras.
Nós, como futuras bioeticistas, acreditamos que diante do quadro alarmante de mudanças climáticas e poluição do ar que afetam diretamente a saúde do planeta e de seus habitantes, é fundamental adotar uma abordagem baseada na Bioética Ambiental.
Essa perspectiva nos instiga a repensar nossas ações e escolhas, levando em consideração o impacto que elas têm, não apenas nas nossas vidas, mas também na saúde do planeta e na dignidade de todas as formas de vida que o habitam. Ao assumir uma postura que respeita o valor inerente à natureza, reconhecemos que não somos os únicos protagonistas no cenário global e que temos responsabilidades que transcendem os nossos próprios interesses imediatos.
Agindo de acordo com o princípio do valor inerente, podemos dar passos significativos na direção de um planeta mais saudável, equilibrado e em harmonia com todas as suas formas de vida.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Bioética Ambienta, tendo como base as obras:

ECYCLE. Carbono negro: o que é e quais seus impactos? Disponível em: https://www.ecycle.com.br/carbono-negro/. Acesso em 25 de set. 2023.

ECYCLE. AZEVEDO, Julia. Entenda o que é degradação ambiental. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/degradacao-ambiental/. Acesso em 25 de set. 2023.

FELIPE, S. T. Valor Inerente e Vulnerabilidade: Critérios Éticos Não-Especialistas na Perspectiva de Tom Regan. Ethic@, Florianópolis, v.5, n. 3, p. 125-146, Jul. 2006. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/1677-2954.2009v8n1p147. Acesso em 04 out. 2023.

FISCHER, Marta Luciane et al. Da ética ambiental à bioética ambiental: antecedentes, trajetórias e perspectivas. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.24, n.2, abr.-jun. 2017, p.391-409. Disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/RWy3SRjRfxx8yZXSxrtvvQC/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 20 set. 2023.

FURTADO, Fernanda Andrade Mattar. Concepções Éticas da Proteção Ambiental. Revista Direito Público. Estudos, Conferências e Notas, 2004. Disponível em: https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/view/1391/859. Acesso em 25 set. 2023.

G1. PEIXOTO, Roberto. 'Território desconhecido': mundo está mais quente e El Niño atípico tem efeitos ainda mais incertos; entenda. Publicado em 27 de julho de 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2023/07/22/territorio-desconhecido-mundo-esta-mais-quente-e-el-nino-atipico-tem-efeitos-ainda-mais-incertos-entenda.ghtml. Acesso em 20 set. 2023.

GOV.BR. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA. Poluição do ar. Publicado em 23 de maio de 2022. Atualizado em 03 de julho de 2023. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/causas-e-prevencao-do-cancer/exposicao-no-trabalho-e-no-ambiente/poluentes/poluicao-do-ar. Acesso em 25 set. 2023.

MODEFICA. Qual o Valor da Natureza? Uma Introdução à Ética Ambiental. Publicada em 4 de setembro de 2019. Atualizada em 7 de dezembro de 2021. Disponível em: https://www.modefica.com.br/valor-da-natureza/. Acesso em 20 set. 2023.

NAÇÕES UNIDAS. Ação Climática. Dados sobre ação climática. O que são as alterações climáticas? Disponível em: https://www.un.org/es/climatechange/science/key-findings. Acesso em 20 set. 2023.

NAÇÕES UNIDAS. Ação Climática. Causas e Efeitos das Mudanças Climáticas. Disponível em: https://www.un.org/pt/climatechange/science/causes-effects-climate-change. Acesso em 25 set. 2023.

OMM. Nações Unidas. Clima e Meio Ambiente. Planeta Terra teve o trimestre mais quente já registrado. Publicado em 6 de setembro de 2023. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2023/09/1820042. Acesso em 20 set. 2023.

UNEP. The United Nations Environment Programme. Você sabe como os gases de efeito estufa aquecem o planeta? Publicado em 05 de janeiro de 2022. Disponível em: https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/voce-sabe-como-os-gases-de-efeito-estufa-aquecem-o-planeta. Acesso em 25 set. 2023.

UNEP. The United Nations Environment Programme. Poluição do ar e mudança climática: dois lados da mesma moeda. Publicado em 23 de abril de 2019. Disponível em: https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/story/poluicao-do-ar-e-mudanca-climatica-dois-lados-da-mesma-moeda. Acesso em 25 de set. 2023.

WWF BRASIL. As mudanças climáticas. Disponível em: https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/clima/mudancas_climaticas2/. Acesso em 20 set. 2023.

As queimadas e as feridas na Terra

Por Alex Aparecido Da Silva, Ariél Philippi Machado, Filipe Azoia, Acir Franco,  


No dia 25 de julho de 2023, a página da CNN Brasil veiculou uma notícia a respeito da ocorrência de queimadas em território brasileiro, apontando que embora o número total de focos tenha apresentado uma discreta diminuição em relação ao ano de 2022, a região da Amazônia sofreu um grande aumento no número de casos.
Sendo o Brasil um país extremamente abundante em áreas florestais, dentre elas, o bioma amazônico, a principal floresta tropical do mundo, as queimadas representam a mais séria ameaça ambiental enfrentada em nosso território, somando aproximadamente 71 milhões de hectares de vegetação já perdidonas últimas três décadas1. Depois da Amazônia, outro bioma brasileiro que padece com as queimadas é o Cerrado. De acordo com o WWF-Brasil, aumentou em mais de 20% os focos de queimada neste bioma, que ainda carece de um plano estratégico de contenção.
Diante destes fatos, para além da grave perda de biodiversidade decorrente dessas queimadas, questiona-se a dignidade humana na medida em que essa prática viola o princípio de fidelidade à vida, que rompemos ao favorecer tantos focos de incêndio que destroem a vida presente nas florestas. Da ação deliberada de queimar territórios, entra em cena outro tema, qual seja, o evidente desregramento das estações do ano, como consequência das mudanças climáticas.
As queimadas, atreladas ao corte de florestas, aumentam a concentração de gases do efeito estufa que, ao ser intensificado, superaquece a Terra, mudando seu clima e caracterizando o que conhecemos como Aquecimento Global. Embora a técnica de queimada controlada, ação extremamente antiga utilizada desde que o homem deixou de ser essencialmente coletor e passou a cultivar seu alimento, sua prática indiscriminada causa um grande problema de cunho ambienta2.
O problema ambiental decorrente de queimadas e de corte de florestas envolve, sistematicamente, outras áreas da vivência humana, englobando nesta problemática os aspectos sociológicos, antropológicos, filosóficos, psicológicos etc., configurando as queimadas como fenômenos de demanda multi e interdisciplinar, cuja consequência mais ampla, vale reiterar, é a mudança das condições climáticas globais.
As alterações no clima global estão ligadas diretamente ao desmatamento das florestas em prol da transformação do ambiente em sistemas agrícolas bem como pastagens, o que implica em mudanças no ciclo do carbono, que se desprende para a atmosfera na forma de gás carbônico, contribuindo para o aquecimento global3.
As queimadas podem ser classificadas de dois modos. As queimadas naturais, que ocorrem sem a intervenção do homem e em decorrência de fatores climáticos específicos, e em queimadas antropogênicas, causadas por atividade humana seja ela criminosa ou por negligência2. Esta última é a que vem causando maior preocupação aos órgãos ambientais atualmente. Essa preocupação reflete uma tentativa de resguardo do princípio de fidelidade de que a confiança estabelecida não deve ser quebrada e todo malfeito deve ser restituído. Tendo em vista que, caracterizar queimadas como crime, consiste na responsabilização do infrator por um ato de violação aos direitos de outrem.
O princípio de fidelidade é dado quando há interação equilibrada entre a ação humana e bem próprio da natureza e dos animais. As queimadas antropogênicas ferem este princípio, pois descaracterizam os ritmos de confiança nos espaços onde existe a atividade humana para além da moradia e subsistência.
As queimadas e os incêndios florestais representam o maior dano que se impõe aos ecossistemas e a sociedade, cujo crescente aumento de concentração do gás do efeito estufa indica o principal indutor de mudança do clima. Dados levantados pelo MapBiomas demonstraram que o número de queimadas caiu aproximadamente 1% no primeiro semestre de 2023, quando comparado ao mesmo período do ano passado, no entanto quando avaliamos sua ocorrência na floresta amazônica, em específico, estima-se que o número de focos cresceu em cerca de 14%4. A análise desses dados leva ao entendimento de que, nesse contexto, mesmo diante da possível imputabilidade do infrator, o princípio de fidelidade é inexistente, quando poderia ser explorado em políticas públicas de segurança, meio ambiente e educação, por exemplo, aos moldes da Bioética.
Na visão de Goodpaster, Regan e Taylor, a comunidade moral se amplia para abranger todos os seres, sendo os agentes morais e suas ações que afetam o entorno, que chamamos de pacientes morais.
São entendidos como pacientes por não poderem se proteger do impacto negativo das ações dos agentes morais, assumindo uma posição de vulnerabilidade, sujeitos às consequências das ações dos agentes morais em suas vidas5. Dando um exemplo: as queimadas de tipo antropogênicas revelam um agente moral que destrói um espaço de mata para uma finalidade estritamente lucrativa. São pacientes morais todo a biodiversidade presente na região queimada.
Como bioeticistas, nos cabe analisar por um viés multidisciplinar e interdisciplinar as relações instauradas entre a ação humana e as consequências ambientais decorrentes das queimadas, não só no que diz respeito à vegetação, mas também aos animais humanos e não humanos, pautadas em diversos princípios, dentre os quais, reiteramos aqui com ênfase, o princípio da fidelidade.

Em uma interpretação rasa, podemos acreditar que o princípio da fidelidade trata apenas da intenção do homem como ser social em não quebrar ou descumprir sua palavra ou uma promessa proferida ao próximo6; no entanto, se fizermos uma análise mais profunda, podemos verificar que o homem, como parte integrante do ambiente em que vive tem como dever inerente, demonstrar fidelidade não apenas aos demais humanos mas também aos animais não humanos, vegetais, bem como toda a rede ecossistêmica em que se encontra inserido.

De forma mais profunda, diz-se que a verdadeira fidelidade, em outras palavras, a felicidade consigo próprio, está em compreender as leis naturais, visando o respeito aos juramentos inatos aos homens como parte de um todo chamado Terra, de respeitar igualmente todas as formas de vida na finalidade de sustentar o equilíbrio necessário à existência no planeta3.

A agressão ao ambiente, por meio do fogo, motivado pela ganância e benefício próprio, como no caso das queimadas criminosas com objetivo de abrir novas áreas para cultivo e pastagens, seria então uma grave ofensa a tão bela promessa, que fazemos ao adentrar este mundo, não ao próximo, mas a nós mesmos como seres inter-relacionados, visto que não há uma ação realizada por nós que não reflita naqueles ao nosso redor e consequentemente em nós mesmos.

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Bioética Ambiental, do Programa de Pós-graduação em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, tendo por base as seguintes referências bibliográficas:



1. AGÊNCIA FAPESP (org.). Desmatamento e queimadas. 2019. Disponível em: http://www.bioetica.org.br/?siteAcao=Noticias&id=1829. Acesso em: 21 set. 2023.

2. TRAJANO, Núbia. Queimadas: o que são? 2020. Disponível em: http://jornaldapuc.vrc.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=12052&sid=29. Acesso em: 21 set. 2023.

3. NOBRE, Carlos A.; SAMPAIO, Gilvan; SALAZAR, Luis. Mudanças climáticas e Amazônia. Ciência e Cultura, v. 59, n. 3, p. 22-27, 2007. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252007000300012. Acesso em: 10 out. 2023

4. JORDÃO, Pedro. Queimadas caem 1% no Brasil, mas crescem 14% na Amazônia, diz MapBiomas. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/queimadas-caem-1-no-brasil-mas-crescem-14-na-amazonia-diz-mapbiomas/. Acesso em: 21 set. 2023.

5. FELIPE, Sônia T. Agência e paciência moral: razão e vulnerabilidade na constituição da comunidade moral. ethic@-An international Journal for Moral Philosophy, v. 6, n. 3, p. 69-82, 2007. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/24542/21801. Acesso em: 10 out. 2023

6 . ACADEMIA DE FILOSOFIA (org.). FIDELIDADE. 2021. Disponível em: https://academiadefilosofia.org/2021/06/19/fidelidade/#:~:text=1)Fidelidade%20no%20sentido%20mundano,%2C%20ainda%2C%20seguir%20um%20regulamento. Acesso em: 21 set. 2023.

Será que existe genética da moral?


Por Bruna Eduarda Wittmann, Isabella Drabeski da Silva e Mariana Cetnarski

Formandas de Biologia



Considerando a notícia disposta no site da UOL em 2020, na qual um jovem negro ficou preso por 2 anos (2018-2020) pelo porte de 10g de maconha e um cálculo do Ipea, que analisou milhares de acusações criminais em todos os tribunais brasileiros, apontando que 43% das apreensões da droga registradas nos processos de tráfico eram de quantidade igual ou inferior a 60 gramas. Escancara a diferença entre o caso do jovem com porte de uma quantidade consideravelmente baixa se mantendo encarcerado por 2 anos chegando a morrer dentro da prisão e o enfoque na palavra negro no título da manchete. A maconha (cannabis sp.) é uma planta que tem sido usada por humanos há milhares de anos. Sua origem é incerta, mas acredita-se que seja originária da Ásia Central. A planta foi disseminada pelo mundo pelos antigos povos da Ásia, que a cultivavam para fins medicinais, religiosos e recreativos. A maconha é uma planta que tem uma longa história de uso por humanos. As primeiras evidências de seu uso datam de mais de 5.000 anos atrás, na China[ML1] . A planta era usada para fins medicinais, como tratamento de dor, inflamação e náusea. A maconha também era usada em rituais religiosos, como incenso e oferendas. A maconha foi introduzida na Europa pelos conquistadores espanhóis, que a encontraram sendo usada pelos povos nativos das Américas. A planta rapidamente se tornou popular na Europa, onde era usada para fins medicinais e recreativos.
No século XIX (19), a maconha começou a ser associada ao crime e à violência, devido ao seu uso ocorrer em sua maioria por pessoas pretas e periféricas, que levou a uma crescente criminalização da planta, e culminou com a proibição da maconha nos Estados Unidos em 1937. A proibição da maconha teve um impacto significativo na sociedade mundial, dificultando o acesso e aumentando o estigma associado a ela. O preconceito contra a maconha continua até hoje. Muitas pessoas ainda acreditam que a planta é perigosa e prejudicial.
A propaganda anti-maconha, realmente é baseada no racismo estrutural e baseada no argumento que a legalização aumentará a disponibilidade, aumentando o consumo e diminuindo a percepção de seus riscos. A propaganda anti-maconha, geralmente retrata a maconha como uma droga perigosa que causa dependência, violência e outros problemas. Porém, até hoje, nenhuma proibição com relação às drogas no geral, foi capaz de diminuir o consumo no mundo. Muito pelo contrário, fortalece o tráfico e dificulta o acesso a plantas de qualidade e seguras. A falta de educação e informação sobre a maconha também é um fator que contribui para o preconceito. Muitas pessoas não sabem muito sobre a planta e seus efeitos, e isso pode levar a falsas crenças, como por exemplo, de que ela é uma droga perigosa.
A genética da moral é um campo de pesquisa que investiga os fatores que influenciam o desenvolvimento da moral. Alguns estudos sugerem que a genética pode desempenhar um papel na determinação de nossas crenças e valores morais. Se a genética da moral for real, ela pode ajudar a explicar por que a maconha ainda é tão estigmatizada. É possível que algumas pessoas tenham uma predisposição genética a serem mais moralmente conservadoras, o que pode levar a uma maior oposição ao uso da maconha.
A maconha contém mais de 100 compostos químicos, sendo o tetrahidrocanabinol (THC) o principal responsável pelos efeitos psicoativos da droga. O THC atua no sistema nervoso central, interagindo com os receptores de canabinoides. Esses receptores são encontrados em diversas regiões do cérebro, incluindo o hipocampo, o córtex pré-frontal e o núcleo accumbens. Os efeitos imediatos alterações na percepção sensorial, aumento da criatividade e da sociabilidade, sensação de relaxamento e bem-estar e alterações no humor e no apetite. Os efeitos a longo prazo do uso da maconha incluem, alterações cognitivas, como dificuldade de concentração e de memória, problemas de dependência, e aumento do risco de desenvolver doenças cardíacas, respiratórias e psiquiátricas.
Com relação a etologia, alguns fatores que podem influenciar o uso da maconha incluem fatores sociais, já que o uso da maconha é mais comum em grupos sociais que a aceitam. Fatores culturais, pois há regiões os quais o uso da maconha é mais comum e tolerável ou a legalizam. E fatores psicológicos, já que pessoas com problemas de ansiedade, depressão ou estresse podem ser mais propensas a usar maconha e/ou outras drogas como mecanismo de escape.
A história da maconha é complexa e cheia de controvérsias e sua relação com a moral humana é ainda hoje um assunto de debate. O preconceito à planta é um problema sério que precisa ser abordado. É importante educar as pessoas sobre os efeitos reais da maconha e combater a propaganda anti-maconha que culmina no racismo, excesso de pessoas no sistema prisional e até mesmo na morte de inocentes. A genética da moral também pode ser um fator importante a ser considerado. Se a genética da moral for real, precisamos entender melhor como ela influencia nossas crenças e valores morais. Isso pode nos ajudar a desenvolver políticas mais justas e equitativas em relação à maconha.
Como futuras biólogas, reconhecemos que a interação entre genética e ambiente é fundamental para o desenvolvimento de qualquer organismo, inclusive humanos. Em inúmeras situações, como nas doenças, a genética pode predispor um indivíduo a desenvolver uma determinada condição, mas o ambiente em que ele vive pode influenciar o nível de desenvolvimento dessa condição.
No entanto, é importante ressaltar que a interação entre genética e ambiente pode ser facilmente mal interpretada e utilizada para justificar preconceitos e discriminações. Por exemplo, alguns grupos supremacistas, já utilizaram que sua superioridade é determinada por sua genética, o que justificaria sua exclusão social, marginalização e até morte de outros grupos.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina Biologia e Evolução do Comportamento animal baseado nas obras:

● National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine. (2017). The health effects of cannabis and cannabinoids: The current state of evidence and recommendations for research. Washington, DC: The National Academies Press.

● HALL, Wayne; LYNSKEY, Michael. Assessing the public health impacts of legalizing recreational cannabis use: the US experience. World Psychiatry, 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7215066/

● HILLMER, Alannah. Genetic basis of cannabis use: a systematic review. BMC Medical Genomics volume, 2021. Disponível em: https://bmcmedgenomics.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12920-021-01035-5.



● ISRAEL, Salomon et al. The genetics of morality and prosociality. Current Opinion in Psychology, v. 6, p. 55-59, 2015. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2352250X15001323?casa_token=N77l1uex7cwAAAAA:6PbeUY5Okh1n7oimZZ5sY1TWqeNcG6EnjWVQ6D-nL1Slz_seD0Yfcpl2sS_DqXqOuhHonL0tWA.

● ZUARDI, Antonio. History of cannabis as a medicine: a review. Braz. J. Psychiatry , v. 2, n. 28, 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/ZcwCkpVxkDVRdybmBGGd5NN/.

● SOLOMON, Robert. Racism and Its Effect on Cannabis Research. Cannabis and Cannabinoid Research, v. 5, n. 1, 2020. Disponível em: https://www.liebertpub.com/doi/full/10.1089/can.2019.0063

● HAND, Andrew et al. History of medical cannabis. J Pain Manage , [s. l.], 2016. Disponível em: https://www.proquest.com/openview/38ff682c0ecbc6fa46066abe8f8c9167/1?pq-origsite=gscholar&cbl=2034829.

● LONG, Tengwen et al. Cannabis in Eurasia: origin of human use and Bronze Age trans-continental connections. Vegetation History and Archaeobotany , 2016. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s00334-016-0579-6.

● NAYA, Nadia et al. Molecular and Cellular Mechanisms of Action of Cannabidiol. Molecules, 2023. Disponível em: https://www.mdpi.com/1420-3049/28/16/5980. Acesso em: 8 nov. 2023.

 

Altruísmo na era da individualidade líquida



por Amanda Kerkhoff, Nataly Sobrinho, Paola Petry

Formandas de Biologia



Madre Teresa de Calcutá nasceu em Skopje, capital da Macedônia do Norte em 26 de agosto de 1910, ela ficou internacionalmente conhecida por seu trabalho humanitário ao auxiliar milhares de pessoas inválidas e pobres em mais de 130 países, tendo a caridade como seu objetivo de vida. Madre Teresa recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1979 e levanta uma reflexão sobre ações consideradas altruístas. Visto que, em meio ao mundo que estamos vivendo atualmente, com tantas tragédias e até mesmo guerras, atitudes altruístas nunca foram tão importantes. O altruísmo é o ato de se doar ou agir em prol de outras pessoas, próximas de nós ou não, sem pensar em algum benefício ou recompensa por tais ações. O termo foi criado com Augusto Comte, um filósofo francês do século 19. De acordo com Comte, as pessoas possuem duas disposições: para o altruísmo e para o egoísmo. O filósofo observou que a maior parte dos comportamentos humanos possui um objetivo de benefício próprio, e considerou o desejo altruísta de ajudar outras pessoas como um motivador. Para a biologia, o altruísmo é definido como ações que contribuem para a sobrevivência ou aumenta a quantidade de descendentes de outro indivíduo às custas de sua própria sobrevivência ou reprodução.
Para exemplificar, atitudes altruístas podem ser sacrificar a própria vida para salvar a do outro, realizar doações para instituições de caridade, praticar o voluntariado ou pequenas atitudes no dia a dia em prol do próximo.
O altruísmo teve um papel importante na história da evolução, o comportamento de cooperação entre as pessoas permitiu que nossos ancestrais sobrevivessem a condições adversas. A psicologia evolucionária argumenta que comportamentos cooperativos e benevolentes entre indivíduos representavam uma vantagem significativa em termos de seleção natural e para a sobrevivência dos grupos humanos. Por exemplo, de acordo com tais cientistas, a mãe que sacrifica sua vida para salvar a de seus filhos pode estar engajada em um comportamento geneticamente adaptativo, uma vez que a cópia de seus genes que reside nos filhos irá permanecer e ser passado adiante.

No mundo animal ocorre inúmeros casos de altruísmo, um dos mais comuns ocorre entre algumas espécies de aves, a “reprodução cooperativa”. O termo é utilizado quando um ou mais membros de um grupo social contribuem com o cuidado parental de um filhote que não é seu, e, por mais que esse comportamento esteja mais associado com auxílio durante a alimentação dos filhotes, também pode envolver construção de ninho, defesa de território, incubação de ovos e proteção contra predadores. Há outros exemplos também já vistos, como a pata que protege um filhote de cachorro do frio ou o caso de baleias jubarte que escoltaram uma foca perseguida por várias orcas até chegar à praia, mas a principal forma de altruísmo entre os animais é o cuidado parental.
Alguns fatores, como neuronais e culturais podem fazer com que algumas pessoas sejam mais altruístas que outras. Em relação às pessoas chamadas de “altruístas extremas”, observou-se que o tamanho das amígdalas cerebrais e a capacidade de resposta à sinais de angústia são diferentes que as demais.
Atos de altruísmo podem ser explicados pela liberação de oxitocina na corrente sanguínea, o hormônio é responsável por causar comportamento de solidariedade, interação social e heroísmo, gerando sensação de bem-estar e benefícios para a saúde mental.
Quando fazemos algo em prol do próximo, o cérebro libera endorfina (hormônio da felicidade), há uma estimulação na liberação de substâncias anti-estressantes no corpo e ocorre um aumento em sentimentos positivos, neutralizando emoções de sentimentos negativos, que afetam o sistema endócrino, imunológico e cardiovascular.
O altruísmo pode ser dividido em quatro tipos: o altruísmo genético, envolvendo atos altruístas que beneficiem familiares próximos; altruísmo recíproco, sendo baseado em um relacionamento de dar e receber, um ser ajuda outro para futuramente o favor ser devolvido; altruísmo selecionado pelo grupo, que se refere ao ato de auxiliar outros com base em sua afiliação ao grupo, ou seja, ao invés de ajudar indivíduos geneticamente relacionados, o esforço é direcionado para causas que beneficiem seu grupo social; por fim, o altruísmo puro ou moral, que consiste em ajudar outros indivíduos, até em situações de risco, sem esperar nenhum tipo de recompensa.
Nós, como futuras biólogas, acreditamos que destacar a importância do altruísmo em meio a desafios globais é relevante, pois a solidariedade desempenha um papel vital no fortalecimento da coletividade. Aspectos sociais, psicológicos e biológicos oferecem uma base sólida para entender por que tanto as pessoas como os animais podem ser motivadas a agir de uma maneira altruísta. Localizar, pesquisar e entender a origem desses comportamentos e emoções nos ajudam a compreender o panorama das ações atuais. Há atitudes que a mente racional não explica, que as emoções são postas a frente de qualquer risco. Se todos moramos na mesma casa – e esta é a Terra –, somos uma única família, cuidamos dos mesmos princípios e lutamos pelo mesmo objetivo: além da sobrevivência, o ato de viver. O altruísmo é uma qualidade admirável e importante, principalmente nos dias atuais, há uma contribuição para o bem-estar social e o fortalecimento de relações interpessoais ao se colocar a disposição do outro. Mas há alguns desafios associados a esse conceito, em alguns casos, pode haver uma possível exploração ao se aproveitarem de sua generosidade e boa vontade, um sacrifício excessivo ao buscar ajudar os outros, prejudicando seu próprio bem estar físico e emocional, o altruismo pode ser motivado por um desejo de reconhecimento social ou para atender as expectativas da sociedade, em vez de uma preocupação genuína com o bem estar do próximo. Sendo assim, é importante abordá-lo com discernimento e equilibrar o desejo de ajudar os outros com a necessidade de garantir o próprio bem estar.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina Biologia e Evolução do Comportamento Animal teve como base as obras:



ALCOCK, John. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. In: ALCOCK, John. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. Porto Alegre: Artmed, 2011. cap. 14, p. 507 – 546. ISBN 978-85-363-2445-6.
Atitude Altruísmo: definição, tipos e impacto no bem-estar humano. São Paulo: Equipe eCycle, 2021. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/altruismo/. Acesso em: 1 nov. 2023.
GOUVEIA, Valdiney Veloso et al. Valores, altruísmo e comportamentos de ajuda: comparando doadores e não doadores de sangue. Psico, v. 45, n. 2, p. 209-218, 2014.
GUIMARÃES, Renan Kois; LAURENTI, Carolina. O estudo do altruísmo na Análise do Comportamento: Um panorama a partir de uma revisão de literatura. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 21, n. 4, p. 487-502, 2019.
LENCASTRE, Marina Prieto Afonso. Bondade, Altruísmo e Cooperação. Considerações evolutivas para a educação e a ética ambiental. Revista Lusófona de Educação, n. 15, p. 113-124, 2010.
PORTO, W. R. da S. (2015). Crença teísta e evolução: uma abordagem a partir de Alvin Plantinga. Intuitio, 8(1), 261–275. https://doi.org/10.15448/1983-4012.2015.1.18665
UGARTE, Luiza Mugnol. Altruísmo, Percepção De Justiça, Estresse Agudo E Cortisol Em Estudantes Universitários. Orientador: Profa Dra. Rosa Maria Martins de Almeida. 2016. Dissertação (Mestre em Neurociências.) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.