Será que existe genética da moral?


Por Bruna Eduarda Wittmann, Isabella Drabeski da Silva e Mariana Cetnarski

Formandas de Biologia



Considerando a notícia disposta no site da UOL em 2020, na qual um jovem negro ficou preso por 2 anos (2018-2020) pelo porte de 10g de maconha e um cálculo do Ipea, que analisou milhares de acusações criminais em todos os tribunais brasileiros, apontando que 43% das apreensões da droga registradas nos processos de tráfico eram de quantidade igual ou inferior a 60 gramas. Escancara a diferença entre o caso do jovem com porte de uma quantidade consideravelmente baixa se mantendo encarcerado por 2 anos chegando a morrer dentro da prisão e o enfoque na palavra negro no título da manchete. A maconha (cannabis sp.) é uma planta que tem sido usada por humanos há milhares de anos. Sua origem é incerta, mas acredita-se que seja originária da Ásia Central. A planta foi disseminada pelo mundo pelos antigos povos da Ásia, que a cultivavam para fins medicinais, religiosos e recreativos. A maconha é uma planta que tem uma longa história de uso por humanos. As primeiras evidências de seu uso datam de mais de 5.000 anos atrás, na China[ML1] . A planta era usada para fins medicinais, como tratamento de dor, inflamação e náusea. A maconha também era usada em rituais religiosos, como incenso e oferendas. A maconha foi introduzida na Europa pelos conquistadores espanhóis, que a encontraram sendo usada pelos povos nativos das Américas. A planta rapidamente se tornou popular na Europa, onde era usada para fins medicinais e recreativos.
No século XIX (19), a maconha começou a ser associada ao crime e à violência, devido ao seu uso ocorrer em sua maioria por pessoas pretas e periféricas, que levou a uma crescente criminalização da planta, e culminou com a proibição da maconha nos Estados Unidos em 1937. A proibição da maconha teve um impacto significativo na sociedade mundial, dificultando o acesso e aumentando o estigma associado a ela. O preconceito contra a maconha continua até hoje. Muitas pessoas ainda acreditam que a planta é perigosa e prejudicial.
A propaganda anti-maconha, realmente é baseada no racismo estrutural e baseada no argumento que a legalização aumentará a disponibilidade, aumentando o consumo e diminuindo a percepção de seus riscos. A propaganda anti-maconha, geralmente retrata a maconha como uma droga perigosa que causa dependência, violência e outros problemas. Porém, até hoje, nenhuma proibição com relação às drogas no geral, foi capaz de diminuir o consumo no mundo. Muito pelo contrário, fortalece o tráfico e dificulta o acesso a plantas de qualidade e seguras. A falta de educação e informação sobre a maconha também é um fator que contribui para o preconceito. Muitas pessoas não sabem muito sobre a planta e seus efeitos, e isso pode levar a falsas crenças, como por exemplo, de que ela é uma droga perigosa.
A genética da moral é um campo de pesquisa que investiga os fatores que influenciam o desenvolvimento da moral. Alguns estudos sugerem que a genética pode desempenhar um papel na determinação de nossas crenças e valores morais. Se a genética da moral for real, ela pode ajudar a explicar por que a maconha ainda é tão estigmatizada. É possível que algumas pessoas tenham uma predisposição genética a serem mais moralmente conservadoras, o que pode levar a uma maior oposição ao uso da maconha.
A maconha contém mais de 100 compostos químicos, sendo o tetrahidrocanabinol (THC) o principal responsável pelos efeitos psicoativos da droga. O THC atua no sistema nervoso central, interagindo com os receptores de canabinoides. Esses receptores são encontrados em diversas regiões do cérebro, incluindo o hipocampo, o córtex pré-frontal e o núcleo accumbens. Os efeitos imediatos alterações na percepção sensorial, aumento da criatividade e da sociabilidade, sensação de relaxamento e bem-estar e alterações no humor e no apetite. Os efeitos a longo prazo do uso da maconha incluem, alterações cognitivas, como dificuldade de concentração e de memória, problemas de dependência, e aumento do risco de desenvolver doenças cardíacas, respiratórias e psiquiátricas.
Com relação a etologia, alguns fatores que podem influenciar o uso da maconha incluem fatores sociais, já que o uso da maconha é mais comum em grupos sociais que a aceitam. Fatores culturais, pois há regiões os quais o uso da maconha é mais comum e tolerável ou a legalizam. E fatores psicológicos, já que pessoas com problemas de ansiedade, depressão ou estresse podem ser mais propensas a usar maconha e/ou outras drogas como mecanismo de escape.
A história da maconha é complexa e cheia de controvérsias e sua relação com a moral humana é ainda hoje um assunto de debate. O preconceito à planta é um problema sério que precisa ser abordado. É importante educar as pessoas sobre os efeitos reais da maconha e combater a propaganda anti-maconha que culmina no racismo, excesso de pessoas no sistema prisional e até mesmo na morte de inocentes. A genética da moral também pode ser um fator importante a ser considerado. Se a genética da moral for real, precisamos entender melhor como ela influencia nossas crenças e valores morais. Isso pode nos ajudar a desenvolver políticas mais justas e equitativas em relação à maconha.
Como futuras biólogas, reconhecemos que a interação entre genética e ambiente é fundamental para o desenvolvimento de qualquer organismo, inclusive humanos. Em inúmeras situações, como nas doenças, a genética pode predispor um indivíduo a desenvolver uma determinada condição, mas o ambiente em que ele vive pode influenciar o nível de desenvolvimento dessa condição.
No entanto, é importante ressaltar que a interação entre genética e ambiente pode ser facilmente mal interpretada e utilizada para justificar preconceitos e discriminações. Por exemplo, alguns grupos supremacistas, já utilizaram que sua superioridade é determinada por sua genética, o que justificaria sua exclusão social, marginalização e até morte de outros grupos.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina Biologia e Evolução do Comportamento animal baseado nas obras:

● National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine. (2017). The health effects of cannabis and cannabinoids: The current state of evidence and recommendations for research. Washington, DC: The National Academies Press.

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