por Amanda Kerkhoff, Nataly Sobrinho, Paola Petry
Formandas de Biologia
Madre Teresa de Calcutá nasceu em Skopje, capital da Macedônia do Norte em 26 de agosto de 1910, ela ficou internacionalmente conhecida por seu trabalho humanitário ao auxiliar milhares de pessoas inválidas e pobres em mais de 130 países, tendo a caridade como seu objetivo de vida. Madre Teresa recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1979 e levanta uma reflexão sobre ações consideradas altruístas. Visto que, em meio ao mundo que estamos vivendo atualmente, com tantas tragédias e até mesmo guerras, atitudes altruístas nunca foram tão importantes. O altruísmo é o ato de se doar ou agir em prol de outras pessoas, próximas de nós ou não, sem pensar em algum benefício ou recompensa por tais ações. O termo foi criado com Augusto Comte, um filósofo francês do século 19. De acordo com Comte, as pessoas possuem duas disposições: para o altruísmo e para o egoísmo. O filósofo observou que a maior parte dos comportamentos humanos possui um objetivo de benefício próprio, e considerou o desejo altruísta de ajudar outras pessoas como um motivador. Para a biologia, o altruísmo é definido como ações que contribuem para a sobrevivência ou aumenta a quantidade de descendentes de outro indivíduo às custas de sua própria sobrevivência ou reprodução.
Para exemplificar, atitudes altruístas podem ser sacrificar a própria vida para salvar a do outro, realizar doações para instituições de caridade, praticar o voluntariado ou pequenas atitudes no dia a dia em prol do próximo.
O altruísmo teve um papel importante na história da evolução, o comportamento de cooperação entre as pessoas permitiu que nossos ancestrais sobrevivessem a condições adversas. A psicologia evolucionária argumenta que comportamentos cooperativos e benevolentes entre indivíduos representavam uma vantagem significativa em termos de seleção natural e para a sobrevivência dos grupos humanos. Por exemplo, de acordo com tais cientistas, a mãe que sacrifica sua vida para salvar a de seus filhos pode estar engajada em um comportamento geneticamente adaptativo, uma vez que a cópia de seus genes que reside nos filhos irá permanecer e ser passado adiante.
No mundo animal ocorre inúmeros casos de altruísmo, um dos mais comuns ocorre entre algumas espécies de aves, a “reprodução cooperativa”. O termo é utilizado quando um ou mais membros de um grupo social contribuem com o cuidado parental de um filhote que não é seu, e, por mais que esse comportamento esteja mais associado com auxílio durante a alimentação dos filhotes, também pode envolver construção de ninho, defesa de território, incubação de ovos e proteção contra predadores. Há outros exemplos também já vistos, como a pata que protege um filhote de cachorro do frio ou o caso de baleias jubarte que escoltaram uma foca perseguida por várias orcas até chegar à praia, mas a principal forma de altruísmo entre os animais é o cuidado parental.
Alguns fatores, como neuronais e culturais podem fazer com que algumas pessoas sejam mais altruístas que outras. Em relação às pessoas chamadas de “altruístas extremas”, observou-se que o tamanho das amígdalas cerebrais e a capacidade de resposta à sinais de angústia são diferentes que as demais.
Atos de altruísmo podem ser explicados pela liberação de oxitocina na corrente sanguínea, o hormônio é responsável por causar comportamento de solidariedade, interação social e heroísmo, gerando sensação de bem-estar e benefícios para a saúde mental.
Quando fazemos algo em prol do próximo, o cérebro libera endorfina (hormônio da felicidade), há uma estimulação na liberação de substâncias anti-estressantes no corpo e ocorre um aumento em sentimentos positivos, neutralizando emoções de sentimentos negativos, que afetam o sistema endócrino, imunológico e cardiovascular.
O altruísmo pode ser dividido em quatro tipos: o altruísmo genético, envolvendo atos altruístas que beneficiem familiares próximos; altruísmo recíproco, sendo baseado em um relacionamento de dar e receber, um ser ajuda outro para futuramente o favor ser devolvido; altruísmo selecionado pelo grupo, que se refere ao ato de auxiliar outros com base em sua afiliação ao grupo, ou seja, ao invés de ajudar indivíduos geneticamente relacionados, o esforço é direcionado para causas que beneficiem seu grupo social; por fim, o altruísmo puro ou moral, que consiste em ajudar outros indivíduos, até em situações de risco, sem esperar nenhum tipo de recompensa.
Nós, como futuras biólogas, acreditamos que destacar a importância do altruísmo em meio a desafios globais é relevante, pois a solidariedade desempenha um papel vital no fortalecimento da coletividade. Aspectos sociais, psicológicos e biológicos oferecem uma base sólida para entender por que tanto as pessoas como os animais podem ser motivadas a agir de uma maneira altruísta. Localizar, pesquisar e entender a origem desses comportamentos e emoções nos ajudam a compreender o panorama das ações atuais. Há atitudes que a mente racional não explica, que as emoções são postas a frente de qualquer risco. Se todos moramos na mesma casa – e esta é a Terra –, somos uma única família, cuidamos dos mesmos princípios e lutamos pelo mesmo objetivo: além da sobrevivência, o ato de viver. O altruísmo é uma qualidade admirável e importante, principalmente nos dias atuais, há uma contribuição para o bem-estar social e o fortalecimento de relações interpessoais ao se colocar a disposição do outro. Mas há alguns desafios associados a esse conceito, em alguns casos, pode haver uma possível exploração ao se aproveitarem de sua generosidade e boa vontade, um sacrifício excessivo ao buscar ajudar os outros, prejudicando seu próprio bem estar físico e emocional, o altruismo pode ser motivado por um desejo de reconhecimento social ou para atender as expectativas da sociedade, em vez de uma preocupação genuína com o bem estar do próximo. Sendo assim, é importante abordá-lo com discernimento e equilibrar o desejo de ajudar os outros com a necessidade de garantir o próprio bem estar.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina Biologia e Evolução do Comportamento Animal teve como base as obras:
ALCOCK, John. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. In: ALCOCK, John. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. Porto Alegre: Artmed, 2011. cap. 14, p. 507 – 546. ISBN 978-85-363-2445-6.
Atitude Altruísmo: definição, tipos e impacto no bem-estar humano. São Paulo: Equipe eCycle, 2021. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/altruismo/. Acesso em: 1 nov. 2023.
GOUVEIA, Valdiney Veloso et al. Valores, altruísmo e comportamentos de ajuda: comparando doadores e não doadores de sangue. Psico, v. 45, n. 2, p. 209-218, 2014.
GUIMARÃES, Renan Kois; LAURENTI, Carolina. O estudo do altruísmo na Análise do Comportamento: Um panorama a partir de uma revisão de literatura. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 21, n. 4, p. 487-502, 2019.
LENCASTRE, Marina Prieto Afonso. Bondade, Altruísmo e Cooperação. Considerações evolutivas para a educação e a ética ambiental. Revista Lusófona de Educação, n. 15, p. 113-124, 2010.
PORTO, W. R. da S. (2015). Crença teísta e evolução: uma abordagem a partir de Alvin Plantinga. Intuitio, 8(1), 261–275. https://doi.org/10.15448/1983-4012.2015.1.18665
UGARTE, Luiza Mugnol. Altruísmo, Percepção De Justiça, Estresse Agudo E Cortisol Em Estudantes Universitários. Orientador: Profa Dra. Rosa Maria Martins de Almeida. 2016. Dissertação (Mestre em Neurociências.) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.
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