“Pragas Urbanas”? A Bioética Ambiental ajudando nessa relação conflituosa



Desde a sua origem o homem tem se confrontado com alguns animais que o desafia colocando em risco sua segurança, sua saúde ou seus bens. Esse conflito se intensificou consideravelmente com advento da agricultura e, mais tarde com as aglomerações de pessoas em cidades. As “pragras”- muitas vezes milhares de vezes menores do que o homem -  traziam doenças que exterminavam populações inteiras; ou consumiam toda a produção de uma estação. Desde então, o homem vem procurando meios de eliminar esses animais que conflitam com seus interesses. A questão é que esses animais compartilham entre si características que os capacitam a obterem sucesso em ambientes alterados e que são impedimentos para maioria das outras espécies. Ratos, pombos, baratas, mosquitos, caramujos, escorpiões, búfalos, javalis, peixes, rãs... a lista é bem diversa, mas cada grupo desse é representado por pouquíssimas espécies, altamente adaptáveis, resistentes, detentoras de estratégias comportamentais que as capacitam a viver em qualquer lugar, logrando sucesso principalmente naqueles cujas as condições são inóspitas. Geralmente essas espécies evoluíram em ambientes instáveis, como borda de florestas, que selecionou justamente os indivíduos mais flexíveis. Muitas dessas espécies tornam-se “pragas” em localidades distintas da sua origem - são as denominadas espécies exóticas invasoras – pois superam em competitividade as poucas espécies que ainda resistem aos ambientes cada vez mais alterados pela ação humana. E, então, as sociedades mobilizam um extraordinário montante de verbas para combates a essas espécies, e não conseguem. No Brasil, a luta contra o mosquito da dengue é melhor exemplo.
Dentro dessa batalha podemos identificar inúmeros atores vulneráveis: a população que está exposta à doenças ou danos materiais, principalmente por falta de informação ou de alternativas; os profissionais direta e indiretamente envolvidos com a questão, muitas vezes com ideias interessantes, mas sem apoio para implementá-las; os órgãos gestores, que se vem diante de uma situação virtualmente incontrolável, cujas legislações são difíceis de serem cumpridas; a natureza que sofre o impacto tanto do desenvolvimento econômico e tecnológico das sociedades modernas, quanto das espécie invasoras que reduzem os recursos ou eliminam diretamente as espécies nativas; os animais “pragas” que não têm “culpa” pelas consequências das condutas humanas, e são exterminados com crueldade e sem nenhuma compaixão. Enfim, a questão é como agir eticamente de modo que sejam sanados os conflitos de interesse de cada uma das partes. 

Quem trabalha com espécie invasora, principalmente espécies como o caramujo gigante africano Achatina fulica, que causa impacto na saúde humana, na economia e no ambiente, se vê constantemente diante de uma inquietação ética. É muito complicado saber que o controle é necessário, quando se conhece o animal na sua intimidade. Há mais de 10 anos trabalhamos com a A. fulica em nosso laboratório. Estudamos seu comportamento, sua biologia, sua ecologia. Tratamos com respeito cada indivíduo que temos sob nossa tutela e cuja a existência tem colaborado para entendermos melhor a espécie. Sabemos da sua história evolutiva e do imenso sucesso que representa quanto espécie. Por isso, acreditamos que a prevenção é o melhor caminho, ao invés de ter que resolver o problema após ele ter se instalado. Devemos, evitar que esses animais se instalem, logo o papel da comunidade é imprescindível, e isso conseguimos com educação. Durante todo esse tempo estudados muito o caramujo africano, esperando contribuir para mitigar esse conflito, agradeço a todos meus estagiários, orientados de TCC, de PIBIC, PIBIT e PIBIC jr: Monica, Ana, Domitila, Eloane, Eduardo, Maria Fernanda, Jonathan, Carolina, Adam, Naila, Nicole, Gabi, Izabel, Bruna, Camila, Luana, Camila, Leticia... o caminho foi longo mais nosso resultado é recompensador. Essa semana irei proferir uma palestra para as regionais de Saúde do Estado do Paraná. Essa ponte entre a universidade, os órgãos gestores e a comunidade é fundamental. É o diálogo que constrói de fato uma mudança de paradigmas, uma mudança de atitudes. Parabenizo a SESA-PR pela iniciativa e desejo muito sucesso no evento. Convido a todos a prestigiarem o trabalho da Leticia Caries que por vários anos executando seus PIBITs - o qual foi um dos trabalhos premiados – elaborou um blog que visa contribuir para que informações corretas sejam repassadas e que a PONTE esteja sempre presente.