NEC e Bioética Ambiental Representados no XXXVIII Congresso da Sociedade de Zoológicos e Aquários

Os acadêmicos João Fontana e Stephanie Prohni apresentaram os dados parciais de suas pesquisas no XXXVIII Congresso da Sociedade de Zoolóigicos ocorrido em Bauru na semana passada (5/2014). Ambos estudam questões éticas envolvidas na manutenção de animais cativos em zoológicos, utilizando o critério de avaliação do grau de bem-estar como justificativa para subsidiar a decisão moral em manter e como manter esses animais cativos. Veja abaixo seus resumos!


 
FELÍDEOS CATIVOS: UM DESAFIO À PRÁTICA DO BEM-ESTAR ANIMAL

PROHNII, Stephanie da Silva¹; FISCHER, Marta Luciane¹; SILVERIO, Roseli A.² & SANTOS, Jéssica Janzen dos¹

O bem-estar animal (BEA) visa garantir condições adequadas para suprir as necessidades físicas, psicológicas e sociais de animais cativos. Parâmetros como as condições do recinto, alimentação balanceada e aplicação de enriquecimento ambiental (EA) contribuem para amenizar os efeitos nocivos do cativeiro. Os felídeos estão representados por 41 espécies e, com exceção do gato-doméstico, todas estão sob algum grau de ameaça. O presente estudo visa avaliar as circunstâncias sob as quais os felídeos são mantidos em cativeiro e, diante isso, averiguar se é possível oferecer a eles condições mínimas de BEA. Foi realizada uma análise sobre parâmetros relacionados à promoção de BEA através de artigos, consulta a sites da Internet e de zoológicos nacionais. Das 171 referências analisadas, 37% são sobre a aplicação de EA (67% alimentar, 12% sensorial e 21% brinquedo físico). Foi observado que 87% dos felídeos aumentaram a interação com o ambiente e que apenas 13% não demonstraram interesse pelo EA apresentado. Dos 101 zoológicos, 94% estão em funcionamento, desses 64% possuem felídeos cativos e apenas 9% divulga sobre a aplicação de EA, sendo todas EA alimentar. As espécies mais comuns foram: Panthera leo, P. tigris, P. onca e Leopardus pardalis. Há evidências de que as instituições veem buscando proporcionar o bem-estar para felídeos com a aplicação de EA, porém outros fatores devem ser considerados. As análises veiculadas à internet permitem obter diferentes tipos de informações, porém, embora o BEA seja considerado, os resultados não estão sendo completamente publicados. A obtenção do bem-estar de felídeos pode ser comprometida devido a sua biologia. Entretanto, através da revisão de literatura e consulta aos zoológicos nacionais, ficou claro que o bem-estar de felídeos é almejado e que muitas das instituições que mantém estes animais já têm empregado estratégias como o EA para promover melhores condições de vida para estes animais.



ANÁLISE DA ESTRUTURA DOS RECINTOS NA PROMOÇÃO DO BEM ESTAR DE PRIMATAS CATIVOS MANTIDOS NO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE CURITIBA

João Carlos Fontana; Tabata Carvalho de Abreu &  Marta Fischer

Os primeiros zoológicos objetivavam apenas expor animais, contudo atualmente visa além do lazer, a conservação, pesquisa científica e educação ambiental. Dentre os animais destaca-se os primatas, principalmente em países tropicais, porém o cativeiro empobrecido e que desconsidera características naturais da espécie tem afetado significativamente no seu bem-estar. Assim, questiona-se se recintos adequados apenas legislação são suficientes na promoção de bem-estar aos primatas. Foram categorizando os recintos dos primatas do Zoológico Municipal de Curitiba quanto aos parâmetros: estrutura social das espécies, física dos recintos, manejo e enriquecimento. Baseando-se na instrução normativa (IN nº4/2002 do IBAMA), os dados de estrutura do recinto foram classificados com relação ao atendimento da legislação em totalmente, parcialmente e insuficiente. A amostragem foi relativa a 12 espécies distribuídos em 11 recintos que atenderam totalmente (96%), parcialmente (2%) e insuficiente (2%)  a IR. Esses possuem em média de 2,3±1,2 indivíduos (11; 1-5), contendo principalmente grupos intraespecíficos (91%), com machos e fêmeas (64%) e jovens (9%). A área média foi de 432,2±846,8m² (11; 15-2848), sendo 64% com substrato arenoso, vegetação e área de fuga de acordo com a IN. Das espécies avaliadas apenas Papio hamadryas e Leontopithecus chrysomelas apresentaram 2% de discrepância com as exigências da IR.  Os alimentos são disponibilizados pela manhã e tarde em plataformas (64%) e no chão (36%). O enriquecimento físico foi utilizado em todos os recintos com o fornecimento de galhos e poleiros (91%).  Os dados já permitem concluir que embora a estrutura física dos recintos estejam de acordo com a IN, apenas esta conduta não garante o bem-estar dos animais que normalmente são visualizados exibindo comportamentos não correspondentes ao da espécie, demandando outra ações como enriquecimento ambiental planejado e elaborado.   

A Ética Utilitarista E A Utilização De Animais Silvestres Em Zoológicos: Sofrimento X Benefícios


Série Ensaios: Ética no uso de Animais

Por Willian Almeida



A discussão sobre o bem estar animal vem ganhando cada vez maior relevância. Um marco nos estudos relacionado ao tema está no crescimento de pesquisas relacionadas à etologia desde 1970. Até então, tinha-se a visão consolidada de Descartes, considerando que os animais não sentiam dor, apenas expressavam um reflexo mecânico. Grande parte do conhecimento nestas pesquisas está relacionado a animais de produção pecuária e animais utilizados em pesquisas e estudos. O estudo sobre os sentimentos do animal constituem uma parte importante do seu bem-estar Tais estudos são expressos pelo termo senciência que é a capacidade de sofrer, sentir prazer ou felicidade. Neste sentido, não é possível estudar o bem-estar animal sem uma convicção da senciência. Pode ser considerado um fato inquestionável cientificamente de que pelo menos os animais vertebrados sofrem e são seres sencientes. Ainda, a senciência provavelmente existe em diferentes graus de complexidade nas diferentes espécies.
Considerações éticas podem ser realizadas antes e após a avaliação do bem-estar, sendo em muitos casos responsáveis pelo início da avaliação. A abordagem utilitarista de Peter Singer condena o ato de causa sofrimento aos animais não humanos, sem questionar a utilização de animais. A teoria do bem-estar animal aceita que os animais têm interesse, mas que esses interesses podem ser sacrificados em prol de alguns resultados, desde que justifique sua utilização e eventual sacrifício. O bem-estar de um indivíduo é seu estado em relação às suas tentativas de adaptar-se ao meio ambiente. De uma forma um pouco utópica mas bastante expressiva, foram criados os cinco princípios de liberdade: Livre de fome e sede; Livre de desconforto; Livre de dor, ferimento e doenças; Livre de medo e angústia; Livre para expressar seu comportamento natural. Para efetuar a avaliação do bem-estar animal deve ser realizada de maneira separada a considerações ética e deve referir-se a característica do animal individual, e não a algo proporcionado pelo homem. Esta avaliação envolve estudos fisiológicos e comportamentais, que necessitam de grande conhecimento sobre a biologia do animal.
A legislação brasileira relacionada ao bem-estar animal teve início com o Decreto n 24.645 de 1934, que estabelece as medidas de proteção animal. Além destas, existem outras legislações relacionadas direcionadas ao bem estar de animais utilizados na pecuária ou pesquisa científica. Um marco mundial relacionado ao tema está relacionado á “Declaração Universal dos Direitos dos Animais”, aprovado pela UNESCO em 1978. No seu conteúdo, a declaração define, dentre outros, o direito de animais silvestres em viver livres em seu habitat, a não utilização de animais em experiências que causem dor e a proibição quanto á utilização de animais para divertimentos dos homens.Dentro deste contexto, no Brasil em outros países existe a prática de exposição de animais silvestres por meio de zoológicos. Animal silvestre pode ser definido como “um animal de vida livre ou em cativeiro, de uma espécie que vive naturalmente no meio silvestre sem interferência humana, e cujos pais e antepassados não foram seletivamente cruzados para docilidade ou fácil manejo”.
Recentemente foi divulgado pela mídia o caso do leão Rawell, furtado de um criadouro em São Paulo. Após ser encontrado, o leão foi finalmente transferido para ficar em exposição no zoológico de Curitiba por decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Ainda segundo o portal, Rewell foi encontrado quando filhote em uma carreta de circo em 2008 e foi encaminhado a um criadouro onde permaneceu até então. Esta cultura de manutenção de animais selvagens foi iniciada com os egípcios, que mantinham animais capturados em viagens ou batalhas como símbolo de poder. O primeiro zoológico moderno foi o Imperial Menagerie, construído em 1752 em Viena. Nos anos 80 e 90 pesquisas demonstraram que parte da população europeia era contaria ao confinamento dos animais e recusava-se a ir aos zoológicos. Atualmente, os parques zoológicos têm os objetivos de conservação da espécie, desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional, pesquisa científica, educação ambiental e o lazer dos seres humanos. Segundo a legislação, as dimensões dos Jardins Zoológicos e das respectivas instalações devem atender aos requisitos mínimos de adaptabilidade, sanidade e segurança de cada espécie. As legislações ainda estabelecem o número máximo de exemplares em cada alojamento ou número máximo de exemplares por recinto.


O cativeiro animal é diferente do ambiente natural e leva muito animais a terem um comportamento anormal, já que os locais onde ficam confinados não proporcionam as mesmas condições que o habitat natural. Fatores que afetam o bem-estar de animais silvestres podem ser classificados amplamente como ocorrência natural (doença, predação, incêndio e outros) e antropogênico (Direta ou indiretamente causados por humanos). Pouco ainda se sabe sobre questões relacionadas à dor em animais animais silvestres.O estabelecimento de bem-estar animal envolve os estados físico (condição), mental (sentimentos) e “naturalidade” (telos). Para minimizar os efeitos prejudiciais e melhorar o bem-estar o enriquecimento ambiental é um importante aliado. Este objetiva tornar estes locais mais favoráveis á vida destes animais. O enriquecimento divide-se em físico, sensorial, cognitivo, social e alimentar. As técnicas de enriquecimento comportamental são utilizadas para reduzir o estresse causado pelo cativeiro, que pode manifestar por respostas fisiológicas inadequadas e padrões de comportamento atípicos para a espécie. Modificações estruturais, mudanças na rotina e socialização são medidas suficientes para melhorar o status psicológico e o bem-estar.
Como profissional da área ambiental, acredito que se considerarmos os grandes avanços científicos na área de bem estar-animal é de extrema importância que estes fatores sejam verificados também no manejo de animais em zoológicos. Considerando que não existam respostas claras sobre quais animais são sencientes, existe uma obrigação moral de tratá-los como seres sencientes pelo Princípio da Precaução. Ou seja, o enriquecimento ambiental é algo que deve ser utilizada obrigatoriamente, principalmente para animais vertebrados. Tendo em vista a abordagem ética utilitarista proposta por Singer, é necessário que desconforto sofrido pelo animal os benefícios que esta ação possa gerar. Desta forma, no caso de um leão que possui suas condições drasticamente alteradas quando em uma jaula, considerando também a grande área requerida por esta espécie, fica a reflexão: Os benefícios advindos de tal atividade compensam a dor ou sofrimento causado ao animal?

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Ética no uso de animais e bem-estar animal, tendo como base as referências:

http://www.unb.br/posgraduacao/docs/fav/BEMESTARANIMALCONCEITOQUESTOESRELACIONADAS

O que pensam os biólogos a respeito da existência de emoções, sentimentos e consciência nos animais e a consequente iimplicação ética



Série Debates
por Marta Fischer


Nesta quinta (22/5) ocorreu um debate no sétimo período de Biologia a respeito da ética animal. Começamos definindo emoções e sentimentos e pontuando a diferença básica entre eles. Enquanto as emoções, são mais físicas, instantâneas, intuitivas e rápidas, os sentimentos são processos mentais mais interiorizados, demorados e reflexivos. É óbvio para nós biólogos que todos os animais precisam das emoções para guiarem suas condutas, direcionando seus comportamentos para resolverem problemas diretamente relacionados com a sobrevivência imediata, logo necessário pra qualquer ser-vivo. Os sentimentos, tem uma conotação mais de relação social e demanda a existência de tipos mais complexos de consciência. 
A consciência pode ser definida como a descoberta ou reconhecimento de algo, pode ser fenomenal ou de acesso e diferente em complexidade ao longo da escala evolutiva. O manifesto de Cambridge endossa a existência de consciência em mamíferos, aves, peixes e invertebrados como o povo, ao aceitarem que não ocorre necessariamente no córtex, utilizando outras estruturas cerebrais presentes em outros animais.  Logo, a informação e aceitação desse fato nos leva à reflexão se é certo usarmos os animais para saciar nossos desejos. 
A questão ética da produção não está no consumo de carne, pois a mesma tem um contexto biológico e físico, o problema está na forma como criamos, abatemos, desperdiçamos e desrespeitamos esses animais. Dentre todos os temas discutidos o que prevaleceu foi a carne artificial. Se em um primeiro momento ela vem como uma alternativa para saciar a fome do mundo com menores custos ambientais, de desiguales sociais e de sofrimento animal sem tirar a comodidade e o prazer do humano desfrutar da carne. Nos surpreende a capacidade criativa dos humanos, contudo os biólogos ainda são muito descrentes desse feito. O conhecimento da rotina do cultivo celular, a necessidade de utilizar plasma bovino para manutenção das culturas, as taxas de mortalidade das células, a possibilidade de gerar subprodutos que podem ser tóxicos e principalmente os relatos de que não possuem sabor parecido, e nem da possibilidade de driblas esse problema com a adoção de odores artificiais.  O grupo parece compartilhar a ideia de que a solução é muito mais simples. A redução do consumo e a valorização de carne e alimentos orgânicos, adquiridos em sistemas de agricultura familiar, e um valor maior ao alimento, poderiam ser o suficiente para melhores infinitamente essa situação. O uso de animais para vestimenta surge no cenário evolutivo como uma estratégia de sobrevivência hoje é sinal de status social. É imoral pensar em investir em roupas adquiridas com o custo do sofrimento animal, quando se tem alternativas. Por outro lado, não dá para esquecer que materiais sintéticos geram problemas ambientais em série e virtualmente impossíveis de serem remediados. Talvez aqui repensar no que se consome e se precisa mesmo de tantas roupas poderia ajudar. 
O uso de serviços e entretenimento também parece muito cruel, principalmente diante de alternativas. Nos serviços discutimos sobre cães policiais e equinos de tração em centros urbanos, e as justificativas mas válidas e a afirmação de não se usar de maus-tratos, não cabem no que percebemos. O grupo acredita que a informação é fundamental para que a sociedade possa repensar suas condutas e decisões, contudo questiono se a sociedade está disposta a pensar, rever, ponderar, refletir e mudar de comportamentos já consolidados culturalmente e mediado pelo sistema econômico através do marketing. Com relação aos zoológicos existem iniciativas particulares que procuram primar pelo bem-estar do animal e ao mesmo tempo propiciar às pessoas momentos de lazer e de proximidade com animais selvagens, como o zoo de Gramado e San Diego. Na televisão, parece que também possível substituir, a novela pedacinho de chão usa animais de brinquedo para representar os verdadeiros, e de uma forma lúdica, divertida e criativa repassa valores importantes para sociedade. 
Também foi questionado os motivos torpes que leva o homem a modificar raças, humanizar animais, retirar animais selvagens da natureza em nome do estabelecimento de uma amizade. Será que temos o direito de impor uma convivência, será que temos direito de modificar a forma do corpo do animal para nos conferir status? A sociedade acredita que faz por amor e que seus motivos são nobres, e atrás de dados científicos que provam que os animais fazem bem para as pessoas, elas se apoiam que a recíproca é verdadeira.  Temos que repensar o que estamos fazendo com os animais. É lógico que discutir esse tema entre biólogos é apaixonante, pois estamos do mesmo lado. Contudo, motivações economias e egoístas movem as escolhas das pessoas, sendo muito difícil abrir mão de suas crenças e necessidades por alguém que acredita que seja inferior. Essa é uma luta, que eu acredito que possamos fazer algo. Acredito que uma sementinha foi plantada e que aos poucos chegaremos a uma sociedade diferente que volta à natureza para buscar satisfazer suas necessidades naturais e cultivar o respeito por todas outras formas de vida. 

O que pensam os alunos de psicologia a respeito da existência de consciência, emoções, sentimentos nos animais e qual o impacto desse conhecimento para a sociedade


Série Debates
por Marta Fischer

A turma do primeiro período de psicologia discutiu nas últimas semanas os aspectos envolvidos na compreensão da mente do animal que pode mudar a forma como nos relacionamos com eles. As emoções foram definidas como processos biopsicológicos de curta duração, que estão relacionadas com a sobrevivência, sendo, então instintiva e mais primitiva, logo tem a ver com a sobrevivência do indivíduo, por isso é lógico que todos animais possuam emoções. Como exemplos apresentaram vídeo das vacas confinadas que foram soltas e demonstram euforia e prazer. Já os sentimentos foram definidos como processos mais estáveis e relacionados com a consciência, uma interpretação sobre as emoções, tais como o macaco demostra senso de injustiça ao não aceitar uma recompensa diferente do seu colega de teste. A equipe considera que os sentimentos existem nos animais, contudo se diferenciam em grau entre eles e os humanos, estando relacionados com a complexidade da consciência. Já a inteligência foi considerada difícil de ser definida, pois cada animal possui problemas específicos para resolver no seu dia-a-dia, fazendo com que todos sejam inteligentes. Contudo, o grupo concluiu que alguns animais como cães, porcos, corvos, polvos, golfinhos e elefantes possuem uma habilidade maior de resolver problemas novos e imprevistos, fazendo com que sejam colocados em uma posição superior do ranking dos animais mais inteligentes. A consciência é um mecanismo mental extremamente relevante nesse processo, e embora existam diferentes níveis, a ciência hoje já sabe que determinadas ondas cerebrais são comuns entre homens e animais mostrando que muitos deles podem ter uma consciência semelhante a nossa, o que levou a um grupo de renomados cientistas a assinarem um manifesto a favor dessa evidencia. 
   A comprovação pela ciência de que animais possuem emoções, sentimentos, inteligência e consciência já era conhecida pelas pessoas que convivem com animais. Na verdade é apenas mais um elemento utilizado para atestar que a partir do momento que um animal sente dor ou prazer, é imoral causar sofrimento e não proporcionar prazer para os animais. Essas novas evidências podem embasar a busca de novos paradigmas na conduta ética com o qual tratamos os animais. Durante o debate as equipes falaram sobre os diferentes usos dos animais. Na Produção os animais foi colocado que o problema é que os animais são criados para morrer, seja para nossa alimentação ou para utilização de subprodutos como pele para vestimenta, a gordura para confeccionar sacola plástica e biocombustível, e ainda cosméticos. Embora não pareça num primeiro momento cruel usar pele e penas a equipe mostrou um documentário de como se faz travesseiro de pena de ganso.  O grupo compartilha que consumir carne, não é o problema, a questão ética está na forma como os animais são criados (foram listados inúmeros problemas da criação como superlotação, o gado gigante, impactos ambientais sugerindo ver o documentário a carne é fraca) e principalmente na falta de informações e colocam “será que sabemos o que estamos consumindo?” A equipe levantou a questão também de que consumir um animal que sofreu e que foi exposto a produtos inadequados, pode comprometer a saúde das pessoas. Como alternativas foi citado o abate humanitário e a exigência das 5 liberdades na produção animal.


 Outra equipe falou sobre experimentação animal trazendo informações sobre testes para indústria armamentista, cujo principal objetivo é aprimorar armas, que irão matar mais pessoas; teste de irritação ocular e dermal, já possíveis de substituição com processos mais elaborados, porém mais caros; os intoleráveis testes de colisão; e o mais polêmicos testes comportamentais, uma vez que não é possível anestesiar um animal se a intenção é analisar estresse, angústia, pânico, separação de mãe e filhote.  A equipe concluiu que além de ser inaceitável esses testes - em uma sociedade que tem alternativas - deve-se pensar nas raízes de termos necessidades de tantos medicamentos e produtos novos que demandem novos testes. O mesmo acontece com uso acadêmico, uma vez que os animais são usados para reproduzir e não gerar conhecimento científico. No Brasil é permitido apenas no ensino superior e técnico em biomédica e ressaltam a necessidade dos CEUAS. Na psicologia os ratos são utilizados em matérias experimentais, a aluna concorda com a substituição por software que previne o sofrimento da privação e o abate no final. Embora esse tema ainda desperte debates de grupos pró e contra, parece que a maioria concorda que não faz sentido submeter nem o animal nem o aluno de psicologia ao estresse e, caso, o aluno pretenda trabalhar nessa área, pode se especializar no mestrado. No curso de medicina veterinária são animais também tendem a ser modelos ou objetos para repetir processos, não agregando novos conhecimentos. Há relato de que muitos alunos desistem do curso pelo fato de fazer experimentos com animais vivos, enquanto outros se sentem vulneráveis, pois é a profissão que querem seguir e devem se conformar, muitas vez tornando-o menos sensível ao sofrimento animal, por uma questão de autoproteção. A equipe que abordou a temática do uso de animais em serviços, embora tenha listado os diferentes serviços que os animais podem nos prestar, destacou as terapias como a equinoterapia que ajuda em questões como autismo e hiperatividade, que sem dúvida ajuda na qualidade de vida de pacientes de todas as idades. 
Relataram os cães treinados por presidiárias para serem destinados para zooterapia. Pelo ponto de vista da equipe o cão cria um vínculo que pode auxiliar o dono, principalmente nas sociedades modernas em que idosos vivem sozinhos e precisam de ajuda nos afazeres domésticos, administração de medicamento e contar com um cão treinado que pode ir buscar ajuda em caso de emergência, como a detecção precoce de um ataque cardíaco ou uma convulsão até uma doença como o câncer. Contudo deve-se tomar cuidado para que não haja uma exploração desses animais, nem em termos de carga de trabalho, nem quanto a uma apropriação pelo comercio, como se viu nos cães de guarda. Os cães guias e cães policiais são exemplos de utilização para serviços bem regulamenta em que os animais possuem tempo de trabalho e normas de condutas bem estabelecidas. O último ponto levantado foram os cavalos de carrinheiros, os quais envolve uma questão ética muito séria, envolvendo diferentes aspectos da ética animal, mas também questões sociais e humanitárias que não podem ser negligenciada. Os animais são expostos a muitas horas de trabalho, muito peso, alimentação de má qualidade e falta e negligencia de fiscalização. Os alunos relataram o projeto cavalo de lata, que visa a construção de um carrinho elétrico com sobras e com todos os itens de segurança. Contudo que ainda precisa de apoio para sair do papel.  
O debate sobre o uso dos animais no entretenimento também foi polêmico, pois expor o animal ao ridículo para poder se divertir, é inaceitável. E mesmo sendo injustificável, essa parece ser a prática que possui maior diversidade de meios. Desde as exposições em circos, shows, zoológicos, rodeio, vaquejada, briga de galo, briga de cães, caça. Nessas situações tem-se animais domésticos e selvagens, expostos a tratamento cruéis e totalmente descaracterizados e expostos a torturas físicas e mentais para deleite das pessoas. É óbvio que as pessoas também subjugam outras pessoas e que o homem é capaz de atrocidades em nome do seu lazer, mas animais e entretenimento é de fato intolerável. A equipe trouxe informações interessantes como donos de pitbull criados para lutas afirmarem que eles gostavam e os adeptos da caça afirmarem que a prática reflete um comportamento natural. Nos circos e shows foi lembrado de casos de animais selvagens que chegam no ápice do estresse e atacam seus treinadores ou o público, e depois são considerados culpados!
A última equipe falou sobre os animais de companhia e a percepção do animal como um brinquedo, interessante quando é novidade, mas que aborrece e é deixado de lado facilmente. A compra de animais por motivações torpes como impulso, objeto que combine com seu estilo, status social, gera problemas de humanização, tráfico de animais e sofrimento animal que é discrepante com a alegação de que gostam dos animais. Gostam mas não respeitam-nos como animais. 
Um dado interessante apresentado foi o cão de crista chinês – um dos cães mais caros do mundo em torno de 5.000 reais - adorado pelas madames por ter pelos só na cabeça e patinhas e, ainda, loiro. Porém quando envelhece, perde os poucos cabelos, caem os dentes e pende a língua, ganhado concursos de cães mais feios do mundo. Será que as madames sabem disso? A equipe também trouxe um dado que uma das raças mais comuns nos abrigos americanos é o chihuahua, em decorrência do impulso propiciado pelo filme legalmente loira.  Quem imaginava que teria um lindo acessório de repente se depara com a realidade de um animal que demanda cuidados, atenção, carinho e respeito.  

O que pesam os acadêmicos do Curso de Especialização em Conservação da Natureza sobre a Ética no uso de animais?


Série Debates

por Marta Fischer






Neste sábado 24/5 eu e os alunos do Curso de Especialização em Conservação da Natureza tivemos um interessante debate sobre a Ética no uso de animais. Cada aluno redigiu o seu ensaio que pode ser lido na íntegra no Blog, os quais estão esperando a sua contribuição. Os temas permearam o uso de animais em pesquisa, serviços e entretenimento, mas inevitavelmente as maiores contribuições foram relacionadas na área da conservação. Iniciamos o debate com a questão da Zooterapia e por mais óbvia e provados os benefícios decorrentes da prática terapêutica na saúde humana, não há como não questionar o bem-estar dos animais. Obviamente que eles são bem-tratados, muitos até são monitorados na terapia pelo próprio tutor. Contudo, deve-se considerar que no momento de trabalho estão sob uma condição de estresse, pois deve controlar suas atitudes. O grupo concorda que todo animal de trabalho deve ser normatizado com critérios importantes como jornada de trabalho, regras de cuidado e manejo e aposentadoria. O grupo também concorda que deva haver um monitoramento mais de perto, principalmente por já termos interesses comerciais de empresas que intencionam adestrar e alugar animais exclusivamente para finalidade terapêutica. Foi consenso que o principal fator a ser considerado é o temperamento do cão e se ele sente prazer em interagir com as pessoas. Muitas vezes o dono leva o seu cão para atividades de voluntariado, mais preocupado com sua vaidade do que com o animal.
O uso de animais em atividades acadêmicas foi discutido na questão da coleção didática e na experimentação. No primeiro caso, entende-se ser fundamental para cursos superiores como de biologia que demanda do animal real para aprender a identificar. Contudo no ensino fundamental e médio alternativas podem satisfatoriamente substituir as coleções, tais como intercâmbios com museus e as atuais impressoras 3D. Muitas aulas são banais e repetitivas e não há uma preocupação na aplicação real do princípio dos três erres. A marcação de animais e a captura e soltura, muitas vezes não é considerada dentro do contexto ético, uma vez que os animais não estão sendo mortos, ou se estão, é feito em um contexto que justifica. Pois, alguns morrerão para estudarmos a espécie e assim contribuir para manutenção das populações. Mas discutimos e efeito nas marcas na alteração comportamental e questionamos o quanto isso pode afetar o comportamento natural da espécie e nos resultados da pesquisa. Nos terrestres, um dado interessante apresentado foi a preocupação de uma pesquisadora em melhorar o ambiente da armadilha para roedores. Antes os animais capturados morriam de frio por causa da estrutura de metal, contudo o simples fato de se colocar folhas secas e cobrir com plástico tornou esse momento estressante um pouco menos cruel.
O controle de pragas é uma questão ética muito difícil de se resolver, e parece que nessa situação não temos muita opção. Se o animal está causando danos para o homem ou para outros seres vivos eles devem ser eliminados, contudo o próprio perfil generalista e resistente que o levou a se tornar praga, o capacita a resistir também aos métodos de controle do homem. Discutimos a questão dos pombos – espécies exótica invasora - no centros urbanos, o javali – exótica invasora – na natureza e da capivara – silvestre – nos centros urbanos.  Além da permissão legal – que não considera o bem-estar do indivíduo - temos toda a bagagem cultural que não moraliza o extermínio de animais – muitas vezes inofensivos – que entram em nossas casas tais como: sapos, morcegos, aranhas e cobras não peçonhentas e toda gama de insetos. Compartilhamos da opinião que o extermínio é necessário, em decorrência dos desdobramentos, contudo esses animais não tem culpa muito menos responsabilidade de terem se tornado pragas e no mínimo devem ter direito de um controle digno.
A manutenção de animais em zoológicos seja para finalidade de exposição ou conservação é nociva, tendo em vista que a maioria das espécies são selvagens e muitas ativas, carnívoras ou sociais, demandando um cuidado no manejo e recinto, que apenas atualmente começam a surgir nos zoológicos. O santuário em um primeiro momento parece ter uma conotação mais ética, tendo em vista que a finalidade é a manutenção do patrimônio genético, de animais muitas vezes oriundos de apreensão e tráfico e que não terão o incomodo da presença do público. Contudo, questões como a transformação desses santuários em locais de recepção de estagiários interessados na vida natural que pagam para ficar poucas semanas, tem gerado uma fonte de renda que se questiona o quanto pode influenciar nas intenções dos criadouros conservacionistas.
O uso de animais para entretenimento é insustentável em uma sociedade que tem tantas opções para um divertimento saudável e que não envolva sofrimento e humilhação do outro. Contudo, ainda é o uso mais diversificado e cruel. Discutimos o circo e foi pontuado o marketing feito para crianças e vêm no circo a oportunidade da vida em ver um animal selvagem e feroz. Imaginário que permeia a vida do adulto e transmite para seus filhos. A televisão tem se tornado o circo moderno, em que os animais são utilizados das mais diferentes formas para entretenimento das pessoas. Embora estejam distantes, não quer dizer que não tenham sofrido e que o simples fato de assistir um programa e consumir o produto anunciado não desvincula da conivência com todos os maus-tratos praticados.  Dentre as vertentes foi, ainda, o turismo ecológico e relatado o descaso com os cavalos de charrete em São Lourenço que passam horas seguidas passeando com turistas, levando-os até a morte. A zoofilia também foi levantada e a preocupação no divertimento sexual com os animais que estão sendo utilizados para substituição do parceiro humano em decorrência das dificuldades em se manter um relacionamento. A apreensão de animais selvagens como animais de companhia também extrapola a compressão dos motivos que levariam o ser humano ter a necessidade de causar sofrimento justificando a posse ou a relação com o simbolismo e status que representam. Atitudes egoístas que incentivam o tráfico de animais, a perda populacional e o sofrimento individual.
Quando trabalhamos com conservação temos a preocupação de compreender o animal inserido no contexto do ecossistema -  como parte de uma teia de relações. Nós trabalhamos com diferentes abordagens no intuído de que todos tenham o direito de desfrutar de um ambiente saudável, de viverem suas vidas e terem as oportunidades para evoluírem. Muitas vezes nos permitimos certas práticas em nome desse ideal, contudo atualmente uma nova geração de biólogos e conservacionistas têm questionado até quanto esses estudos ou métodos são lícitos e éticos. A tecnologia vem a nosso favor para que possamos diminuir o número de animais coletados, bem como que novas técnicas de marcação, coleta e amostragem sejam desenvolvidas, e assim, preservar o máximo de vidas. Tanto como conservacionistas quanto como cidadãos iremos nos deparar com situações que nossas escolhas poderão impactar na vida de um animal, mesmo que essa escolha seja se omitir, por isso esses momentos de trocas e dispersão de sementes são tão importantes na jornada em busca de novos paradigmas no uso de animais!

ÉTICA NO USO DE ANIMAIS: ANIMAIS EXPLORADOS PARA TURISMO ECOLÓGICO


Série Ensaios: Ética no Uso de Animais e Bem-estar Animal

Por HANNA MAY P. CARVALHO
Pós-graduanda do curso de Conservação da Natureza e Educação Ambiental



Desde antes de Cristo, a visão geral do homem em relação à natureza era puramente utilitarista, durante muito tempo o homem não se preocupou com os danos que vinha causando nem tampouco com o sofrimento dos animais diante das adversas situações a que eram submetidos. A ética animal foi construída em sociedade, com base em valores históricos e culturais, embasados por filósofos como Platão e Descartes, que diferenciavam o homem do animal, classificando os animais como coisas sobre as quais podiam dispor com poderes de vida e morte.
O debate sobre o bem-estar animal iniciou-se após a publicação de um livro escrito em 1964 pela inglesa Ruth Harrison, com o título “Máquinas Animais”, apesar das diferenças de valores e opiniões de produtores e consumidores, foi à partir daí que a perspectiva da população começou a mudar mediante o tratamento animal, passou-se a considerar a idéia de que os animais sofrem e gostariam de deixar de sofrer. Liderada pelo médico veterinário Rogers Brambell, em 1965, foi divulgado o que ficaria conhecido como relatório Brambell, que girava em torno das dificuldades de se avaliar o bem-estar animal devido à falta de parâmetros claros e consensuais. Em 1967 foi estabelecida a “Comissão de Bem-estar de Animais de Produção” (Farm Animal Welfare Advisory Committee – FAWAC), que deu origem, em 1979, ao “Conselho de Bem-estar dos Animais de Produção” (FAWC). O FAWC ficou internacionalmente conhecido ao divulgar as chamadas Cinco Liberdades de Jhon Webster, que constituem a referência mínima para avaliar a propriedade, a indústria e o manejo, quanto ao respeito e bem-estar dos animais, sob os seguintes aspectos:
Liberdade Fisiológica – ausência de fome e sede (alimentação = quantidade + qualidade);
Liberdade Ambiental – ausência de desconforto térmico ou físico (instalações e ou edificações adaptadas);
Liberdade Sanitária – ausência de injúrias e doenças (física ou moral);
Liberdade Comportamental – possibilidade para expressar padrões de comportamento normais. O ambiente deve permitir e oferecer condições;
Liberdade Psicológica – ausência de medo e ansiedade. O animal não deve ser exposto a situações que lhe provoquem angústia, ansiedade, medo ou dor.
Em declarações concomitantes, autores da época identificam o bem-estar animal representado em comportamento animal natural, adaptativo ao ambiente e que permita um bom funcionamento biológico a nível de sobrevivência, saúde e sucesso reprodutivo. Sendo assim, o bem-estar animal pode ser medido através de metodologias de análise sobre aspectos fisiológicos e comportamentais.
Durante os últimos 10 mil anos, de um total de 148 mamíferos de grande porte existentes na Terra, apenas 15 espécies foram domesticadas. São classificados como de grande porte os mamíferos com mais de 45 quilos. Destas 15 espécies, menos da metade se adaptou como animal de carga, dentre estas destaca-se os burros (Equus asinus), estes equídeos variam muito em tamanho, geralmente entre 0.9 e 1.4m de altura, como animais de carga, burros normalmente não levam mais que 50 ou 60 kg de carga ou 30% do peso do seu corpo. Sua resistência em aproximações áridas em regiões montanhosas é muito boa. Burros tem muita facilidade em se mover em terrenos acidentados e rochosos pois eles tendem a mover uma pata dianteira por vez, tornando a subida muito mais precisa e menos cansativa e, quando comparados com cavalos, burros precisam de menos comida em relação ao seu peso. Infelizmente todas as adaptações que estes animais possuem acabam por lhes destacar no ecoturismo como meio de transporte, por ser uma exploração economicamente mais viável.
Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente. A atividade busca valorizar as premissas ambientais, sociais, culturais e econômicas e inclui a interpretação ambiental como um fator importante durante a experiência turística. Porém apesar do belo significado, o ecoturismo por vezes explora animais como meios de transporte desnecessário em passeios, carregando pessoas ou bagagens pesadas, sem jornada de trabalho definida e muitas vezes sob sol escaldante. Muito se fala em busca de sustentabilidade e turismo sustentável, mas pouco se tem, como seria possível estabelecer um limite entre o que é ético/suportável para um animal e o que causaria um extremo sofrimento para esses seres que não têm como escapar dessa cruel realidade. Os animais não têm recurso algum, são escravizados. Se, por acaso, em função do sofrimento ao qual são submetidos, atacam, prontamente apanham ou são abatidos. O Parque Kfar Kedem, em Israel promove passeios de burros por regiões bíblicas como a Galiléia, os visitantes são convidados a vestir roupas da época para entender como as pessoas viviam nos tempos das escrituras hebraicas ou Velho Testamento, contudo, contradizendo a proposta do parque os turistas tem acesso a rede wi-fi, graças a instalação de roteadores que os animais levam em bolsinha que ficam ao redor do pescoço.
Segundo a  Declaração Universal Dos Direitos Dos Animais, proclamada pela UNESCO em sessão realizada em Bruxelas na data de 27 de janeiro de 1978, ao menos três direitos destes animais estão sendo claramente infringidos de acordo com os artigos Art. 2° "a"; Art. 7º e Art. 10 "b". Nas leis, tanto federais como estaduais ou municipais existentes, embora esteja claro, em algumas, que o real interesse é proteger o homem de si mesmo, acabaram por dar aos animais um pouco mais de dignidade de vida.
A ética do bem-estar considera as atitudes humanas para com os animais.
Segundo o (BEA), o referencial é o estado do animal em seu ambiente e só pode ser entendido a partir do reconhecimento dos animais como seres sencientes (capazes de vivenciar emoções, de perceber e sentir). Os burros de passeio não expressam um comportamento natural pois passam o dia carregando pessoas de um lado para outro e no caso apresentado ainda levam um aparelho eletrônico como adorno no pescoço, certamente esta situação apresenta no mínimo um desconforto que pode afetar o estado físico ou mental do equino ou até mesmo ambos.
Em uma análise crítica de bem-estar provavelmente esses animais se enquadrariam em uma escala pobre pois lhes são supridas apenas suas necessidades fundamentais, além de estarem submetidos a um certo nível de stress. O ideal seria impedir a exploração de animais para esse fim, ou ao menos limitar o tempo para que estes tenham descanso, uma vez que a legislação existente no país é absolutamente ineficaz para dar qualquer proteção, simplesmente porque não há qualquer órgão de fiscalização que atue especificamente para esse tipo de caso.



O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Ética e Bem-estar animal e baseado nos sites dispostos em hiperlinks ao longo do texto e nas seguintes obras:

Broom, DM (1991). Animal welfare: concepts and measurement. Journal of Animal Science Vol. 69: 4167-4175.
Dawkins, M.S. (1990). From an Animal's Point of View: motivation, fitness, and animal welfare. Behavioural and Brain Sciences, Vol.13,no.1: 1-9, and author's response
Duncan, I.J.H., Fraser, D. (1997). Understanding animal welfare. Animal welfare. (Ed. M.C.Appleby & B.O.Hughes) CAB. International: 19-32
Olsson, IAS (2006) Ética e Bem-Estar Animal. Sociedade de Ética Ambiental e Apenas Livros Lda. Vol. 4
Tannenbaum, J (1991) Ethics and animal welfare: The inextricable connection. Journal American Veterinary Medical Association, Vol. 198: 1360-1376
FENNELL, David A. Ecoturismo: Uma introdução. São Paulo: Contexto, 2002. 

O Ensino De Ciências E Biologia E A Utilização De Coleções Biológicas Como Ferramenta Didática: Um Pensamento Sob A Ótica Do Bem-Estar Animal


Série Ensaios: Ética no uso de animais e bem estar animal

Por André Petick Dias
Pós-graduando em Conservação da Natureza e Educação Ambiental



O estudo da ética animal considera que os animais têm sentimentos, ou seja, senciência – capacidade de sofrer ou sentir prazer. Partindo deste princípio, surge a preocupação com o bem-estar animal que é o estado no qual determinado animal encontra-se, sempre priorizando uma melhor qualidade de vida para o mesmo (Broom & Molento, 2004).
     Historicamente a relação do ser humano com animais, em quase todos os casos acaba por resultar em algum tipo de estresse, sofrimento e/ou alteração no estado emocional do ser vivo manipulado, seja para a utilização como força animal para o trabalho, alimento, diversão ou companhia (Singer, 2004). Em se tratando de coleções biológicas, temos registros da primeira coleção datada em torno de 3.000 a.C., no Egito, onde acreditava-se que a finalidade destas coleções era basicamente uma crença religiosa onde os animais selvagens significavam status para seus proprietários. Coleções biológicas são grupos organizados de espécies e indivíduos utilizados para diversas finalidades, como a classificação, comparação/verificação, comprovações históricas e de pesquisas tombadas, intercâmbios e trocas de informações em geral. Logo, estas coleções propiciavam a comprovação de diversas pesquisas já realizadas, concretizando assim o fazer científico.
            Nos dias de hoje a formação de coleções biológicas para fins didáticos é evidente e perceptível em quase todas as instituições de ensino (principalmente as de ensino superior). Temos também como um dos principais desafios para os professores de Ciências Biológicas a integração de conteúdos científicos aprofundados com uma concepção humana do que subsidiará seu papel de formador do papel ético de seus alunos[1]. Neste sentido o que se espera de um professor desta área, está contido na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) (BRASIL,1996), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1999), e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio de Ciências e Biologia (OCEM) (BRASIL, 2006). Evidentemente, também se espera do professor uma postura ética e responsável perante os recursos naturais utilizados como ferramenta didática, no ensino e na prática educacional das ciências naturais, principalmente relacionados ao ensino de elementos faunísticos.A aproximação dos alunos com o tema que o educador está abordando, pode ser perfeitamente realizada através da visualização de uma coleção didática organizada, oferecendo facilidades para “inventariar” e classificar diversas espécies.

           
Vale ressaltar que atualmente diversas pesquisas vêm evoluindo e atingindo bons resultados, devido à armazenagem de exemplares de flora e fauna em coleções biológicas, e que não necessariamente são utilizadas como instrumento de ensino, e basicamente utilizam-se em pesquisas particulares, ou estão dispostas em museus para visitação.Particularmente, acredito que com o advindo de novas tecnologias como a impressão 3D e scanner´s de última geração, a cada dia menos capturas de exemplares no meio natural serão necessárias para a formação de coleções biológicas didáticas, apesar de estes equipamentos serem importados e possuírem alto custo. Ainda podemos mencionar que no Brasil, existem poucas políticas públicas objetivando a ética e o bem estar animal, principalmente relacionadas á formação de coleções didáticas, sendo que o primeiro evento de amplitude nacional que abordará o assunto ocorrerá durante os dias 20 a 23 de maio deste ano no Instituto Vital Brazil/CEPE – Centro de Estudos e Pesquisa de Envelhecimento, na cidade do Rio de Janeiro. O título do evento é Encontro Nacional sobre Coleções Biológicas e suas Interfaces, e tem como objetivo principal estimular a reflexão sobre as prioridades de gestão e manutenção das coleções científicas, dentro do panorama nacional. A nível de coleções biológicas em geral, no Brasil as legislações existentes que incidem sobre a coleta, transporte e depósito de material biológico, podem ser encontradas no portal da FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz. 


            Outra utilização significativa para coleções biológicas que, podem ser consideradas utilizações educativas, é através da disponibilização de coleções em museus e exposições temáticas. Na minha opinião como turismólogo, podem ser utilizados animais que sofreram algum tipo de problema que terão que ser sacrificados em coleções para formarem acervos de museus e exposições. A visitação destes espaços por turistas, e também por moradores locais, favorece o acesso à informação e a sensibilização ambiental das pessoas a respeito de interações destes com as coleções. Porém, como já observamos em Museus do Brasil, faltam estratégias de uma melhor divulgação das coleções e exposições, e também na minha opinião falta interatividade e tecnologia em alguns casos, que poderiam ter por exemplo painéis que estimulem os sentidos e sensibilidades em geral.      

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética e Bem Estar Animal baseado nas seguintes obras.


BRASIL, Ministério da Educação / Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais PCN: Ensino Médio. Brasília: MEC, (1999). Disponível em www.mec.gov.br/seb/index.php
BRASIL, OCEM (Orientações Curriculares para o Ensino Médio): ciências da natureza, matemática e suas tecnologias, Brasília: MEC, (2006). Disponível em www.mec.gov.br/seb/index.php
BRASIL, PCN Ensino Médio: Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais, Brasília: MEC, 2002. Disponível em www.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza
BROOM, D. M.; MOLENTO, C.F.M. Animal welfare: concept and related issues – Review. Archives of Veterinary Science, v. 9, n. 2, p. 1-11, 2004.
SINGER, P. (2004) Libertação animal. Tradução Marly Winckler. São Paulo: Lugano.


[1] http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/Artigo_ID200/v13_n3_a2008.pdf