Fazer o bem sem olhar a quem...



Série Ensaios: Sociobiologia

Por Cintia de Oliveira Soares e Deise Maira de Almeida Mendes
Acadêmicas do Curso de Bacharelado em Biologia




Altruísmo é um comportamento encontrado nos seres humanos e nos demais seres vivos, em que as ações de um indivíduo beneficiam o outro. O conceito de altruísmo foi adotado pelo filósofo Frances Augusto Comte em 1831, para caracterizar o conjunto das disposições humanas, tanto individuais quanto coletivas, que impulsionam os indivíduos a dedicarem-se aos outros. Além disso, o conceito de altruísmo tem importância filosófica ao se referir ás disposições natural do ser humano, mencionando que o homem pode ser (e é) bom e generoso naturalmente, sem sofrer influências culturais, como por exemplo, religião e crença. O altruísmo é classificado por Korsgaard, Meglino e Lester (1996) como um comportamento designado a atender às necessidades de outros, envolvendo escolhas em que os indivíduos colocam menos valor em resultados pessoais e demonstram pouca disposição em se ocupar de cálculos racionais que abrangem custos e benefícios.
A fim de explicar como o altruísmo poderia evoluir W. D. Hamilton desenvolveu uma explicação espacial que não se apoiava nos argumentos “para o bem do grupo”, em vez disso a teoria baseou-se na premissa de que os indivíduos se reproduzem com o objetivo inconsciente de propagar seus alelos com mais sucesso do que outros indivíduos. A reprodução pessoal contribui para esse objetivo final em uma maneira direta, porém ajudar indivíduos geneticamente similares pode prover uma rota indireta para o mesmo fim. Conhecendo o coeficiente de parentesco entre altruístas e os indivíduos que eles ajudam, pode-se determinar o destino de um alelo “altruísta” raro em competição com um alelo “egoísta” comum. A questão chave é se o alelo altruísta se torna mais abundante se seus portadores renunciam a reprodução e, em vez disso ajudam seus “parentes” a se reproduzirem. Apesar da competição predominante na natureza também são observados atos de altruísmo, de auto sacrifício de indivíduos ou grupos em relação a outros. Muitos exemplos de altruísmo podem ser observados na natureza: alguns pássaros aceitam chocar ovos que não os seus próprios e indivíduos estéreis ajudam na criação dos filhotes (como ocorre entre abelhas e formigas), abelhas se matam ao ferroar um inimigo para proteger a colônia e pássaros ariscam a própria vida para avisar o bando da aproximação de um falcão. Um caso extremo ocorre com a aranha Stegodyphus cujos filhotes recém-nascidos devoram a mãe como estratégia de sobrevivência.
Os atos mais comuns e extremos de altruísmo animal são realizados pelos pais, especialmente mães, para com os filhos. Pais e mães criam os filhos em seus ninhos, às vezes em seu próprio corpo, os alimentam com grandes custos para si mesmos e se arriscam ao protegê-los dos predadores. Um exemplo disto são as aves que simulam fraqueza para atrair para longe do ninho um predador. Uma ave manca na frente de uma raposa, estendendo uma asa como se estivesse quebrada para atraí-la para longe de seus filhotes, colocando sua própria vida em risco.
Nos dias atuais temos como exemplo de altruísmo a adoção e o amor pelos animais. Podemos notar que em muitos casos, a adoção é feita por que as pessoas se sensibilizam com a situação de abandono das crianças.  Nos animais também é possível notar sinais de altruísmo, há vários casos de animais que adotam filhotes de outras espécies, ou mesmo de sua própria espécie, como por exemplo, os chimpanzés.  A adoção de chimpanzés órfãos é uma prática comum. A criança é adotada por uma fêmea dominante no caso da mãe verdadeira estar morta. É possível vivenciar e detectar e vivenciar o altruísmo também na relação com os animais, eles passam muitas vezes a fazer parte da família e ser tratado como pessoa suprindo assim a carência que se tem nos dias de hoje, além de motivar a sua proteção muitas pessoas lutam por essa causa que a cada dia ganha mais adeptos. O instituto Nina Rosa, é referência nacional hoje em dia nos trabalhos de defesa dos animais, e nesse caso é possível notar como o amor pelos animais levam as pessoas a modificarem suas vidas, esse é o caso da Nina ela abandonou a carreira de produtora de moda e modelo para se dedicar e defender os animais e deixa claro seu enorme amor aos bichos e a importância de respeitá-los. A cada dia a sociedade fica mais revoltada com noticias e imagens de maus tratos aos animais e fazem manifestos para a criação de leis eficientes na proteção dos mesmos, pois é possível notar como esse afeto entre o ser humano e os animais afetam nossas reações e ações. E os acumuladores de animais? Isso pode ser considerado altruísmo ou um tipo de doença? Os acumuladores de animais, “animals hoarder”, são pessoas que necessitam de cuidados psiquiátricos, porém ainda não há literatura médica a respeito. Essas pessoas têm dificuldades em tomar decisões racionais e de tomarem conta de si próprios, mesmo em relação ao básico. Também não conseguem lidar com situações que não possam controlar geralmente a morte de qualquer animal leva a uma forte sensação de angústia. Sabe-se que os acumuladores de animais são cheios de boas intenções, o amor pelo seu pet, à vontade de protegê-los é tanta que acabam passando dos limites, esquecendo-se do bem estar dos seus animais, muitas vezes essas pessoas não tem nem condições financeiras de “cuidar” de tantos pets.
Nós, formandas de Biologia, acreditamos ou percebemos que o altruísmo tem seu lado bom e importante, pois nos fazem criar laços de afeto, pois nosso biológico tem a necessidade da criação de grupos que nos permite adaptar-se melhor e assim nos beneficiar, isso tanto com as pessoas como com os animais, porém é preciso se tomar cuidado para não mudar esses aspectos, já que hoje em dia muitas pessoas criam laços principalmente com os animais tentando assim suprir a carência e muitas vezes trata o animal de uma forma muito artificial, tentando humanizar cada vez mais o mesmo e assim o prejudicando.
 
O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Etologia II e baseado nas obras:
Livro:Comportamento animal - Uma abordagem evolutiva- 2011- 9º edição -Autor: Alcock, John

Coração de mãe: entre o carinho e a ameaça



Série ensaios:Sociobiologia
Por Flávia Cardozo de Jesus e Larissa Friebe Caxambu
Acadêmicas do Curso de Bacharelado em Biologia

Desde os primórdios, os ancestrais do homem já abriam mão da liberdade para se beneficiar com uma vida em grupo – uma característica também encontrada em primatas e inúmeras outras espécies – e com isso, conseguiam mais proteção e facilidade para arranjar alimentos. Com essa vida em grupo, as mulheres ficaram com a tarefa de cuidar de seus filhos, se entregando mais intensamente ao instinto maternal, que nada mais é do que um compromisso em que um ser mais capacitado ou evoluído presta auxílio a um outro em estágio de aprendizagem - Esse instinto maternal é ainda reforçado pela aparência inocente e meiga das crianças, que faz com que a mãe e até mesmo outros parentes queiram protegê-las e acalentá-las (Burnhan & Phelan, 2002).  Mas nem sempre esse compromisso é levado adiante: ocorrendo muitas vezes o assassinato de um filhote indesejado, chamada de infanticidio. Essa prática, ainda hoje executada por humanos, já ocorria há 30 mil anos atrás, na época que o homem vivia nas cavernas, provavelmente para não colocar todo o grupo em risco em épocas de escassez de alimento. Entre os Romanos, tambem em ocasiões de escassez de alimentos, era comum soldados matarem os recém-nascidos, principalmente do sexo feminino. Já entre os gregos, era permitido o sacrificio de crianças portadoras de deficiencia. Porém, com a influência do Cristianismo,  o infanticídio passou a constituir um pecado gravíssimo. Nos dias de hoje, essa prática ocorre entre algumas tribos de índios, resuntando a cada ano, em  centenas de crianças indígenas enterradas vivas, sufocadas com folhas, envenenadas ou abandonadas para morrer na floresta. Mas como isso faz parte da cultura dessas tribos, não há uma lei que os puna, diferente da nossa sociedade, em que tal prática é considerada crime.
Episódios de infanticídio também envolvem mulheres que não aceitam a gravidez, que enxergam a criança como uma ameaça ou até mesmo que possa haver uma ameaça para a criança. Alguns exemplos de episódios como esse é de uma mulher brasileira que tinha uma gravidez indesejada e, ao ter o seu filho, o esquartejou e jogou aos urubus, acreditando que dessa maneira estaria se livrando do problema. Outro caso é de uma mãe da indonésia que matou seu filho de 9 anos por achar que ele tinha um órgão genital pequeno, e ao ser questionada, justificou seu ato por temer que ele sofresse no futuro. A Biologia têm uma explicação física para isso. Hoje se sabe que o parto desencadeia uma súbita queda em níveis hormonais e alterações bioquímicas no sistema nervoso central. Isso causa alteração emocional, e em alguns casos, até mesmo o colapso do senso moral, a diminuição da capacidade de entendimento seguido de liberação de instintos, terminando com a agressão ao próprio filho. No mundo animal esse comportamento também ocorre, e de forma semelhante ao ser-humano, o que é mais uma evidencia de que o homem não é um ser àcima da natureza, mas está integrado a ela. Casos de infanticídio em primatas foram estudados e as principais hipóteses para esse comportamento são pelos motivos adaptativos (seleção sexual), competição por recurso e não adaptativa (patologia social).  Leões são outro exemplo de espécies que cometem infanticídio, pois o macho mata os filhotes de outro para garantir sua linhagem.    
Nós formandas em biologia, acreditamos que o infanticídio tinha vantagem evolutiva no passado, quando o homem vivia apenas da sobrevivência física. Mas atualmente, com alternativas como a adoção e as ações sociais, bem como as nossas mudanças de estilo de vida, cremos que essa prática se tornou desnecessária. Porém, mesmo com todo esse desenvolvimento social e melhora da qualidade de vida, às vezes o lado primitivo e biológico acaba falando mais alto, levando a mãe a cometer o infanticídio. Acreditamos que esse lado biológico gera uma autoproteção que leva a mãe a ver o próprio filho como ameaça, e até mesmo uma proteção de linhagem evolutiva, por julgar que as características do filho não são ideais para perpetuar a espécie, o que acaba se sobrepondo ao instinto maternal.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia e baseado nas obras:

Cronobiologia: compreendendo melhor como o tempo influencia a vida



Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por Marcelo Esther Fonseca

Acadêmico do curso de biologia

A cronobiologia é a ciência que estuda os ritmos biológicos de todos os organismos vivos, desde organismos relativamente simples como os procariontes até organismos mais complexos como os mamíferos. Esses ritmos biológicos podem ser divididos de maneira geral em: ciclo circadiano (com duração de aproximadamente 24 horas, sendo um dos mais estudados), ciclo infradiano (com duração maior que 24 horas) e ciclo ultradiano (com duração menor que 24 horas, podendo chegar a alguns milissegundos) (SMOLENSKY; PEPPAS, 2007). A percepção do homem com relação a ciclos biológicos ocorre desde a antiguidade podendo-se citar Hipócrates (aproximadamente 300 a.C.) médico grego que percebeu diferenças nos sintomas de seus pacientes entre a noite e o dia associando regularidade com boa saúde. Mas uma das primeiras associações a ritmo biológico e ambiente foi feita por J. J. d’Ortous de Mairan, que constatou que uma planta (possivelmente do gênero Mimosa) orientava suas folhas com relação ao Sol mesmo em escuridão total. Mas, somente em 1960 com o Cold Spring Harbor Symposium on Biological Clocks, que com a adoção de metodologias de estudo coerentes a cronobiologia passou a ser reconhecida pela comunidade científica (SILVÉRIO, 2003). Conforme os estudos em cronobiologia foram avançando, percebeu-se que os ritmos biológicos não estavam associados somente ao ciclo de claro-escuro mas também a ciclos reprodutivos, batimentos cardíacos, respiração, peristaltismo, regulação hormonal, entre outros. Souza, Cruz-Machado e Tamura (2008) citaram que a melatonina, hormônio mais conhecido por permitir a percepção de claro-escuro, influencia na reprodução de alguns mamíferos como ovelhas e hamster. Como os hamsters possuem gestação curta (cerca de duas semanas), dias longos são favoráveis para a reprodução, uma vez que representam o período de primavera/verão (mais disponibilidade de recursos alimentícios). Já as ovelhas, por possuírem um período de gestação maior (cerca de vinte e uma semanas) dias curtos (relacionados ao outono/inverno) favorecem a reprodução, fazendo que as crias nasçam na primavera. A cronobiologia pode ser ramificada em: cronopatologia, que estuda a relação entre surgimento e desenvolvimento de doenças e os diferentes ritmos biológicos; e a cronofarmacologia, que estuda como e com qual intensidade medicamentos são afetados pelos ritmos biológicos dos pacientes. Estudos mostram que a absorção de medicamentos está ligada aos ciclos circadianos do sistema grastrointestinal, oque faz com que certos medicamentos sejam melhores absorvidos em determinada hora e outros não sejam tão bem absorvidos no mesmo intervalo de tempo (SMOLENSKY; PEPAS, 2007; JUNKER; WIRZ, 2010).  Como formando em biologia acredito que a cronobiologia é fundamental não somente para a saúde humana como também para a preservação dos demais organismos vivos, uma vez que compreendendo como o ambiente pode modificar o funcionamento “normal” dos organismos pode-se tentar descobrir quais ações antrópicas estão influenciando e desenvolver formas de diminuir os impactos negativos que tais ações possam vir a causar.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de etologia se baseando nas obras:

JUNKER, Uwe; WIRZ, Stefan. Review Article: Chronobiology: influence of circadian rhythms on the therapy of severe pain. Journal of Oncology Pharmacy Practice, v. 16, p. 81-87, 2010. Disponível em: <http://opp.sagepub.com/content/16/2/81.long>. Acesso em: 03/03/2013.

SILVÉRIO, Jorge Manuel Amaral. Factores psicológicos e cronobiológicos do rendimento desportivo. 2003. 231 f. Dissertação para a obtenção de Doutor em Pscicologia (Pscicologia esportiva) – Universidade do Minho, 2003. Disponível em: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/916>. Acesso em 03/03/2013.
SMOLENSKY, Michael H.; PEPPAS, Nicholas A. Chronobiology, drug delivery and chronotherapeutics. Advanced Drug Delivery Reviews, v. 59, p. 828-851, 2007. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0169409X0700124X>. Acesso em: 03/03/2013.
SOUZA, Cláudia Emanuele Carvalho; CRUZ-MACHADO, Sanseray da Silveira; TAMURA, Eduardo Koji. Os ritmos circadianos e a reprodução em mamíferos. Boletim do Centro de Biologia da Reprodução, Juiz de Fora, v. 27, p. 15-20, 2008. Disponível em: <http://www.editoraufjf.com.br/revista/index.php/boletimcbr/article/viewFile/593/530>Acesso em: 03/03/2013.