Série Ensaios:
Aplicação da Etologia
Por Marcelo Esther
Fonseca
Acadêmico do curso de
biologia
A cronobiologia é a ciência que
estuda os ritmos biológicos de todos os organismos vivos, desde organismos
relativamente simples como os procariontes
até organismos mais complexos como os mamíferos. Esses ritmos
biológicos podem ser divididos de maneira geral em: ciclo circadiano (com
duração de aproximadamente 24 horas, sendo um dos mais estudados), ciclo
infradiano (com duração maior que 24 horas) e ciclo ultradiano (com duração menor
que 24 horas, podendo chegar a alguns milissegundos) (SMOLENSKY;
PEPPAS, 2007). A percepção do homem com relação a ciclos biológicos
ocorre desde a antiguidade podendo-se citar Hipócrates (aproximadamente
300 a.C.) médico grego que percebeu diferenças nos sintomas de seus pacientes
entre a noite e o dia associando regularidade com boa saúde. Mas uma das
primeiras associações a ritmo biológico e ambiente foi feita por J. J.
d’Ortous de Mairan, que constatou que uma planta (possivelmente do gênero Mimosa) orientava suas
folhas com relação ao Sol mesmo em escuridão total. Mas, somente em 1960 com o Cold Spring Harbor
Symposium on Biological Clocks, que com a adoção de metodologias de estudo
coerentes a cronobiologia passou a ser reconhecida pela comunidade científica (SILVÉRIO, 2003). Conforme
os estudos em cronobiologia foram avançando, percebeu-se que os ritmos
biológicos não estavam associados somente ao ciclo de claro-escuro mas também a
ciclos reprodutivos, batimentos cardíacos, respiração, peristaltismo,
regulação hormonal, entre outros. Souza,
Cruz-Machado e Tamura (2008) citaram que a melatonina, hormônio mais
conhecido por permitir a percepção de claro-escuro, influencia na reprodução de
alguns mamíferos como ovelhas e hamster. Como os hamsters possuem gestação
curta (cerca de duas semanas), dias longos são favoráveis para a reprodução, uma
vez que representam o período de primavera/verão (mais disponibilidade de
recursos alimentícios). Já as ovelhas, por possuírem um período de gestação
maior (cerca de vinte e uma semanas) dias curtos (relacionados ao
outono/inverno) favorecem a reprodução, fazendo que as crias nasçam na
primavera. A cronobiologia pode ser ramificada em: cronopatologia,
que estuda a relação entre surgimento e desenvolvimento de doenças e os
diferentes ritmos biológicos; e a cronofarmacologia,
que estuda como e com qual intensidade medicamentos são afetados pelos ritmos
biológicos dos pacientes. Estudos mostram que a absorção de medicamentos está
ligada aos ciclos circadianos do sistema
grastrointestinal, oque faz com que certos medicamentos sejam melhores
absorvidos em determinada hora e outros não sejam tão bem absorvidos no mesmo
intervalo de tempo (SMOLENSKY;
PEPAS, 2007; JUNKER;
WIRZ, 2010). Como formando em
biologia acredito que a cronobiologia é fundamental não somente para a saúde
humana como também para a preservação dos demais organismos vivos, uma vez que
compreendendo como o ambiente pode modificar o funcionamento “normal” dos
organismos pode-se tentar descobrir quais ações antrópicas estão influenciando
e desenvolver formas de diminuir os impactos negativos que tais ações possam
vir a causar.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de etologia
se baseando nas obras:
JUNKER, Uwe; WIRZ, Stefan. Review Article: Chronobiology: influence of circadian rhythms on the
therapy of severe pain. Journal of
Oncology Pharmacy Practice, v. 16, p. 81-87, 2010. Disponível em: <http://opp.sagepub.com/content/16/2/81.long>. Acesso
em: 03/03/2013.
SILVÉRIO, Jorge Manuel Amaral. Factores psicológicos e cronobiológicos do
rendimento desportivo. 2003. 231 f. Dissertação para a obtenção de Doutor
em Pscicologia (Pscicologia esportiva) – Universidade do Minho, 2003.
Disponível em: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/916>. Acesso em 03/03/2013.
SMOLENSKY,
Michael H.; PEPPAS, Nicholas A. Chronobiology, drug delivery and
chronotherapeutics. Advanced Drug
Delivery Reviews, v. 59, p. 828-851, 2007. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0169409X0700124X>. Acesso
em: 03/03/2013.
SOUZA, Cláudia Emanuele Carvalho;
CRUZ-MACHADO, Sanseray da Silveira; TAMURA, Eduardo Koji. Os ritmos circadianos
e a reprodução em mamíferos. Boletim do
Centro de Biologia da Reprodução, Juiz de Fora, v. 27, p. 15-20, 2008.
Disponível em: <http://www.editoraufjf.com.br/revista/index.php/boletimcbr/article/viewFile/593/530>Acesso em: 03/03/2013.
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