domingo, 17 de março de 2013

Cronobiologia: compreendendo melhor como o tempo influencia a vida



Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por Marcelo Esther Fonseca

Acadêmico do curso de biologia

A cronobiologia é a ciência que estuda os ritmos biológicos de todos os organismos vivos, desde organismos relativamente simples como os procariontes até organismos mais complexos como os mamíferos. Esses ritmos biológicos podem ser divididos de maneira geral em: ciclo circadiano (com duração de aproximadamente 24 horas, sendo um dos mais estudados), ciclo infradiano (com duração maior que 24 horas) e ciclo ultradiano (com duração menor que 24 horas, podendo chegar a alguns milissegundos) (SMOLENSKY; PEPPAS, 2007). A percepção do homem com relação a ciclos biológicos ocorre desde a antiguidade podendo-se citar Hipócrates (aproximadamente 300 a.C.) médico grego que percebeu diferenças nos sintomas de seus pacientes entre a noite e o dia associando regularidade com boa saúde. Mas uma das primeiras associações a ritmo biológico e ambiente foi feita por J. J. d’Ortous de Mairan, que constatou que uma planta (possivelmente do gênero Mimosa) orientava suas folhas com relação ao Sol mesmo em escuridão total. Mas, somente em 1960 com o Cold Spring Harbor Symposium on Biological Clocks, que com a adoção de metodologias de estudo coerentes a cronobiologia passou a ser reconhecida pela comunidade científica (SILVÉRIO, 2003). Conforme os estudos em cronobiologia foram avançando, percebeu-se que os ritmos biológicos não estavam associados somente ao ciclo de claro-escuro mas também a ciclos reprodutivos, batimentos cardíacos, respiração, peristaltismo, regulação hormonal, entre outros. Souza, Cruz-Machado e Tamura (2008) citaram que a melatonina, hormônio mais conhecido por permitir a percepção de claro-escuro, influencia na reprodução de alguns mamíferos como ovelhas e hamster. Como os hamsters possuem gestação curta (cerca de duas semanas), dias longos são favoráveis para a reprodução, uma vez que representam o período de primavera/verão (mais disponibilidade de recursos alimentícios). Já as ovelhas, por possuírem um período de gestação maior (cerca de vinte e uma semanas) dias curtos (relacionados ao outono/inverno) favorecem a reprodução, fazendo que as crias nasçam na primavera. A cronobiologia pode ser ramificada em: cronopatologia, que estuda a relação entre surgimento e desenvolvimento de doenças e os diferentes ritmos biológicos; e a cronofarmacologia, que estuda como e com qual intensidade medicamentos são afetados pelos ritmos biológicos dos pacientes. Estudos mostram que a absorção de medicamentos está ligada aos ciclos circadianos do sistema grastrointestinal, oque faz com que certos medicamentos sejam melhores absorvidos em determinada hora e outros não sejam tão bem absorvidos no mesmo intervalo de tempo (SMOLENSKY; PEPAS, 2007; JUNKER; WIRZ, 2010).  Como formando em biologia acredito que a cronobiologia é fundamental não somente para a saúde humana como também para a preservação dos demais organismos vivos, uma vez que compreendendo como o ambiente pode modificar o funcionamento “normal” dos organismos pode-se tentar descobrir quais ações antrópicas estão influenciando e desenvolver formas de diminuir os impactos negativos que tais ações possam vir a causar.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de etologia se baseando nas obras:

JUNKER, Uwe; WIRZ, Stefan. Review Article: Chronobiology: influence of circadian rhythms on the therapy of severe pain. Journal of Oncology Pharmacy Practice, v. 16, p. 81-87, 2010. Disponível em: <http://opp.sagepub.com/content/16/2/81.long>. Acesso em: 03/03/2013.

SILVÉRIO, Jorge Manuel Amaral. Factores psicológicos e cronobiológicos do rendimento desportivo. 2003. 231 f. Dissertação para a obtenção de Doutor em Pscicologia (Pscicologia esportiva) – Universidade do Minho, 2003. Disponível em: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/916>. Acesso em 03/03/2013.
SMOLENSKY, Michael H.; PEPPAS, Nicholas A. Chronobiology, drug delivery and chronotherapeutics. Advanced Drug Delivery Reviews, v. 59, p. 828-851, 2007. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0169409X0700124X>. Acesso em: 03/03/2013.
SOUZA, Cláudia Emanuele Carvalho; CRUZ-MACHADO, Sanseray da Silveira; TAMURA, Eduardo Koji. Os ritmos circadianos e a reprodução em mamíferos. Boletim do Centro de Biologia da Reprodução, Juiz de Fora, v. 27, p. 15-20, 2008. Disponível em: <http://www.editoraufjf.com.br/revista/index.php/boletimcbr/article/viewFile/593/530>Acesso em: 03/03/2013.

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