Animais explorados em turismo ecológico



Série Ensaios: Ética no Uso de Animais e Bem estar Animal

Por JOÃO HENRIQUE NICOLELI

Pós-graduando em Conservação da Natureza e Educação Ambiental

Também chamado de turismo ecológico, o ecoturismo começou a chamar a atenção do setor turístico brasileiro por volta da década de 1980 e, principalmente na década de 1990, com a maior visibilidade dada às questões ambientais. Para um melhor aproveitamento de todo o potencial do território brasileiro e regularização da atividade ecoturística foi criado em 1987 a “Comissão Técnica Nacional” do projeto “Turismo Ecológico” da EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo) em parceria com o IBAMA (Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais Renováveis). O projeto foi iniciado com a implantação de pólos de ecoturismo em todos os estados da Amazônia Legal. Em 1994 foram criadas as “Diretrizes para a Política do Programa Nacional de Ecoturismo que discorre sobre o potencial turístico do Brasil, os marcos referenciais internacionais, as possíveis vantagens do turismo bem organizado e os impactos negativos que podem ocorrer caso não haja o correto planejamento da atividade. A “Declaração de Ecoturismo de Quebec”, aprovada em 10 de junho de 2002 pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP) e pela Organização Mundial do Turismo (OMT), oficializou o ano de 2002 como o “Ano Internacional do Turismo”, como reconhecimento de todos os países participantes, inclusive o Brasil, da importância do ecoturismo como atividade econômica e de preservação do patrimônio ambiental e cultural. O desenvolvimento do ecoturismo no Brasil, em pesquisa realizada durante o 4º salão de turismo em julho de 2009, 1,7 mil pessoas entrevistadas, 34,3% apontaram o Ecoturismo e o Turismo de Aventura como atividades para suas próximas viagens, atrás apenas do Turismo de Sol e Praia com 52,1%. Esta modalidade de turismo apresentou lucro nacional de R$ 490 milhões, no mesmo, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), tendo projeção até no exterior.
Como pode constatar-se o cartesianismo antropocêntrico estabeleceu um grande distanciamento na relação homem/natureza, distanciamento este verificado inclusive contemporaneamente (RODRIGUE & FEIJÓ, 2007). O principal conflito nesta modalidade de turismo é quanto à exploração do ambiente natural e a devastação que possa ser causada com a massificação desta modalidade. O planejamento tem que ser bem feito para que não ocorram problemas de invasão do meio desses animais pela cultura do ser humano, a educação ambiental deve bem aplicada para que a fauna e floral local não sofram, a observação pode ser especifica para um animal, mas se as relações entre as espécies forem abaladas, podemos desequilibrar o meio e prejudicar várias espécies. Segundo Paschoal (2012), assim como ocorre no continente africano, o Brasil vem desenvolvendo safaris para a prática de observação de animais silvestres em seu habitat natural, a onça pintada, Panthera onca, maior felino das Américas sofre com a perseguição de fazendeiros que querem proteger o gado. O Projeto Onçafari, do refúgio Caiman, tenta salvar o felino através do ecoturismo. 
Segundo Mario Haberfeld, idealizador do Onçafari, o objetivo é habituar a onça-pintada aos carros de passeios para que a observação da espécie na natureza seja facilitada. Isso atrairia mais pessoas, aumentaria o interesse dos fazendeiros no turismo de observação de animais, geraria novas oportunidades de emprego para as pessoas da região e ajudaria na conservação do felino e, consequentemente, de seu habitat. “É necessário agregar valor à onça para que ela valha mais viva do que morta.” Com o carro customizado para transportar guia e pessoas para observação das onças no refúgio ecológico Caiman no Pantanal, toda a arrecadação com a observação dos felinos é utilizada para manter o refúgio e cuidar dos animais. O Refúgio Ecológico Caiman (REC), no Pantanal, do empresário Roberto Klabin – fundador e presidente da SOS Mata Atlântica e da SOS Pantanal – foi o lugar escolhido para o início dos estudos. Câmeras foram instaladas nas árvores para identificar as onças que habitavam a fazenda. Algumas fêmeas foram capturadas para a instalação de um colar com GPS, para a determinação do território de cada indivíduo. Uma onça, batizada de Chuva, foi escolhida para iniciar a habituação, pois seu território ficava dentro da fazenda. Isso era uma condição essencial, já que a caça – apesar de ilegal – ainda acontece no Pantanal. Fazer a habituação de um felino que pode entrar em outras fazendas seria um risco para o animal. Ele poderia se aproximar dos caçadores e seria um alvo fácil. Tudo isso está sendo acompanhado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e pelo Cenap (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos e Carnívoros). O meio ambiente é rico e pode ser utilizado como fonte de renda sem que seja degradado, mas devemos tomar cuidado para não gerar estresse, a fauna e flora, de modo a não danificar o curso natural da vida, pois a menor modificação no meio em que vivem estes seres pode ser uma grande transformação e causar grandes desiquilíbrios. A educação ambiental deveria ser uma disciplina de currículo escolar, sendo utilizada para construir um mundo de respeito entre ser humano e natureza, e não como fonte remediadora. A elitização do turismo de observação de animais e do turismo cultural e ecológico ainda se faz necessária, para que os grupos de visitação sejam pequenos e desta forma possam ser controlados para não degradarem o meio ambiente.

O presente ensaio foi baseado nas obras:
Crescimento do turismo de aventura e ecoturismo no brasil. Portal de informações turísticas do Brasil. Disponível em:http://www.viagembrasil.tur.br/NOTICIAS-VIAGEM-814-TURISMO+DE+AVENTURA+E+ECOTURISMO+ESTAO+EM+CRESCIMENTO+NO+BRASIL.htm acesso em 31/10/12.
PASCHOAL, F. Onça-pintada: Projeto Onçafari luta para salvar o felino com o ecoturismo. Blog National Geographic. Disponível em: http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/blog/curiosidade-animal/onca-pintada-ecoturismo-oncafar/ acesso em 31/10/12.
RODRIGUES, G. S.; FEIJÓ, A. G. S. Ética e ecologia: Fundamento para um ecoturismo responsável e eficaz. Anais do Congresso de Ecologia. Disponível em: http://www.seb-ecologia.org.br/viiiceb/pdf/1207.pdf acesso em 02/11/12.
PROJETO ONÇAFARI. Disponível em: http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/blog/curiosidade-animal/onca-pintada-ecoturismo-oncafar/
SOCIEDADE DE DEFESA E PESQUISA AMBIENTAL. VIVA TERRA. Disponível em: http://www.vivaterra.org.br/vivaterra_artigo_tec_2.htm

Uma homenagem à Turma “Natura non facit saltum”



..... “A natureza não dá saltos”  uma frase do filósofo alemão, Gótfrid Laibnitizi em seu livro Princípio da continuidade, uma frase que atravessou as barreiras temporais e culturais e atualmente é usada por diferentes ciências como a biologia evolutiva, a mecânica e a economia; por diferentes grupos sociais - desde os ecólogos em busca do ideal de salvar o planeta, até as religiões em busca de salvar as almas - só no goolge são em torno de 650 mil referências. Na verdade, O propósito de Laibnitizi foi criar uma doutrina compatível com os postulados de todas as correntes filosóficas, desde os filósofos modernos como  Bacon,  Hobbes, e  Descartes, até aos aristotélicos e escolásticos. Laibnitizi afirmava que, assim como a correnteza é a causa do movimento do barco, mas não de seu atraso, também Deus é a causa da perfeição da Natureza, mas não de seus defeitos.
"A natureza não dá saltos"  - Foi usada também para mostrar que não existem gêneros ou espécies  de seres vivos completamente isolados, mas são todos interligados; é um principio que expressa a ideia que a natureza varia continuamente e que os seres vivos, suas características e propriedades mudam mais gradualmente do que abruptamente. A ideia ganhou disseminadores importantes como Lineu que também era adepto da visão de que a natureza avança aos poucos - do inanimado aos animais - sendo desta forma impossível  se determinar exatamente o limite de demarcação entre uma espécie e outra. 
“A natureza não dá saltos”  - se refere à continuidade da natureza - como um movimento em perene mutação, cujo fluxo de energia - trocado entre os seres - deve promover o equilíbrio, o qual deve ser prontamente restabelecido assim que alterado. A sabedoria da vida nos propõe desafios e cada um de vocês terá a sua própria história- cujos obstáculos deverão ser superados um a um sem perder a essência do biólogo, ou seja, aqueles dons que os trouxeram até aqui: a curiosidade, a criatividade, a confiança, o espírito cooperativo e principalmente a fascinação e o encantamento pela vida em todas as suas manifestações desde um animal em extinção, às pragas urbanas, aos micro-organismos e até mesmo somente às partes constituintes da vida como os genes e proteínas.
“A natureza não dá saltos”  - considera que o fato de alcançarmos uma meta não quer dizer que chegamos ao final, mas sim a um novo fio constituinte da teia da vida. Viver é um campo aberto de possibilidades, sendo os  erros e conflitos inerentes à condição do ser em evolução. Para tal, ter autoestima é fundamental. Não desanimar diante dos “nãos” - nem tampouco colocar em dúvida a sua capacidade, pois vocês possuem a essência do biólogo, tiveram uma excelente formação técnica e teórica por professores preocupados em formar profissionais e, além disso, se desenvolveram em um ambiente acolhedor que se preocupou em dar a vocês uma base humanística e ética enaltecendo-os como cidadãos críticos e participativos.  


“A natureza não dá saltos”  - Logo, é possível o tão sonhado emprego não esteja tão à mão, mas ele existe! Nas comemorações dos 60 anos do Curso de Biologia, tivemos a oportunidade de rever inúmeros ex-alunos em excelentes colocações no mercado de trabalho. Estamos em um momento em que a sociedade precisa do Biólogo, mais do que nunca! A vida nas grandes cidades distancia o homem da natureza, as pessoas não se sentem responsáveis pelas consequências do desenvolvimento tecnológico, pois não vêm de onde vem a energia que consome e nem para onde vai os resíduos gerados. Incomodam-se com os animais e vírus que trazem dano a sua saúde ou com as variações climáticas, chuvas, tornados que destroem suas construções. É nesse cenário que devemos atuar, subsidiando o bem-estar humano e todas as conquistas decorrentes do desenvolvimento tecnológico, com o menor impacto possível na natureza; prezar pela sobrevivência dos ecossistemas, pelo bem-estar dos animais e pela saúde do planeta e do homem. A pesar de termos a sensação que todo mundo pensa como a gente, pois vivemos rodeados de biólogos, na verdade somos muito poucos, mas com uma missão muito grande, que deve ser conquistada aos poucos.

“A natureza não dá saltos”  - Por isso, meu conselho de madrinha é que vocês cultivem a humildade, a coragem e a fé para aceitar os presentes e a missão que a vida lhe der. E se em um primeiro momento não der pra fazer aquilo que se ama, ame aquilo que você faz e faça bem feito, com seriedade, comprometimento e principalmente com ética. O pesquisador esteja ele no mundo acadêmico ou não, seja cientista ou técnico vai - passo a passo - em busca do conhecimento, sendo seduzido pelo desconhecido. É gratificante provar para si próprio que o impossível não existe, e que todos os problemas para se fazer pesquisa no Brasil, é apenas mais um teste ao nosso idealismo. De uma certa forma, o pesquisador mantem vivas características muitas vezes destruídas por sistemas que criam profissionais altamente qualificados - quanto a sua técnica - porém desprovido de habilidades em questionar, explorar, não se abater diante das dificuldades, de exercer a criatividade e, por fim, ter aquela sensação indescritível de responder seus próprios questionamentos, de descobrir e de ajudar... Deve-se ter coragem, saber lidar com angústias, ansiedades, expectativas e sonhos. São horas de dedicação, de abdicação de momentos de lazer e com pessoas queridas. Richard Dawkins disse certa vez que o sentimento de admiração  que a ciência pode nos proporcionar é uma das experiências mais elevadas de que a psique humana é capaz. É uma profunda paixão estética que se equipara as mais belas músicas e poesias. É na verdade, uma das coisas que torna a vida digna de ser vivida, função que cumpre - se é que se pode fazer essa distinção - com mais eficácia ainda, quando nos convence de que o tempo que temos para viver é finito.

“A natureza não dá saltos”  deixa claro que nossos genes são ativados em associação com a história individual de cada um nesse planeta tornando-nos deliciosamente e assustadoramente um ser único, porém não solitário. Logo, não é sábio se comparar e comparar a sua história com a de outros seres, pois  a natureza não nos fez assim e isso gera um desequilíbrio desnecessário. Também não é sábio ver o mundo apenas da sua perspectiva, pois embora seja esse o seu parâmetro, isso pode atrapalhar a sua conecção com o outro.
“A natureza não dá saltos”  – nossa única realidade é o presente, o segundo precedente já passou e o próximo segundo ainda não existe. Lógico que tudo que vivemos e nossa expectativa do futuro nos faz quem somos, e iremos colher aquilo que plantarmos.  Por isso como biólogos conhecer nossas condutas, emoções e reações do ponto de vista etológico, biológico e psicológico nos encaminharão para um contexto melhor, embora temos consciência que muito do nosso comportamento é inconsciente - a consciência racional que tanto nos vangloriamos e que usamos para nos diferenciar dos demais animais - deve ser usada com sabedoria para termos e proporcionarmos uma existência melhor para todos os seres. 
“A natureza não dá saltos”  - Por isso é extremamente necessário preservar para evoluir. Como biólogos temos a missão de Manter a vida do planeta.. uma missão audaciosa. É praticamente impossível mudar o mundo de uma hora para outra. Como Bióloga sei que dá uma angústia enorme entender o que a natureza está dizendo. Dá uma vontade de gritar para o mundo o que eles não entendem, mas não é possível mudar o mundo com radicalismo, é preciso re-educar, re-inventar, oferecer conhecimentos, alternativas e novos olhares, só assim, aos poucos, continuamente, iremos conduzindo o mundo para novos paradigmas éticos, foi assim que já conquistamos tantas mudanças na legislação, na sociedade, na economia...  para que algo na natureza passe a ser outra coisa ela tem que passar por todos os graus intermediários que existem entre o que ela é e o que ela vai ser, é como uma criança que para se tornar adulta  tem que passar por todas as fases intermediárias.
“A natureza não dá saltos”  - É... se formar Biólogo, não é de uma hora para outra, exige esforço, foram longos quatro longos anos, muito conteúdo - a biologia é complexa - muitos estágios, muitas pesquisas. Um processo contínuo que transformou vocês de pessoas fascinadas pela vida, em Biólogos sedentos para atuar na nossa sociedade. Vocês sabem que não chegou ao fim, é apenas mais um dos momentos tênues de transição entre diferentes estados da história individual, da história do nosso grupo social, da história do nosso universo... amanhã vocês estarão buscando novos caminhos, continuando os estudos em seus mestrados - ressalva-se que já temos alunos com seu mestrado garantido - outros irão lutar pelo seu espaço no mercado de trabalho. Para alguns será mais fácil, para outros nem tanto, vai depender como vocês irão aplicar a sabedoria expressa no nome de turma de vocês. Hoje vocês gravam seus nomes no livro da vida marcando o início de um futuro de sucesso: Amanda, Carola, Cristiane, Flávia  Santi, Flávia Santos, Giovana, Guilherme, Gustavo, Jéssica Cumin,  Jéssica  Mello, Jonathan, Juliana, Kassiana, Lício, Letícia, Marina, Michel, Marielle e Windy, eu e seus professores aqui representados pelo Julio, Carrano, Patricia, Denise e Rubens temos muito orgulho de podermos ter feito parte dessa história, e temos certeza de que muito em breve estaremos colhendo os frutos de tudo que plantamos. Podem ter certeza que cada sucesso de vocês, por menor que possa parecer, é uma vitória nossa também. De coração desejo a cada um de vocês que a natureza reverencie os seus caminhos da mesma forma que todos os dias vocês também reverenciem a todos os seres vivos (inclusive ao homem!), e respeitem-nos quanto ao seu espaço, seu tempo e suas necessidades, e suas limitações. Descubra passo a passo, pois a natureza não dá saltos - a melhor forma de viver a sua existência e de propiciar uma excelente existência para todos os seres vivos.  E... Sucesso pra nós! 

Hoje acordei com saudades do futuro....



                O post de hoje é uma reflexão de uma entrevista com o geneticista italiano Edoardo Boncinelli veiculada pela revista mente e cérebro deste mês defendendo a ideia – incialmente lançada por Jaques Ruffie - e da qual concordo plenamente - de que o homem nada mais é do que um macaquinho infeliz. Bonicinelli - transitando entre a biologia evolutiva, psicologia e filosofia - reorganiza essa visão nos brindando com elementos para uma boa reflexão a respeito da nossa existência. O ponto principal é o fato de termos dois tipos de infelicidades: a) real – compartilhada com outros animais e motivadora da busca de saciar nossas necessidades biológicas de comer, dormir, reproduzir e viver – b) infelicidade de base ou sem motivo– que seria como uma essência do ser humano e o que leva a buscar sempre novos objetivos e trilhar o rumo da sua evolução.
                Biologicamente sabe-se que o córtex anterior de nosso cérebro é sedento por dopamina, porém depende da produção da mesma pela parte posterior, cujo circuito estabelecido é a base do nosso desejo x satisfação. Em outras palavras, toda vez que desejamos algo e alcançamos, a natureza nos brinda com uma sensação de bem-estar, que funciona como um retroalimentador da nossa existência. Sabe-se também que uma grande decepção leva à produção de endorfinas – um tranquilizante natural - ou também denominadas de substâncias consoladoras - cuja função é restabelecer o equilíbrio. Algumas pessoas produzem mais rapidamente do que outras, caracterizando aqueles indivíduos que precisam de pouca coisa para se sentir satisfeitos. Enquanto que outros estão sempre em busca de satisfação. Logo, embora num primeiro momento possa parecer ruim ser infeliz, a mesma funciona como um estímulo com um relevante papel evolutivo.  Ambos elementos  são extremamente necessários para o bom funcionamento da sociedade, e, obviamente, o temperamento é o condutor do papel social assumido por cada um.
   A capacidade humana de transitar rapidamente pelo passado, presente e futuro - e de usar 2/3 do seu cérebro para comparações, memória, mensurações e para alcançar objetivos abstratos - leva a uma natureza projetual e prospectiva. Provavelmente se fossemos macaquinhos felizes, estaríamos agora pulando de galho em galho, sem a necessidade de traçar objetivos como construir casas, cadeiras, roupas, carros ou naves espaciais. Acreditamos que o que passou sempre foi muito melhor, todos lembram com saudades da infância, acreditam piamente que a vida era melhor há 100 anos. Será mesmo? Ou seria apenas uma forma para confrontar com o presente em busca de novas metas e objetivos para alcançar inalcançável felicidade? A nossa consciência racional considerada por muitos como o grande Ônus da espécie humana - pois representa a ilusória libertação das regras da natureza - é o na verdade o maior cativeiro, pois nos mantem presos no desconforto de uma infelicidade eterna.  Para nós nada nunca será o suficiente para acalmar essa melancolia, esse vazio que caracteriza o ânimo humano. Uma opção é manter a mente ocupada para se esquecer da infelicidade, método comprovadamente eficiente. Na nossa sociedade, aquele que inventa mais maneiras para esquecer, vence! Exercitar nossa consciência racional nos distancia cada vez mais da felicidade. Por isso muitas vezes eu queria apenas ser um porco, ou seja, apenas sentir as emoções, e deixá-las cumprir o seu papel de direcionar as minhas condutas.   A interação entre blocos de milhares de genes – entre si e com os estímulos ambientais - são responsáveis por toda variação de humores que temos entre os seres humanos, tornando-os mais ou menos vulneráveis às suas infelicidades. Variações que além de individual, pode também ter nuances ao longo do dia, dos meses, dos anos, da vida... Algumas pessoas não aguentam e desistem. Boncinelli ressalta o paradoxo entre ser infeliz e querer viver, denominando esse mecanismo como espirito vital ou apego á vida, segundo o autor, não há motivo racional para viver, simplesmente viver é o nosso primeiro e último objetivo real como animais. Desse ponto de vista, não é preciso se sentir tão infeliz diante da sua infundada infelicidade, apenas pense nela como um combustível que conduz a humanidade seu próprio destino. Bonicinelli sabiamente pontua que “Cada espécie desfruta do grau de liberdade que seus genes permitem”, por acidente ou por conquista, cá estamos nós! Talvez apenas os mais infelizes irão refletir sobre a felicidade, escrever sobre ou ela ou até mesmo ler esse texto até o fim... eis o “brinde à infelicidade”