sábado, 12 de janeiro de 2013

Hoje acordei com saudades do futuro....



                O post de hoje é uma reflexão de uma entrevista com o geneticista italiano Edoardo Boncinelli veiculada pela revista mente e cérebro deste mês defendendo a ideia – incialmente lançada por Jaques Ruffie - e da qual concordo plenamente - de que o homem nada mais é do que um macaquinho infeliz. Bonicinelli - transitando entre a biologia evolutiva, psicologia e filosofia - reorganiza essa visão nos brindando com elementos para uma boa reflexão a respeito da nossa existência. O ponto principal é o fato de termos dois tipos de infelicidades: a) real – compartilhada com outros animais e motivadora da busca de saciar nossas necessidades biológicas de comer, dormir, reproduzir e viver – b) infelicidade de base ou sem motivo– que seria como uma essência do ser humano e o que leva a buscar sempre novos objetivos e trilhar o rumo da sua evolução.
                Biologicamente sabe-se que o córtex anterior de nosso cérebro é sedento por dopamina, porém depende da produção da mesma pela parte posterior, cujo circuito estabelecido é a base do nosso desejo x satisfação. Em outras palavras, toda vez que desejamos algo e alcançamos, a natureza nos brinda com uma sensação de bem-estar, que funciona como um retroalimentador da nossa existência. Sabe-se também que uma grande decepção leva à produção de endorfinas – um tranquilizante natural - ou também denominadas de substâncias consoladoras - cuja função é restabelecer o equilíbrio. Algumas pessoas produzem mais rapidamente do que outras, caracterizando aqueles indivíduos que precisam de pouca coisa para se sentir satisfeitos. Enquanto que outros estão sempre em busca de satisfação. Logo, embora num primeiro momento possa parecer ruim ser infeliz, a mesma funciona como um estímulo com um relevante papel evolutivo.  Ambos elementos  são extremamente necessários para o bom funcionamento da sociedade, e, obviamente, o temperamento é o condutor do papel social assumido por cada um.
   A capacidade humana de transitar rapidamente pelo passado, presente e futuro - e de usar 2/3 do seu cérebro para comparações, memória, mensurações e para alcançar objetivos abstratos - leva a uma natureza projetual e prospectiva. Provavelmente se fossemos macaquinhos felizes, estaríamos agora pulando de galho em galho, sem a necessidade de traçar objetivos como construir casas, cadeiras, roupas, carros ou naves espaciais. Acreditamos que o que passou sempre foi muito melhor, todos lembram com saudades da infância, acreditam piamente que a vida era melhor há 100 anos. Será mesmo? Ou seria apenas uma forma para confrontar com o presente em busca de novas metas e objetivos para alcançar inalcançável felicidade? A nossa consciência racional considerada por muitos como o grande Ônus da espécie humana - pois representa a ilusória libertação das regras da natureza - é o na verdade o maior cativeiro, pois nos mantem presos no desconforto de uma infelicidade eterna.  Para nós nada nunca será o suficiente para acalmar essa melancolia, esse vazio que caracteriza o ânimo humano. Uma opção é manter a mente ocupada para se esquecer da infelicidade, método comprovadamente eficiente. Na nossa sociedade, aquele que inventa mais maneiras para esquecer, vence! Exercitar nossa consciência racional nos distancia cada vez mais da felicidade. Por isso muitas vezes eu queria apenas ser um porco, ou seja, apenas sentir as emoções, e deixá-las cumprir o seu papel de direcionar as minhas condutas.   A interação entre blocos de milhares de genes – entre si e com os estímulos ambientais - são responsáveis por toda variação de humores que temos entre os seres humanos, tornando-os mais ou menos vulneráveis às suas infelicidades. Variações que além de individual, pode também ter nuances ao longo do dia, dos meses, dos anos, da vida... Algumas pessoas não aguentam e desistem. Boncinelli ressalta o paradoxo entre ser infeliz e querer viver, denominando esse mecanismo como espirito vital ou apego á vida, segundo o autor, não há motivo racional para viver, simplesmente viver é o nosso primeiro e último objetivo real como animais. Desse ponto de vista, não é preciso se sentir tão infeliz diante da sua infundada infelicidade, apenas pense nela como um combustível que conduz a humanidade seu próprio destino. Bonicinelli sabiamente pontua que “Cada espécie desfruta do grau de liberdade que seus genes permitem”, por acidente ou por conquista, cá estamos nós! Talvez apenas os mais infelizes irão refletir sobre a felicidade, escrever sobre ou ela ou até mesmo ler esse texto até o fim... eis o “brinde à infelicidade”

Um comentário:

  1. Bom ouvir falar de felicidade e tristezas em termos cerebrais, sem condicionar tais estados a um ou a outro. São seus genes, seus neurotransmissores e acasos acumulados em milhares de anos. A tristeza em existir é um fato biológico.

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