O post
de hoje é uma reflexão de uma entrevista com o geneticista italiano Edoardo Boncinelli
veiculada pela revista mente e
cérebro deste mês defendendo a ideia – incialmente lançada por Jaques Ruffie - e
da qual concordo plenamente - de que o homem nada mais é do que um macaquinho infeliz.
Bonicinelli - transitando entre a biologia evolutiva, psicologia e filosofia -
reorganiza essa visão nos brindando com elementos para uma boa reflexão a
respeito da nossa existência. O ponto principal é o fato de termos dois tipos
de infelicidades: a) real – compartilhada com outros animais e
motivadora da busca de saciar nossas necessidades biológicas de comer, dormir,
reproduzir e viver – b) infelicidade de base ou sem motivo– que seria como uma essência do
ser humano e o que leva a buscar sempre novos objetivos e trilhar o rumo da sua
evolução.
Biologicamente
sabe-se que o córtex anterior de nosso cérebro é sedento por dopamina,
porém depende da produção da mesma pela parte posterior, cujo circuito
estabelecido é a base do nosso desejo x satisfação. Em outras palavras, toda vez
que desejamos algo e alcançamos, a natureza nos brinda com uma sensação de bem-estar,
que funciona como um retroalimentador da nossa existência. Sabe-se também que
uma grande decepção leva à produção de endorfinas – um tranquilizante natural - ou também
denominadas de substâncias
consoladoras - cuja função é restabelecer o equilíbrio. Algumas
pessoas produzem mais rapidamente do que outras, caracterizando aqueles
indivíduos que precisam de pouca coisa para se sentir satisfeitos. Enquanto que
outros estão sempre em busca de satisfação. Logo, embora num primeiro momento
possa parecer ruim ser infeliz, a mesma funciona como um estímulo com um relevante papel
evolutivo. Ambos elementos são extremamente necessários para o bom
funcionamento da sociedade, e, obviamente, o temperamento é o condutor do papel
social assumido por cada um.
A capacidade
humana de transitar rapidamente pelo passado, presente e futuro - e de usar 2/3
do seu cérebro para comparações, memória, mensurações e para alcançar objetivos
abstratos - leva a uma natureza projetual e prospectiva. Provavelmente se fossemos macaquinhos
felizes, estaríamos agora pulando de galho em galho, sem a necessidade de
traçar objetivos como construir casas, cadeiras, roupas, carros ou naves
espaciais. Acreditamos que o que passou sempre foi muito melhor, todos lembram
com saudades da infância, acreditam piamente que a vida era melhor há 100 anos.
Será mesmo? Ou seria apenas uma forma para confrontar com o presente em busca
de novas metas e objetivos para alcançar inalcançável felicidade? A nossa
consciência racional considerada por muitos como o grande Ônus da espécie humana - pois
representa a ilusória libertação das regras da natureza - é o na verdade
o maior cativeiro,
pois nos mantem presos no desconforto de uma infelicidade eterna. Para nós nada nunca será o suficiente para acalmar essa
melancolia, esse vazio que caracteriza o ânimo humano. Uma opção é manter a mente ocupada
para se esquecer da infelicidade, método comprovadamente eficiente. Na nossa
sociedade, aquele que inventa mais maneiras para esquecer, vence! Exercitar
nossa consciência racional nos distancia cada vez mais da felicidade. Por isso
muitas vezes eu queria apenas ser um porco, ou seja, apenas sentir as emoções, e deixá-las
cumprir o seu papel de direcionar as minhas condutas. A interação entre blocos de milhares de genes –
entre si e com os estímulos ambientais - são responsáveis por toda variação de
humores que temos entre os seres humanos, tornando-os mais ou menos vulneráveis
às suas infelicidades. Variações que além de individual, pode também ter
nuances ao longo do dia, dos meses, dos anos, da vida... Algumas pessoas não
aguentam e desistem. Boncinelli ressalta o paradoxo entre ser infeliz e querer viver,
denominando esse mecanismo como espirito vital ou apego á vida, segundo o autor, não
há motivo racional para viver, simplesmente viver é o nosso primeiro e último objetivo real como
animais. Desse ponto de vista, não é preciso se sentir tão infeliz diante da
sua infundada infelicidade, apenas pense nela como um combustível que conduz a
humanidade seu próprio destino. Bonicinelli sabiamente pontua que “Cada espécie
desfruta do grau de liberdade que seus genes permitem”, por acidente ou por
conquista, cá estamos nós! Talvez apenas os mais infelizes irão refletir sobre
a felicidade, escrever sobre ou ela ou até mesmo ler esse texto até o fim...
eis o “brinde à infelicidade”
Bom ouvir falar de felicidade e tristezas em termos cerebrais, sem condicionar tais estados a um ou a outro. São seus genes, seus neurotransmissores e acasos acumulados em milhares de anos. A tristeza em existir é um fato biológico.
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