Por Maria Luiza R. Silveira
Pós-graduanda em
Conservação da Natureza e Educação Ambiental
A Zooterapia
vem sendo amplamente divulgada nos últimos anos. Esta prática, que começou nos
Estados Unidos, vem se tornando cada vez mais comum no Brasil, cujos principais
animais utilizados são os cachorros e os cavalos. A equoterapia, por exemplo, já é
amplamente divulgada e reconhecida como tratamento em crianças com Síndrome de
Down, paralisia cerebral e dislexia. Porém, as pessoas desconhecem que a
zooterapia também compreende o uso de produtos animais na
cura de doenças (SILVA et al.,
2003). Muito comum no Nordeste brasileiro,
a medicina popular faz uso de diversos animais no tratamento de diferentes
enfermidades, onde esta prática caracteriza-se como um fenômeno historicamente
antigo e geograficamente disseminado.
Então, vamos por partes.
No primeiro a zooterapia também é conhecida como Terapia
Assistida por Animais (TAA), e consiste em técnicas de reabilitação ou
reeducação de pessoas com alterações físicas, psíquicas, sensoriais ou sociais
(como de comportamento), no qual os animais são usados no tratamento de tais patologias/problemas.
Porém, qual é o efeito desta terapia nos próprios animais? Será que eles também
são beneficiados com tal contato? Alguns defensores dos direitos animais condenam essa
prática, alegando que o homem usa estas espécies para o seu próprio bem-estar,
muitas vezes gerando nos animais estresse, agitação e patologias físicas. Porém,
não é qualquer animal que pode fazer parte da zooterapia. Atualmente, eles são
selecionados de acordo com o temperamento. No caso da cinoterapia
(tratamento com ajuda de cachorros), por exemplo, os cães utilizados têm que
ser dóceis e tranquilos, como os labradores. Nunca esquecendo que animais
domesticados necessitam de atenção e companhia, acredito que a Terapia
Assistida por Animais não prejudica o animal, uma vez que eles necessitam de
companhia e gostam de ser acariciados e abraçados.
Contudo, deve-ser ter
moderação no uso dos animais, sempre respeitando seu tempo de descanso e
fornecendo tratamento adequado. Acredito
que esta terapia ajuda no reconhecimento do animal não somente como sendo um animal
de estimação, mas também exalta as qualidades existentes em cada um deles, de
forma a ajudar a conscientização humana a respeito do bem-estar animal. Deste
modo, acredito que a TAA, quando usada na forma correta (respeitando o animal),
beneficiam-se ambas as partes. Como exemplo da zooterapia
prática, temos a prefeitura de Curitiba e de São Paulo. Em Curitiba, o
zoológico leva pequenos animais até os asilos, hospitais e escolas especiais,
sendo possível acariciar desde chinchilas
a calopsitas. Em São Paulo, a prefeitura
realiza projetos em parques disponibilizando tais tratamentos a quem sentir
necessidade.
Observando-se
o outro lado da Zooterapia, no qual se faz o uso de produtos animais na cura de
doenças, a análise torna-se mais complexa. Os animais, ou partes deles, são
utilizados como fontes de matéria-prima para a fabricação de produtos zooterápicos,
ou seja, a obtenção do “remédio” se dá mediante a utilização do espécime
inteiro, de partes dos seus corpos ou dos produtos extraídos deles, como a
banha e o sebo (gordura), couro, penas, espinhos, fígado, guizo, entre outros, os
quais são utilizados na cura do cansaço (asma), para osteoporose, artrites,
reumatismos, entre outras enfermidades. No nordeste do Brasil, os cavalos-marinhos e
estrelas-do-mar são os animais mais frequentemente utilizados, também sendo
comum o uso de tubarões, cascavéis, tartarugas e baleias (SILVA et al., 2003). Apesar de ser uma prática
presente em todas as culturas humanas, a meu ver, esta forma de zooterapia é
prejudicial tanto para os homens quanto para os animais. Para os homens, uma vez que não há estudos
científicos que comprovem a eficácia de tais “medicamentos” no tratamento das
enfermidades, sendo apenas uma prática popular disseminada ao longo do tempo. E
para os animais, que muitas vezes são sacrificados de forma cruel, de modo a
retirar somente a parte de seu corpo que se faz necessária. Deste modo, uma vez
que o sacrifício do animal é necessário para determinada população local, penso
que este deve ser feito da maneira mais indolor e rápida possível, visando
sempre a diminuição do sofrimento destes animais, independente do filo ao qual
este pertença. Também, muitos dos animais utilizados para fim medicinal estão ameaçados
de extinção, como é o caso do peixe-boi, da tartaruga marinha e do
cavalo-marinho. Portanto, acredito que juntamente com a criação de formas de
manejo adequadas para a utilização dos produtos de origem animal, mais estudos
devem ser realizados a fim de comprovar o real valor utilitário destas
espécies, visando a preservação da diversidade biológica.
Visando os aspectos
legais, o Brasil não possui leis específicas para a TAA ou para o uso de
animais em
zooterápicos. Há somente a lei 11.126/2005 e o Decreto-Lei
5.904/2006, os quais versam sobre os cães-guia. Lembrando que o Brasil e os países-membros da
ONU são signatários da Declaração
Universal dos Direitos dos Animais, devemos sempre respeitá-los e tratá-los
da melhor maneira, visando sempre o bem-estar
animal.
O presente ensaio foi
elaborado para a disciplina de Bem-Estar Animal, tendo como base as obras:
Declaração Universal dos
Direitos dos Animais. Disponível em: < http://www.apasfa.org/leis/declaracao.shtml>.
Acesso em: 03 de novembro de 2012.
MOURA,
F.B.P.; MARQUES, J.G.W. Zooterapia popular na Chapada Diamantina: uma medicina
incidental? Ciência & Saúde Coletiva,
2008, v.13.
NETO,
E.M.C. A zooterapia popular no Estado da Bahia: registro de nova espécies animais
utilizadas como recursos medicinais. Ciência
& Saúde Coletiva, 2011, v. 16.
SILVA,
M.L.V.;ALVES,A.G.C.;ALMEIDA, A.V. A zooterapia no Recife (Pernambuco): uma
articulação entre as práticas e a história. Biotemas, 2004, v.17, n.1, p.95-116.
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