A Cura para o HIV: uma questão bioética?


Por Fabricio Azevedo

Mestrando em Bioética e Residente em Infectologia HESP




Um dos grandes desafios da medicina moderna tem sido a busca por uma cura definitiva para o HIV. A técnica de edição genética CRISPR-Cas9 fez um grande avanço nos últimos anos (Xu, 2019). Novos métodos para remover o vírus do corpo dos infectados surgiram com a ajuda desta ferramenta, que pode cortar e alterar o DNA com precisão (Wang, 2016). No entanto, levanta vários problemas bioéticos significativos ao mesmo tempo em que inspira esperança (Ayanoğlu, et. al, 2020). Atualmente os cientistas conseguem inserir ou remover segmentos do DNA usando o CRISPR-Cas9, uma técnica que funcionaria como uma "tesoura genética", permitindo aos cientistas editar os genes de maneira mais fácil (Ran, 2013). Para promover a cura do HIV, essa técnica tem sido utilizada com o intuito de remover o DNA integrado às células do infectado. Isso poderia remover completamente o vírus das células infectadas, resultando na cura da doença (Yin et al., 2017) . Os primeiros ensaios com CRISPR-Cas9 para combater o HIV deram resultados positivos em laboratório. Em alguns casos, os cientistas conseguiram extrair o DNA viral de células cultivadas in vitro. Além disso, pesquisas em modelos animais mostraram que a modificação genética pode impedir que o vírus funcione, diminuindo sua carga até que seja quase impossível de detectar (Dash, 2023). Contudo a aplicação dessa tecnologia em seres humanos apresenta muitos obstáculos. 

Como objetivo principal teríamos que garantir que a edição do DNA seja realizada sem causar efeitos colaterais perigosos ou mutações indesejadas. O sistema imunológico humano é complexo e uma alteração no DNA pode levar a resultados imprevistos e potencialmente graves (Lander, 2015). Existem preocupações bioéticas significativas além dos riscos técnicos. Por exemplo, a possibilidade de edição genética em humanos levanta dúvidas sobre consentimento informado. Antes de se submeterem a tais procedimentos, os pacientes devem compreender plenamente os riscos e benefícios possíveis. Isso é particularmente difícil em locais onde há recursos de saúde e educação limitados (Jinek et al., 2012). Também preocupa-se com a distribuição equitativa desses tratamentos sofisticados. Tratamentos de ponta, como os que envolvem CRISPR-Cas9, podem ser caros e, portanto, muitos indivíduos de baixa renda ou em áreas menos desenvolvidas não podem pagar por eles. Isso tem o potencial de aumentar as disparidades na saúde global, uma questão moral que não pode ser ignorada (Adli, 2018). A possibilidade de uso indevido da tecnologia é outra preocupação bioética. Embora o foco atual seja o tratamento de doenças, a mesma abordagem pode ser usada para alterações genéticas não terapêuticas, como mudanças nas características físicas ou melhorias nas habilidades físicas ou mentais. Portanto, é essencial estabelecer limites morais para o uso de CRISPR (Caplan et al., 2015)

É muito importante discutir quem deve comandar essa tecnologia. O governo, as organizações internacionais de saúde ou os conselhos de ética devem ser os responsáveis? A regulação adequada é essencial para evitar abusos e garantir que a criação e implementação dessas terapias sejam feitas de maneira ética e segura (Charo, 2015). Além disso, a aplicação do CRISPR-Cas9 no HIV pode criar uma nova era de doenças infecciosas ou genéticas. O sucesso neste caso poderia motivar mais financiamento e pesquisas em terapias genéticas, mas também intensificaria a discussão moral sobre a modificação genética em humanos. Para que sejam consideradas as diferentes perspectivas e valores, a sociedade em sua totalidade deve participar desses debates (Baltimore, 2024). Por fim, para garantir que os avanços no tratamento do HIV sejam realizados de maneira responsável, é fundamental que a comunidade científica, os pacientes, os legisladores e o público em geral trabalhem juntos enquanto caminhamos na fronteira da ciência com tecnologias como CRISPR-Cas9. O futuro dessas intervenções revolucionárias dependerá de como equilibrar os benefícios bioéticos com os riscos (Marchant, 2021).

O Início Do Fim: Extinção Das Espécies


Andrea Duarte Pinto
Enfermeira pela UFPR e Advogada - Bacharel em Direito pela PUC-PR;

Barbara Prebianca Hofstaetter 
Bacharel em Direito pela PUC-PR;

Michelle Cristine Herrmann
 Médica pela UNIOESTE - Cascavel, Clínica Médica pelo Hospital Universitário do Oeste do Paraná e Oncologista Clínica pela UOPECCAN.

Nova extinção em massa. Humanos aceleram em 35 vezes desaparecimento de espécies A reportagem acima aborda sobre como as ações humanas contribuem para aumentar e acelerar o desaparecimento de espécies no planeta Terra. A extinção de espécies é ocasionada pela própria natureza como consequência de eventos naturais ou através da seleção natural. Destaca-se que extinções naturais são comuns no decorrer da história do planeta e as razões para isso são diversas.
Entretanto, um grande marco para a extinção das espécies encontra-se na ação gananciosa após a revolução industrial. Com a evolução e a globalização, os humanos foram testando os limites da natureza, atuando de forma desenfreada, sem pensar nela como algo a ser preservado, tudo em nome do progresso e do desenvolvimento. (Fischer; Cunha; Renk; Sganzerla e Santos, 2017)
A ética ambiental tem origem filosófica colocando o meio ambiente como foco. A ciência inicialmente tentou dominar a natureza numa posição hierárquica, o que foi considerado até certo ponto necessário para nossa evolução enquanto sociedade, porém essa relação de exploração extrativista, está relacionada com a falta de ética ambiental. Portanto, a exploração do ambiente num mundo globalizado de maneira desestruturada configura um problema ético ambiental. (Cruz, 2015)
O surgimento da ética ambiental aconteceu após o aumento dos movimentos ecológicos dos anos 60. Veio para garantir e preservar a natureza, tendo em vista que com o aumento da exploração e do desenvolvimento, se percebeu que a natureza é finita. Com isso, veio a necessidade de preservação, e esse é o grande problema ético, dado que reconhecida a finitude da natureza se declara a possibilidade de colocar em risco a própria sobrevivência humana. (Fischer; Cunha; Renk; Sganzerla e Santos, 2017)
Nessa perspectiva, pode-se considerar a ação humana como sendo sujeito moral, que sendo um agente que é responsável por suas próprias ações, acaba por intervir de forma desordenada na natureza, meio ambiente e nas espécies atingidas por desastres, ou até mesmo extinção, como sendo os pacientes morais.
O princípio da solidariedade encontra-se insculpido no artigo 13° da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos da UNESCO (DUBDH). Sua racionalização está diretamente ligada ao direito social. Entretanto, ao final do século XIX a solidariedade deixou de se confundir com a caridade e de filantropia. (Alves,2008)
De um lado há o princípio da solidariedade intergeracional. Por outro lado, a consciência de uma solidariedade entre os seres naturais é originada pelas ameaças à vida decorrentes do processo evolutivo da civilização. (Ianegitz, 2018)
A solidariedade transgeracional, que é a responsabilidade que as gerações atuais têm de preservar o meio ambiente e garantir que as gerações futuras possam usufruir dele, é um direito metaindividual, que são direitos coletivos que transcendem o interesse individual e se estendem a toda sociedade, o qual está garantido no artigo 225 da Constituição Federal.
Em maio de 2015, o papa Francisco publicou a "Encíclica Laudato Si " que dentre os temas aborda a contínua mudança da humanidade no planeta e seus contrastes. Nesse documento, o papa relaciona um comparativo com a rapidez das ações humanas e a lentidão da evolução biológica, levando a rápida deterioração do mundo e da qualidade de vida, além de formar uma desigualdade ambiental planetária. Assim, há uma crítica quando cita que os mais pobres são os maiores prejudicados, não desfrutando dos benefícios que a exploração da natureza traz, além de fortemente criticar os países centrais que buscam mecanismos para continuar sua exploração. Ainda, no próprio laudato, há uma súplica para que o ser humano respeite a natureza, afirmando que a bíblia fala de solidariedade entre Homens e sobre ajuda aos animais necessitados, não sendo a bíblia um livro com uma visão antropocentrista (Bergoglio, 2015).
Assim, pode-se afirmar que essa interseção de assuntos, interdisciplinaridade que a bioética normalmente faz, ela também faz com a bioética ambiental. (Fischer; Cunha; Renk; Sganzerla e Santos, 2017)
Nós como futuras bioeticistas acreditamos que devemos reconhecer nossa responsabilidade em relação às espécies e garantir que as futuras gerações tenham acesso à natureza de uma forma íntegra. Dessa maneira, devemos cuidar de nossas atitudes realizadas agora, não com enfoque de que seja tudo paralisado, mas permitir que ocorra a evolução humana com ponderação de forma equitativa, na qual gere bem-estar para os humanos e para toda natureza de um modo geral. Equilíbrio é a palavra a ser seguida para um bom relacionamento.

O presente ensaio foi produzido para disciplina de Bioética Ambiental do programa de Pós-Graduação em Bioética da PUC-PR tendo como base as obras:

BERGOGLIO, Jorge Mario. CARTA ENCÍCLICA LAUDATO SI’: Sobre o Cuidado da Casa Comum. Disponível em https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html. 2015. Acesso em: 14 de novembro de 2023.



CRUZ, Luiz Henrique Santos Da. A ÉTICA AMBIENTAL: A BUSCA PARA UMA SUSTENTABILIDADE EFETIVA. Percurso, 2015. Disponível em: http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/percurso/article/view/3628/371372003. Acesso em: 24 de outubro 2023.

FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente: a dimensão ecológica da dignidade humana no marco jurídico constitucional do Estado Socioambiental de Direito, 2008

FISCHER, Marta Luciane; CUNHA, Thiago; RENK, Valquiria; SGANZERLA, Anor; SANTOS, Juliana Zacarkin dos Santos. Da ética ambiental à bioética ambiental: antecedentes, trajetórias e perspectivas. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v.24, n.2, p.391-409, abr.-jun. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-59702017000200005 . Acesso em: 25 out. 2023.

GARRAFA, V.; SOARES, S.P. O princípio da solidariedade e cooperação na perspectiva bioética. REVISTA BIOETHIKOS do CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO. Disponível em http://www.saocamilo-sp.br/pdf/bioethikos/105/1809.pdf . Acesso em 20 de novembro de 2023

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL. O princípio da solidariedade na esfera bioética: identidade pessoal e gerações futuras. Disponível em https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fadir/article/view/5160. Acesso em 15 de outubro de 2023

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Atividades humanas são as maiores causas da extinção de espécies. Disponível em https://www.ufsm.br/midias/experimental/integra/2022/02/06/atividades-humanas-sao-as-maiores-causas-da-extincao-de-especies. Acesso em 15 de outubro de 2023.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE AMBIENTAL COMO DEVER FUNDAMENTAL. Disponível em https://www.univali.br/Lists/TrabalhosMestrado/Attachments/2396/RAFAELI%20IANEGITZ.pdf . Acesso em 15 de outubro de 2023

“Panelinha” ou Estratégia de Sobrevivência? Uma Perspectiva Científica a Respeito da Formação de Grupos Sociais.


Por Cecília Oliveira de Aguiar, Maynara Cherobin Martins, Raphaella Fornazari e Tatiane Mie Arakaki Moraes da Silva

Formandas de Biologia



Posicionamento político, referência de carreira, espiritualidade, vício em substâncias, capacidades e dificuldades intelectuais e desordens psiquiátricas são algumas das diversas características que têm influência genética e moldam quem nos tornamos ao longo dos anos. São vários os genes que somados são capazes de interferir na herança da personalidade, mesmo que de forma mínima. No entanto, sabemos que as experiências vivenciadas e as situações encontradas no ambiente contribuem, e muito, para a formação da personalidade (Nerdologia, 2017).
Acredita-se que a influência seja de 50% dos genes e 50% do ambiente, desta segunda metade, segundo Harris (1995), a atuação é muito maior dos ambientes não compartilhados com aqueles que nos criam, como por exemplo a escola, do que o ambiente familiar. Isso porque, durante a formação de vínculos, a personalidade desenvolvida dependerá muito mais do papel que aquele indivíduo desempenha no grupo. Em outras palavras, no caso de uma criança em fase de desenvolvimento, ela precisará se adaptar aos ambientes em que se é inserida, não necessariamente parecidos com a realidade encontrada em casa, dessa forma ela cria a sua própria personalidade (Nerdologia, 2017).
Sendo assim, a personalidade ditará os grupos sociais que temos afinidade e que nos dê a sensação de pertencimento. São inúmeros os grupos sociais que se encontram em diversas esferas da sociedade e culturas, como, por exemplo, a música, na qual cada um consome estilos musicais que mais lhe agrada e se aproximam de pessoas que compartilham deste gosto. Instintivamente ou não, esse hábito de formação de grupos na sociedade ocorre a todo momento, nos unimos com quem nos é parecido ou nos adaptando para se associar a um determinado grupo.
Não muito diferente pode ser observado na natureza, na qual, animais também formam alianças como estratégia de sobrevivência. A exemplo tem-se, pássaros em formação “V”, grupos de suricatos vigias (SOUZA JUNIOR et al, 2018) e cardumes de peixes (SUZUKI et al. 2008). São comportamentos coletivos mas que buscam a sobrevivência individual. Outro exemplo interessante é o caso das larvas dos insetos do gênero Perreyia, que pertencem à ordem Hymenoptera, são larvas que andam em grupo e fazem isso para parecerem maiores e afugentar predadores, estratégia essa que não seria eficaz caso fossem solitárias.

Quando nos sentimos pertencentes ou acolhidos por alguém, uma série de reações biológicas, mentais e fisiológicas podem ocorrer no nosso corpo:
1. Liberação de hormônios de bem-estar: Ser agregado em um grupo social pode desencadear a liberação de hormônios como a oxitocina, conhecida como o "hormônio do amor" ou "hormônio do apego". Esse hormônio está associado à promoção de sentimentos de confiança, empatia e conexão social.
2. Redução do estresse: O sentimento de pertencimento pode reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, no organismo. Isso pode levar a uma diminuição da ansiedade e da sensação de ameaça, contribuindo para uma sensação geral de calma e segurança. Isso pode influenciar positivamente o sistema nervoso autônomo, levando a uma redução na atividade do sistema nervoso simpático, responsável pela resposta de "luta ou fuga". Isso resulta em um estado mais relaxado e menos ansioso. A interação social positiva e o apoio emocional proporcionados pelo grupo também podem modular a liberação de outros neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, que estão associados ao prazer e ao bem-estar emocional.
3. Fortalecimento do sistema imunológico: Relacionamentos positivos e sentimentos de pertencimento podem fortalecer o sistema imunológico. A redução do estresse e a liberação de hormônios associados ao bem-estar podem contribuir para uma melhor resposta imunológica.
4. Melhora no humor e na saúde mental: Sentir-se pertencente ou acolhido por alguém está associado a uma melhora no humor e na saúde mental. Relacionamentos positivos podem promover uma sensação de felicidade, satisfação e apoio emocional, reduzindo os sintomas de depressão e ansiedade.
5. Aumento da autoestima e autoconfiança: Quando nos sentimos aceitos e valorizados por outros, é mais provável que tenhamos uma visão mais positiva de nós mesmos.
6. Melhora na regulação emocional: Relacionamentos saudáveis fornecem um espaço seguro para expressar emoções, o que pode contribuir para uma melhor compreensão e gestão das mesmas.
Essas são algumas das maneiras pelas quais a sensação de fazer parte de um grupo social pode influenciar positivamente nosso corpo, mente e saúde em geral. Ter relações interpessoais saudáveis e significativas é essencial para o bem-estar. Em contrapartida, a rejeição pode, em alguns casos, aumentar a busca por afiliação e aceitação em outros grupos ou relações. Isso pode ser comparado a animais que, quando excluídos de um grupo, procuram novas associações sociais para satisfazer suas necessidades sociais. Do ponto de vista etológico, o sentimento de rejeição pode desencadear respostas comportamentais e emocionais que, em muitos aspectos, refletem adaptações evolutivas para lidar com situações sociais desafiadoras. As respostas à rejeição podem variar amplamente entre os indivíduos, mas muitas delas podem ser entendidas dentro do contexto da evolução e sobrevivência social.
A formação de grupos é um fenômeno fundamental para a sobrevivência e a evolução de diversas espécies, incluindo os seres humanos. Este processo amplamente estudado e documentado em campos como a biologia, psicologia e sociologia, apresenta inúmeras vantagens que corroboram a necessidade intrínseca de se agrupar.
Em primeiro lugar, a formação de grupos proporciona uma maior proteção contra ameaças externas. Nos reinos animal e humano, a coesão grupal aumenta a capacidade de defesa contra predadores. Esta proteção é resultante da força coletiva, onde indivíduos agem de forma colaborativa para assegurar a segurança do grupo como um todo.
Além disso, a formação de grupos está associada à otimização de recursos. A cooperação entre os membros permite a partilha de conhecimentos e habilidades, por exemplo, entre os primatas, a formação de grupos facilita a obtenção de alimentos, proteção de território e cuidado com os filhotes.
Do ponto de vista evolutivo, a formação de grupos desempenha um papel crucial na seleção natural. A tendência de se agrupar e cooperar entre indivíduos de uma mesma espécie é um traço evolutivo vantajoso, selecionado ao longo do tempo devido aos benefícios oferecidos em termos de sobrevivência e reprodução.
É importante ressaltar que estudos científicos indicam que até mesmo em sociedades humanas modernas, a formação de grupos continua sendo uma parte integral do nosso comportamento social. Desde comunidades locais até organizações globais, a capacidade de nos agruparmos e colaborarmos é a base para avanços tecnológicos, desenvolvimento econômico e inovação.
Em síntese, a formação de grupos é um fenômeno profundamente enraizado na história evolutiva das espécies, incluindo a nossa própria. Seja no reino animal ou humano, a coesão grupal representa uma estratégia adaptativa essencial para a sobrevivência, oferecendo vantagens em termos de proteção, cooperação, desenvolvimento social e evolução.
Como formandas em biologia pontuamos pelo texto a influência genética e ambiental na formação da personalidade, destacando a importância das experiências vivenciadas e do ambiente na moldagem do indivíduo. A discussão se aprofunda na ideia de que, embora os genes desempenham um papel significativo, a metade restante da formação da personalidade é fortemente influenciada por ambientes sociais. A personalidade, por sua vez, orienta a escolha de grupos sociais, evidenciando um padrão instintivo de busca por semelhanças e adaptação a diferentes ambientes. A comparação com comportamentos coletivos na natureza, como a formação de grupos de animais, reforça a ideia de que a formação de grupos é fundamental para a sobrevivência e evolução. O texto argumenta que a coesão grupal proporciona proteção, otimização de recursos, desenvolvimento social e emocional, destacando a importância contínua da formação de grupos na sociedade humana, desde comunidades locais até organizações globais, como uma parte integral do nosso comportamento social e evolutivo.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina Biologia e Evolução do Comportamento Animal e teve como base as obras:

HARRIS, J. R. Where is the child’s environment? A group socialization theory of development. Psychological Review, v. 102, n. 3, p. 458–489, 1995. Disponível em: https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/0033-295X.102.3.458 Acesso em: 18 nov. 2023.

NERDOLOGIA. O que dá nossa personalidade?, 2017 Youtube Disponível em: https://youtu.be/fiXPdWAmFyI?si=P6pzuGdJUBEX3pQG Acesso em: 18 nov. 2023.

SOUZA JÚNIOR et al. Osteologia do membro torácico de Lycalopex gymnocercus Fischer, 1814 (Carnivora, Mammalia): abordagens comparada, radiográfica e osteométrica. Pesquisa Veterinaria Brasileira, v. 38, n. 1, p. 195–221, 1 jan. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1678-5150-PVB-5270 Acesso em: 19 nov. 2023.

SUZUKI, Fábio M. e Orsi, Mário L.. Formação de cardumes por Astyanax altiparanae (Teleostei: Characidae) no Rio Congonhas, Paraná, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 2008, v. 25, n. 3, pp. 566-569. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-81752008000300026 Acesso em: 19 nov. 2023.

Espiritualidade e comportamento

 por Isabella Karine Bueno, Laíse Dec Salvego e Mikhaela Muller.


Formandas em biologia


Matéria:https://claudia.abril.com.br/noticias/cientistas-exploram-o-poder-de-cura-da-energia-das-maos

Mas será que a espiritualidade tem o poder de curar doenças? Um experimento realizado pela Faculdade de Medicina da USP, usou o reiki para testar se era possível com ele curar o câncer em ratos. Os ratos dos experimentos foram divididos em três grupos: um que não passou por tratamento algum, outro que foi tratado pela imposição de mãos do reiki, por 10 minutos diariamente e outro que ficou coberto por luvas térmicas. Foi demonstrado que os ratos que receberam reiki tiveram a capacidade de destruir os tumores pelo o seu sistema imunológico. Matérias com títulos com os abaixo noticiaram os resultados da pesquisa (GARÉ, 2008).Religião e espiritualidade são conceitos relacionados, mas têm diferenças distintas que definem suas características e abordagens. Em primeiro lugar, uma religião é geralmente uma estrutura organizada de rituais e práticas compartilhadas por um grupo de pessoas. Ela muitas vezes inclui uma posição de líderes religiosos, textos sagrados e uma comunidade de seguidores que aderem a um conjunto específico de doutrinas e dogmas. A religião tende a fornecer orientações claras sobre como adorar, o que é certo e errado e como se relacionar com um ser supremo ou divino. (ALVES, 2010).
Por outro lado, a espiritualidade é uma experiência pessoal e subjetiva de busca de significado, propósito e conexão. Ela não está necessariamente ligada a uma religião, e as pessoas espirituais podem adotar uma variedade de opiniões e práticas. A espiritualidade valoriza a experiência individual, a introspecção e a conexão pessoal, e não é limitada por dogmas ou estruturas religiosas formais (SOAREAS, 2019). A espiritualidade pode ser praticada de maneira mais flexível e informal, como meditação, oração individual ou contemplação da natureza. Além disso, a espiritualidade pode ser uma jornada solitária ou compartilhada com outros de maneira mais fluida (PANZINI, 2007).
Quando se trata do poder de cura da espiritualidade, muitas pessoas acreditam que a espiritualidade pode ter um impacto positivo na saúde física, emocional e mental, ajudando para a cura de algumas enfermidades como, bem- estar emocional (ajudando as pessoas a enfrentar desafios emocionais), redução do estresse (a prática de meditação pode ajudar a reduzir o estresse e promover a tranquilidade mental, podendo diminuir os níveis de cortisol), resiliência (a espiritualidade pode ajudar as pessoas a desenvolver a capacidade de lidar com adversidades de maneira eficaz), promoção de hábitos saudáveis (algumas tradições espirituais enfatizam a importância de cuidar do corpo como um templo sagrado) entre muitas outras coisas (DI BIASE & ROCHA & SÉRGIO, 2004).
Porém, ainda são necessários mais estudos com relação a prática, pois ainda não existem evidências suficientes que apoiem tal resultado. Outros 205 estudos com uso da prática de reiki foram analisados em uma revisão de literatura publicada em 2008, e essa mostrou que apenas nove desses estudos utilizaram bons critérios de metodologia de análise. Assim, pode ser que o reiki realmente tenha efeitos positivos no tratamento de doenças, mas ainda são necessárias análises mais criteriosas dos resultados (GARÉ, 2008).
Apesar de ainda não existir comprovação científica sobre a validade da espiritualidade na cura de doenças, é claramente observado os efeitos dela na sociedade. Ainda não se sabe se outros animais além dos seres humanos utilizam da espiritualidade em suas relações sociais, mas nos seres humanos ela vem como um ferramenta de formação de grupos e de identificação, em que cada indivíduo sente no que deve acreditar e encontra um grupo social com as mesmas crenças e isso fortalece as relações entre indivíduos. A espiritualidade tem mais relação com o psicológico, já que vai da experiência de cada pessoa, porém na evolução, como componente etológico, foi possível ver civilizações inteiras crescendo em torno da espiritualidade, de uma crença.
A espiritualidade é uma característica humana, a complexidade da mente humana foi capaz de desenvolvê-la. Como futuras biólogas entendemos que ela é uma maneira de bem-estar em que os indivíduos se sentem parte de um grupo, algo importante para a vida em sociedade. Além disso, apesar de não existirem provas da espiritualidade em outros animais é algo interessante de ser explorado e talvez descoberto.

Esse estudo foi elaborado para a disciplina de Biologia e Evolução do Comportamento Animal, tendo como base as obras:


ALVES, Rubem A. O que é religião?. Edições Loyola, 2010.
DI BIASE, Francisco; ROCHA, Mario Sergio; SÉRGIO, M. Ciência Espiritualidade e Cura. Psicologia Transpessoal e Ciências Holísticas, Rio de Janeiro: Editora Qualitymark, 2004.
PANZINI, Raquel Gehrke et al. Qualidade de vida e espiritualidade. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 34, p. 105-115, 2007.
GARÉ, Ricardo Rodrigues. Efeitos do reiki na evolução do granuloma induzido através da inoculação do BCG em hamsters e do tumor ascítico de Ehrlich induzido em camundongos. 2008. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
SOARES, Alice Ribeiro Soares Ribeiro; SABIÃO, Roseline; FERREIRA, Guilherme. Psicologia, religião e espiritualidade. Psicologia e Saúde em debate, v. 5, n. Suppl. 1, p. 43-51, 2019.

Aborto: Um problema social? ou uma situação comum natural?

por Felipe Campos Pizzatto, Felipe Martins Corrêa e Rafael Ramiro Pajenkamp.

Formandos de biologia


No cenário brasileiro, destaca-se o recente caso de uma menina de 10 anos, cuja identidade permanece anônima, na região de São Mateus, Espírito Santo, que engravidou após ser violentada pelo próprio tio. O Tribunal de Justiça autorizou o aborto, considerando o risco da gestação em sua idade. Este episódio traz à tona a complexidade do debate sobre o aborto no Brasil. Paralelamente, é relevante mencionar que no Nordeste, especificamente no Recife, a saúde pública lida com casos similares sem a necessidade de intervenção judicial, seguindo o protocolo do Ministério da Saúde. Este contraste destaca a urgência de discutir o apoio a vítimas de estupro e o papel da saúde em casos sensíveis como esse, em meio a um contexto em que o tema do aborto se torna palco de jogos políticos e polarizações ideológicas.
A análise abrangente dos condicionantes biológicos, etológicos e sociais do aborto no Brasil destaca a complexidade do tema e a necessidade imperativa de uma abordagem multidisciplinar para compreender e enfrentar esse desafio. A questão do aborto e sua possível descriminalização no país permanecem em pauta, suscitando debates intensos. Dados alarmantes evidenciam que o aborto é uma séria questão de saúde pública, resultando na trágica morte de milhares de mulheres em procedimentos clandestinos. Somente em 2020, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 80.948 procedimentos após abortos mal-sucedidos, seja por causas provocadas ou espontâneas, ressaltando a urgência de abordagens legais e seguras para evitar riscos à vida das mulheres.

Com relação à situação do aborto no Brasil, é comum que diversos grupos sociais sejam desenvolvidos em decorrência de diferenças ideológicas, como os grupos pró-escolha, pró-vida, religiosos, comunidades de fé, entre outros. Esses grupos funcionam como maneiras de impor seus pensamentos sobre o que este grupo concorda em relação a uma situação em comum movimentando milhões de pessoas para lutar ao direito a vida destas “crianças”, como no caso em questão que foram realizadas manifestações na frente do hospital onde a menina realizara o procedimento, oque demonstra uma proposta de intervenção dos direitos das mulheres e meninas que sofre de abusos de terem um controle sobre suas próprias vidas. Sendo afetadas tanto em situações como a citada, quanto em qualquer situação social que esta informação acabe por ser dispersa.
Ao avaliarmos o aborto dentro dos animais, podemos encontrar o aborto natural que pode ocorrer devido a uma variedade de fatores, como doenças, lesões, estresse, má nutrição e, entre outros. Em alguns casos, o aborto natural pode ser uma forma de conservar energia em reprodução, no caso de produzirem mais descendentes do que o necessário para compensar as perdas que ocorrem durante o desenvolvimento, além disso também sendo observado o caso de fêmeas principalmente de primatas quando à uma troca de alfas algumas fêmeas se alimentam de plantas abortivas para serem melhor tratadas dentro do grupo.
Contudo podemos expressar que o aborto é um tema polêmico no Brasil e em todo o mundo, e a sua legalidade é um assunto em debate. A Constituição Federal de 1988 estabelece a laicidade do Estado, que deve se manter imparcial no sentido de religiosidade e o direito como um todo. No entanto, a legislação brasileira atual criminaliza o aborto, com exceção de três situações específicas: risco à vida da mulher, gravidez resultante de estupro e feto anencefálico. Em 2016, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o aborto não deve ser considerado crime quando realizado nos primeiros três meses de gestação. Em setembro de 2023, o STF está considerando um caso que poderia descriminalizar o aborto até as doze semanas de gestação.
A questão do aborto é complexa e envolve questões éticas, religiosas, políticas e de saúde pública. A descriminalização do aborto é um assunto em debate em todo o mundo, e muitos países já legalizaram o procedimento em algumas circunstâncias. No Brasil, a criminalização do aborto tem sido criticada por grupos de direitos humanos, que argumentam que a proibição do procedimento coloca em risco a vida e a saúde das mulheres, especialmente as mais pobres e vulneráveis. Por outro lado, grupos religiosos e conservadores argumentam que o aborto é um ato imoral e que a vida começa na concepção.
No entanto, ao refletirmos sobre o tema do aborto, nós, como futuros biólogos, reconhecemos a complexidade intrínseca desse assunto que transcende as fronteiras da biologia para alcançar esferas éticas, sociais e políticas. Defendemos a perspectiva de que a decisão sobre a continuidade ou interrupção de uma gravidez deve ser uma escolha individual da mulher, baseada em suas circunstâncias únicas, saúde mental e física. Acreditamos que a autonomia sobre o próprio corpo é um direito fundamental da mulher, e impor decisões alheias sobre seu destino reprodutivo é uma violação desse direito. Como defensores da ciência e da saúde, encorajamos uma abordagem mais aberta e inclusiva para lidar com a questão do aborto, respeitando as escolhas individuais das mulheres e promovendo um ambiente que assegure cuidados adequados e apoio psicológico quando necessário.


O presente ensaio foi elaborado para disciplina Biologia e Evolução do Comportamento animal baseado nas obras:



Freire. D. GAZETA DO POVO. Manifestação contra o aborto reúne multidões em cem cidades brasileiras. 2023. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/manifestacao-contra-o-aborto-reune-multidoes-em-cem-cidades-brasileiras/>. Acesso em: 15 nov. 2023.

HUMAN RIGHTS WATCH. Brazil: Descriminalize Abortion. 2018. Disponível em: <https://www.hrw.org/news/2018/07/31/brazil-decriminalize-abortion>. Acesso em: 15 nov. 2023.

Jiménez, C. EL PAÍS. Menina de 10 anos violentada faz aborto legal, sob alarde de conservadores à porta do hospital. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2020-08-16/menina-de-10-anos-violentada-fara-aborto-legal-sob-alarde-de-conservadores-a-porta-do-hospital.html>. Acesso em: 15 nov. 2023.

Langer. A. Harvard School of Public Health. The negative health implications of restricting abortion access. 2021. Disponível em: <https://www.hsph.harvard.edu/news/features/abortion-restrictions-health-implications/> Acesso em: 15 nov. 2023.

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