Novo artigo Achatina fulica -


Não pensem que sumi... apenas estou me adaptando a uma nova vida... logo logo estarei de volta levantando novas reflexões sobre o comportamento... e minhas aventuras virtuais no wii, colheita maldita e viajando pelo mundo com the sims 3...

Por hora indico um novo artigo sobre o caramujo gigante africando e autoria de Eduardo Colley e Marta Fischer (para acessar só clicar no titulo do post). Esse artigo é muito interessante, pois trata da reflexão sobre os problemas enfrentados no manejo de uma "praga" exótica, mesmo seu potencial de impacto ser conhecido a mais de um século e no mundo todo....

Estratégias Sexuais: Como as fêmeas escolhem seus parceiros







Acabei de ler um livro fantástico da jornalista científica Mary Batten. Estava procurando um presente de aniversário para a Marcia e confesso que não botei fé quando encontrei esse livro na sessão de auto-ajuda de uma livraria popular e ainda escrito por uma jornalista. Surpreendi-me! a obra é um excelente start para quem quer trabalhar com comportamento reprodutivo de qualquer animal, pois a autora faz uma excelente revisão de livros e artigos e traz uma abordagem completa das estratégias reprodutivas traçando um paralelo entre os invertebrados, vertebrados, primatas e o ser humano. Para o homem traz também uma abordagem antropológica comparando pesquisas realizadas com tribos, comunidades de países subdesenvolvidos e estudos atuais com a população de grandes cidades. Gostei muito da forma com que tratou os pesquisadores ressaltando o importante papel do sociobiólogo. Abaixo apresento uma resenha, mas indico a leitura para biólogos, psicólogos, sociólogos e todos aqueles que se interessam de uma maneira ou outra pelo comportamento reprodutivo.

A autora já começa no prefácio apresentando um testemunho diante da floresta tropical do Panamá me emocionou bastante, pois é tecla da transcendência que eu não canso de bater para meus alunos: “(...) Naquele lugar, em meio a tão rica diversidade, percebi que as limitações do mundo humano e as barreiras intelectuais que erigimos entre nós mesmos e o resto da natureza são muito pequenas, quase insignificantes – uma experiência de humildade e, ao mesmo tempo, de grande alegria. Naquele momento, senti minha identidade pessoal expandir-se além dos limites de família, amigos, país, gênero e até mesmo espécie. Percebi que fazia parte do grandioso continuum da vida”. Em vários momentos do livro Mary frisa a importância da biologia evolutiva como uma libertação para que possamos de fato compreender o que significa ser humano. Assim, a descoberta das semelhanças e diferenças entre o homem e as outras espécies, possa levar a empregar a sabedoria e não a força na solução dos problemas e passar para a etapa seguinte da evolução como espécie.

A autora pontua a importância da biologia evolutiva na concepção de nossa espécie, como um mecanismo instintivo que determina escolha do parceiro como um dos principais papéis da fêmea e essencial para Evolução, uma vez que influenciou o comportamento masculino, a organização social e a evolução das espécies. Mas tarde, o homem avaliando que ia a favor e contra o sucesso reprodutivo, atribuiu julgamentos de valor aos fatos biológicos, tonando os comportamentos parte da cultura e influenciando nos tabus, costumes, moral e leis e no papel social de cada sexo.

Em todo livro Mary apresenta exemplos de estudos com animais e confronta diferentes opiniões dos mais atuantes e renomados cientistas do nosso tempo e também dos grandes nomes na ciência. Aborda questões relacionadas com a escolha da fêmea com base nos recursos genéticos e materiais, discute a competição espermática, infidelidade, investimento parental, monogamia, ovulação dissimulada, papel do pênis, do orgasmo e do estupro. Porém, defende a idéia de que em nossa espécie a escolha da fêmea é feita predominantemente levando em conta o status do macho. E o macho prefere as fêmeas que indiquem a sua fertilidade, traçando um paralelo entre várias sociedades e mostrando que quanto mais velha é a mulher, mais ela reduz os padrões de seleção do seu parceiro. Deve-se considerar que as estratégias de homens e mulheres evoluíram paralelamente. Logo, o que uma mulher deseja em um parceiro influencia no modo de agir dele e vice-versa. Nenhum dos sexos consegue o ideal sempre, assim a escolha se torna um meio-termo do que se deseja e o que se tem disponível. Resultando como vencedores os homens e mulheres mais atraentes. A escolha de homens por seus recursos e de mulheres por sua fertilidade permanece mais ou menos inconscientemente até nossos dias, fazendo com que a atração física como indicador de idade seja mais importante para o homem. A explicação evolutiva para a preferência pelo status masculino vem do cenário de que os nossos ancestrais viveram em épocas muito intensas de escassez de recursos. Porém, deve-se considerar que enquanto a fêmea faz de tudo o que pode para exercer o poder de escolha que a evolução lhe deu, o macho faz tudo que pode para controlar ou subverter essa escolha. Na imagem acima os mecópteros, um dos invertebrados mais estudados quanto ao aspecto de seleção e competição, pois a fêmea copula com o macho de acordo com o presente (presa) que ele lhe dá. Os machos que não conseguem capturar grandes presas, ou se arriscam roubando das teias das aranhas, podem se fingir de fêmeas para roubar de outros machos. Os machos também tomam o presente de sua amada para oferecer a outra fêmea.

A localização do ser humano no contexto animal e a compreensão de que se trata de uma espécie atual (100.000 anos) com um biológico confrontante com um cultural marca o posicionamento fascinante da autora. Mary pontua que vivemos em uma aldeia global de quase 6 bilhões de habitantes, conectados por redes eletrônicas, porém considera que os 4 milhões de anos (separação do ultimo ancestral com outro primatas) de historia evolutiva foi passado em grupos pequenos e isolados de caçadores coletores. Logo muito dos nossos sentimentos e reações podem ser resquícios psicológicos do nosso passado de caçadores-coletores, mal adaptados as grandes cidades superpovoadas e poluídas, onde nosso maior desafio é reinventar a nós mesmos .

Até o penúltimo capítulo os temas desenvolvidos por Mary são os clássicos do comportamento reprodutivo, porém a autora fecha seu livro com chave de ouro ao discorrer sobre o amor. A visão biológica que o amor é uma emoção que tem como finalidade a reprodução e que capacita os amantes a iludirem a si próprios em relação às prováveis conseqüências de sua paixão avassaladora – só é superado com o papel social do amor. O estimulo cultural para a grande meta da mulher seja encontrar o grande amor e tendo-o encontrado mantê-lo - pode ser visto como uma manipulação, uma vez que “uma mulher preocupada com romance não tem tempo para desafiar os bastidores masculinos do poder”. A autora também faz um resgate histórico da exaltação do amor nos relacionamentos a partir do surgimento dos trovadores medievais, homens que sem possibilidade de competirem com os irmãos primogênitos e sem a intenção de aderirem ao celibato, passaram a cantar o amor em suas canções despertando nas mulheres a busca pelo romantismo em suas relações com os homens. E por fim, a autora fecha sua reflexão falando da opção das mulheres em irem contra a evolução ao assumirem os filhos sozinhas e ao decidirem não se reproduzirem. Ressaltando que a tecnologia contraceptiva isola os humanos do restante dos animais e oferece meios de evolução para um nível mais racional de desenvolvimento social. A autora finaliza refletindo que embora a tecnologia tenha nos permitido chegar ao espaço, nosso conhecimento sobre nós mesmos parece preso à era da superstição e que a biologia evolutiva é tão necessária no currículo escolar quanto o estudo dos idiomas. Pois se não conhecemos a biologia evolutiva, não poderemos ter esperança de compreender o animal humano ou os problemas que enfrentamos.Recomendo a leitura....

Utulidade Atual para o Pombo-Correio..

Em tempos em que a tecnologia substituiu os pombos-correios...


Especialização em Bem-Estar Animal

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ESPECIALIZAÇÃO

Bem-estar-animal



Proposta

Capacitar profissionais que trabalham diretamente com animais de produção, entretenimento, companhia, silvestre e no desenvolvimento tecnológico e ensino para realizarem diagnóstico das condições de bem-estar através de indicativos comportamentais e habilitá-los para realizar ações de melhoria das condições de manutenção e manipulação desses animais. bem como a reflexão na busca de alternativas no uso dos mesmos.

Público

Biólogos, Veterinários, Zootecnistas, Agrônomos, Administradores e demais profissionais que trabalham com animais

Local

Campus Curitiba - Prado Velho

Dias e horários

Sexta-feira (eventualmente) - 19h00min às 23h45min
Sábado (eventualmente) - 07h30min às 12h50min
Sábado (eventualmente) - 13h30min às 18h50min

Periodicidade

Quinzenal

Carga Horária

360 horas

Início
Término
Vagas

9 de março de 2010
novembro de 2011
30

Coordenação

Marta Luciane Fischer - (marta.fischer@pucpr.br)

Disciplinas

  • Anestesiologia Veterinária
  • Apresentação de Monografias
  • Bem-estar de Animais de Produção
  • Bem-estar e Etologia de Animais de Companhia
  • Bem-estar-animal em Biotério
  • Bem-estar-animal no Manejo de Animais Silvestres
  • Conservação Ex Situ
  • E Quando os Animais se Tornam Problema?
  • Emoção, Sentimentos e Consciência
  • Enriquecimento Ambiental
  • Epistemologia
  • Ética
  • Etologia I - Como o Comportamento se Processa no Indivíduo
  • Etologia II - Comportamento Social
  • Experimentação Animal - Alternativas, Pesquisa e Ensino
  • Fisiologia do Stress
  • Indicadores Comportamentais de Bem-estar-animal e Avaliação de Ações de Enriquecimento Ambiental
  • Legislação Aplicada ao Bem-estar-animal
  • Metodologia Científica
  • O Papel da Educação Ambiental no Bem-estar-animal
  • ONGs e Seu Papel na Ética e Bem-estar-animal
  • Seminários Avançados em Bem-estar-animal

Corpo docente

Nome do Professor Titulação
Almir Petersen Barreto Doutor
Ana Paula Gularte Liberato Mestre
Ana Silvia Miranda Passerino Mestre
Cassiana Maria Garcez Ramos Mestre
Claudia Maria Sallai Doutor
Fernanda Goss Braga Mestre
Glaucia Cristiana Wunderlich Farias Especialista
Julio Cesar de Moura Leite Doutor
Marcia Cziulik Mestre
Maria Fernanda Pioli Torres Mestre
Marta Luciane Fischer Doutor
MASAHIKO OHI Mestre
Naim Akel Filho Mestre
Paulo Renato Parreira Mestre
Peter Gaberz Kirschnik Doutor
Rafael Zotz Graduado

Investimento

20 X R$ 295,00

Há possibilidade do aluno ajustar o valor da mensalidade do curso a sua capacidade de pagamento, assim como negociar a condição à vista. Preencha o formulário com a sua proposta de negociação ou entre em contato pelos telefones: 3271-1515 / 3271-1616 / 3271-1595 / 3271-2606. Fax: 3271-1432. E-mail: educacao.continuada@pucpr.br

Inscrição e Matrícula

Período: de 24 de novembro de 2009 a 30 de março de 2010.
Taxa de Inscrição: R$ 50.00
Documentação Exigida
  • Caso não tenha diploma, entregar a fotocópia autenticada da Declaração de Conclusão de Curso de Graduação
  • Ficha de inscrição no curso
  • Fotocópia autenticada do Diploma de Graduação
  • Fotocópia da Carteira de Identidade Civil

De acordo com o aceite eletrônico, você tem o compromisso de trazer a cópia da documentação exigida e entregá-la no SIGA (Central de Atendimento ao Aluno) nos primeiros 30 dias de aula ou encaminhar pelo correio a qualquer momento para o 6º andar do prédio administrativo, Rua Imaculada Conceição, 1155 - Prado Velho - CEP 80215-901 Curitiba - Paraná.

Observações:
A PUCPR reserva-se o direito de não ofertar o curso caso não haja um número mínimo de alunos matriculados.

Novo artigo sobre Arara Azul - Por Marcia Cziulik


Journal of Wildlife Diseases, 45(4), 2009, pp. 972-981.


PATOLOGIA CLÍNICA E AVALIAÇÃO PARASITOLÓGICA DE FILHOTES DE ARARA AZUL (Anodorhynchus hyacinthinus) DE VIDA LIVRE

M. C. Allgayer,1,5 N. M. R. Guedes,2 C. Chiminazzo,3 M. Cziulik,4 and T. A. Weimer1

1Programa de Pós-Graduação em Genética e Toxicologia Aplicada and Laboratório de Patologia Clínica, Hospital Veterinário, Universidade Luterana do Brasil, Farroupilha 8001, Canoas, RS, Brazil
2Instituto Arara Azul and Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, Ceará 333, Campo Grande, MS, Brazil
3 Laboratório de Parasitologia Veterinária, Universidade Luterana do Brasil, Farroupilha 8001, Canoas, RS, Brazil
4Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Universidade Federal do Paraná, Bolsista do CNPQ, Curitiba, Paraná, Brazil
5Corresponding author (email: mallgayer@gmail.com; phone and fax: 55 51 35957001)


RESUMO: Este estudo avaliou a sanidade e estabeleceu parâmetros hematológicos e bioquímicos séricos para filhotes de vida livre da Arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) do Pantanal brasileiro (19 º 51'-19 º 58'S e 56 º 17'-56 º 24'W), durante quatro anos consecutivos (de dezembro de 2003 até dezembro de 2006). Exames físicos indicaram que todas as aves estavam clinicamente saudáveis. Endoparasitos e hemoparasitos não foram detectados em nenhum dos filhotes e ectoparasitas estavam limitados a Philornis sp. (Diptera: Muscidae). Nas fêmeas foram observados valores significativamente mais altos de leucócitos totais e heterófilos, glicose, proteínas totais, triglicérides e fósforo. Níveis mais elevados de colesterol e hematócrito foram observados nas fêmeas mais velhas, as contagens de leucócitos totais e de heterófilos foram mais altas nos animais jovens. Nos machos, os níveis de ácido úrico foram maiores em indivíduos mais velhos. As araras-azuis, na natureza, alimentam-se apenas duas espécies de sementes de palmeira (Acrocomia totai e Scheelea phalerta). Essa fonte limitada de alimentos tem um forte impacto no tamanho da população e pode alterar os parâmetros hematológicos e bioquímicos destas aves. Portanto, o conhecimento dos níveis sangüíneos em indivíduos normais é essencial para avaliar as condições fisiológicas e patológicas de araras-azuis selvagens, avaliar os efeitos das mudanças ambientais sobre a sua saúde e contribuir para estratégias de conservação desta espécie ameaçada.



Para ler o artigo complete acesse: http://www.jwildlifedis.org/cgi/reprint/45/4/972

Mesa redonda Comportamento Animal – XIII Semana de Estudos em Ciências Biológicas





Dia 30.11.2009 participei de uma mesa redonda com Dra. Maria Luisa Tunes Buschini (UNICENTRO) e Dr. Mauricio Osvaldo Moura (UFPR) sobre comportamento reprodutivo. O Mauricio (Free) falou sobre reprodução em anuros, levou sonogramas e sons de diferentes fases do comportamento reprodutivo e elucidou as diferenças das freqüências e amplitudes dos sons. Já a Maria Luisa falou sobre comportamento reprodutivo em vespas, uma apresentação muito bonita e didática em que mostrava a interação da fêmea com os machos guardiães e satélites. Eu falei sobre comportamento sexual em Loxosceles e abaixo transcrevo a palestra.

Comportamento sexual da Aranha-Marrom

O comportamento sexual é a força impulsionadora da evolução, uma vez que as escolhas determinarão aqueles que deixarão mais descendentes. Mas tarde os seres humanos - observando e refletindo sobre quais comportamentos acarretariam em maior sucesso - atribuíram julgamento de valor aos fatos biológicos codificando-os em culturas, moral, leis - indo contra tudo aquilo que era contra o sucesso reprodutivo. Durante muito tempo mesmo os biólogos não percebiam o papel da fêmea no contexto sexual. Até então ela era vista como um elemento passivo. Após a teoria da seleção sexual de Charles Darwin foi compreendido que a forma como as fêmeas escolhem seus parceiros poderia ter uma forte influência sobre o comportamento masculino, organização social e evolução das espécies. Darwin acreditando que função dos ornamentos masculinos era exclusivamente atrair as fêmeas concentrou-se no comportamento individual demonstrando que as adaptações físicas permitiam aos animais sobreviverem e se reproduzirem. Os polêmicos sociobiólogos das décadas de 60 e 70 começaram aplicar a teoria no comportamento social desenvolvendo a idéia da aptidão inclusiva partindo da premissa que a seleção favorece qualquer comportamento que maximize a aptidão de um indivíduo ou sucesso reprodutivo. Esses elementos são tão fortes, tão basais e tão fundamentais que encontramos padrões comuns a todos os animais. São como alicerces cuja forma de execução varia com as potencialidades e habilidades de cada animal, mas com uma mesma finalidade. Esses padrões são tão fortes que no trabalho desenvolvido com o Felipe Neves vimos que mesmo no ambiente virtual de chat em que só existe a linguagem verbal os padrões intrínsecos e específicos de machos e fêmeas durante o cortejo estão presentes.

Algumas espécies do gênero Loxosceles são consideradas de interesse-médico e potencialmente qualquer espécie do gênero pode se tornar sinantrópica e automaticamente problema de saúde publica. Curitiba representa um caso atípico no mundo inteiro (pelo menos registrado em literatura) quanto ao tamanho da população e ao número de acidentes. O aumento intensificado no final da década de 1990 e mantido até hoje, necessariamente não representa um aumento real, mas uma percepção e capacitação profissional para registro desses acidentes. O início dos meus estudos com aranha-marrom foi o ano de 1992, quando técnicos do Instituto Butantan resolveram vir até Curitiba compreender o motivo da solicitação de tanto soro anti-aracnidico. Até então eles estavam achando que nossos médicos estavam diagnosticando os acidentes erroneamente. E se surpreenderam com a quantidade de aranhas. Nessa época eu era estagiária do CPPI e resolvi começar a estudar a aranha-marrom.

O problema da aranha-marrom direciona quatro frentes de atuação. Em um primeiro momento as medidas profiláticas de identificação da picada e métodos de amenizar as seqüelas. Sendo desenvolvida a tecnologia de produção de soro e aprimorado o diagnóstico, capacitação de profissionais e administração de medicamentos. As medidas preventivas exigem tomadas de atitudes que evitem os acidentes, desde campanhas educativas até o desenvolvimento de pesquisas que visem compreender os processos colonização do ambiente antrópico, culminando nas medidas de controle das aranhas. A pesquisa básica é retroalimentada pela sua aplicação. Inicialmente houve muita especulação a respeito dos motivos que davam esse status para Curitiba e a busca era compreender o que havia em Curitiba para ter um problema dessa dimensão. Eu entro nesse ponto da história me preocupando em um primeiro momento em conhecer a distribuição das espécies. A história evolutiva dessas aranhas é bem interessante. São animais típicos de desertos quentes e frios e altamente resistentes caracterizados por grupos de radiação. Na América do Norte existem quase 50 espécies sendo que a maioria é originária de uma espécie do grupo reclusa (desertos quentes). Já na América do Sul, são até agora (está acontecendo uma nova revisão) 20 espécies, sendo a maioria do grupo laeta com radiação vertical principalmente na região do Peru (desertos frios). No Brasil temos espécies relativas a 4 grupos de radiação e uma maior diversidade de espécies no Sul do País. No Paraná, são 4 das 9 espécies brasileiras. E Curitiba duas, L. laeta originaria do sul da América do Sul (Argentina ou Chile) e L. intermedia com ocorrência para sul e sudeste do Brasil e alguns países vizinhos. Ao analisarmos a distribuição no estado do Paraná, temos L. gaucho com ocorrência para norte, L. laeta para sul, L. hirsuta com localização pontual e L. intermedia com distribuição mais ampla.

O elemento chave de minhas pesquisas foi a distribuição assimétrica das duas espécies em Curitiba, pois L. intermedia representava 90% dos registros e L. laeta mantinha as freqüências de infestação encontrada mesma no local de origem. Logo quem estava destoando era L. intermedia e os elementos que as faziam praga deveriam estar relacionados com ela. E então comecei a questionar se o problema era de fato Curitiba. Então foi dado inicio para uma séria de estudos em que testei várias hipóteses comparativamente com as duas espécies para testar a influência do ambiente, sendo possível depois de 15 anos de estudos montar um cenário: L. laeta é uma espécie que ocorre preferencialmente no intradomicílio de casas antigas, o qual colonizou possivelmente antes de L. intermedia, porém devido aos seus hábitos especialistas, sedentários permaneceu no ponto de introdução. Defendendo seu ambiente de L. intermedia que chegou depois. L. intermedia é mais generalista, ocorre em qualquer ambiente o qual não disputa com tanta territorialidade, apresentando hábitos mais errantes o que fez com maximizasse sua distribuição. Essas características foram evidenciadas e as hipóteses comprovadas com vários estudos, inclusive a estratégia reprodutiva, que o foco dessa mesa.

Para começarmos a falar de reprodução em aranhas precisa rever como é a estrutura do aparelho reprodutor. As aranhas como os artrópodes possuem receptáculos seminais onde os espermatozóides são armazenados. Temos dois tipos nas aranhas e sua forma irá modular todo comportamento reprodutivo. As mais primitivas têm um receptáculo em fundo cego, são chamadas de haplóginas. Nesse sistema o espermatozóide entra pela abertura genital e fica armazenado no fundo, podendo ficar viável por meses. No momento da fecundação o óvulo desce pelo canal principal e o espermatozóide armazenado é deslocado a partir do mesmo ponto que entrou. Assim o primeiro espermatozóide a ser utilizado é do último macho que copulou, sendo necessário o macho proteger suas fêmeas de outros machos. No segundo caso, temos as aranhas com epígeno. Aqui há uma abertura para entrada diferente da saída de espermatozóide e os mesmos se encontram com o óvulo na parte de cima de forma que os primeiros machos que copularam são os que terão a preferência na ordem de utilização dos espermatozóides. Aqui o macho deve guardar a fêmea antes da sua maturidade e há uma nítida preferência pelas virgens. A aranha-marrom faz parte do primeiro grupo. A forma do receptáculo seminal é caráter diagnóstico das espécies (como em aranhas) e representam os grupos de radiação. Os padrões que norteiam o comportamento reprodutivo da aranha-marrom são os mesmos que existem para todos os animais. O que busquei nesses anos todos de estudo foi caracterizar os pontos relacionados com o perfil dessa espécie que diz respeito inicialmente com a Comunicação entre os parceiros; o nível e importância da Seleção pela fêmea – e por fim a existência de Competição dos machos – tendo como premissa: Se padrões diferenciais na estratégia reprodutiva entre L. intermedia e outras espécies do gênero resultam no aumento dos descendentes, pode ser utilizada para explicar a assimetria na distribuição do gênero

O comportamento copulatório das aranhas pode ser dividido em cinco fases, com padrões motores bem definidos e ritualziados. Embora com uma flexibilidade relacionada com o perfil de cada espécie. Na primeira fase, temos a preparação para a cópula. E aqui ela é mais importante para o macho, pois ele deve preencher o seu bulbo copulatório com espermatozóide através da confecção de uma teia especial chamada de teia espermática. Da mesma forma que o receptáculo da fêmea, os bulbos são caracteres sistemáticos e aranhas mais primitivas possuem estruturas bem simples e as mais derivadas possuem estruturas acessórias que são infladas no momento da reprodução. Dentro do bulbo existem vários espermatóforos que podem ser distribuídos para várias fêmeas. Possivelmente o macho possa recarregar o seu reservatório ao longo da sua breve vida. Após essa preparação o macho deve encontrar a fêmea. A pesar das aranhas terem inúmeras estruturas sensoriais, elas serão mais ou menos desenvolvidas dependendo do hábito da aranha. A função do cortejo é fazer com que a fêmea entre em um estado de acinesia suprimindo seu comportamento predatório. Existem três níveis de cortejo nos machos de aranhas, no primeiro é necessário o contato direto, no segundo são necessários ferômonios para estimular o macho e no terceiro postula o reconhecimento visual. Muitas aranhas haplóginas, como o gênero Loxosceles, apresentam o nível I, caracterizado por um cortejo simples e curto que envolve principalmente movimentos de pernas e de pedipalpos. Nesta fase as características sensoriais especificas de cada espécie é maximizada. Na fase de pré--cópula o casal deve adotar a postura necessária para cópula a qual também é variável entre as espécies e tem haver com a morfologia e comportamento de cada grupo. A cópula se diferencia por tempos de inserção e se os pedipalpos são alternados ou se ocorre imobilidade. Na fase de pós-cópula o macho deve decidir entre proteger a fêmea ou ir em busca de novas cópulas para maximizar a sua taxa de fecundação.

A comunicação resulta na alteração do padrão comportamental de um animal como conseqüência do comportamento de outro animal. Em espécies canibais, como as aranhas, a comunicação é extremamente importante no comportamento sexual, uma vez que o macho deve inibir o comportamento predatório da fêmea envolvendo uma combinação de sinais visuais, químicos, vibratórios e táteis. O comportamento sexual de L. intermedia é caracterizado pela utilização de diferentes sinais os quais provavelmente se adaptam às diferentes condições corroborando com o perfil generalista da espécie. A teia para L. intermedia parece ter um papel importante na detecção e reconhecimento do parceiro, além de proporcionar um substrato favorável que propicia estabilidade para postura da cópula, porém não é limitante para sua realização. Cerca de 26 famílias de aranhas produzem sons por estridulação, percussão ou vibração de estruturas. Para Loxosceles era conhecida a presença de um pino e de ranhuras nas quelíceras. O que fizemos atualmente foi medir essas freqüências com colaboração do Dr. Andrej da Slovenia que registrou as freqüências dos movimentos de diferentes partes do corpo de machos e fêmeas caracterizando a comunicação acústica vibracional, cujo trabalho foi publicado recentemente na Behevorial Process. Foram realizados vários testes para verificar a relevância do acústico e do químico e da teia através da avaliação do comportamento de machos eunucos (ausência se sons) e lavados em acetona (ausência de compostos cuticulares). Apesar da ausência de pedipalpos não ser limitante para a cópula e a própria comunicação acústica poder estar relacionada com o substrato onde está sendo transmitida a vibração, os sinais utilizados na comunicação podem ser adaptados às diferentes condições. Nem todos os sinais provocam uma resposta imediata e a ausência de um sinal (e.g. químico) pode ser substituído por outros (e.g. visual). A presença de compostos cuticulares foi fundamental para o cortejo e realização da cópula, uma vez que estes foram pouco freqüentes tanto para fêmeas como para machos lavados com acetona. Esses compostos também foram muito importantes no reconhecimento do macho pela fêmea, já que a maioria dos machos predados havia sido lavada com acetona. Deve-se considerar que machos e fêmeas lavados e com pedipalpos removidos não cortejaram nem assumiram a postura de cópula, mas bastou a existência de um dos dois sinais para desencadear o comportamento sexual. Na seqüência deste estudo, os compostos presentes no corpo de machos e fêmeas foram identificados e entre todos eles foram encontrados dois exclusivos da fêmea. Novos testes foram realizados em olfatômetro. A reação das aranhas através dos padrões motores exibidos sugere a existência de dois mecanismos de comunicação: o reconhecimento (reação) e a identificação (sinalização). O fato da fêmea se movimentar mais diante do macho, sugere o reconhecimento sexual à distância e a sinalização para efetivar a sua aproximação. Em um primeiro momento a vibração parece ser mais importante. Deve-se considerar que essas aranhas vivem em locais escuros e que têm visão pouco desenvolvida, que o macho é mais errante que a fêmea e se locomove pelo ambiente à sua procura. Já as fêmeas são mais sedentárias permanecendo nas proximidades da teia. Provavelmente o macho usa sinais químicos presentes na teia ou no corpo da fêmea, os quais podem ser mais efetivos a curta distância, tendo em vista a inexistência de estruturas quimiorreceptoras muito desenvolvidas como as presentes em Lepidoptera. Assim, a recepção de sinais vibratórios emitidos pela fêmea através da produção de sons (vibração dos pedipalpos) ou vibração do ar pelo movimento das pernas, ajudaria na sinalização para o macho, que se aproximaria para reconhecer a fonte de vibração. A mesma reação e sinalização de machos diante de fêmeas e machos sugerem que além do contexto sexual haja relação com o comportamento competitivo a vibração em decorrência da movimentação de um macho poderia ser utilizada como indicativo da presença de um cortejo, logo de uma fêmea, promovendo, assim, a aproximação A existência de comunicação química foi evidenciada nos testes em que os machos foram mais atraídos pelos compostos cuticulares exclusivos da fêmea. Logo, acredita-se que quando o macho está diante da aranha responde aos sinais vibratórios para localização e utiliza a informação química para reconhecimento do sexo da aranha.

Em dois estudos com L. intermedia e L. laeta fora avaliados variáveis relacionadas com a competição entre os machos e seleção pela fêmea, usando vários parâmetros. A disputa entre os machos de inúmeras espécies é caracterizada pela exibição de padrões motores ritualizados cuja função primária é a sinalização do tamanho, força e capacidade de luta. O combate é mais intenso e duradouro nas interações em que as diferenças entre os oponentes são pequenas e demandam mais tempo para avaliação. O padrão comportamental exibido no combate entre os machos mostrou uma relação com o grupo de radiação, uma vez que os comportamentos de L. intermedia e L. hirsuta foram mais semelhantes entre si e diferenciados de L. laeta. Padrão similar pode ser visto no comportamento copulatório. A variação na freqüência de ocorrência e número médio de confrontos por interação pode estar relacionado com a agressividade e pré-disposição para o combate ao invés da fuga, sugerindo que a sua eficácia na partilha de recursos e na proteção da fêmea contra cópulas com outros machos depende de outras estratégias como duração da cópula, cópulas seqüências, poliandria, poligenia, competição espermática e seleção sexual. Existe um gasto energético no confronto, e quanto antes for definido o vencedor de uma disputa, melhor. O macho que se beneficia é aquele que reconhece rápido a sua derrota. E em todos os animais, as lutas reais com risco de se ferir ou de morte são raras. Inúmeros sinais evoluíram para que os machos pudessem fazer essa avaliação e o confronto ritualizado é uma delas. Em L. intermedia como em outros animais, grandes assimetrias são suficientes para que em apenas um toque o macho em desvantagem se afaste, porém permanecendo o interesse na disputa pelo recurso (e obviamente no seu valor) e a dúvida quanto às potencialidades do rival o confronto poderá ser longo. Assim como na cópula cada aranha tem o seu padrão de ritualização de movimentos, no confronto também podemos encontrar esses padrões (obviamente que flexíveis) e o mais interessante que similar aos rituais de cortejo e cópula. Partindo do fato que aranhas do gênero Loxosceles são haplóginas e o esperma do último macho é o utilizado primeiro, espera-se que não haja guarda e preferência por fêmeas virgens, mas que haja uma proteção da fêmea depois da cópula. Imaginando o cenário do local de ocorrência desses animais, seja um oco de árvore, a parede de caverna ou os objetos e frestas presentes em uma construção antrópica encontrar a fêmea pode não ser tão fácil (como visto anteriormente). Dois machos se encontrarem então, deve ser mais difícil. Mas supondo que dois machos se encontrem simultaneamente e seqüencialmente, haveria competição pela fêmea e quais fatores seriam relevantes?

A estratégia reprodutiva de L. intermedia é diferente de L. laeta refletindo habitats e hábitos específicos, no entanto ambas vão de encontro com a maior produção de descendentes como adaptação ao local de origem e especiação.