Crianças Transexuais...



Qual é o teu sexo??? Qual será teu sexo???

Eu havia pretendido hoje falar sobre solidariedade, porém tive a oportunidade de ver uma matéria comentada pelos alunos do 8º período biologia (meus afilhados!) no último debate: crianças transexuais que fazem uso de hormônios para alteração dos caracteres sexuais secundários até que elas possam fazer uma cirurgia de mudança de genitália.

Um Livro muito bom nessa área é “evolução do gênero e da sexualidade” de Joan Roughgardem. Nesta obra a autora aborda a diversidade sexual sobre o ponto de vista animal, humano (biológico) e cultural. No mundo animal encontramos inúmeras estratégias reprodutivas que envolvem: reprodução sexuada e assexuada, fertilização interna e externa, hermafroditismo simultâneo ou seqüencial (primeiro é macho depois é fêmea e vice-versa), mimetismo sexual (um macho finge que é fêmea), machos com características e assumindo o papel de fêmeas e vice-versa e o mais polêmico de todos: a homossexualidade (na imagem ao lado são duas fêmeas). A homossexualidade é polêmica quando se leva em consideração conceitos consolidados como “Seleção Sexual de Darwin” e “O Gene egoísta de Dawkins” cujo fim de um animal é passar seus genes para frente. No entanto, novas interpretações sobre o comportamento animal que levam em conta os aspectos de relações sociais, têm possibilitado novas inferências relacionadas com a “seleção social” e evolução do “altruísmo”. O fato que se questiona é: “Se o homossexualismo é genético e os homossexuais não têm relações sexuais, como esses genes continuam na população?”

Que homem é diferente de mulher ninguém tem dúvidas, nem fisicamente e nem comportamentalmente. Isso vem dos diferentes papéis que ambos foram exercendo dentro das sociedades ao longo da evolução. O comportamento é decorrente de um corpo e de um sistema nervoso, logo, o cérebro da mulher é diferente do cérebro do homem. A pergunta é quando e como tudo isso começa. Até pouco tempo atrás se acreditava que a criança nascia como um livro em branco e as páginas eram preenchidas conforme crescia, modelando assim sua personalidade. Porém sabemos que os bebês recém-nascidos têm temperamentos diferentes e isso se deve a condições ambientais intra-uterinas diferenciais que cada criança passa. Alias, atualmente novas pesquisas têm mostrado que a primeira divisão celular já pode determinar diferenças, caso as células sejam divididas mais ou menos simétricas, pode influenciar na simetria do bebê pronto. Novas pesquisas também têm mostrado que o corpo da mulher pode aceitar ou repelir (inconscientemente) embriões masculinos (XY) ou femininos (XX) dependendo do seu estado emocional ou nutricional. É possível que a seleção de espermatozóides X e Y já possam ocorrer no próprio canal vaginal (Ler matéria anterior).

Até mais ou menos a 8ª semana de gestação os cérebros fetos femininos e masculinos são iguais, quando então o corpo da mãe reconhece se o embrião é XX ou XY. Caso seja XY o embrião sofre um banho de testosterona e o cérebro se desenvolve como masculino correspondendo com a genitália. Caso seja XX, não há banho de testosterona e se desenvolve como menina. O lance que parece que algo, seja genético (da mãe ou da criança) ou ambiental (nutrição, emocional???? Da mãe ) faz com que o processo não ocorra como deveria e dentre todas as proporções possíveis poderemos ter uma criança com o cérebro de um jeito e a genitália de outro... Parte-se do pressuposto que dependendo de como essa criança é criada ela até poderá superar essa diferença e teremos homens afeminados e mulheres masculinizadas, porém que assumirão normalmente seus papéis porém com diferenciais que deve ter uma importância dentro do contexto social. Viva a diversidade! Descobrir essas questões é excelente, pois nos permite viver bem com todos e entender que cada um tem um papel. Imagine se todos os homens fossem agressivos e competitivos e todas as mulheres dóceis e frágeis? A novela caminho das Índias tem abordado o papel das Hijras que não são homens e nem mulheres, mas um terceiro sexo cuja existência é cercada de mistérios. Ninguém conhece muito bem seus rituais (quem inclui a castração). Vivem em pequenas comunidades, vestem-se como mulheres e, segundo conta sua história, podem abençoar ou amaldiçoar um nascimento ou um casamento. Quando eles chegam, com festa e música, a um evento, querem retribuição, prendas, pagamento. E ai de quem não colaborar! Recebe uma praga que promete durar muitas gerações!!! Em diferentes culturas o transgenre tem um papel, como os eunucos dos Romanos e os pupilos dos gregos (para saber mais ler Joan Roughgardem). Mas novamente acontece algo que me preocupa muito... o homem não satisfeito em descobrir quer interferir, reinventar, controlar...

O meu espanto e dos meu alunos vem dessa matéria que está veiculando na mídia devido a um documentário que posto abaixo sobre crianças que com cerca de dois anos decidem se são meninos e meninas e pais orientados por profissionais relacionados a área de transexualidade infantil permitem que seus meninos se vistam e se comportem como meninas (foto ao lado é de um menino) e administram hormônios sexuais para que não exibam os caracteres sexuais secundários na puberdade ara que possa na adolescência fazer uma cirurgia para mudança de sexo. O diagnóstico é de “transtorno de identidade de gênero” e segundo os especialistas uma criança começa a ter consciência de ser menino ou menina logo após o primeiro ano de vida e por volta dos 4 anos já tem a identidade sexual estável, apenas são sabem expressar isso verbalmente. Existem até uma ONG que dá assistência para pais de crianças transexuais (TYFA).

Na América do Norte e na Europa o diagnóstico de crianças transgeneres tem aumentado e os pais têm permitido a expressão da criança, embora a decisão seja dividida entre os psicólogos e psiquiatras. Na Holanda, "especialistas" já acompanham a transformação de crianças a partir de 6 anos de idade em transexuais e fazem a cirurgia a partir de 16 anos. Embora boatos tenham dito que há médicos fazendo a cirurgia com 13 e 14 anos, o que levou a um aumento de busca por esse serviço por parte dos pais.

E como tudo volta para o biológico... um fato inusitado espantou o mundo tempos atrás que era o tal do “homem grávido”. Na verdade Thomas Beatie é um transexual que toma hormônios, mas manteve seu útero e ovários. Criado no Havaí, onde sua mãe se suicidou quando ele tinha 12 anos, Beatie disse que decidiu trocar de sexo aos 24 anos. Por isso, submeteu-se a uma operação para tirar seios e legalmente mudou seu gênero de feminino para masculino. Casado há mais de dez anos, Beatie e a mulher, Nancy, sempre quiseram ter um bebê, mas ela teve uma endometriose há 20 anos e precisou tirar o útero. Simples, o marido engravidou...

Para saber mais:
http://www.opovo.com.br/colunas/kelmericas/874449.html
http://www.desabafodemae.com.br/home.php?acao=reportagens&subact=reportagem&cod=33
http://www.blogdofernando.com.br/2008/09/holanda-transforma-crianas-em.html
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u418988.shtml


Deixe a sua opinião, Biólogos e Psicólogos, vamos discutir isso... é importante!











No fundo somos macaquinhos imitadores?




Os Neurônios-Espelho – os neurônios dos leitores de mente....


Eu e os graduandos de biologia e psicologia temos discutido exaustivamente nas últimas semanas a questão se os animais têm sentimentos, emoções e consciência. Me chamou muita a atenção o relato de uma aluna da biologia a respeito do constrangimento que a irmã passou a se posicionar a favor dos animais diante de profissionais da área das humanas, os quais acham inconcebível a comparação entre os “humanos” e os “outros” animais.

Se nos deslumbrarmos com o desenvolvimento tecnológico alcançado pelos humanos – viagens especiais, nanotecnologia, Internet e por aí vai... – cria-se uma distância enorme e a comparação de fato é ridicularizada. Somos uma espécie muito nova, temos apenas cerca de 100.000 anos, é muito pouco, quando comparamos com os quase 700.000.000 de anos que os animais vivem na Terra. A nossa separação com os chimpanzés – nosso parente primata mais próximo – foi a cerca de 4.000.000 de anos. Ou seja, não estamos muitos distantes dos outros animais quando analisamos o nosso corpo biológico, nossa morfologia, nossa fisiologia... Então o que nos afastou realmente?

A resposta pode estar na “estratégia de sobrevivência” – a vida em grandes grupos – o desenvolvimento de sociedades complexas – a necessidade da comunicação e principalmente no surgimento dos “leitores de mente”. E nada disso é exclusividade nossa! Os comportamentos que norteiam a vida em sociedade são parecidos em todos os animais sociais, nós apenas maximizamos alguns pontos, impulsionados pela demanda em manter sociedades cada vez mais complexas.

Um dos “elementos biológicos” que propiciaram o start para “a criação da humanidade” são os denominados neurônios-espelho ou células-espelho. Esses neurônios são capazes de analisar cenas e interpretar as intenções dos outros. Eles foram descobertos pelo neurocientista Giacomo Rizzolatti no macaco Rhesus, a cerca de 15 anos na Itália, em experimentos nos quais o macaco tinha os movimentos monitorados através de eletrodos e foi verificado que esses neurônios podiam ser estimulados mesmo sem o movimento do animal, apenas com a visualização de um outro individuo executando a mesma atividade. Como se o cérebro simulasse os movimentos e vivesse eles virtualmente! Fantástico!

Nos humanos, os neurônios-espelho foram identificados no córtex pré-motor e no lobo parietal inferior, parece que 5% dos nossos neurônios são espelhos. Muitos cientistas acreditam que a descoberta dos neurônios-espelho tenha sido uma das mais importantes do ultimo século e um grande passo para neurociência - comparam até com a descoberta do DNA e das Células tronco. Nós vemos nossos neurônios-espelho em ação na imitação do bocejo, pois o cérebro interpreta que o outro detectou a escassez de oxigênio e para garantir operacionaliza o aumento de ar para os seus pulmões. Também vemos os bebês imitando as caretas dos adultos. Nossos neurônios-espelho são muito mais perspicazes e flexíveis e podem ser os responsáveis pela evolução de habilidades sociais mais sofisticadas e estarem relacionados com a aquisição da linguagem através da imitação.



A evolução dos “leitores de mente” está relacionada com o fato do cérebro humano ter múltiplos sistemas de neurônios-espelho especializados em executar e compreender não apenas as ações dos outros, mas suas intenções, o significado social do comportamento deles e suas emoções e automaticamente direcionar as próprias ações. Desta forma, podemos acessar a mente do outro não por meio do raciocínio conceitual, mas pela simulação direta. Sentindo e não pensando! Isso é Fantástico!!!!. Todas essas descobertas têm levantado discussões a respeito do que se acreditava sobre: cultura, empatia, filosofia, linguagem, imitação, autismo e psicoterapia. Essas descobertas subsidiam a compreensão que temos há muito tempo que as crianças aprendem mais pela imitação das atitudes daqueles com quem convivem, do que com o que lhes é dito. Assim, ao observar a ação de alguém conseguimos interpretar suas intenções.

Diante disso entra a questão de atribuirmos sentimentos, emoções e consciência para aqueles que sãos semelhantes a nós, ou seja, para aqueles que tenho empatia e compaixão – podendo ser da mesma espécie ou não. Então se vejo alguém sofrer meus neurônios-espelho fazem com que eu sita a mesma aflição e parar o sofrimento do outro equivale a parar o meu sofrimento. Será que foi assim que a natureza modelou o homem a ajudar o outro? foi assim que criou o altruísmo? Visando a cooperação entre os indivíduos de uma mesma sociedade?

Outro ponto interessante é que essas descobertas subsidiam a existência da cultura. Segundo o neurocientista Marco Iacoboni, da Universidade da Califórnia "A imitação é um mecanismo-chave para o aprendizado porque ajuda a evitar o desperdício de tempo com tentativas e erros". Até então, os profissionais das humanas tendem a separar biologia e cultura, mas não seria a cultura uma estratégia biológica para sobrevivência dos grupos? Ressalva-se que macacos, elefantes, golfinhos e cães – animais igualmente sociais - têm neurônios-espelho rudimentares. E inclusive, alguns pesquisadores questionam se o autismo não seja uma falha nesse sistema. E a medicina está interessada nessa propriedade para facilitar a reabilitação de pessoas que sofreram derrame.

A nossa linguagem simbólica que associa um objeto (forma visual) a um som, e depois a um símbolo (linguagem escrita) e então ao movimento da mão ao escrever esse símbolo e finalizando aos seus significados - também é totalmente baseada em neurônios-espelho. Michael Arbib em 1998 descreveu como gestos de mão e movimentos complexos da língua e dos lábios usados na formação de sentenças fazem uso do mesmo mecanismo. E possível esta relacionado com o pensamento metafórico.

Quando conversamos com alguém estamos prestando atenção (inconscientemente) a sua linguagem não verbal, quanto mais capacidade de imitação (inconsciente) essa pessoa tiver, mas nos reconheceremos nela e teremos empatia por ela. Por isso incorporamos tão facilmente movimentos, sotaques e gírias de novos grupos como quais passamos a conviver.
Devemos lembrar ainda, que a imitação é algo muito admirado pelos humanos, a base de muitos programas humoristicos...




Para saber mais
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=34918
http://cienciahoje.uol.com.br/103861
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG74705-6014,00-AS+CELULAS+QUE+APRENDEM.html
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/a_imitacao_pode_curar.html


O que você pensa sobre o altruísmo?.

Solidão, quem quer sentir?

Apesar da maior parte do tempo os animais realizarem atividades de manutenção – atividades fundamentais para sobrevivência e que só ele pode fazer como dormir, comer e limpar-se – aqueles que vivem em sociedades foram moldados pela natureza para não ficarem sós. Assim, o sentimento da solidão é criado para funcionar como uma espécie de emoção-termômetro que guiará o animal para buscar uma companhia.
Inicio esse texto sugerindo o livro “Quando os elefantes choram” (lista ao lado) de Masson e McCarthy. Segundo os autores a solidão é causa de morte em animais cativos e a busca por companheiros tem como objetivo evitar a tristeza, solidão e angustia. Mesmo animais tidos como solitários como tigres, leopardos, rinocerontes e ursos parecem passar mais tempo se associando com outro animal do que se acreditava.
A emoção denominada de “solidão” é sentida pelo corpo através de inúmeras manifestações fisiológicas e pode ser interpretada pelo cérebro de diferentes formas – desde “Ops! Preciso encontrar alguém, pois sozinho não sou ninguém” – até “Ops! Se não me querem no grupo, para que viver?”


Pesquisas...


Pesquisas conduzidas na Universidade de Chicago (Livro - solidão: A natureza humana e a necessidade para a conexão social) mostram que a rejeição ou o isolamento interrompem não somente habilidades, força vontade e perseverança, mas também processos celulares dentro do corpo. Os danos físicos – sistema cardiovascular, hipertensão, depressão, elevadas quantidades de cortisol pela manhã, insônia, progressão mais rápida da doença de Alzheimer - são tantos sintomas que a influencia no organismo chega a ser considerada um fator de risco igualado ao fumo, obesidade e falta de exercício.
Estudos conduzidos nas Universidades de Amsterdã, de Vrije e de Chicago têm verificado a influência genética na solidão. O trabalho define a solidão como "o centro de uma constelação de estados socioemocionais, que incluem auto-estima, humor, ansiedade, raiva, otimismo, medo ou negatividade, timidez, habilidades sociais, suporte social, insatisfação e sociabilidade". De acordo com os dados, a hereditariedade do sentimento é de 48%. Segundo os pesquisadores episódios de exclusão social, ostracismo, rejeição, separação e divórcio estão entre os potenciais acentuadores da solidão. As mulheres se revelaram mais suscetíveis a manifestar a herança genética, sentindo-se solitárias com mais freqüência do que os homens. Deve-se considerar que a predisposição genética a se sentir só pode ser atenuada por influência do meio.
Um estudo da Universidade de Chicago, EUA, mostrou que o isolamento social afeta o comportamento das pessoas diante de situações boas e desagradáveis. Durante a visualização de imagens boas, a região do cérebro denominada de striatum ventral - associada à sensação de recompensa - era mais ativada nas pessoas menos solitárias enquanto que imagens ruins ativaram menos a região do cérebro associada à percepção exterior do nosso corpo - junção temporo-parietal - nas pessoas solitárias. Indivíduos solitários tendem a ter menos motivação e menos perseverança, o que dificulta a adoção de dietas mais saudáveis e a prática de exercícios.
Uma nova pesquisa da Universidade de Chicago tem mostrado que a solidão é um importante fator de risco para o aumento de pressão sangüínea em americanos mais velhos e pode aumentar o risco de morte por derrame e doença cardíaca. OS pesquisadores descobriram que pessoas solitárias têm pressão sangüínea até 30% maior do que pessoas não-solitárias.
A psicanalista inglesa M. Klein, uma pioneira a pensar as origens do sentimento de solidão achava que esta brotava de ansiedades vividas durante a infância. Em verdade, a solidão está mais para sintoma, jamais pode ser considerada uma doença. segundo Kierkegaard, crianças, obrigadas desde cedo a conviver com a indiferença, o desamparo ou o abandono dos pais, estão se formando futuros solitários e até mesmo personalidades anti-sociais.

Cientistas do Instituto Babraham em Londres (Inglaterra) descobriram que ovelhas, assim como humanos, precisam ver "rostos" conhecidas depois de algum tempo sozinhas, mostrando que não apenas elas podem reconhecer umas às outras, o que é suficientemente interessante, mas também que têm as mesmas emoções que nós, em relação aos rostos",


Evolutivamente falando....

O Dr. Cacioppo - um dos fundadores da neurociência social – usa imagens de ressonância magnética para documentar os papéis da solidão e da conexão social como mecanismos reguladores centrais na fisiologia e no comportamento humano. Esse é um ponto interessante na interpretação filogenética, pois para sobreviver, seres humanos precisavam estender seus impulsos altruístas e cooperativos além do interesse pessoal estreito e dos parentes imediatos. Assim, a solidão deveria sinalizar uma necessidade de reparar as ligações sociais. Segundo um novo estudo conduzido pela Universidade de Chicago e pela Universidade Livre de Amsterdã, a solidão pode ser um fator herdado geneticamente desde os tempos das cavernas. Num artigo publicado na revista acadêmica Behavior Genetics, os autores afirmam que para ajudar pessoas que sofrem de solidão não basta apenas alterar o ambiente em que vivem. Os pesquisadores afirmam que a solidão teria origem nos tempos pré-históricos, quando os homens primatas se escondiam a sós para não ter de dividir a comida obtida por meio da caça. Esses primatas pré-históricos solitários se alimentavam melhor e assim conseguiam sobreviver e ter filhos, porém tinham problemas de relacionamento por serem mais hostis. A solidão, como a dor física, teria evoluído nos humanos de forma a produzir uma mudança no comportamento. Esse mecanismo, de acordo com Cacioppo, sinaliza a necessidade ancestral do homem de se agregar socialmente.

Tipos de Solidão

Um dos paradoxos sociais atuais é o sentir-se solitário ao mesmo tempo que se convive com tanta gente. Só no Brasil são 3,8 milhões de pessoas que moram sozinhas, um aumento de 137%, em 10 anos. Porém deve-se considerar que viver só não quer dizer ser solitário e o contrário também é verdadeiro. Somente a presença ativa de outro ser humano pode dar sentido ao vazio da solidão. Existem três tipos de solidão: isolamento intimo (físico) – isolamento social (relações) – isolamento coletivo (grupo). A solidão ocasiona ansiedade e medo. Para superar esses problemas a maioria das pessoas faz negação, ocupando sua mente e seu tempo com exaustivas atividades. No entanto, é só parar um pouco - como nas festas de final de ano - para que venha o desespero e a sensação de solidão. Tem até um termo americano para esse fenômeno "holiday blues" (depressão de fim de ano) e estatísticas que mostram aumento de suicídio nessa época do ano.

Os animais não são brinquedos...

Os animais de estimação estão sendo cada vez mais utilizados para diminuir a solidão das pessoas, sejam idosos, solteiros ou casais sem filhos. Nessas situações as pessoas atribuem necessidade e sentimentos “humanos” aos animais. Pesquisas mostram que essa é uma atitude efetiva para melhoria de saúde dos humanos, é claro! Animais de estimação também são indicados para crianças, sendo que os especialistas acreditam que podem auxiliar no desenvolvimento emocional da criança e o sistema imunológico desenvolve desde cedo mais defesas, acabando por se “habituar” aos agentes alérgicos encontrados nos animais. Há inclusive a zooterapia, cães que são levados até pacientes internados e tratamento com cavalos, comprovadamente eficazes. O fato de seremos animais sociais faz com que nossas necessidades biológicas de interação sejam análogas, talvez por isso conseguíssemos reconhecer nossas emoções nesses animais.
Mas será que a questão está no animal? Um estudo novo mostrou que cão robótico sofisticado para ser companheiro de idosos tão eficientes quanto cães verdadeiros. Segundo as pesquisas em asilos, a resposta dos pacientes foi parecida do que com um animal de verdade, além o animal seguir a pessoa, exigir cuidados e atenção, poderia também ser programado para lembrar a hora dos remédios e até monitorar a saúde do seu dono.... o que você acha disso???

Por que precisamos dormir tanto???? (texto Felipe Neves)




O que é o Sono?

“The brain is the most complex system in the known universe.” Christof Koch


Apesar dos inúmeros avanços nos estudos dos ritmos biológicos (cronobiologia) ainda falta muitas respostas sobre o real papel do sono e dos sonhos. Apesar de todos as atribuições sobre o mecanismo e tudo que sabemos, precisamos encontrar um “Deus ex machina” que unirá todos os pontos. O sono é um processo consideravelmente perigoso e que gera vários perigos de um ponto de vista evolutivo para um animal que dorme, como ser abatido por predadores e não perceber mudanças abruptas no ambiente. Muitos animais não entram em um estado de sono completo, mas em estado semi-ativo, alguns cetáceos são capazes de deixar um lado do cérebro em um padrão de sono e o outro como se estivesse acordado em características cerebrais semelhantes do observado durante o sono. A maioria dos animais, de invertebrados a seres humanos, apresentam características que podem ser consideradas como o estado de sono e talvez até alguns seres unicelulares Mas algumas dúvidas cruciais ainda persistem, Por que nós dormimos?, Qual a importância do sono e do que advém dele, como os sonhos?. Aqueles cientistas conduzindo a pesquisa psicológica diriam que os sonhos são realmente um evento de regulação dos processos emocionais, aqueles que estudam a consolidação da memória iriam descordar enfatizando ao invés disso a importância do no aprendizado juntamente com o sono, e outros poderiam argumentar que o sono REM é necessário para a regulação corporal e outras funções fisiológicas , que o sonhar por si mesmo não serve para propósito algum.

... o que ocorre durante o sono?

Antes de entrar nestes detalhes convém olharmos alguns aspectos que ocorrem durante o sono. O nosso corpo segue um ritmo circadiano, aonde as nossas atividades a noite ficam restringidas ao repouso e ausência de movimentos com o decorrer do tempo. A nossa temperatura corporal abaixa, o corpo entra em um processo de relaxamento e o que ocorre você já sabe, sonolência e inevitavelmente o sono. Dentro do cérebro alguns fatos importantes ocorrem. A Melatonina é um neuro-hormônio produzido pela glândula pineal e provavelmente tem como principal função regular o sono. Esse hormônio é produzido a partir do momento em que fechamos os olhos. Na presença de luz, entretanto, é enviada uma mensagem neuro-endócrina bloqueando a sua formação, portanto, a secreção dessa substância é quase exclusivamente determinada por estruturas fotossensíveis, principalmente a noite.

Quando estamos acordados, nosso cérebro é banhado por dois moduladores chaves que são essências para que exista consciência pelo modo que conhecemos: norepinefrina (que ajuda em nosso foco e atenção) e serotonina, que apesar de ser mais conhecida pelo seu efeito na regulação do temperamento (Prozac e outros antidepressivos trabalham baseados no aumento de serotonina no cérebro) possui um papel importante no julgamento, aprendizagem e memória. . Após nos adormecemos, parte da atividade cerebral decai e estes dois neuromoduladores param de circular e são substituídos por acetilcolina, que excita os centro motores, visuais e emocionais do cérebro e transmite sinais que ativam o padrão de sono REM (Rapid eye movement), descrita assim devido ao padrão de movimentação do globo ocular, durante este período do sono. No sono REM é que a maioria dos sonhos são relembrados, devido ao fato de que o cérebro esta mais ativo. Os estudos que trabalham com os sonhos acordam os indivíduos que estão sendo avaliados neste momento, quando os encefalogramas registram a alteração de padrão de sono característico do final do sono REM.

A acetilcolina ativa e reativa o sono REM em uma dança química Sem uma concentração alta de norepinefrina e serotonina nós não lembramos o que sonhamos, e muitas vezes sonhamos e nem sabemos. Os impulsos motores são bloqueados e o sono altera padrões entre sono REM e não REM. Partes do cérebro se tornam bloqueadas como os centros motores e perceptivos (sendo ativadas apenas por um estímulo forte o suficiente) e outras entram em um estado extremamente ativo como a amídala (responsável pela dispersão de nossos medos e na reposta lutar-voar) o hipocampo, e o telencéfalo (lado direito e esquerdo do cérebro). O sono é um processo intricado e que ainda não possui uma definição correta, geralmente é definido com um rápido estado reversível da imobilidade, perda de consciência e redução de respostas sensoriais. Mas esta definição é muito restrita e ainda e não existe consenso no meio científico.

ROCK, Andrea. The mind at night: the new science of how and why we dream. Basic Books 1st ed., 2004.

Siegel, J.M. Do all animals sleep? . Trends Neurosci. 31, 208–213. 2008



Qual a importância do Sono e dos Sonhos?]



“Dreaming is, above all, a time when the unheard parts of

ourselves are allowed to speak.”

Deirdre Barrett

Muitas pesspas acham que os sonhos produzem efeitos criativos dura

nte a sua bizarra orquestração de organização cerebral, e que a análise deles pela descrição pessoal conduziria a uma profunda e verdadeira análise psicológica do individuo, já que seria uma voz da parte “inconsciente” que estaria se manifestando. Também é argumentado um possível efeito como apaziguador de conflitos emocionais internos por mecanismos ainda não explicados. Assim como seu efeito associado ao sono com a aprendizagem e memorização. Muitos especialistas acreditam que os sonhos devam ser vistos como um tipo de percepção sem a orientação sensorial externa. Em estudos, cegos de nascença que nunca viram o mundo, tem sonhos que mostram informação visual, como profundidade e formação de rostos. Ou seja, grande parte ou totalmente a informação visual processada é formada no interior do cérebro sem ajuda do que consideramos “visão”, como se este fosse um padrão evolutivo que já está dentro do cérebro. Os primeiros animais que possivelmente tiveram sonhos foram os ancestrais dos mamíferos que podiam estar apresentando como alguns dos seus parentes dos dias de hoje, os ratos, o padrão de sono REM.


O sono em muitas de seus papéis é comprovadamente importante para a memorização e aprendizagem. Temos duas memórias para considerar, a memória declarativa que é a que utilizamos para se lembrar de um texto, e a proced

ural que é essencial como relembrar de caminhar, caçar uma presa, fazer um determinada atividade, esta sendo considerada inconsciente. A memória que utilizamos para pegar números de telefones por exemplo é a procedural que tem curtíssima duração para uma finalidades dessas e por isso se não anotarmos dificilmente relembraremos. O sono tem um papel nas duas.

A informação que é alocada no hipotálamo primariamente, migra para o córtex frontal e lá permaneça permanentemente. Pessoas com amnésia não conseguem processar com clareza a informação ainda no hipocampo e por isso elas são perdidas muitas vezes em sua alocação para o córtex frontal. Mas a memória procedural de alguma forma consegue se fixar e em estudos, pessoas com amnésia total conseguiam após jogar “Tetris” em um videogame e dormir, relembrar os botões e a posição dos dedos inconscientemente sem lembrar racionalmente de nada. O papel evolutivo disso é extremamente importante, principalmente na aprendizagem de, por exemplo, caçar uma presa, mesmo que o animal não tenha uma memória de longa duração, por algum processo (em gatos, por exemplo, com problemas na paralisação dos músculos durante o sono, eles imitam a espreita de presas, como se estivessem dentro de um sonho). A privação de sono ainda está relacionada a causa de câncer em humanos e outros animais, fadiga extrema, doenças crônicas e etc. O que se sabe até agora é apenas parte da importância que o sono e os sonhos tem no seu papel evolutivo. Estes trabalhos apenas mostram parte da complexa relação entre os processos criados na natureza.

ROCK, Andrea. The mind at night: the new science of how and why we dream. Basic Books 1st ed., 2004.

Siegel, J.M. Do all animals sleep? . Trends Neurosci. 31, 208–213. 2008