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domingo, 24 de maio de 2009
No fundo somos macaquinhos imitadores?
Os Neurônios-Espelho – os neurônios dos leitores de mente....
Eu e os graduandos de biologia e psicologia temos discutido exaustivamente nas últimas semanas a questão se os animais têm sentimentos, emoções e consciência. Me chamou muita a atenção o relato de uma aluna da biologia a respeito do constrangimento que a irmã passou a se posicionar a favor dos animais diante de profissionais da área das humanas, os quais acham inconcebível a comparação entre os “humanos” e os “outros” animais.
Se nos deslumbrarmos com o desenvolvimento tecnológico alcançado pelos humanos – viagens especiais, nanotecnologia, Internet e por aí vai... – cria-se uma distância enorme e a comparação de fato é ridicularizada. Somos uma espécie muito nova, temos apenas cerca de 100.000 anos, é muito pouco, quando comparamos com os quase 700.000.000 de anos que os animais vivem na Terra. A nossa separação com os chimpanzés – nosso parente primata mais próximo – foi a cerca de 4.000.000 de anos. Ou seja, não estamos muitos distantes dos outros animais quando analisamos o nosso corpo biológico, nossa morfologia, nossa fisiologia... Então o que nos afastou realmente?
A resposta pode estar na “estratégia de sobrevivência” – a vida em grandes grupos – o desenvolvimento de sociedades complexas – a necessidade da comunicação e principalmente no surgimento dos “leitores de mente”. E nada disso é exclusividade nossa! Os comportamentos que norteiam a vida em sociedade são parecidos em todos os animais sociais, nós apenas maximizamos alguns pontos, impulsionados pela demanda em manter sociedades cada vez mais complexas.
Um dos “elementos biológicos” que propiciaram o start para “a criação da humanidade” são os denominados neurônios-espelho ou células-espelho. Esses neurônios são capazes de analisar cenas e interpretar as intenções dos outros. Eles foram descobertos pelo neurocientista Giacomo Rizzolatti no macaco Rhesus, a cerca de 15 anos na Itália, em experimentos nos quais o macaco tinha os movimentos monitorados através de eletrodos e foi verificado que esses neurônios podiam ser estimulados mesmo sem o movimento do animal, apenas com a visualização de um outro individuo executando a mesma atividade. Como se o cérebro simulasse os movimentos e vivesse eles virtualmente! Fantástico!
Nos humanos, os neurônios-espelho foram identificados no córtex pré-motor e no lobo parietal inferior, parece que 5% dos nossos neurônios são espelhos. Muitos cientistas acreditam que a descoberta dos neurônios-espelho tenha sido uma das mais importantes do ultimo século e um grande passo para neurociência - comparam até com a descoberta do DNA e das Células tronco. Nós vemos nossos neurônios-espelho em ação na imitação do bocejo, pois o cérebro interpreta que o outro detectou a escassez de oxigênio e para garantir operacionaliza o aumento de ar para os seus pulmões. Também vemos os bebês imitando as caretas dos adultos. Nossos neurônios-espelho são muito mais perspicazes e flexíveis e podem ser os responsáveis pela evolução de habilidades sociais mais sofisticadas e estarem relacionados com a aquisição da linguagem através da imitação.
A evolução dos “leitores de mente” está relacionada com o fato do cérebro humano ter múltiplos sistemas de neurônios-espelho especializados em executar e compreender não apenas as ações dos outros, mas suas intenções, o significado social do comportamento deles e suas emoções e automaticamente direcionar as próprias ações. Desta forma, podemos acessar a mente do outro não por meio do raciocínio conceitual, mas pela simulação direta. Sentindo e não pensando! Isso é Fantástico!!!!. Todas essas descobertas têm levantado discussões a respeito do que se acreditava sobre: cultura, empatia, filosofia, linguagem, imitação, autismo e psicoterapia. Essas descobertas subsidiam a compreensão que temos há muito tempo que as crianças aprendem mais pela imitação das atitudes daqueles com quem convivem, do que com o que lhes é dito. Assim, ao observar a ação de alguém conseguimos interpretar suas intenções.
Diante disso entra a questão de atribuirmos sentimentos, emoções e consciência para aqueles que sãos semelhantes a nós, ou seja, para aqueles que tenho empatia e compaixão – podendo ser da mesma espécie ou não. Então se vejo alguém sofrer meus neurônios-espelho fazem com que eu sita a mesma aflição e parar o sofrimento do outro equivale a parar o meu sofrimento. Será que foi assim que a natureza modelou o homem a ajudar o outro? foi assim que criou o altruísmo? Visando a cooperação entre os indivíduos de uma mesma sociedade?
Outro ponto interessante é que essas descobertas subsidiam a existência da cultura. Segundo o neurocientista Marco Iacoboni, da Universidade da Califórnia "A imitação é um mecanismo-chave para o aprendizado porque ajuda a evitar o desperdício de tempo com tentativas e erros". Até então, os profissionais das humanas tendem a separar biologia e cultura, mas não seria a cultura uma estratégia biológica para sobrevivência dos grupos? Ressalva-se que macacos, elefantes, golfinhos e cães – animais igualmente sociais - têm neurônios-espelho rudimentares. E inclusive, alguns pesquisadores questionam se o autismo não seja uma falha nesse sistema. E a medicina está interessada nessa propriedade para facilitar a reabilitação de pessoas que sofreram derrame.
A nossa linguagem simbólica que associa um objeto (forma visual) a um som, e depois a um símbolo (linguagem escrita) e então ao movimento da mão ao escrever esse símbolo e finalizando aos seus significados - também é totalmente baseada em neurônios-espelho. Michael Arbib em 1998 descreveu como gestos de mão e movimentos complexos da língua e dos lábios usados na formação de sentenças fazem uso do mesmo mecanismo. E possível esta relacionado com o pensamento metafórico.
Quando conversamos com alguém estamos prestando atenção (inconscientemente) a sua linguagem não verbal, quanto mais capacidade de imitação (inconsciente) essa pessoa tiver, mas nos reconheceremos nela e teremos empatia por ela. Por isso incorporamos tão facilmente movimentos, sotaques e gírias de novos grupos como quais passamos a conviver.
Devemos lembrar ainda, que a imitação é algo muito admirado pelos humanos, a base de muitos programas humoristicos...
Para saber mais
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=34918
http://cienciahoje.uol.com.br/103861
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG74705-6014,00-AS+CELULAS+QUE+APRENDEM.html
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/a_imitacao_pode_curar.html
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é de fato muito legal esta descoberta, pois é muito importante para que todas as pessoas tanto da área de humanas quanto da saúde verem que estamos mais próximo de todos os outros animais do que imaginamos, apesar de eu achar equisitíssimo uma pessoa olhar algo vivo, com comportamentos complexos e não se identificar.
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