Ser Biólogo é Bonito demais! Uma homenagem ao dia do Biólogo!

 
Era uma vez uma menininha que amava aos bichos e escreveu em seu diário Quando crescer quero trabalhar com os animais, quero cuidar deles, mas não quero ser veterinária”! Só depois que passou o dobro do tempo da sua idade ela soube que aquela matéria da escola poderia ser profissão! E daí não teve mais dúvida que encontrou seu caminho. Na Universidade, cada aula, uma alegria, um aprendizado que só servia para confirmar o que já sentia: que a vida em todas as suas manifestações era perfeita e fantástica. A cada matéria e a cada novo mestre - independente se aprendendo sobre ecossistemas, rochas, animais, plantas, células, genética ou bioquímica – o seu encantamento e respeito pela Vida aumentavam e se solidificavam, construindo a base necessária para que admirasse a vida em todos os seres vivos pelo resto da sua vida!
Essa menininha era eu, e hoje olhando para o passado para escrever esse post em homenagem ao dia do Biólogo me dá uma alegria enorme de ver a história que escrevi. Há dois dias a trás foi a formatura de uma turma de Biologia muito querida, que eu era tutora e fui a madrinha. Uma turma que me mostrou que além de eu ser uma pessoa abençoada por ter percorrido um caminho fantástico de consolidação das minhas expectativas de trabalhar com bichos e de ajudar a melhorar a vida tanto da natureza quanto das pessoas; também multipliquei esse tipo de “vírus” que é o amor pela Biologia, já foram quase 20 turmas e a contribuição na formação de muitos colegas de trabalho e companheiros tanto na luta como na admiração pela vida...  Desde cedo eu já sabia que era maravilhoso trabalhar com animais, mas nem sonhava que seria tão gratificante e encantador trabalhar com gente!
 Se olharmos atentamente para o Biólogo percebemos que ele é diferente das outras pessoas. A maioria de já nasceu Biólogo, tem cara de Biólogo, tem cheiro de Biólogo e principalmente tem coração de Biólogo. Ser biólogo adotar um estilo de vida como carreira. Abraçar a essa profissão que é tradicional e de base - sendo inclusive matéria no ensino fundamental e médio - e ao mesmo tempo está na lista das profissões do futuro tendo em vista: a ameaça próxima de um colapso ambiental; o aumento da população humana com a necessidade do conhecimento da ecologia urbana; a busca da cura de inúmeras doenças; e a colaboração para mudança de paradigmas da sociedade que agora se une em um só povo global e que demanda a reflexão de novos códigos morais e éticos, em decorrência de novas descobertas como a nossa semelhança emocional, sentimental e de consciência com os demais animais.

O Biólogo é médico e advogado da natureza. Como médicos, aprenderam a observar, entender, diagnosticar, propor tratamentos preventivos e profilaxias para cuidar de seus pacientes, Que pacientes? Qualquer forma de vida! Uma célula, uma planta, um animal, o homem, um ecossistema, o planeta! Como advogados aprenderam a ouvir a natureza, e como o resto do mundo não entende essa linguagem, agora precisam falar por ela, ir a sua defesa, e fazer justiça. Justiça de seres vivos que têm tanto direito, quanto o homem, de viver e viver bem nesse planeta que é de todos.  É lógico, que o biólogo pode fazer muito mais para auxiliar o bem-estar dos humanos nas diferentes áreas industrial, alimentícia, farmacêutica, e contribuir para o desenvolvimento de inúmeras outras profissões - que tem o ser humano como alvo de atuação. Mas, além disso, é o profissional cujos objetos de estudo são os animais, as plantas e todos os demais organismos conhecidos ou não pelo homem. É o altruísmo mais intenso e puro que já vi. Quando uma pessoa dá a sua juventude, sua vida, seus sonhos em prol de espécies tão diferentes de si mesmo, e em prol das gerações do futuro, as quais não se tem certeza se um dia saberão de do que fizeram e se serão gratas por isso. O fato, é que o biólogo faz isso por amor, por conseguir ver o que os outros não enxergam, por entender o que a natureza fala... É bonito de mais ser Biólogo!Agora a ciência já sabe que ser biólogo é um tipo de inteligência assim como a linguística, lógica, espacial, sinestésica, musical, interpessoal e intrapessoal, ou seja, é um talento codificado nos genes e estruturado no cérebro. Nós biólogos já sabíamos disso! Gardner - o autor da teoria das inteligências múltiplas - depois que as sete inteligências estavam bem determinadas - revisando suas hipóteses percebeu que havia esquecido a mais importante (pelo menos pra nós, obviamente) a inteligência naturalista, ou seja, a capacidade de distinguir os organismos e entidades do mundo natural, de perceber o diferente como igual!


Quando um Biólogo encontra seu caminho de aprimoramento e desenvolvimento técnico não está não apenas buscando a sua satisfação pessoal, mas determinando o seu papel na sociedade e visando que ela funcione bem e em harmonia. Quando os vocacionados e passionais Biólogos se encontram na faculdade acontece uma química fantástica, pois se reconhecem um no outro. É incrível! Parece que no mundo só existe biólogo, e assim vivem os quatro anos da faculdade. Com paixão - brigam e lutam  - contra tudo e todos que vão contra o que a natureza precisa. O biólogo quer simplesmente manter o planeta vivo e bem.  É lógico que para isso precisa ter muita vocação, e é por isso que o Biólogo faz biologia por amor. O Biólogo é um ser cooperativo e não competitivo, pois para que sua missão seja cumprida precisa unir forças. O Biólogo é altruísta e não egoísta, pois ser biólogo é se doar. De fato é a mais bela de todas as profissões. O Biólogo se encanta por cada pedacinho de vida que existe neste planeta, seja um grande animal ou uma fração de DNA; se encanta com o próprio corpo, se sensibiliza com o que está sendo feito com a natureza e deve se mobilizar para que a vida no planeta seja possível por muito e muito tempo. O idealismo guiam-no na busca da contribuição para um mundo melhor. Essa profissão tão mágica, tão envolvente, tão desafiadora, tão motivadora é movida pela curiosidade em desvendar os segredos da vida somados ao espírito crítico que não sossega mesmo diante dos maiores obstáculos... E daí, entre um desafio e outro, entre uma oportunidade e outra, vai aprendendo e tendo como maior recompensa a certeza de que contribuiu com o seu melhor, e que  por menos que acredite que seja e faça nesse universo imenso, com certeza, esse pouquinho faz muita diferença.


O Biólogo tem muitos desafios pela vida (e cá pra nós, esse é o combustível dos cientistas)... Cada um tem uma história (por isso não é sábio se comparar com o outro), para alguns o caminho é mais fácil, para outros um pouco mais difícil, o mais importante é não perder a essência do Biólogo que é a curiosidade, a criatividade, a confiança, o espírito critico e principalmente a fascinação pela vida...  e nem tampouco a autoestima, que significa não desanimar diante dos “nãos” – as vezes o tão sonhado emprego não está tão à mão, mas ele existe! Não perder a autoestima é fundamental, pois o conhecimento técnico e teórico foi adquirido na Universidade – e amor pela função e o prazer de fazer já existem - então é só não desanimar. A autoestima é o bem mais precioso que um biólogo pode cultivar, logo, não deve se machucar nem deixar que lhe machuque. Não deixar que ninguém - nem nada - abale seu idealismo, ânimo, otimismo, pois essas serão sempre as suas melhores armas, na luta pela sobrevivência. Após a formatura o Biólogo, pode se especializar e se transformar em zoólogos, botânicos, geneticistas, fisiologistas, paleontólogos, etolólogos, embriologistas, ecólogos enfim.. mas nunca deixarão de ser BIÓLOGOS, por isso devem estar prontos para atuarem como tal no momento em que a sociedade precisar. Logo, devem manter o desejo de desvendar a vida, sempre cientes de que independente do tamanho da sua descoberta, contribuição ou pesquisa... a consciência de ter feito o melhor - com seriedade, comprometimento e principalmente de forma ética - fará com que tudo o que fizerem, faça diferença no mundo.
Manter a vida do planeta.. é uma missão audaciosa e necessária, que demanda a busca de conhecimento e alternativas, bem como o despertar da consciência da população, dos empresários, dos órgãos gestores e dos demais profissionais que atuam na nossa sociedade.... Só não se pode esquecer que a vida não se mantém sozinha, ela depende de uma intrigada teia de relações, onde se encontram todas as áreas da biologia. Isso é que faz a biologia a profissão mais bela e completa da nossa sociedade. Pois como biólogos, procuramos manter essas relações saudáveis, incluindo aí o próprio ser humano, o qual é alvo de todas as demais profissões. Quando o homem se separou da natureza e buscou o controle da sua existência e da sua evolução; quando buscou dominar a natureza e a sua biologia, ele deixou de fazer parte dessa busca. Porém ao longo da nossa formação aprendemos que não somos superiores aos outros seres inseridos na natureza. Já não é mais possível pensar o homem afastado do resto da natureza. A noção de separação foi uma ilusão perigosa que nos deu um salvo-conduto para explorar impunemente todos os aspectos do mundo natural – animal, vegetal e mineral. E agora enfrentamos as consequências: pobreza, fome e mudanças climáticas são alguns poucos exemplos. Há uma só Criação, uma só Natureza, uma só ideia, boa, plena, completa, feita de indivíduos de todas as formas, e todos expressam sua unidade com Deus. Não somos diferentes porque parecemos diferentes, mas porque cada  ser vivo reflete a eterna beleza e inteligência da Criação de maneira peculiar. É isso que faz toda essa tessitura de pensamento e existência – Devemos ver o ser humano como animal e assim respeitarmos a todos os seres vivos - e nos respeitarmos como tal. Pois somente a partir do reconhecimento que nós somos seres biológicos e que moldamos nossas sociedades e culturas sobre um substrato orgânico - é que poderemos intervir e melhorar a vida no planeta. Novas descobertas mostram que o mais nobre dos sentimentos que acreditávamos que nos fazia humanos - que é a solidariedade – está também presente em outros animais. Frans de Waal fazendo uma comparação do comportamento humano com de primatas conclui que se evitarmos confundir o processo com seus produtos veremos o homem como um animal com íntimos conflitantes como poucos no planeta. Ele é capaz de incrível destruição de seu meio e de sua própria espécie, mas ao mesmo tempo possui reservatórios de empatia e amor mais profundos do que jamais se viu, inclusive sendo capaz de dedicar toda sua existência em prol de outras espécies. Como esse animal conquistou a dominância sobre todos os demais é ainda mais importante que ele se olhe com honestidade no espelho para conhecer tanto o seu arqui-inimigo como o seu aliado - prontos para ajudar a construir um mundo melhor.
À medida que nos tornamos Biólogos, principalmente quando convivemos com Biólogos temos a tendência em achar que o mundo está cheio de gente que pensa como a gente, mas depois percebemos que somos muito poucos, mas com o um objetivo muito grande. Aí entra nosso papel do Educador, e do Educador Biólogo, através da modificação de comportamentos, atitudes e paradigmas... Através da conscientização do papel de cada ser humano como ator da transformação da realidade; através do ensino de como ser cidadão, de como ser responsável pelo mundo de hoje e de amanhã; através dispersão de sementes de transformação e colheita de frutos que serão resultados não de todo nosso conhecimento acadêmico e técnico - obviamente extremamente importantes - mas sim do que nós mudamos em nós mesmos através do conhecimento que adquirimos ao longo da nossa jornada. Não é através do que falamos que iremos construir uma consciência no outro, mas sim através de nossas atitudes, do que realmente acreditamos; daquilo que fazemos, e através do exemplo que seremos para inúmeras gerações de biólogos, educadores, seres-humanos... Atualmente, a tecnologia aliada com a Biologia tem nos aberto inúmeras possibilidades na medicina; na economia se debate a utilização dos transgênicos; entendemos um pouco melhor a evolução da vida. Porém, apesar de compreendermos que a natureza precisa de cuidados, muitas vezes nos sentimos incapazes de ajudá-la, pois além se sermos poucos, ainda conhecemos muito pouco daqueles que precisamos cuidar. No entanto, está claro que precisamos ser mais econômicos, conscientes e sustentáveis na utilização dos nossos recursos naturais. Por isso devemos discutir com toda a sociedade os novos paradigmas, principalmente aqueles que têm surgidos com a BioÉtica.  Atualmente reconhecemos que os seres vivos estão integrados entre si. Essa visão ecológica do mundo se baseia em estudos de comunidades animais e vegetais defendidos por grandes nomes como Capra que nos alerta a prestar atenção no vivo. Assim, todo organismo vivo - da mais minúscula bactéria até toda diversidade de plantas e animais, incluindo os seres humanos, é um sistema vivo. As partes dos sistemas vivos são elas próprias sistemas vivos. Uma folha é um sistema vivo, um músculo é um sistema vivo; cada célula do nosso corpo, é um sistema vivo. As comunidades de organismos que incluem tanto os ecossistemas e os sistemas sociais humanos como a família, a escola e outras comunidades, são sistemas vivos. Não é exagero dizer que a sobrevivência da humanidade vai depender da nossa capacidade, nas próximas décadas, de entender corretamente os princípios da ecologia e da vida. A natureza demonstra que os sistemas sustentáveis são possíveis. O melhor da ciência moderna está nos ensinando a reconhecer os processos pelos quais esses sistemas se mantêm. Cabe a nós aprender a aplicar esses princípios e criar sistemas de educação pelos quais as gerações futuras poderão aprender os princípios e aprender a planejar sociedades que os respeitem e os aperfeiçoem. Por isso o próprio Capra preocupado com a educação dos jovens para construção de um mundo sustentável criou o centro de eco alfabetização – acreditando que a educação por uma vida sustentável estimula tanto o entendimento intelectual da ecologia, como cria vínculos emocionais com a natureza. Por isso, ela tem muito mais probabilidade de fazer com que as nossas crianças se tornem cidadãos responsáveis e realmente preocupados com a sustentabilidade da vida, que sejam capazes de desenvolver uma paixão pela aplicação dos seus conhecimentos ecológicos, a reformulação das nossas tecnologias e instituições sociais de maneira a preencher a lacuna existente entre a prática humana e os sistemas da natureza ecologicamente sustentáveis. 


Para tal, o papel do biólogo educador é fundamental, por isso Mauro Guimarães frisa bem que a transformação da sociedade é consequência da transformação de cada indivíduo. Uma educação ambiental que dialóga com a cidadania e que pretenda ser coerente com a mudança social, ou seja, capaz de contribuir para eliminar a sociedade de risco, consolidar a democracia, criar os valores e as instituições sociais necessárias para erigir a sociedade ambiental e socialmente sustentável. Deve-se ressaltar novamente que o ambiente não é apenas a ecologia, mas a complexidade do mundo, logo é um saber sobre as formas de apropriação do mundo e da natureza através das relações de poder que se inscreveram nas formas dominantes de conhecimento. O ambiente como uma realidade complexa é aquele que interconecta o que está fora e dentro da escola; o que está na realidade local e global; o que está no pátio escolar e na reserva ambiental; o que está no social e na sua inclusão no ambiental. O sentido de educar ambientalmente vai além de sensibilizar a população para o problema, não basta mais sabermos o que é certo ou errado em relação ao meio ambiente. Só a compreensão da importância da natureza não tem levado a sua preservação por nossa sociedade. Precisamos superar a noção de sensibilizar - que na maior parte das vezes é entendida como compreender racionalmente. Sensibilizar envolve também o sentimento, o amar, o ter prazer em cuidar, a forma como cuidamos dos nossos filhos. É o sentido de doação, de integração, de pertencimento à natureza. Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediados pelo mundo. Assim, Ernest Callenbach nos lembra que as mudanças de valores costumam levar séculos para se realizar, por meio das experiências práticas e reflexões de milhões de pessoas. O ritmo das mudanças dos valores pode parecer lento demais para nos salvar das catástrofes da desertificação, do desflorestamento, da fome e das doenças – causadas pelo aquecimento global, pela redução da camada de ozônio, pela superpopulação e pelos declínios drásticos nos níveis básicos de produtividade do mar e da terra. Por isso é preciso que se desenvolva e difunda urgentemente uma ética de responsabilidade ambiental.

Desejo hoje uma Feliz vida de Biólogo para todos os Biólogos e principalmente para os Biólogos que ajudei e tenho ajudado a formar. Desejo a cada um de vocês que a natureza reverencie os seus caminhos da mesma forma que todos os dias vocês também reverenciem a todos os seres vivos (inclusive o homem!), e respeitem-nos quanto ao seu espaço, seu tempo e suas necessidades, suas limitações; e faça sempre o seu melhor para melhorar o viver de todos. Fique atento para admirar e se encantar com a vida em todas as suas nuances e em todos os lugares; sinta-a, se sensibilize com ela, não a banalize simplesmente por ela ser o seu objeto de trabalho. Aceite com humildade os presentes que a vida lhe der e com coragem a missão que ela lhe conceder. Fique atento às oportunidades e abrace-as, com garra e fé. Se não der pra fazer aquilo que se ama, ame aquilo que você faz e faça bem feito, com dedicação e paixão. Parabéns para todos os Biólogos!

03 de Setembro de 2012/2020