O grupo de trabalho em Ética e Bem-estar no uso de animais no Entretenimento formado pelos acadêmicos: Gabriela Lourenço
Leviski, Vanessa de Oliveira Amaral, Naila C. R. Caetano, João
Carlos Fontana, Raquel Vizzotto de Menenzes, Renata M. Matos,
Nayara Dotti, Tharine C. Gonçalvez, Cintia O. Soares, Deyse
M. A. Mendes, Maria Luiza Antunes, Larissa F. Caxambu, Windy
Pacheco, Mayara R. Seer e Marta Luciane Fischer - reunido nos
dias quatro e cinco de setembro de dois mil e doze, na Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, Campus Curitiba, durante a Semana Acadêmica de Biologia – discutiu aspectos éticos
e legais no uso de animais para o entretenimento do homem. O grupo concorda que esta
destinação aos animais que estão sob a tutela do homem é inadmissível nos dias
atuais em que existem tantas alterativas de entretenimento de alta tecnologia
que permite sensações infinitamente mais saludáveis, como espetáculos com malabarismos,
ilusionismo, equilíbrio de humanos que desafiam nossa compreensão; salas de
exposição 3D e 4D; parques de diversão, parques temáticos, parques aquáticos,
parques hidrominerais, parques ecológicos e milhares de jogos eletrônicos.
O primeiro ponto discutido foi o
uso de animais em apresentações circenses. Embora o circo moderno tenha se iniciado
em 1750 e correspondido às expectativas de entretenimento de muitas gerações, a
própria população começou a exibir uma inquietação ética quanto à forma como os
animais eram tratados durante os treinamentos, bem como a opressão sofrida
durante as apresentações. Diante desse cenário inúmeros movimentos liderados
por Ongs como a PEA
e WSPA –
com manifestos, protestos, petições, recomendações, denúncia, documentários - chamaram
a atenção e pressionaram as autoridades - que se apoiando na constituição federal
(artigo
225) e na lei de
crimes ambientais - elaboraram projetos de leis municipais, estaduais e
federais resultando na diminuição dessa forma de exploração, mas não em uma
extinção total. Embora os defensores da causa tenham usados como argumentos os maus-tratos
decorrentes dos métodos de manutenção e treinamento, o estímulo ao tráfico de
animais de animais, o uso de animais domésticos para alimentar os carnívoros, a
mutilação e os danos irreversíveis para saúde física e mental dos animais –
parece-nos que o argumento mais efetivo tenha sido o risco desses animais se
rebelarem e atacarem o público e os treinadores, bem como de transmissão de
doenças. O interessante é que apenas um integrante do nosso grupo de trabalho tinha
lembranças de sua percepção de animais em circo e eram relacionadas com
sensação de mal-estar em presenciar o elefante sendo puxado e golpeado com um
gancho, o leão exibindo comportamentos agressivos contra o domador e uma
história do elefante que esmagou a menina que dividia o show com ele. Com a
nova legislação e as inúmeras campanhas contra o uso de animais em circo muitos
animais foram abandonados, sendo o manejo, principalmente dos carnívoros, um
sério problema dos dias atuais.
O segundo
ponto da reflexão do grupo foram os Animais expostos em Zoológico. Embora a função
atual dos zoológicos ultrapasse a mera exposição dos animais, os mesmos surgiram
com a finalidade de servir como coleção particular de animais que
posteriormente foi aberta ao público para entretenimento. Atualmente tem sido
muito discutida os zoológicos devem manter a visitação do
público ou se os mesmos deveriam servir apenas para conservação. Sem dúvida que
estamos vivendo um momento de transição com argumentos contra e pró à
manutenção de animais selvagens em cativeiros. É um conflito entre uma visão
tradicional e a defesa dos interesses e necessidades dos animais. A visão mais
extremista defende a extinção total dos zoológicos, tolerando a existência de
santuários para os animais que não têm condições de retornarem a vida selvagem.
O outro lado, diz que é fundamental para manter o reservatório genético de
populações que estão muito baixas na natureza e também para educação ambiental.
Mas o questionamento é o que as crianças estariam aprendendo vendo animais
descaracterizados, hostilizados e subjugados pelo homem. Por outro lado,
crianças que crescem vendo animais apenas em documentários poderiam se
distanciar ainda mais do mundo natural? O grupo tem a percepção de que animais
taxidermizados em museus poderiam cumprir essa função. A privatização dos
zoológicos ou cobrança de entrada poderia ser uma forma de melhorar as
condições dos cativeiros, e propiciar profissionais exclusivamente direcionados
para avaliação do bem-estar dos animais, realização de enriquecimento ambiental
e desenvolvimento de programas de educação ambiental. Uma solução sugerida pelo
grupo foi o convênio dos zoológicos com intuições de ensino e desenvolvimento
de projetos em conjunto para que sempre tivesse profissionais e acadêmicos
suprindo as essas demandas. O cumprimento das exigências legais, também parece
que não é viável para os Zoológicos, pois o próprio órgão fiscalizador
reconhece que a maioria está irregular. Sugere-se que protocolos de manutenção
sejam revistos considerando novas descobertas dos sistemas emocionais dos
animais e das suas necessidades biopsicossociais.
O uso de animais em Novelas, filmes, reality e afins é algo que me particularmente incomoda muito
e o grupo também considerou como intolerante. Mesmo que essas obras se
constituam de ficção, eles geram conteúdos que são refletidos no comportamento
da massa, sim! Animais que indicam status como os “cachorros de madame” pode
sim estimular a aquisição de animais, mesmo sem o interesse ou condições de
criação. Um exemplo é o aumento de aquisição e abandono de cães da raça Chihuahua após a
exibição do filme legalmente
loira. Existem denúncias que os próprios animais usados para a filmagem de
“água para
elefantes” sofreram maus-tratos. Além das novelas e filmes, tem os reality,
alguns com o intuito de mostrar pessoas urbanas sofrendo com a vida do campo (A Fazenda) e outros que fazem os animais
sofrerem nas provas que os participantes devem cumprir (Hipertensão).
Basta ficarmos alguns instantes na TV e aparecerão os animais, no workshop foi
relatado programas infantis que fazem corrida de ratos
e tartarugas e que periquitos
tiram a sorte. Não nos esquecemos dos programas de TV que exibem os animais
seja no estúdio ou supostamente na natureza.
Aparentemente não há nenhuma lei especifica que regulamente o uso desses
animais como existe nos Estados Unidos e Reino Unido, cuja uma Ong - depois de
ler o roteiro e constatar que os animais não estão sujeitos a condições de
maus-tratos - dão uma certificação para filmagem. No Brasil, o Grito do Bicho já tentou se mobilizar
várias vezes por crimes ambientais veiculados mais de uma vez no reality a
fazenda em que participantes mataram animais da fauna silvestre, contra
participantes do mesmo reality que afirmaram ter maltratado um animal e contra
a veiculação de imagens em que a vilã matava o cão de uma personagem. Em todas
as situações houve uma mobilização por parte dos seguidores do Blog, porém sem
resposta das emissoras. Foi relatada uma participação de 35.000 internautas
contra a soltura de um ratinho em um balão pelo programa pânico na TV. Diante desse relato, o grupo concordou que a
forma mais efetiva de impedir a exploração de animais nos programas de TV é
agindo junto com os anunciantes que determinam de fato que será ou não
veiculado. Se a população se mobilizar e deixar claro o que agrada ou não esse
pode ser o canal.
Os Desfiles
e concursos de animais, especialmente de cães, gatos e animais de
produção também devem ter uma atenção especial. A criação de raças é algo
extremamente preocupante como já denunciou o documentário “segredos do pedigree”. A
manutenção de um padrão da raça e a geração de lucro e status levam as pessoas a tratarem seus animais como fonte de lucro
e admiração e muitas vezes estimulando a mutilação, o estabelecimento de genes
recessivos e deletérios como a síndrome
de down em gatos persa, da coluna bífida em cães da raça Leão
da Rodesia e pombos
totalmente desfigurados, muitos sem visão e capacidade de voo. No caso de
animais de produção como gado, ovelhas e equinos a legislação em torno dos
concursos está vinculada ao ministério da agricultura, porém com relação a
animais domésticos parece não haver nada além dos regimentos dos próprios
concursos que induzem à própria prática. A ética na criação de animais é um
tema cada vez mais presente, pois muitas pessoas desrespeitam os animais ao
emendarem uma ninhada a outra durante quase toda a vida da fêmea, não respeita
a consanguinidade e selecionam raças cada vez menores e com sérios problemas
físicos e mentais. Em
Curitiba e no Estado de São Paulo já é proibido ter canil e reproduzir
animais na área urbana., uma forma de coibir esse comércio, que pode ser
melhorado com a microchipagem e esterilização obrigatória.
Muitos
estabelecimentos mantem exibições de animais
selvagens e treinados e esses
locais como sea world tem público cativo.
Casos de ataques aos treinadores têm sido cada vez mais comum como o caso da orca. O documentário “A enseada” foi produzido
por um ex-treinador de golfinhos que se deparou com uma realidade desconhecida
até eles chegarem na instituição. Alguns advogados abolicionistas têm usado uma
prática de entrar com habeas corpus
para animais, mesmo sabendo que um juiz não dará ganho à causa, fazem isso para
gerar a discussão, como foi o caso do pedido do fim
do trabalho escravo para as orcas e a liberdade
para o chimpanzé Jimmy. Deve-se considerar que uma vez livres a
reabilitação desses animais nem sempre é possível e fins trágicos como do free
willy podem ocorrer. Houve relatos também que depois da morte de Steve
Irwin por uma raia, seus fãs começaram matar as raias que encontravam. No Brasil o biólogo Richard
Rasmussen imita a audácia de Irwin, porém segundo denúncias os animais são
plantados e muitas vezes mutilados para as exibições, o que leva o
questionamento da função dessa exibição para população. Muitos safaris
prometem para o turista um show de animais em seu ambiente natural, porém é
nítido o incômodo dos jipes, barulhos e fotos. O fato mais chocante relatado no
workshop foi dos prostíbulos
de orangotangas na Ásia mantido pelos turistas. O que indigna a nós que amamos aos animais é
porque a lei não é aplicada em situações que estão extremamente explicitas. Precisa
de denúncia?
Muitos animais
também são explorados pelo Turismo. Temos desde cavalos que puxam as charretes
no Central
Park em Nova York, os elefantes
e camelos que carregam os turistas na África, aos Jegues
e Camelos
que passeiam com turistas no nordeste brasileiro. Enquanto leis mais rígidas
tentam proteger a carga de trabalho nos países do primeiro mundo e a morte de
um cavalo em Nova York reascendeu o debate de trocar os animais pela eletricidade.
No Brasil, os animais trabalham o dia inteiro embaixo de um sol quente e muito
agito o ano todo. O excesso de jegues tem sido um problema e gerou ultimamente
a polêmica da exportação dos animais para China, o mesmo aconteceu com cães que puxam
trenó para turista em estações de esqui, cuja resistência dos animais e o
excesso de indivíduos após as olimpíadas levou a morte de centenas deles. A
indonésia é campeã em casos polêmicos como elefantes
que pintam, macacos
que fazem shows para turistas e do prostibulo
das orangotangas. Além de todos esses problemas têm-se ainda os souvenir de animais
em resina, artesanato
com conchas, peixes
secos, jóia
viva e chaveiro
de peixe e tartaruga vivos. Como conter esse comércio que está à exposição para
todos os fiscais dos crimes ambientais e pessoas sem autorização para coleta e
transporte e muito menos para comercialização podem explorar esse recurso
limitado até mesmo para cientistas.
Por fim, o
último tema debatido foi a Zoofilia e sem dúvida o que mais indigna qualquer
pessoa que preza pela ética e bem estar dos animais. Ao se colocar o termo
zoofilia na internet aparecerão inúmeros relatos explícitos de experiências e
orientação de como praticar, filmes e fotos relacionadas com sexo bizarro ou
parafilias que pode ser subdivida, ainda, em Necrozoofilia
e Zoosadismo. Todos esses
sites além de incentivos despertam a curiosidade e diluem os poucos sites de
denúncia e reflexão sobre um problema ridicularizado, banalizado e ignorado
pela população. O grupo concordou que a apologia à crimes é crime, e esse
material está sendo veiculado impunimente e livremente pela internet. Embora
existam alguns movimentos que visem aumentar a pena para crimes de zoofilia, a sociedade
ainda associa a pratica à cultura, e acha normal um ex-presidente
da república relatar em uma revista masculina que iniciou sua vida sexual
com animais. Atualmente a França já começa a se posicionar – e assim como para
pedofilia – já começou a proibir imagens e vídeos de sexo com animal. No Brasil
as modelos
ficam famosas ao relatarem que fazem sexo com animais. Um trabalho recente
relacionou a elevada frequência de Câncer
de pênis no Nordeste brasileiro com a prática da zoofilia. A zoofilia parece que não ficou apenas na iniciação
sexual dos meninos do passado, parecer ser uma prática cada vez mais comum na
nossa sociedade. Informações extraoficiais
dizem que na Europa animais já são treinados para fazerem sexo com homens ou
mulheres, e semanalmente são registrados casos de cadelas estupradas e mulheres
que chegam engatadas com cães em hospitais. E a sociedade acha tudo normal, ou
no máximo ri e faz piada quando casos são relatados.
Durante o
Workshop além de estudos de caso e reflexão sobre os aspectos éticos e legais,
também procuramos pensar em alternativas, esse ensaio foi escrito a 30 mãos!. É óbvio que em todas essas situações
em um primeiro momento se pensa em uma legislação mais severa e uma
fiscalização mais eficiente. Eu já acredito que de nada funcionam os códigos
morais e legais se os mesmos não estivem em sintonia com a ética do indivíduo.
Cada cidadão deve considerar os animais iguais a si próprio, para que possa
atribuir a ele um senso moral e assim respeitar o seu direito de viver e viver
bem, pelo simples fato que ele é um ser vivo. Muitas pessoas já nascem com essa
ética, outras nascem e se insensibilizam em decorrência do próprio sofrimento
em um mundo em transformação e outras não conseguem olhar nem outro ser humano
como igual. Nós como Biólogos, e automaticamente, a voz da natureza, temos uma
obrigação moral de falar para sociedade, poder público e legisladores que os
animais sentem as mesmas dores físicas e mentais que o homem e do mesmo jeito
que eu não quero sofrer e não quero que os meus semelhantes sofram, também não
posso permitir que nenhum animal sofra. Nós somos acadêmicos, pensamos ciência
e nosso papel é mostrar cientificamente o que muitos já sabem pela experiência.
Precisamos direcionar os olhares e mostrar alternativas ao mundo. Assim,
podemos informar e sensibilizar para que o processo de autoconsciência se
consolide e cada cidadão contribuía para o bem-estar de todos os seres vivos
com os quais compartilha o planeta. Quem sabe um dia conseguiremos ter um Núcleo
de consultoria dentro do nosso curso como nossos alunos e professores
promovendo um papel mais efetivo na sociedade e cada um fazendo a sua parte para que o mundo seja
melhor. Fecho nosso primeiro e muito gratificante workshop com a resposta de um
famoso ativista ao ser questionado de quando passou a se interessar pelos
animais. Esse ativista era militar e em uma das tantas guerras pela qual passou,
um cavalo em chamas cruzou o seu caminho. Em uma fração de segundos seus olhares
se cruzaram e ele entendeu o que o cavalo lhe dizia “O que eu fiz para merecer
isso?” “Você não vai fazer nada pra me ajudar?”!
Este seu material está uma preciosidade. Vou publicar em nosso blog um link para cá... excelente!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirabraços
Ficou ótimo Professora!
ResponderExcluirSuper esclarecedor... A professora conseguiu sintetizar tudo o que falamos (e foi muita coisa mesmo) sem perder nenhuma informação importante.
Agora, divulgando pessoal!
Olá Marta parabéns ao grupo por ter se reunido para a discussão deste tema relacionado ao uso dos animais para entretenimento. Também acredito que nosso papel enquanto ativistas seja o de mostrar à sociedade que espetáculos onde animais fazem apresentações, seja qual for o tipo de espetáculo tem sempre como instrumento o sofrimento de um bicho que terá que se submeter a um comportamento anti natural. Nós aqui em SP temos certeza que as legislações protetivas visando acabar com o uso de animais em shows, eventos, buffets também são e serão importantes e prometemos que vamos lutar cada vez mais para que nossos legisladores nos apoiem nesta luta.
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