Controle ético de pragas urbanas, é possível?

Série: Instagram #Bioética.em.foco

Por Andressa Cordeiro Riceto 




Ei, você já percebeu que convivem contigo diversas espécies que não são nativas do Brasil ou da sua região?

Então olhe ao redor: as rosas! as abelhas! os gatos! o mosquito da dengue! o pombo! o javali! e por ai vai.... A maioria das espécies que são levadas (querendo e sem querer) de um país para o outro, nem chega a sobreviver! Algumas sobrevivem, mas sempre com poucos indivíduos e não causam nada! Porém, 1% se torna invasor! Isso mesmo! Eles se reproduzem exageradamente, expulsando ou matando as espécies nativas e usando os seus recursos (espaço e alimento)! A questão é o que fazer com essas espécies exóticas invasoras! É lógico! Eles precisam ser exterminados, pois causam impactos imensuráveis. Mas será que seria possível fazer isso de uma forma ética? Sustentável? Humanizada?
Certamente já ouviu falar nessas espécies, pois são muito comuns nos ambientes urbanos. Pois bem, as espécies exóticas invasoras foram introduzidas em nosso país principalmente para fins econômicos, no entanto, devido ao manejo inadequado e soltura dos animais na natureza, a população desses animais está em constante crescimento. Esse aumento na população acontece porque não há predadores disponíveis no ambiente natural que se alimentem delas. Com isso, surgem sugestões de maneiras de realizar o controle desses animais, porém, esses muitas vezes envolvem situações constrangedoras para os animais ou não possuem eficácia na eliminação e, portanto, não resolvem o problema, mas pioram a situação. Mas será que não é possível realizar um controle de maneira ética? Os pesquisadores da Bioética Ambiental estão dizendo que sim! E todos nós temos a responsabilidade de discutir essas questões, a fim de chegar a um consenso da melhor solução!
Se você entendeu que você é corresponsável pela biodiversidade, seja cuidando para não disseminar espécies exóticas, seja ajudando a monitorar os ambientes e quer aprender um pouco mais sobre o assunto te convido a ler o artigo (Link)  publicado pelas autoras Marta Fischer e Jéssica de Gang, que abordam sobre as questões da problemática do Caramujo Gigante Africano Invasor.


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Veja o Blog do Caramujo:  Conexão Caramujo




Sobre Famílias e Uniões Homoafetivas



por Mário Antônio Sanches 
Professor de Bioética e de Teologia da PUCPR e Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Bioética


Ao longo dos tempos observam-se transformações nas percepções das relações humanas e sociais. Em relação à família, por muito tempo, se apregoava que era indispensável defendê-la como instituição, afirmando que era uma instituição sagrada, quase absoluta. Com esta percepção, todo modelo familiar que não se enquadrasse da rígida regra social dominante era exorcizado e, não raramente, perseguido. 

Nos tempos atuais percebe-se, criticamente, que a família é importante na medida em que propicia estrutura humana e social para o crescimento, amparo e proteção de seus membros. Quando a família, ao contrário disso, violenta seus membros – os dados sobre violência familiar são notáveis – ela será questionada pela sociedade e a sua dissolução se permite e até mesmo se impõem. Esta é a percepção atual sobre família: ela não é uma instituição absoluta e reificada – com fim em si mesma - mas uma instituição importante como estrutura a serviço de todos os seus membros. 

Há também novas percepções sobre as relações afetivas entre pessoas. Sabe-se que termos como ‘sexualidade’ e ‘homossexualidade’ não constavam no léxico dos povos antigos. Na época em que os textos sagrados das grandes religiões foram elaborados esta terminologia não estava em uso. Havia sim expressões que denotavam relações entre pessoas. A constituição familiar não priorizava a relação afetiva entre pessoas, e era constituída, predominantemente, para fortalecer alianças entre famílias e grupos sociais. No seio do cristianismo ocidental, católico, se consolidou a ideia do ‘consentimento’ como base do matrimônio, fundamento de uma nova família. Sabe-se que isto se estabeleceu há menos de mil anos. Os estudiosos da família nos lembram o tempo todo: a família fundada no consentimento amoroso dos cônjuges é muito recente e tipicamente ocidental. 

Deste modo, chega-se a algumas posições óbvias nos nossos dias, como percepção dominante nas sociedades ocidentais. São aceitas e incentivadas as relações afetivas entre pessoas desde que estas relações tenham alguns componentes internos, dentre eles: sejam consentidas (não impostas nem violentas), promovam a realização dos envolvidos (não sejam deprimentes nem repressoras), sejam socialmente responsáveis (zelem pelo comum). Neste contexto, a família passa a ser muito valorizada por compreender que é uma instituição privilegiada para propiciar a experiência fundante de cada ser humano: ser amado de modo incondicional. Assim a família passa a ser apreciada e valorada pela sociedade na medida em que fomenta relações de amor e cuidado a cada um dos seus membros. Se a família não cumpre este papel, a sociedade atual a questiona. 

Estas transformações de percepções sobre as relações afetivas e sobre a família exigem de todos nós uma postura crítica: nenhum modelo de família pode, por si mesmo, ser canonizado nem satanizado. Por questão de honestidade somos levados a reconhecer que em modelos de família, que tradicionalmente se valoriza, pode haver imposição, violência e irresponsabilidade social. Por outro lado, em alguns novos modelos de família, que muitos não apreciam, pode haver amor, afeto sadio e promoção de vida. Deste modo a sociedade aprende a acolher – embora a cegueira social possa obnubilar algumas mentes – uma grande variedade de modelos e configurações familiares. 

A família homoafetiva é um destes novos modelos, muito atacado por aqueles que defendem uma família onde prima a força institucional e não a dinâmica do afeto, que a sociedade acolhe e por isso cria leis que a protege. Quando um Estado não acolhe nem regulamenta a união homoafetiva ele está deixando de proteger as pessoas envolvidas nesta nova configuração familiar. Quando o Estado não protege a união homoafetiva como família ele está apostando no seu fracasso, negligenciando as pessoas envolvidas, deixando de cumprir o seu papel de promotor do bem comum. Em resumo: é injusto o não reconhecimento da união homoafetiva como família por parte do Estado. 

As religiões precisam aprender que o Estado regula as relações pessoais e sociais que promovem o bem comum. Isto nem sempre vai coincidir com o que uma determinada religião estabelece como ideal de vida. 




Estudante recebe o primeiro título do Doutorado em Humanidades da PUCPR e UCM

Moçambicano é o primeiro doutor formado pelo programa de pós-graduação fruto da parceria entre o Brasil e o país africano



O Portal da PUCPR divulgou no dia 16/10/20



No último sábado (10), Trindade Chapare, estudante do Doutorado em Humanidades, defendeu sua tese de forma online e foi o primeiro a receber o título pelo programa, que é fruto de um acordo de cooperação entre a Pontifícia Universidade Católica do Paraná  (PUCPR) e a Universidade Católica de Moçambique (UCM).

A pesquisa de Chapare teve como tema  “A pertinência de políticas de proteção dos animais não-humanos em Moçambique: um estudo baseado na percepção de estudantes universitários sobre bens e serviços” e foi orientado pela professora Marta Luciane Fischer, do Programa de Pós-Graduação em Bioética da PUCPR.


Além do estudante e da professora orientadora, também acompanharam a banca virtual o professor da PUCPR Anor Sganzerla, coordenador do Doutorado em Humanidades, o diretor da UCM, Lino Marques Samuel, o professor Jelson Oliveira, do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da PUCPR (PPGF-PUCPR), e o bispo D. Luiz Fernando Lisboa, que é brasileiro mas atua em Moçambique.

Chapare fez parte da primeira turma do Doutorado em Humanidades da PUCPR e UCM, que começou em 2017. Segundo o professor Anor Sganzerla, Trindade é um pesquisador talentoso e a banca foi bastante satisfatória. “Nós gostamos bastante do resultado do trabalho”, comenta. Nos próximos meses, os colegas do mais novo doutor em Humanidades também devem fazer as defesas.

Doutorado em Humanidades em Moçambique

O Doutorado em Humanidades é fruto de um protocolo de cooperação acadêmica, científica e cultural firmado entre a PUCPR e a UCM em 2015. A primeira turma, da qual Trindade Chapare fez parte, começou dois anos depois, com 36 estudantes, na cidade de Quelimane, capital da Província da Zambézia (província é o nome dado àquilo que, no Brasil, denomina-se estado).

Liderado pelas Escolas de Educação e Humanidades e Ciências da Vida e coordenado pelo professor Anor Sganzerla, conta com a participação de 29 professores da PUCPR de quatro programas de pós-graduação da Universidade: Programa de Pós-Graduação em BioéticaPrograma de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Políticas PúblicasPrograma de Pós-Graduação em Filosofia e Programa de Pós-Graduação em Teologia. Alguns dos docentes lecionaram presencialmente na Universidade Católica de Moçambique antes da declaração de pandemia.


A pertinência de políticas de proteção dos animais não-humanos em Moçambique: um estudo baseado  na percepção de estudantes universitários sobre bens e serviços

 

 

Trindade Filipe Chapare


RESUMO

A concepção moral tradicional situa o homem por cima de todos os outros seres vivos, estabelecendo assim uma ética totalmente antropocêntrica, na qual os animais somente podem chegar a ser considerados de forma instrumental. No mundo ocidental, essa tradição moral predomina há mais de dois mil anos. A pertinência de políticas de proteção dos animais não-humanos em Moçambique: um estudo baseado  na percepção de estudantes universitários sobre bens e serviços é o tema proposto para o presente estudo cuja contextualização da abordagem baseada na análise bibliográfica e entrevista, em termos gerais se circunscreve em analisar que deficiências na formação do universitário impedem sua consciência ecológica e motivam a violência contra animais não-humanos no que diz respeito aos princípios de bioética e em termos específicos procura  discutir a presença dos princípios bioéticos na formação dos universitários; apresentar a inserção social dos animais não-humanos em Moçambique numa perspectiva de consciência universitária; e descrever a percepção dos estudantes universitários sobre o uso de animais para diferentes finalidades (bens e serviços). Busca neste âmbito trazer um contributo na promoção do bem-estar animal. Em tempos actuais já não se pode olhar com passividade a crueldade imposta aos animais não-humanos. As insuficiências da legislação que regulamenta a vida selvagem são apenas uma parte do problema, já que mesmo a aplicação de penas relativamente leves tem sido inconsistente. Para além de uma legislação mais severa para travar de forma decisiva as práticas que atentam contra o bem-estar animal, são necessárias campanhas públicas de informação e consciencialização de grande visibilidade. O veganismo surge como um estilo de vida que busca excluir todas as formas de exploração dos animais – seja para alimentação, vestuário, diversão ou qualquer finalidade. Culturalmente, é ensinado que comer carne, leite e ovos é normal e necessário. A escravidão, por mais de 500 anos em Moçambique, também foi considerada normal e necessária, e isso mostra que a sociedade muda sua percepção da realidade ao longo do tempo. Não é porque todos fazem que está certo, e não é porque sempre foi feito de uma maneira que deve continuar assim. Do extremo onívoro ao extremo vegano, ambos podem ter bons ou maus hábitos. A intenção não é julgar o livre arbítrio de cada um, mas buscar alternativas capazes de causar menos sofrimento aos animais não humanos e reduzir o impacto ambiental. Assim, acredita-se que, com a mútua aplicação da Educação Ambiental e da Bioética Ambiental como ferramentas e fundamentos podem ajudar nesse processo.

Palavras-Chave: Animais não-humanos; Bioética; Bens e Serviços; Percepção de Estudantes.