Série ensaios:
Ética no Uso de Animais
Por: Gilberto
Ademar Duwe
Desde a antiguidade o homem possui sua vida profundamente
ligada a animais de outras espécies. Essa convivência, no entanto, pode causar
sofrimento para os animais, privando-os de sua liberdade e em alguns casos
comprometendo até mesmo suas vidas. Isso porque, o ser humano considera o
animal como de sua propriedade e desta forma se acha no direito de fazer tudo o
que quer, até mesmo práticas sexuais. Com relação a sexualidade, a zoofilia
possui ampla distribuição pelo mundo, com uma grande quantidade de adeptos. O
termo zoofilia, palavra composta de zoo, que significa animal e filia,
que significa amor ou amizade, significa a prática sexual de seres humanos e
animais de outras espécies, onde exista o contato dos órgãos sexuais, com ou
sem penetração. Assim, entende-se a masturbação das genitálias dos animais,
sexo oral, anal, vaginal entre homem ou mulher com o animal, macho ou fêmea,
como uma prática zoófila (Oliveira, 2013; Abreu, 2005; Singer, 1999).
Esta prática é difundida entre as pessoas a tal ponto que
cerca de 34,75%
de homens brasileiros que vivem em zonas rurais já tiveram algum tipo de
relação sexual com animais em algum momento da vida, uma prática considerada
tão comum que é vista com certa normalidade entre essas pessoas (Oliveira,
2013). Outro ponto a ser destacado é o fato da zoofilia não ser praticada
exclusivamente por homens, muitas
mulheres são adeptas desse comportamento sexual.
Em termos gerais, os homens ao praticarem a zoofilia realizam a penetração do
pênis em animais fêmeas ou machos de pequeno ou médio porte como galinhas,
cachorros, cabras ou ovelhas. Realizada desta forma a zoofilia pode causar
sérios danos
físicos ao animal, levando-o muitas vezes a morte. No entanto,
quando a penetração é realizada em animais de grande porte como éguas, vacas ou
porcas, os danos físicos ao animal podem ser mínimos ou totalmente inexistentes
devido à diferença de tamanho dos órgãos sexuais (Oliveira, 2013; Singer,
1999).
As mulheres, no entanto, praticam sexo com animais machos
de todos os tamanhos como cachorros, touros e até mesmo cavalos estando em uma
situação passiva, ou seja, sendo penetradas pelo animal. Devido a isso, na maioria das vezes a mulher
pode pensar um pouco e evitar fazer sexo com um animal que possa causar dano
físico a si mesma, coisa que não acontece quando o animal está na posição
passiva (Oliveira, 2013). Essa prática sexual é extremamente polêmica, pois uma linha
de raciocínio argumenta que quando o ato sexual não causa dano ao animal ele
pode ser feito tranquilamente e sem vergonha. No entanto outros consideram uma
prática imoral e até mesmo satânica (Oliveira, 2013; Singer, 1999). Singer
(2011) comenta que alguns
homens usam galinhas como um objeto sexual, inserindo seu pênis na cloaca do
animal e ocasionando, na maioria das vezes a sua morte. Porém, muitas vezes o
homem decapita a ave antes da ejaculação para que o esfíncter tenha algumas
convulsões e proporcione mais prazer para o praticante do ato. Contudo, o autor
questiona se morrer desta forma seria mais sofrido do que passar o resto da
vida presa em uma gaiola estreita com várias outras galinhas, botando ovos sem
descanso para depois serem transportadas em caixas apertadas para um abatedouro
(Singer, 1999). Sendo assim, Singer (2011) comenta que quando a prática sexual
com animais envolve dor, sofrimento e a morte do animal, ela é imoral, todavia,
se não há sofrimento a prática pode ser aceitável e tolerável. No entanto, o
abuso do bem estar humano e de outros animais não está associado somente a dor
física ou a morte. Os problemas
psicológicos causados por práticas sexuais inadequadas podem causar
danos muitas vezes, mais significativos aos indivíduos, do que a própria
violência (Albefaro, 2011).
Em alguns casos comenta-se que esta prática até proporciona
prazer para alguns animais que eventualmente procuram a pessoa para a
realização do ato sexual. No entanto, geralmente nesses casos o animal adquire
um comportamento sexual com pessoas, quando o mesmo mantém contato apenas com o
ser humano, não interagindo com nenhum outro indivíduo de sua espécie, ou seja,
ele não tem nenhuma alternativa, nem mesmo a masturbação (Oliveira, 2013;
Singer, 1999). Portando, a prática sexual com animais se restringe
exclusivamente com indivíduos cativos, ou seja, privados de sua liberdade e sob
domínio do ser humano. Um exemplo hediondo de utilização de animais para
práticas zoófilas acontece em bordeis da Indonésia e Borneo, onde Orangotangos
fêmeas são acorrentadas e obrigadas
a satisfazer sexualmente homens da região. Por tanto, mesmo que o ato não produza dor ou sofrimento
para o animal, a privação da liberdade já o impede de decidir se quer ou não se
relacionar sexualmente com o ser humano, podendo este ato ser considerado como
um estupro, pois se assemelha a condição de uma mulher ou criança que está
sendo coagida a praticar sexo, com ou sem penetração, com ou sem sofrimento, e
sem seu devido consentimento (Oliveira, 2013; Singer, 1999).
Com isso, considero que a zoofilia além de ser uma forma de
estupro, é também um indício de problemas psicológicos que devem ser
devidamente tratados por um profissional competente. Por fim, o que o ser humano faz entre quatro
paredes com companheiros da mesma espécie e com a devida permissão de todos os
participantes, não vejo como algo imoral ou antiético. Isso porque as pessoas
devem buscar meios de se satisfazerem sexualmente e tornarem suas vidas mais
felizes e agradáveis. Contudo, os meios de buscar essa satisfação sexual não
deve comprometer a liberdade de ninguém, buscando sempre o bem estar de todos
os envolvidos.
O presente
ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética no Uso de Animais baseando-se
nas obras:
OLIVEIRA,
W. F. A zoofilia é especista ou tolerável. Seminário Internacional Fazendo
Gênero 10. Florianópolis, 2013.
ABREU,
I. P. Delitos Sexuais. Portal dos Psicólogos. 2005.
SINGER, P. Practical Ethics. 2ª ed.
Cambridge University press. New York, 1993.
ARCHER, L. A sexualidade Humana. Conselho
Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Lisboa, 1999.
MONTÉS,
J. F. J. Zoofilia, alianzas sexuales com diosas y occisiones de jefes: escenas
singulares em el arte rupestrepostpaleolítico espanol. Quad. Preh. Arq. Cast.
2005
Disponível
em: http://www.apipa10.org/noticias/publicacoes-da-apipa/no-mundo/2408-pony-orangotango-femea-mantida-como-escrava-sexual-em-prostibulo-de-borneu.html.