Ecologia Química no Contexto da Saúde Pública


Ontem (25.03.2011) foi a sessão pública de apresentação dos dados do meu estágio de pós-doutorado realizado no Laboratório de Ecologia Químia da UFPR coordenado pelo Prof. Dr. Francisco de Assis Marques. Para quem não pode estar presente deixo aqui o resumo das conclusões do trabalho:





Os dados obtidos com o projeto revelam aspectos da ecologia química de dois animais de interesse médico e se constituem de importantes subsídios no controle e manejo dessas pragas urbanas que se destacam pela elevada adaptabilidade à ambientes alterados. Animais generalistas que possuem diferentes estratégias de sobrevivência adaptáveis a cada nova situação e o sucesso está tanto na seleção de sítios favoráveis quanto no aumento da taxa reprodutiva. A comunicação química é muito importante para todos os organismos, principalmente para os invertebrados noturnos, logo, a maximização dessa percepção pode ser mais uma estratégia de adaptação e sobrevivência utilizada por esses animais. A aranha-marrom é uma espécie endêmica do Brasil, cuja espécie L. intermedia representa 90% dos registros em Curitiba e embora se locomova mais do que as outras espécies do gênero, esse comportamento é mais efetivo no macho em busca da fêmea. O fato de viverem em pequenas cavidades escuras remete a existência de semioquímicos que oriente a locomoção do macho. Os estudos com a aranha-marrom estão mais avançados, uma vez que foram identificados dois compostos exclusivos do corpo da fêmea, e que revelaram em bioensaios a atratividade de machos. Porém testes com animais, extratos e com os compostos mostram que a comunicação química é utilizada em associação com a comunicação vibracional, extremamente importante para esses animais que evoluíram utilizando as teias com extensão dos seus receptores sensoriais. Assim, o macho possivelmente localize uma aranha à distância, se aproxima para poder realizar uma identificação individual. Já o caramujo usa a comunicação química principalmente para navegação e orientação pelo ambiente na busca de refúgio e sitio de alimentação, sendo o comportamento gregário e o homing duas estratégias importantes e mediadas por semioquímicos, porém altamente flexíveis sendo utilizadas em resposta a defesa contra fatores bióticos e abióticos. O muco parece ter um contexto importante na comunicação, por isso sua composição pode ser extremamente variável, uma vez que pode informar condições favoráveis ou adversas do ambiente, disponibilidade de recursos, tamanho da população, indicar o melhor local para forrageamento e o sítio de repouso e ainda ter um reconhecimento individual e ser utilizado para competição e marcação de território. Embora fantástico em termos de conhecimento da história natural do animal, é pouco eficiente na elaboração de armadilhas. Porém esses animais reagem à diferentes matrizes orgânicas presentes no ambiente cuja concentração e estágio de decomposição são importantes na determinação da atratividade ou repelência, fato que inviabiliza o uso dessas matrizes in natura para atração dos animais, como veiculado na mídia. A identificação dos compostos e a possibilidade de serem verificados compostos semelhantes nessas matrizes será um importante aliado na elaboração de uma armadilha. Ambos os animais de interesse médico aqui estudados se deslocam curtas distâncias e parecem ter um homing, deslocando-se ao redor do mesmo. Fato que caracteriza a comunicação química mais efetiva a curta distância, diferente de insetos voadores como lepidópteros e hemípteros. Esse padrão dificulta a confecção de armadilhas, uma vez que deveriam ser colocadas próximas para atrair um número efetivo de animais. Em ambos os casos, a continuidade dos estudos é fundamental para determinar, depois de reconhecido os compostos atrativos, a melhor concentração, o melhor modelo de armadilha e a forma de posicionamento no ambiente. A priori os resultados são muito satisfatórios, pois trazem uma abordagem pioneira no uso das informações da ecologia química no controle de pragas urbanas, um ambiente extremamente complexo e animais com perfis generalistas e altamente adaptáveis.

O laboratório de Ecologia Química do Dr. Francisco de Assis Marques tem nos últimos oito anos integrado um grupo de pesquisadores atuantes em diferentes instituições e em distintas áreas aplicadas à saúde pública como: epidemiologia, zoologia, ecologia, etologia, bioquímica, bioacustica, química, manejo e controle. Nesse período já foram aprovados três grandes projetos pelo Cnpq/Pronex para Aranha-marrom, 2 Fundação Araucária para Caramujo e Dengue. Sendo que apenas no presente projeto de pós-doc esteve vinculado a organização de um livro, a publicação de 2 capítulos de livros, 8 artigos publicados, 4 artigos redigidos e em fase final de preparação para submissão, 5 resumos apresentados em congressos. E ainda, vinculados como formação de recursos humanos: 2 teses de doutorado, 1 dissertação de mestrado, seis trabalhos de conclusão de curso e seis PIBICs. Apenas de forma integrada, com cada profissional maximizando as suas potencialidades, é possível a caracterização biológica e ecológica de uma espécie considerada praga urbana e, assim, gerar subsídios para elaboração de métodos de diagnósticos, controle e monitoramento de animais de interesse médico, auxiliando os órgãos gestores na minimização dos impactos à saúde do homem e do ambiente, decorrentes do intenso processo de urbanização e degradação ambiental. O fato de essas espécies estarem inseridas no contexto urbano, faz com que o cidadão seja o principal ator de qualquer ação que vise a sua qualidade de vida, por isso, a ponte entre o conhecimento acadêmico, os órgãos gestores e a comunidade é fundamental para que resultados efetivos sejam alcançados.

A vergonha é uma grande estratégia de interação social....

Vejam que bacana esse vídeo que Cecília Bernardes Barbosa aluna do primeiro período de psicologia me passou... aqui nós vemos o cão demonstrando para o seu tutor que ele reconhece que fez algo errado e deixa bem claro isso, dessa forma a demonstração de que se sente culpado ameniza a punição... show!

O Uso de ferramentas não nos faz humanos....


Semana passa foi divulgada uma descoberta que vai mexer com alguns conhecimentos importantes na evolução dos hominídeos e seus parentes mais próximos, os chimpanzés. Uma pesquisa conduzida pele etólogo Antonio Souto pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) mostrara que o macaco-prego-galego (Cebus flavius), espécie criticamente ameaçada de extinção, usa ferramentas elaboradas para aquisição de alimentos. Algo, até então evidente para os chimpanzés e que os destacavam dos babuínos na aquisição de cupins. Enquanto os babuínos precisavam esperar a revoada dos cupins, os chimpanzés confeccionam ferramentas de galhos escolhidos e trabalhados com os dentes, o mesmo é inserido dentro do cupinzeiro e os cupins ao defender a colônia, modem o galho, ficando presos. Tem-se, então, um espetinho de cupins! Os macacos-pregos - evoluídos nas Américas são os primatas do novo mundo - já são conhecidos pela sua inteligência, vida social complexa e habilidade com ferramentas, sendo o exemplo mais comum atribuído ao Cebus apella, que usa pedras para quebrar coquinhos. Nesta pesquisa os macacos-pregos-galegos foram num fragmento de mata atlântica e a pescaria de cupins, a técnica envolve dar tapinhas no cupinzeiro, escolher um galho apropriado, enfiá-lo no ninho e girá-lo. Acreditava-se, até então, que o uso de ferramentas era uma estratégia para sobrevivência em ambientes abertos e secos, como o cerrado e a caatinga. Uma vez que a baixa disponibilidade de alimentos incentivaria a busca de alternativas, fato que foi relevante na origem e dispersão dos hominídeos, como a postura bípede, ocupação da savana, mudança nos hábitos alimentares e dispersão pelo mundo. Outros animais também descobrem formas inusitadas de resolver seus problemas e adquirirem alimentos mais facilmente, muitos aves são extremamente hábeis em usar galhos e quebrar nozes. Isso mostra que a inteligência e a capacidade de usar ferramentas, vem de longe...

Veja a matéria completa

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/886339-macaco-prego-pesca-cupins-com-galho.shtml

Livro de Etologia de Antônio Souto:

http://books.google.com.br/books?id=J-Vn9WC7QgIC&printsec=frontcover&dq=Antonio+Souto+etologia&source=bl&ots=C0AIMT3KmP&sig=chWvB_7A2ArvnxPhNCAopdoOHYg&hl=pt-BR&ei=hbKETcn2I8GutweOrPTbBA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CB4Q6AEwAQ#v=onepage&q&f=false

Site do artigo científico publicado por Souto:

http://rsbl.royalsocietypublishing.org/content/early/2011/03/03/rsbl.2011.0034.abstract?sid=bca80baf-fa09-4a00-9b33-ae50ed680a31

Haverá um Homem de Nearntendal entre nós ou dentro de nós? Espinhos no pênis, dedos desproporcionais e cérebros maiores, qual será a próxima?



Vários animais possuem seus órgãos copulatórios ornamentados. São espinhos, pêlos, cirros e similares que servem para retirada de espermatozóides de machos precedentes. A bomba de uma nova descoberta divulgada por Ricardo Bonalume Neto na folha on line, foi que o ser humano de não ter espinhos no pênis (feitos do mesmo material das unhas, a queratina, como têm os chimpanzés os gatos) é graças à perda de um fragmento de material genético. Segundo a matéria, esses espinhos queratinazados, além de aumentarem sensibilidade táctil do pênis, tornam o coito mais rápido, e podem machucar a fêmea. Todas essas conseqüências têm a ver com estratégia reprodutiva relacionada com espécies promiscuas, em que além da passagem rápida do espermatozóide e retirada de espermatozóides competidores, desestimula a fêmea a ter novas cópulas. Os estudos foram liderados por Gill Bejerano e David M. Kingsley, da Universidade Stanford, na Califórnia, ao comparar material genético do homem, do chimpanzé e de outros macacos, em busca de sequências de DNA que eram mantidas nos chimpanzés em outros animais, mas deletadas do genoma humano. Foram encontradas 510 regiões deletadas, com fragmentos de DNA capazes de influenciar genes próximos, mas que, com uma exceção, não trazem o código para produzir proteínas. O fato do Chimpanzé compartilhar com homem cerca 96% do genoma, faz com que descobrir o que há de diferente possa ajuda a explicar o que significa ser humano em termos de anatomia, fisiologia e comportamento. A evolução da monogamia pode ser evidenciada pelo fato do homem não ter dentes caninos maiores; os testículos têm tamanho moderado (embora o pênis humano seja o maior entre os primatas, mesmo comparado ao do gorila); a ovulação não tem sinais exteriores. Embora nosso parente mais próximo esteja a 5 milhões de anos, se fossemos comparar nosso genoma com o Homem de Neartandal, também encontraríamos essas mesmas deleções genéticas relacionadas à perda dos espinhos penianos. Outros estudos têm comprovado que de fato, o que nos distancia do homem de Neartandal, são aspectos culturais. Uma pesquisa realizada por Philipp Gunz, do Instituto Max Planck de Antropologia da Evolução na Alemanha mostrou que os cérebros do homem de Neandertal e do homem moderno, similares no nascimento, divergem em seu desenvolvimento a partir do primeiro ano de vida. As diferenças refletem provavelmente mudanças nos circuitos e conexões cerebrais, relativas à organização interna do cérebro que conta mais para as capacidades cognitivas e são importantes para um grau avançado de socialização, emoção e funções de comunicação. É improvável que o homem de Neandertal percebesse o mundo da mesma forma que nós, no entanto, não podem ser considerados burros, pois eram caçadores sofisticados, altamente especializados, dominavam a curtição dos couros e costura dos mesmos. E aparentemente gostava tanto de sexo como nós. Segundo pesquisa de Emma Nelson, da Universidade de Liverpool essa conclusão é baseada no comprimento do dedo, o qual pode indicar promiscuidade entre hominídeos, baseando na razão entre o comprimento do dedo indicador se comparado com o dedo anelar (menor proporção entre o anelar e o segundo dedo). Essa diferença de tamanho é resultado da exposição do útero a hormônios sexuais como andrógenos (nos quais se inclui a testosterona) e que afeta tanto no comportamento social (como competitividade e promiscuidade) quanto no comprimento dos dedos. A comparação foi realizada em fósseis dos Ardipithecus ramidus, um hominídeo que viveu cerca de 4,4 milhões de anos atrás; o Australopithecus afarensis, entre 3 milhões e 4 milhões de anos, os Neandertais, que desapareceram há cerca de 28 mil anos; e um fóssil de um Homo sapiens.

Veja as matérias completas: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/886672-perda-de-dna-fez-penis-do-homem-ficar-sem-espinho.shtml

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/cerebros-dos-homens-modernos-e-dos-neandertais-diferem-apenas-apos-o-nascimento

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/825265-homem-de-neandertal-tinha-vida-sexual-bastante-agitada.shtml

http://anthropology.net/2009/09/25/can-i-see-your-fingers-please/

Artigos científicos:

Human-specific loss of regulatory DNA and the evolution of human-specific traits: http://www.nature.com/nature/journal/v471/n7337/abs/nature09774.html

http://anthropology.net/2009/09/25/can-i-see-your-fingers-please/


The ratio of 2nd to 4th digit length and male homosexualit: http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6T6H-41GWNHB-4&_user=10&_rdoc=1&_fmt=&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=d7b242544dae1684c7fb7e4175ee2a2e

Sites Pessoais:

Philipp Gunz: http://www.eva.mpg.de/evolution/staff/gunz/cv.htm

Emma Nelson : https://sites.google.com/site/enelson67profile/

Está errado a sociedade querer discutir a descriminalização do aborto?

Eu sempre tive um posicionamento muito radical com relação a esse tema, levando em consideração obviamente, minha percepção humana, meus valores e meu lado passional de Bióloga, que estuda e ama a vida. Mas será que o tema não pede uma reflexão mais etológica? Será que métodos anticonceptivos e abortivos são estratégias de sobrevivência eficazes e que ocorrem em todos os animais? Os filhos para os animais são investimentos sérios, logo eles devem estar seguros que seus genes serão passados de geração em geração. O sucesso reprodutivo, não está relacionado apenas com o fato de ter o filho, mas da garantia de que terá condições de gerar descendentes que tenham também filhos bem sucedidos. Algumas espécies são chamadas de r-estrategistas, têm muitos filhotes, com baixa alocação de energia no cuidado dos mesmos, esperando que pelo menos alguns poucos entre centenas, consigam se reproduzir. Outras espécies, conhecidas com k-estraegistas, investem muito em poucos filhotes, que demandam mais cuidados e atenção. Mesmo em organismos mais basais encontramos diferentes exemplos de dedicação aos filhos, aranhas e escorpiões que carregam os filhos em seus corpos; mães pseudoescorpiões que se oferecem como alimento para os filhotes; e milhares de outros exemplos fantásticos de como camuflar os ovos e oferecer o alimento na fase inicial dos filhotes. As tartarugas e alguns peixes viajam quilômetros para voltar ao local onde nasceram na esperança de oferecerem aos seus filhotes as mesmas condições que tiveram para sobreviver. Em algumas situações estressantes de vida ou morte alguns animais também podem eliminar os seus estoques de ovos fertilizados, como uma alternativa de se manterem vivos nos seus genes. Há alguns relatos de que espécies bem resistentes como as baratas, os ovos podem se desenvolver rapidamente depois de algumas horas que a mãe foi morta.

Mesmo diante de tão fascinantes estratégias que deram certo para essas espécies, uma vez, que estão vivas em nosso planeta, é normal declinar de uma possibilidade de reprodução, caso a mãe perceba que não terá condições de arcar com o custo de criar um filho bem sucedido. Essa “decisão” pode se dar em três momentos: antes, durante e depois do desenvolvimento do embrião.

Evitar um filho é comum em vários animais, uma vez que a maioria das espécies tem momentos certos para se reproduzirem. Esse momento foi determinado ao longo da história evolutiva da espécie e está relacionado com a época em que há maiores disponibilidades de alimentos e melhores condições ambientais para o filhote sobreviver. Fora dessas épocas o corpo do animal não está preparado para concepção e a cópula não ocorre. A nossa espécie compartilha com alguns primatas um mecanismo denominado de “ovulação oculta”, diferente dos chimpanzés, que na época reprodutiva, a fêmea anuncia para toda sociedade que está apta para se reproduzir, através de sinais visuais e odoríferos. Apesar de existir alguns indícios que a fêmea humana fica mais bonita e muda até a freqüência da voz durante a ovulação, nem mesmo ela tem certeza de quando é esse momento. Existem várias hipóteses para explicar o porquê escondemos nossa ovulação, uma seria para que o parceiro ficasse sempre por perto, pois caso soubesse, cuidaria dela apenas nesses dias, uma vez que não havia risco dela engravidar de outro macho. Há também uma teoria que acredita que as fêmeas ancestrais que sabiam quando estavam ovulando, evitavam copular, para não engravidarem. Pois gravidez era um fator de risco e vulnerabilidade para as fêmeas humanas ancestrais, que além de correrem o risco de morrerem no parto, ficavam mais lentas e suecptives a doenças, devido a depressão do sistema imunológico para não eliminar o embrião. As fêmeas que não sabiam quando ovulavam, copularam, tiveram filhos e mantiveram esse gene na população. Taylor (1997) (veja referência ao lado) acredita que o controle reprodutivo foi parte fundamental da nossa evolução, possibilitando uma seleção sexual rápida facilitando maior investimento cultural nos filhos. Nas comunidades pré-históricas a consciência da relação entre certas formas de sexo heterossexual e gravidez fez parte da evolução em si, resultando na utilização do sexo para outras estratégias como reatação de elos (veja Por que sexo é divertido) e desvinculando da reprodução em si. Durante muito tempo na história do homem a amamentação foi utilizada como contraceptivo, uma vez que o ato de sugar do filhote aumenta a atividade dos opiatos no hipotálamo, que cessa a produção dos hormônios compreendidos na ovulação (Taylor, 1997), mecanismo importante que possibilitava a fêmea ter outro filhote, apenas depois que o primeiro já estava mais maduro. Provavelmente a mulher pré-histórica amamentava até seis anos de idade. Registros da Grécia antiga e relatos de populações indígenas tradicionais, indicam que plantas e bloqueadores vaginais já eram usado a muito tempo, Taylor (1997) cita misturas de carbonato hidratado de sódio e excremento de crocodilo e limão, como alternativas. As flores de lúpulo reduziriam o impulso sexual masculino e cessaria a menstruação, e algumas plantas que causariam a esterilidade masculina por até seis meses. Atualmente nossa consciência da nossa capacidade material, social e emocional em ter e criar bem um filhote nos possibilita a decidir se queremos ou não engravidar. Inúmeros métodos anticonceptivos, inclusive a abstinência devem ser utilizados racionalmente.

O segundo momento de se evitar um filho é durante o desenvolvimento do embrião. A taxa de fertilização de óvulos é bem maior do que número de óvulos que de fato nidificam. O próprio corpo da mulher faz cálculos complexos de viabilidade desse embrião continuar ou não o seu desenvolvimento, e os abortos espontâneos são muito freqüentes, e na maioria das vezes nem percebidos pelas mulheres. Muitas vezes a mulher inconscientemente rejeita o embrião até por questões emocionais de não se acreditar capaz de ter o filhote. É muito comum em clinicas de fertilização o embrião não fixar, mesmo sendo introduzido pronto no útero da mulher. É muito comum também mulheres que adotam engravidarem logo em seguida e ser mais fácil engravidar depois da primeira concepção. É possível que o embrião se fixe, mas que a fêmea não queira dar continuidade à gravidez, Taylor (1997) relata a possibilidade de alguns animais procurarem deliberadamente por plantas para essa finalidade. Foi observado que orangotangos comem folhas, casca e frutos de determinadas árvores (Melanochyla, Melanorrhoea e Diptyros) que resultam em efeitos tóxicos, escurecendo os lábios e promovendo descamação e possivelmente também da membrana do útero. Considerando que o estupro ocorre entre esses primatas, o primatólogo Paul Vasey acredita ser possível que as fêmeas usem essas plantas para produzir abordo nessas situações. Relatos de gregos e comunidades tradicionais, também indicam que as mulheres usavam certas plantas via oral ou local, há muito tempo, com a finalidade de interromper uma gestação indesejada. Atualmente nossa sociedade admite a interrupção em casos específicos como estupro e risco de morte da mãe, e a pílula do dia seguinte é indicada em casos de risco de gravidez, em uma relação sexual sem outro método anticonceptivo e deve ser usada até três dias depois. Ressalva-se que, embora essa pílula represente um avanço na impossibilidade de implantação do embrião no útero, uma vez que a elevadíssima carga hormonal faz com que haja uma desestabilização do sistema, o uso deve ser eventual e correto, pois os efeitos colaterais podem ser sérios e a utilização da mesma fora do período indicado pode ocasionar até mesmo uma gravidez tubária.

O terceiro momento para declinar na reprodução é após o nascimento. Em muitas espécies, as mães comem seus filhotes, ou simplesmente os abandonam. A questão é que sinais os filhotes passam para a mãe de que não serão bem sucedidos. Provavelmente movimentos corporais sutis, sons ou odores específicos podem sinalizar algumas anomalias congênitas cruciais para um desenvolvimento de sucesso. Apesar do custo da gestação, o infanticídio pode ser a melhor estratégia para não resultar em maiores perdas de investimento. A depressão pós-parto pode ser decorrente de uma avaliação interna da mãe, das suas condições de criar um filhote bem sucedido, decorrente de sinais bioquímicos ou emocionais o que desencadearia uma reação hormonal, como a diminuição da oxitocina. Como estratégia a mãe abandona ou mata o seu filhote. Esse mecanismo já está sendo estudado e compreendido nos animais, como decorrente das condições nutricionais da mãe, a quantidade de recursos (alimentos e abrigos) do ambiente e a superpopulação. Atualmente a depressão pós-parto também vem sendo estudada em humanos do ponto de vista etológico (veja o artigo: The Functions of Postpartum Depression - http://www.anth.ucsb.edu/projects/human/ppd.pdf). Um filhote abandonado por uma fêmea pode ser adotado por outra, e esse mecanismo tão “humano” não é privilégio nosso, que além de investirmos em filhotes de outros humanos, podemos também adotar filhotinhos de outras espécies, como os cães, gatos, peixes, aranhas... A graduanda de Biologia Marcelle Pons está desenvolvendo o seu TCC justamente estudando esse mecanismo em outros animais (http://etologiadocao.blogspot.com/) e já conseguiu reunir diferentes relatos da adoção entre as mais diferentes espécies, mostrando que a natureza dotou as “mães” com um instinto de cuidar de “filhotes indefesos”, reforçando que na natureza somos todos um.

Até pouco tempo atrás se acreditava que um filhote, até mesmo dos humanos, nascia como uma folha em branco, e apenas a partir do nascimento, todos os estímulos a que fosse submetido iria ser fundamental para formação de uma pessoa única na população. Lipton (2007) traça um panorama bem interessante quando fala da paternidade consciente. Segundo o autor, fetos e crianças até seis anos de idade, têm uma atividade elétrica do cérebro em uma freqüência diferente, mais baixa e mais susceptível de programação. Essa freqüência permite o armazenamento dos estímulos do ambiente onde foi gerado e onde nasceu, para que possa se adaptar ao mesmo. Embora esse aprendizado não seja recordado mais tarde, é a base para o funcionamento da mente inconsciente, aquela que funciona mais instantaneamente e que tem haver com a sobrevivência imediata do indivíduo. A questão é o que uma criança rejeitada pelos pais poderia estar captando desses sinais ao longo do seu desenvolvimento. Que tipo de jovem e de adulto estaria sendo “programado”. Teria esse indivíduo uma qualidade de vida (emocional e social) que justificasse a continuidade do seu desenvolvimento. Qual o custo emocional e social para pais que por algum motivo (biológico ou social) não queriam seu filho e tiveram que conviver com ele por conta de códigos morais e legais? Mesmo diante da ilegalidade mais de 70 milhões de mulheres optam por interromper as gravidezes pelos mais diferentes motivos como falta de condições emocionais, sociais e econômicas; para não perder o emprego, por ter muitos filhos. Quase 10% dessas mulheres morrem vitimas de más condições dos procedimentos ilegais. O que leva a mulher humana atual a tomar atitudes tão “instintivas” na hora de rejeitar um filho? A sociedade condena a mãe que rejeita, pois a compaixão humana se coloca no lugar da “vida” que se inicia. Se nos considerados tão racionais e nos distanciamos da natureza devido nossa capacidade de gerir nossos impulsos e genes, o que nos leva muitas vezes a ter um filho que não queremos ou ter um filho que não podemos proporcionar uma condição digna que vida com qualidade emocional, social e biológica. Nossos códigos morais parecem ser mais severos que os éticos. E se a milhares de mulheres estão se posicionando diante do direito de decidirem se querem ou não ser fonte de vida para alguém, onde está o lado “racional” e o livre arbítrio nos momentos em que antecedem a concepção? Tem alguma coisa fora de lógica nesse processo todo?