Ecologia Química no Contexto da Saúde Pública


Ontem (25.03.2011) foi a sessão pública de apresentação dos dados do meu estágio de pós-doutorado realizado no Laboratório de Ecologia Químia da UFPR coordenado pelo Prof. Dr. Francisco de Assis Marques. Para quem não pode estar presente deixo aqui o resumo das conclusões do trabalho:





Os dados obtidos com o projeto revelam aspectos da ecologia química de dois animais de interesse médico e se constituem de importantes subsídios no controle e manejo dessas pragas urbanas que se destacam pela elevada adaptabilidade à ambientes alterados. Animais generalistas que possuem diferentes estratégias de sobrevivência adaptáveis a cada nova situação e o sucesso está tanto na seleção de sítios favoráveis quanto no aumento da taxa reprodutiva. A comunicação química é muito importante para todos os organismos, principalmente para os invertebrados noturnos, logo, a maximização dessa percepção pode ser mais uma estratégia de adaptação e sobrevivência utilizada por esses animais. A aranha-marrom é uma espécie endêmica do Brasil, cuja espécie L. intermedia representa 90% dos registros em Curitiba e embora se locomova mais do que as outras espécies do gênero, esse comportamento é mais efetivo no macho em busca da fêmea. O fato de viverem em pequenas cavidades escuras remete a existência de semioquímicos que oriente a locomoção do macho. Os estudos com a aranha-marrom estão mais avançados, uma vez que foram identificados dois compostos exclusivos do corpo da fêmea, e que revelaram em bioensaios a atratividade de machos. Porém testes com animais, extratos e com os compostos mostram que a comunicação química é utilizada em associação com a comunicação vibracional, extremamente importante para esses animais que evoluíram utilizando as teias com extensão dos seus receptores sensoriais. Assim, o macho possivelmente localize uma aranha à distância, se aproxima para poder realizar uma identificação individual. Já o caramujo usa a comunicação química principalmente para navegação e orientação pelo ambiente na busca de refúgio e sitio de alimentação, sendo o comportamento gregário e o homing duas estratégias importantes e mediadas por semioquímicos, porém altamente flexíveis sendo utilizadas em resposta a defesa contra fatores bióticos e abióticos. O muco parece ter um contexto importante na comunicação, por isso sua composição pode ser extremamente variável, uma vez que pode informar condições favoráveis ou adversas do ambiente, disponibilidade de recursos, tamanho da população, indicar o melhor local para forrageamento e o sítio de repouso e ainda ter um reconhecimento individual e ser utilizado para competição e marcação de território. Embora fantástico em termos de conhecimento da história natural do animal, é pouco eficiente na elaboração de armadilhas. Porém esses animais reagem à diferentes matrizes orgânicas presentes no ambiente cuja concentração e estágio de decomposição são importantes na determinação da atratividade ou repelência, fato que inviabiliza o uso dessas matrizes in natura para atração dos animais, como veiculado na mídia. A identificação dos compostos e a possibilidade de serem verificados compostos semelhantes nessas matrizes será um importante aliado na elaboração de uma armadilha. Ambos os animais de interesse médico aqui estudados se deslocam curtas distâncias e parecem ter um homing, deslocando-se ao redor do mesmo. Fato que caracteriza a comunicação química mais efetiva a curta distância, diferente de insetos voadores como lepidópteros e hemípteros. Esse padrão dificulta a confecção de armadilhas, uma vez que deveriam ser colocadas próximas para atrair um número efetivo de animais. Em ambos os casos, a continuidade dos estudos é fundamental para determinar, depois de reconhecido os compostos atrativos, a melhor concentração, o melhor modelo de armadilha e a forma de posicionamento no ambiente. A priori os resultados são muito satisfatórios, pois trazem uma abordagem pioneira no uso das informações da ecologia química no controle de pragas urbanas, um ambiente extremamente complexo e animais com perfis generalistas e altamente adaptáveis.

O laboratório de Ecologia Química do Dr. Francisco de Assis Marques tem nos últimos oito anos integrado um grupo de pesquisadores atuantes em diferentes instituições e em distintas áreas aplicadas à saúde pública como: epidemiologia, zoologia, ecologia, etologia, bioquímica, bioacustica, química, manejo e controle. Nesse período já foram aprovados três grandes projetos pelo Cnpq/Pronex para Aranha-marrom, 2 Fundação Araucária para Caramujo e Dengue. Sendo que apenas no presente projeto de pós-doc esteve vinculado a organização de um livro, a publicação de 2 capítulos de livros, 8 artigos publicados, 4 artigos redigidos e em fase final de preparação para submissão, 5 resumos apresentados em congressos. E ainda, vinculados como formação de recursos humanos: 2 teses de doutorado, 1 dissertação de mestrado, seis trabalhos de conclusão de curso e seis PIBICs. Apenas de forma integrada, com cada profissional maximizando as suas potencialidades, é possível a caracterização biológica e ecológica de uma espécie considerada praga urbana e, assim, gerar subsídios para elaboração de métodos de diagnósticos, controle e monitoramento de animais de interesse médico, auxiliando os órgãos gestores na minimização dos impactos à saúde do homem e do ambiente, decorrentes do intenso processo de urbanização e degradação ambiental. O fato de essas espécies estarem inseridas no contexto urbano, faz com que o cidadão seja o principal ator de qualquer ação que vise a sua qualidade de vida, por isso, a ponte entre o conhecimento acadêmico, os órgãos gestores e a comunidade é fundamental para que resultados efetivos sejam alcançados.