Infidelidade: um caso polêmico na sociedade


Série Ensaios: Sociobiologia

Por:  Aline Felicia Woitowicz,  Hiago Adamosky Machado, Jonathan Ribeiro, Karime Simas El Messane, Luísa Jennrich Jozefowicz, Mariana Gabriel Karpinski
Formandos em Ciências Biológicas




Em fevereiro desse ano, após confirmada a separação entre Débora Nascimento e José Loreto, um boato surgiu alegando que o motivo teria sido uma possível relação amorosa entre Marina Ruy Barbosa e Loreto. A fofoca foi ganhando força, uma vez que os dois atores atuavam como par romântico e uma sequência de “unfollows” de outras atrizes foi detectada em uma rede social de Barbosa. Após várias teorias e especulações, grande parte popular “apedrejou” a atriz, que é casada com Alexandre Negrão e “abafou” o caso pro lado de Loreto. Há pouco tudo foi desmentido e ambos deram declarações afirmando não terem qualquer tipo de laço além do profissional, mas serviu como exemplo para evidenciar uma postura comum aos brasileiros: existe a crença popular de que homens traem muito mais que mulheres, e que ainda explicitem com mais frequência. Se é isso que acontece, existem hipóteses que sustentam isso de forma biológica.
Visto que condicionantes biológicos são caracterizados por fatores que possam ser mensurados e que expliquem COMO um comportamento ocorre, são exemplos ocitocina e dopamina.
Um grupo da Universidade de Binghamton publicou estudos dos receptores de dopamina (a qual tem ligação com libido e sensações de prazer) em homens, e demonstrou que aqueles com alterações no gene de DRD4 tiveram mais casos de traição que aqueles que não tinham modificações. As alterações desse receptor também puderam ser relacionadas com traços ancestrais, e do que talvez tivesse sido uma “linhagem  (Garcia et al., 2010)
Pesquisadores da Universidade de Bonn publicaram pesquisa que relaciona a oxitocina (hormônio intimamente ligado com relações sociais e cuidado maternal) com baixas taxas de traição por parte das fêmeas. Também atestaram que homens, quando tratados com doses de oxitocina, apresentaram diminuição  infidelidade. (Preckel et al., 2014).

Condicionantes etológicos

Há fortes indícios de que a espécie humana, em sua origem, não era monogâmica, esta teoria é fortemente defendida no livro “O mito da monogamia” de David Barash e Judith Eve Lipton, mas que a monogamia que hoje prevalece veio com o desenvolvimento de nossa cultura, moral e religião. Este seria o motivo da grande quantidade de traições e da dificuldade de se manter uma relacionamento exclusivo e fixo com apenas um parceiro.
O livro traz ainda diversos exemplos de espécies poligâmicas, que são a grande maioria no reino animal, e também novos estudos que demonstram que mesmo em espécies antes consideradas monogâmicas, com o uso de testes de dna, constatou-se que muitos filhotes eram de outros machos que não o do par fixo, demonstrando que a monogamia é algo extremamente incomum. Esta anormalidade pode estar relacionada ao fato de a monogamia não ser evolutivamente vantajosa, já que que nela há pouca variabilidade genética; já na poligamia há grande mistura gênica e um único macho consegue copular  com diversas fêmeas, tendo portanto um prole muito maior. Por outro lado a monogamia pode ser mais vantajosa para as fêmeas já que nela, devido a exclusividade de parceiro, há maiores chances de que o macho ajude a cuidar dos filhotes, o que aumenta a possibilidade de sobrevivência da ninhada.
Para Whyte (1978), a diferença social entre homens e mulheres começam a surgir junto com a evolução das técnicas agrícolas, quando é desenvolvido o arado para trabalhar os campos, pois com esta tecnologia exige-se uma força física muito maior, que as mulheres não possuíam, por isso suas tarefas ficavam restritas a cuidar do lar, e não mais coletar alimentos, como antes. Neste ponto a mulher passa a ter uma função social subjugada, pois não contribui ativamente para a produção de alimento no grupo familiar e social, mesmo tendo um papel fundamental na educação e manutenção das estruturas do grupo. A partir da abordagem antropológica começam a ser esclarecidos, mesmo sem a necessidade de maior aprofundamento, através das bases da formação hierárquica social, o porquê dos homens terem um papel social superestimado em relação a mulher. Contudo para entender como a traição é vista de forma diferente para os dois na sociedade é preciso uma abordagem etológica, para melhor compreender as bases invariantes do comportamento. Do ponto de vista etológico duas hipóteses podem guiar uma resposta às questões de percepção da infidelidade, a hipótese de Fisher e a hipótese do macho deficiente  (zahavi). Segundo estas hipóteses as fêmeas tendem a escolher o macho que, através de características secundárias demonstre ter os melhores genes e estar mais apto a sobrevivência (Fisher), e um macho que melhor se exibe para as fêmeas através destas características tende a ser o mais escolhido (Zahavi). Desta forma, se um macho é escolhido por várias fêmeas, então ele é o mais apto para reprodução, desta forma os indivíduos da sociedade o vêem com uma dominância quanto às questões reprodutivas, por possuir melhores características que o faça ser aceito por várias fêmeas. Seguindo a mesma linha, como a fêmea escolhe o macho, uma fêmea que escolha varios macho é vista como pouco seletiva, que escolhe qualquer um, mesmo que este tenha características inapropriadas para reprodução ou não seja o mais forte do grupo, pois ela mesma não é uma fêma preterível à reprodução, assim todo o grupo, a vê como uma fêmea que se deve evitar na reprodução por não ter bons genes ou características, e não gerar descendentes com boas vantagens de sobrevivência.

Vários autores têm demonstrado que tanto homens quanto mulheres atribuem alto valor à fidelidade do parceiro (Buss, 1989; Buss & Barnes, 1986; Buss, Shackelford, Kirkpatrick, & Larsen, 2001; Easton, Schipper, & Shackelford, 2007; Miller, 2007; Minervini & McAndrew, 2006; Rowatt, Delue, Strickhouser, & Gonzales, 2001; Shackelford & Buss, 1997 apud Tokumaru et al, 2010), principalmente quando o parceiro é considerado para um relacionamento de longo prazo. Eles argumentam que a valorização de um relacionamento monogâmico pode ser entendido como adaptativa no sentido evolutivo, já que a infidelidade pode sinalizar desvio de recursos reprodutivos importantes. Para os homens, a infidelidade feminina pode sinalizar investimento em prole alheia enquanto para as mulheres a infidelidade masculina pode sinalizar desvio de recursos para outras mulheres e prole.
            Menos de 10% dos mamíferos são monogâmicos, e cerca de 20% das espécies de primatas consolidam casais monogâmicos. Evidências fósseis indicam que nossos ancestrais eram monogâmicos, a monogamia foi adotada. após a separação da linhagem humana com a linhagem dos chimpanzés,
       Uma das possibilidades de a monogamia ter acontecido foi porque os machos mais fracos deixaram de gastar seu estoque energético lutando com os machos mais fortes, e começaram a cortejar as fêmeas com alimentos para incentivar a reprodução. As fêmeas optaram por machos confiáveis e o estabelecimento de relações duradouras ao invés de machos agressivos (Edgar, 2014 apud Tokumaru et al, 2010.).
No debate realizado em sala com formandos de biologia, quando levados, pesquisas relacionadas ao tema infidelidade, foi levantado que ela está ligada a um processo evolutivo da espécie com raiz na promiscuidade a mais de dez mil anos atrás e que ao invés de os machos terem que contribuir para o sustento dos filhos de todas as fêmeas de maneira geral, tendo em vista não haver fêmeas fixas e ovulação ser oculta, assim não se sabia quem era o pai. De forma eficiente e com menos custo de energia a espécie selecionou ao longo do tempo um comportamento mais monogâmico, dessa forma, embora tenha diminuído as possibilidades de procriação, cuidar de menos filhos e de uma única fêmea se tornou menos sofrido e para mulher também teve vantagens, pois em contrapartida ela passou a ter segurança para criar seu filho e garantir a sua própria sobrevivência, sem ter que sair caçar e buscar seus alimentos e o de suas crias, sendo que a sobrevivência da espécie tem seu maior grau de importância na cadeia de prioridades da vida.
Por isso, cogitou-se que em muitas regiões, a exemplo nosso norte e nordeste, onde se tem homens que se relacionam e vivem muitas vezes com várias mulheres e em algumas da mesma família, tendo em vista ele sustentar todas e para elas algo tão comum, pois ele provém à elas suas necessidades básicas e o tendo como provedor, então fez nos pensar no caráter ainda de sobrevivência, pois é uma relação onde ele é o único homem daquela região e as mulheres o têm como opção restrita e muitas vezes única.

Nós como formandas em biologia acreditamos que existem diferenças etológicas e biológicas entre machos e fêmeas, mas ambos devem colaborar para a formação de um grupo. Tendo papéis iguais ou diferentes, sempre possuem  mesma importância para a manutenção do bando. Atualmente essas diferenças são encaradas com menor peso/relevância, o que reforça a individualidade de cada ser e acaba favorecendo a diversidade social.

O presente ensaio foi elaborado para disciplinade Etologia, tendo como base as obras:

BARASH D.; LIPTON J. O Mito da Monogamia: 1. Ed. Editora Record (2007).
ROSSETTI, Victor. Evolução humana: por que nos tornamos primatas monogâmicos?. Disponível em <https://netnature.wordpress.com/2016/10/19/evolucao-humana-porque-nos-tornamos-primatas-monogamicos/> Acesso em 04 de maio de 2019.
GARCIA, JR; MACKILLOP, J; ALLER, EL; MERRIWETHER, AM; WILSON, DS. Associations between Dopamine D4 Receptor Gene Variation with Both Infidelity and Sexual Promiscuity. 2010, PLOS ONE 5(11): e14162. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0014162
PRECKEL, Katrin; SCHEELE, Dirk; ECKSTEIN, Monika; MAIER, Wolfgang; HURLEMANN, René. The influence of oxytocin on volitional and emotional ambivalence. Social Cognitive and Affective Neuroscience, Volume 10, Capítulo 7, Julho 2015, Pag. 987–993, https://doi.org/10.1093/scan/nsu147
Tokumaru R. S; Baumel  S. W; Aguiar Y. N;  Aires F. C. G;  Ambrósio L. A; Monteiro R. N. & Viana D. P. O efeito da infidelidade sobre a atratividade facial de homens e mulheres. Estudos de Psicologia, 15(1), Janeiro-Abril/2010, 103-110. ISSN (versão eletrônica): 1678-4669 Acervo disponível em: www.scielo.br/epsic

A fé pode ser uma ferramenta para a cura gay?



Série Ensaios: Sociobiologia

 Por: Charles Henrique Cabel Nascimento, Fabrício Galera Tranin, Fernanda Custel Zonato, Gabriella Pereira dos Santos, Giovane Douglas Ferreira, Lívia Frazão Amarante Messias, Rafael Sampaio Nenevê, Rodrigo Cezar Marchis
Formandos em Ciências Biológicas e Psicologia.



Ser gay é um pecado, acredita Pastor Sargento Isidório, que foi eleito deputado federal na Bahia no ano passado, colocando em suas pregações (ele é pastor da Assembleia de Deus) ou em seus discursos no plenário da Câmara, que segundo a Bíblia a homossexualidade é tão grave quanto roubar ou matar, enfatizando a ideia que “O pior pecado é a negação da espécie, porque homem com mulher vem filho. Homem com homem não vem nada”. Um de seus projetos, apresentados nos primeiros dois meses de mandato, é a criação do “Dia do Hétero”, para formalizar que a força hétero é maior.
 Logo, Isidório se autoproclama ex-gay e prega que a homossexualidade é uma escolha de três vias: pelo que ele chama de “safadeza”, que significaria ceder aos desejos sexuais mais “profanos”; pelo estímulo da “mídia”; ou porque pais e mães, no período da gravidez, desejaram um bebê de gênero contrário ao do nascimento do filho. Ele também defende que a reparação à discriminação histórica de minorias não seja concentrada apenas nos gays. “Os negros, por exemplo, ainda não têm reparação. Negro não escolhe ser negro. Já a questão sexual é uma escolha”, arrematou o deputado.
Em seu histórico, episódios de abuso de álcool, drogas e relacionamentos homossexuais. Na bíblia, diz que encontrou a salvação. Até do vírus HIV ele se livrou, segundo seu próprio relato. Isidório afirmou ter se livrado do alcoolismo, das drogas e da vida homossexual depois de ter se convertido à religião evangélica. Disse que, mesmo sem ter feito tratamento médico, nunca mais ocorreu em nenhum dos três hábitos.
Na reportagem de capa de Época desta semana, a história completa do pastor que se tornou o deputado mais votado da Bahia, que mantém a Fundação Doutor Jesus para resgatar jovens dependentes químicos, e que diz com todas as letras: “Se ser gay fosse bom, eu estava gay até hoje”.

HOMOSSEXUALIDADE NOS DIAS ATUAIS

A questão da orientação sexual, tem nos dias de hoje, ocupado um importante espaço nas discussões populares, religiosas, jurídicas e científicas, em especial no que diz respeito a sua natureza biológica. As práticas homoafetivas são frequentemente compreendidas como algo que vai contra a natureza do Ser humano, e que, portanto, devem ser dissipadas da sociedade. A falta de conhecimento sobre o assunto têm sido geradoras de preconceito, discriminação e violência contra essa população. E para compreender mais profundamente este fenômeno, cientistas de diversas áreas têm realizado, há algumas décadas, pesquisas sobre o tema, identificando a prática sexual entre indivíduos do mesmo sexo como um comportamento nada recente no repertório dos seres humanos.
Os cientistas historiadores, encontram evidências de práticas homoafetivas existentes desde a antiguidade, nas sociedades egípcias, mesopotâmicas e gregas, presentes em mitologias, escrituras, desenhos e hieróglifos. Foi somente a partir da Alta Idade Média que as práticas sexuais entre pessoas do mesmo sexo passaram a ser condenadas, e apenas no séc. XIX que o termo homossexualismo passou a existir no discurso médico (FARO, 2015).
Nos dias de hoje, a homossexualidade permanece sendo proibida em alguns países, sob pena de prisão e em alguns casos até de morte. No Brasil, a união  de casais homoafetivos só foi reconhecida legalmente em 2011 e o direito ao casamento civil em 2013, estando ainda em processo um julgamento no STF que pretende tornar crime a homofobia.
Em 2017, as discussões sobre homosexualidade tomaram ainda mais força no país, após a decisão de um Juiz do Distrito Federal, que contrariando as resoluções do Conselho Federal de Psicologia e orientações da OMS, determinou a liberação de Psicólogos para realizarem terapias de reversões sexuais, conhecida popularmente por “Cura Gay”.
As comunidades LGBTIs e o Conselho de Psicologia se manifestaram sendo contrários a decisão do juíz, a partir da justificativa de que homossexualidade não é uma doença ou escolha, e portanto, não há nada que precise ser curado ou passível de ser revertido. Em 1973 a Associação Psiquiátrica Americana retira a homosexualidade da classificação como patologia. Tal mudança de tamanha importância só se tornou possível a partir dos estudos científicos que ampliaram a compreensão a respeito do assunto (ALVES e TSUNETO, 2013).
As primeiras pesquisas científicas sobre o tema surgiram como contribuições das neurociências. Em 1991, o neurocientista Simon LeVay pública evidências de um estudo que aponta para uma diferença na região do hipotálamo de indivíduos homosexuais em comparação a individuos heterosexuais. O estudo sugere que no hipotálomo de homosexuais há uma quantidade menor de neurônios específicos que respondem a testosterona. Apesar de seus estudos terem sido questionados em decorrência de todos os participantes serem portadores de HIV, a partir de suas pesquisas, LeVay aponta para a possibilidade da homosexualidade receber influências de fatores da vida intrauterina.
Em 1993 o geneticista Dean Harner identificou a presença de um gene localizado no cromossomo X que era idêntica em irmãos gêmeos homosexuais. Outras pesquisas analisaram gêmeos bivitelinos e perceberam que quando um deles é homosexual o outro tem 22% de possibilidade de ser também. A probabilidade para univitelinos sobe para 52%. A partir destes estudos os cientistas estimam que até 40% da orientação sexual deriva-se dos genes.
Outros estudos genéticos buscaram compreender de que forma a homosexualidade pode ser explicada através da teoria da evolução. Para cientistas da Universidade de Torino, uma explicação possível seria de que alguns genes são disseminados para dar vantagens reprodutivas a um dos sexos. Neste caso revelou-se que mulheres da linhagem materna de homosexuais são em média mais férteis que a maioria. Logo, segundo essas pesquisas, as mulheres que contêm tal gene e são mais férteis possuem maior propensão a gerar descendentes. 
Identidade de gênero se refere ao gênero que a pessoa se identifica, mas pode também ser usado para referir-se ao gênero que certa pessoa atribui ao indivíduo tendo como base o que tal pessoa reconhece como indicações de papel social de gênero.

TIPOS DE GÊNERO

Masculino e feminino,  sentem atração por pessoas do mesmo sexo.
Trans homem ou mulher,  nasce mulher/homem mas deseja ser reconhecido como o sexo oposto ao do nascimento.
Travesti, na maioria de suas expressões, a travestilidade se manifesta em pessoas designadas homem no nascimento, mas que objetivam a construção do feminino, através de roupas e podendo ou não incluir procedimentos estéticos.
Transgênero é um conceito abrangente que engloba grupos diversificados de pessoas que têm em comum a não identificação com comportamento ou papéis esperados no sexo biológico, determinado no seu nascimento.
Homem transexual, é o transexual que foi biologicamente designado mulher ao nascer, mas se identifica como sendo do sexo e gênero masculino.
Mulher transexual, é uma pessoa adulta que se identifica como sendo do sexo e do gênero feminino, embora tenha sido geneticamente - e oficialmente, pelos pais, quando do nascimento - designada como pertencente ao sexo masculino.
Neutros, o estado de ser nem macho nem fêmea pode ser entendido em relação ao sexo biológico do indivíduo, ao seu papel social de gênero, ou à orientação sexual.
Sem gênero, é o indivíduo que se intitula nem homem, nem mulher. É conhecido também como ‘’agender’’, identidade que tende a ser descrita como a falta de gênero.
       Pesquisas epigenéticas também tem surgido como possibilidades de explicação de determinantes biológicos da homosexualidade. A epigenética se caracteriza pela alteração herdável na expressão gênica, sem que haja mudança na sequência do DNA. De acordo com tais estudos, ao longo da gestação, os fetos masculinos e femininos são expostos a variadas quantidades de testosterona. A epimarca presente no gene torna o cérebro dos meninos mais sensíveis à testosterona e o das meninas mais resistente, a fim de preservar características sexuais em ambos. No caso de homosexuais, o modelo epigenético sugere que há uma inversão na transmissão de epimarcas (epimarcas sexualmente antagônicas), ou seja, o pai transmite seus marcadores a uma filha, tornando-a mais sensível à testosterona e uma mãe transmite seus marcadores ao filho, tornando-o menos sensível à testosterona (ALVES e TSUNETO, 2013). A partir da explicação epigenética, a homosexualidade também permanece como uma caracteristica que não necessariamente precisa ser removida pelo processo de seleção natural.
O debate sobre a origem da orientação sexual, alguns dizem que uma pessoa nasce gay e outras sustentavam que nos tornamos gays, bi ou heterossexuais dependendo do ambiente em que vivemos. Os estudos biológicos indicam que a formação da sexualidade acontece antes do nascimento, em parte pelos genes, mas também por fatores que atuam no desenvolvimento do feto. Não há nada comprovado e ainda falta muito a ser desvendado, especialmente sobre a influência do ambiente onde a criança é criada em sua sexualidade. Mas as evidências estão causando uma revolução no pensamento científico. E se comprovadas, poderão subverter noções básicas que construímos ao redor dos gays.
“Os homossexuais são muitas vezes acusados de exibir um comportamento não natural. A única maneira de refutar essa acusação é pesquisar as causas das diferentes orientações sexuais”, diz a bióloga transexual Joan Roughgard, professora da Universidade Stanford e autora do livro Evolution’s Rainbow, em que analisa cerca de 300 casos de comportamento homossexual entre animais. Para o antropólogo Luiz Mott, presidente do Grupo Gay da Bahia, as pesquisas são importantes porque desconstroem a noção religiosa milenar de que homossexualidade é um comportamento diabólico e patológico. “Se comprovarem que há uma raiz genética, estará claro que a homossexualidade está nos próprios desígnios do Criador”.
Outros estudos importantes para a compreensão da homossexualidade, se referem àqueles de comparação com outras espécies de animais. Cientistas já observaram a presença de comportamentos sexuais entre animais do mesmo sexo em cerca de 1500 espécies. A união e cópula entre o mesmo sexo é comum por diversos motivos: alianças estratégicas contra predadores, incapacidade de diferenciar macho e fêmea, reforçamento de hierarquia, necessidade de expressão de cuidados parentais, entre outros. Estes estudos comparativos reforçam a ideia de que a sexualidade é algo muito mais amplo no reino animal do que as imposições de regras morais que determinamos para a espécie humana.
Também é possível citar que, como estratégia evolutiva a homossexualidade apresenta controle populacional, protegendo o ambiente de superlotação quando necessário. Segundo pesquisas após o nascimento de cinco filhos machos em uma família de seres humanos, a possibilidade do quinto nascer homossexual aumenta drasticamente.
Joan Roughgarden, bióloga e  professora da Universidade de Stanford, realizou um trabalho em que analisa por volta de 300 casos de comportamento homossexual entre as espécies humana e animal. Segundo ela, a orientação homossexual é um traço natural que mantém a união dos indivíduos de um grupo através do contato (ROUGHGARDEN, 2004).
Em resumo, o comportamento homossexual tem uma função pacificadora nos grupo animais, seja evitando agressão , criando escalas de submissão ou formando alianças. Se as pesquisas sobre o comportamento sexual dos animais estiverem apontando na direção correta, tudo indica que a homossexualidade está estreitamente ligada à evolução de comportamentos sociais mais complexos, provavelmente agindo como redutora da agressividade entre machos. (WERNER , 1998).
Ainda que difícil de comprovar, porém através de pura observação e raciocínio lógico pode-se concluir que o homosexualismo desempenha função vital nos grupos animais sobretudo os gregários ajudando a manter esses grupos unidos. Por isso o homosexualismo pode ser entendido como uma estratégia evolutiva muito eficaz que persiste e continua persistindo mesmo com o ser-humano querendo ou não querendo.
     O condicionante etológico influência na sobrevivência e reprodução de um organismo, por exemplo o canto dos pássaros com a intenção de atrair as fêmeas, aumentando as chances de acasalamento. O canto é parte de um ritual de ‘’namoro’’ que estimula a fêmea a escolher o macho.
As contribuições científicas acerca das bases biológicas e etológicas da homosexualidade, permitem compreende-la como algo natural, e portanto, não podendo ser considerada uma patologia. Experiências de pessoas submetidas a estes processos já confirmam há anos a ineficácia da tentativa de modificação de suas preferências sexuais e os impactos traumáticos que estes processos podem ter em suas vivências subjetivas.
O preconceito por parte dos pesquisadores que buscam uma base genética ou biológica para a homossexualidade é um tema amplamente discutido atualmente e também é ressaltado segundo Malott (1996), segundo seus trabalhos a condicionantes sociais e culturais intrínsecos para o entendimento da formação sexual do indivíduo, sendo que há uma grande influência social inserido onde a pessoa sofre contingências de reforçamento e punição, resultado de um condicionamento de imprinting. O autor afirma acreditar, portanto, que nós nascemos bissexuais ou, inclusive, “multisse-xuais”, ou seja, suscetíveis a reforçadores sexuais de variadas fontes, e que nossa inclinação em direção a determinado(s) sexo/gênero, assim como a aversão que sentimos frente a certas formas de estimulação sexual são resultado de nossa história comportamental.
Um possível condicionamento psicológico para esta atitude do pastor seria a religião, visto que boa parte de sua argumentação é baseada na bíblia, e tendo em vista que a interpretação de livros sagrados seja algo individual (ainda que muitas pessoas possam compartilhar a mesma interpretação sobre algum tema proposto no livro), isto nos levou a acreditar que este seria um condicionamento psicológico.
Fatores biológicos são certamente responsáveis por boa parte da orientação sexual, pois a biologia não é completamente determinante, a predisposição para para a homossexualidade vai se manifestar ou não dependendo das experiências de vida da pessoa. Vimos como a etologia humana, a sociobiologia e a psicologia evolutiva, procuram dar conta das diferenças entre homens e mulheres. A etologia, centrando-se na descrição dos comportamentos observados e procurando invariantes através de estudos comparativos, para tentar compreender o que podem ser os comportamentos diferenciais próprios à espécie e a sua possível história evolutiva, já a sociobiologia, procura analisar os comportamentos sociais com base na aprovação teórica de que os organismos procuram potencializar a sua vantagem inclusiva, centrando-se portanto nas consequências comportamentais da transmissão genética diferencial, e a psicologia evolutiva, interpretando a mente como um conjunto de dispositivos de tratamento de informação modelados pelo ambiente de adaptação evolutiva, isto é, na sua maior parte pelas condições de vida dos grupos de caçadores humanos.
Na nossa espécie a diferença do corpo entre machos e fêmeas foi muito importante para a sobrevivência visto que os machos se especializaram com um corpo forte e resistente, permitindo uma separação de tarefas que ajudou a espécie a ter sucesso. A diferença de machos e fêmeas é muito importante e a existência de um amplo espectro sexual no ser humano permitiu a sobrevivência e o sucesso do grupo, portanto tais formas de expressar sexualidade devem ser respeitadas. A forma como os grupos de humanos se formaram culturalmente foi de grande parte influenciada pelas diferenças de biotipo entre homens e mulheres, como por exemplo, esportes realizados na Grécia tinham como objetivos promover o melhoramento do corpo masculino tornando mais fortes e resistentes.
        Podemos considerar, que não há uma resposta para a explicação da origem do comportamento homossexual. A exclusividade do padrão sexual parece ser um produto sócio-cultural que restringiria as inúmeras formas às quais o corpo humano seria passível de estimulação, os fatores genéticos e biológicos podem afetar o desenvolvimento individual, influenciando as relações sociais e todo o processo de constituição do conjunto sexual, e por mais que as experiências iniciais tenham repercussão relevante na vida sexual futura, estas são pilares de uma cadeia complexa que envolve fatores sociais e biológicos de forma indissociada.
     Se conclui, que ainda não existem estudos científicos suficientes para se determinar a origem da homossexualidade humana, até porque os estudos sobre o tema (que não o reconhecem como patologia) vêm crescendo nas pesquisas científicas, sendo clara a  importância de pesquisas sérias e éticas nesta área já que várias tentativas foram feitas no sentido de "explicar" a homossexualidade ou no sentido de "curá-la" produzindo preconceitos cruéis a pessoas homossexuais, e que deveriam ser considerados como atentatórios à natureza humana.
      Cabe a nós, futuros profissionais das áreas da biologia e psicologia, a implicação em produção de conhecimentos que contribuam cada vez mais para a despatologização de experiências humanas e consequentemente na redução de preconceitos e exclusões sociais.

O presente ensaio foi elaborado pela disciplina de etologia, tendo como base as obras aqui descritas, auxiliando na composição deste trabalho. Os artigos contribuíram para elaboração do texto, baseando-se no tema indicado e na notícia detalhada pelo grupo.

Artigos relacionados ao tema:

ROUGHGARDEN, J.. Evolution's Rainbow: diversity, gender, and sexuality in nature and people. Los Angeles: University of California Press, 2004.
WERNER , D. Sobre a evolução e variação cultural na homossexualidade masculina. In: PEDRO , J. M.; GROSSI, M. P .; RAGO , M. Masculino, feminino plural. Florianópolis: Mulheres, 1998.

RAMOS, CONCEIÇÃO M. LENCASTRE, AFONSO, P, M. O Feminino e o masculino na etologia, sociobiologia e psicologia evolutiva: Revisão de alguns conceitos. Psicologia [online]. 2013, vol.27, n.2, pp.33-61.


NUNES, E.; RAMOS, K., P. HOMOSSEXUALIDADE HUMANA: ESTUDOS NA ÁREA DA BIOLOGIA E DA PSICOLOGIA. INTELLECTUS – Revista Acadêmica Digital do Grupo POLIS Educacional. Ano 4 (nº 5), 2008.

Abandono ao filhote


Série Ensaios: Sociobiologia


Por Danielle Pires; Gabrieli Trevisan; Ian Rodrigo Stoltz; Pedro Cazetta; Rafaela Caldas; Vinícius Cristal




É comum encontrarmos nas mídias sociais e nos noticiários, relatos de mães que abandonam seus filhos logo após o parto, por inúmeras causas. Em março de 2019, o Jornal da Globo, o G1 (veja aqui) relatou o abandono de um recém-nascido em uma lixeira na cidade do Rio de Janeiro. Este é apenas mais um dos diversos casos de abandono pós-parto, gerando diversos questionamentos de como isso acontece, quais as causas que levam a isso e como pode ser explicado.


Na natureza, o abandono de filhotes não é algo incomum, inúmeras causas podem levar a isso, como filhotes incapazes de sobreviver, incapacidade da mãe em prover cuidados, mas em nós humanos, como entender isso, uma espécie, em tese, tão preocupada com o filhote e com vínculo afetivo grande.  Durante e pós a gestação, o cuidado parental ( e o desenvolvimento do filhote, geram na mãe, mudanças hormonais e comportamentais. O recém-nascido precisa de cuidados parentais, pois é muito frágil para se manter sozinho, aprende coisas com os pais e desenvolve laços. O comportamento afetivo desencadeia no sistema límbico reações de síntese hormonal que modulam o comportamento materno, relacionado ao amor pelo filhote. O principal hormônio que desencadeia esse cuidado é a ocitocina (produzido no hipotálamo), podendo dizer que este acaba com a tristeza e com a maldade, que seriam mediadas pelo cortisol (permanecendo em níveis baixos quando a oxitocina age).  Tentando não permear as causas éticas e psicológicas, observando a ação da mãe relatada na matéria, pode se dizer que a falta de vínculo afetivo, poderia ser enquadrada como principal fator para o abandono, podendo essa mãe, ter tido uma baixa produção de ocitocina durante a gestação, ou algum tipo de trauma que levou a uma reação adversa, não gerando o vínculo parental como se esperaria.


Além de condicionantes biológicos, outro fator que pode moldar esse comportamento é o etológico. Esse, por sua vez é baseado pela história evolutiva de cada espécie, e é algo de extrema importância quando se trata da relação da mãe com o filhote. Sendo assim, embasados nesse fator podemos encontrar alguns casos que aumentam a probabilidade de abandono do filhote, tais como: saúde da ninhada e/ou filhote, filhotes com má formação, saúde da mãe, estresse, recursos limitados, presença de um novo macho dominante. Sendo assim, encontramos casos de abandono nos mais diversos grupos, alguns exemplos são: Aves Cuco que abandonam seus ovos em outros ninhos para que os outros cuidem da prole. Isso é uma estratégia evolutiva, pois cuidar da prole exige uma demanda muito alta de tempo e energia. Além disso, as mães primatas (que geralmente não discriminam seus filhotes) podem abandoná-los caso o filhote não tenha o instinto de agarrar nos pelos da mãe. Até mesmo em invertebrados, onde besouros coveiros deixam de alimentar as larvas diminutas.

Levando em conta o caso apresentado, e devido as questões sociais que vem sendo discutidas no cenário atual, devemos considerar a diferença entre o sexo masculino e feminino, tanto nas questões etológicas quanto nas biológicas. Na parte etológica, temos que voltar na história evolutiva de nossa espécie, onde as fêmeas eram responsáveis por cuidar dos seus próximos, principalmente de sua prole, e com isso desenvolveram uma habilidade de fala, cuidado e passar ensinamentos com mais facilidade. Esses fatos se mostram presentes até hoje, como por exemplo mulheres ocupam em maior quantidade cargos na educação e na área da saúde. Já os homens eram responsáveis por prover o alimento e a segurança para a comunidade em que viviam. Por esse motivo, foi necessário que a musculatura em conjunto com aptidão para atividades que precisem de força, estratégia e habilidade de localização foram favorecidas. Isso favorece com que os homens ocupem os cargos como: motoristas, esportistas e empresários.  Tudo isso se trata de um contexto histórico e evolutivo do ser humano. Porém, nos dias de hoje, pode ocorrer uma inversão dos papéis na sociedade, e qualquer um dos gêneros pode ocupar os locais de trabalho e posições as quais quiserem.
Já as diferenças de macho e fêmea quando se trata do contexto biológico são tanto aparentes quanto externas.  Um exemplo disso, é que o corpo da mulher é perfeitamente estruturado para se ter um bebê, então o aparelho reprodutor foi moldado com a finalidade de abrigar um feto. Há também a parte hormonal, onde, esses se tornam extremamente importante para o parto e cuidado do filhote. Outro hormônio que se sobressaí nas mulheres é o estrogênio. Os homens por sua vez, apresentam maiores massas musculares e quantidades menores de hormônios, como a oxitocina, relacionados com o cuidado, além de expressarem esse hormônio em situações distintas das mulheres. Além de que um dos principais hormônios quando se trata do sexo masculino é a testosterona.

Na natureza o abandono ao filhote não é algo incomum, e pode ocorrer quando o filhote é incapaz de sobreviver e quando a mãe não tem condições de criar, podendo outra espécie ou até mesmo indivíduos da mesma espécie serem capazes de prover cuidado ao filhote e adota – lo. A adoção de animais da mesma espécie ou de espécies diferentes na natureza não é algo raro, e acontece especialmente com os mamíferos. Os filhotes quando nascem precisam de cuidado e estabelecimento de vínculo, selecionando o indivíduo que será capaz de prover. Geralmente são fêmeas que adotam os filhotes, devido as alterações hormonais que vão desencadear o comportamento materno o cuidado com o filhote.  Outro fator que leva as fêmeas que não são as mães biológicas a adotarem é o sistema de pânico instalado nos filhotes. Esse sistema promove reações nos filhotes como choro angustiante, procurar pela mãe, só se acalmar quando se sentir seguro, etc, isso faz com que as fêmeas tenham o instinto materno desencadeado e cuidem do filhote que está em situação adversa.

Conforme as discussões e posicionamentos levantados em sala, temos alguns fatores interferem diretamente na dinâmica de ser mãe. Sendo que, algumas espécies de mamíferos são acometidas de gravidez psicológica, onde a vontade se ter um filhote é tão grande que psicologicamente, fisicamente, comportamental e até mesmo em parâmetros hormonais a fêmea aparenta estar grávida e até prepara o seu habitat para a chegada de sua prole. Porém, isso não passa de um mero “falso positivo”.  Outro fator que pode interferir nessa tal dinâmica, é a depressão pós-parto, que ocorre, pois, durante o período da gravidez o corpo materno fica com grandes doses hormonais, tanto da mãe, quanto da criança. Quando ocorre o parto, esses níveis tendem a baixar drasticamente, fazendo com que as mães rejeitem seus filhotes. Obviamente na sociedade humana há formas de mitigar os efeitos dessa queda hormonal e trabalhar psicologicamente com a mãe para a mesma volte a cuidar dos seus filhos. Outro fato levantado, é que hoje, em nossa sociedade existe uma pressão muito grande para a mulher quando se trata de ter um filho. Sendo, que quando a mesma atinge determinada idade, ela é pressionada a conceber uma criança, se não ela passa a ser questionada como imposições como: “ vai ficar para a titia”, “ não está velha demais? ”, “ o sentindo da vida é ter um filho”, entre outras.


Nós como futuros biólogos acreditamos que, apesar do abandono ser uma atitude condenada pela a sociedade, ela ainda acontece de forma natural nos mais diversos grupos animais. Sendo que, os exemplos citados são apenas alguns, pois encontramos este ato em espécies, como nos gatos domésticos, leões, aves de rapina, roedores, etc. O principal é, compreendermos que estas ações dependem de condicionantes etológicos, psicológicos e biológicos de cada indivíduo. Correlacionar esses comportamentos e os fatores que podem levar a eles, são de extrema importância, até mesmo para relacionarmos com o que acontece no meio em que o ser humano está inserido e o que levam suas ações. Afinal, todos somos animais, temos instinto e fatores que nos levam a realizar determinado comportamento. Porém, essa atitude em nossa sociedade não é necessária, pois existem as mais diversas alternativas para o bem-estar das crianças, um exemplo disso é entregar as crianças para lares adotivos, onde terão a oportunidade de encontrar uma nova família.



O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, tendo como base as obras:

ALCOCK, John. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. Artmed editora, 2016.
BUSSAB, Vera Silvia Raad. Mãe natureza-Uma visão feminina da evolução: Maternidade, filhos e seleção natural. Interação em Psicologia, v. 6, n. 1, 2002.
LOPES, Vanessa. Por que minha gata rejeita seus filhotes?, 2018. Disponível em: https://www.peritoanimal.com.br/porque-minha-gata-rejeita-seus-filhotes-21441.html
Rincón, Maria Luciana. Cinco piores mães do reino animal, 2018. Disponível em: https://www.megacurioso.com.br/dia-das-maes/43151-5-das-piores-maes-do-reino-animal.htm

Hiperlinks



Agressão: Estudo de caso sobre o segurança que matou um jovem asfixiado em um supermercado


Série Ensaios: Sociobiologia



 Por Adrielly Kucek Freitas, Caynã Nicholas Souza, Gabriele Ferreira Moro, Henrique Wuicik Franco e João Batista dos Santos Neto, Leandro Taborda da Rocha.

Formandos em Ciências Biológicas







No mês de fevereiro de 2019, um rapaz de 19 anos foi morto por um segurança de um Supermercado Extra, localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.  Segundo a equipe de vigilância do mercado, o jovem teria tentado roubar a arma do segurança e, por isso, o funcionário do estabelecimento aplicou um golpe no rapaz conhecido como “mata-leão”, a fim de imobilizá-lo.






Vários clientes do supermercado ficaram ao redor do segurança que estava em cima do jovem, alertando-o que estava sufocando o rapaz e pedindo para interromper o golpe. Contudo, outros funcionários da segurança apareceram no local, com um objetivo maior de impedir gravações do caso, enquanto o vigilante continuou sufocando o jovem, que morreu posteriormente no Hospital Lourenço Jorge, após duas paradas cardiorrespiratórias.

Esse episódio repercutiu por diversos meios de comunicação, sendo pauta de reportagem em grandes jornais, como o G1, Folha de São Paulo e R7 . O Extra declarou em uma nota que os seguranças envolvidos no caso foram imediatamente afastados e que repudia quaisquer atos de violência em seus mercados.

Dessa forma, a atitude do segurança do mercado Extra demonstra uma reação agressiva, já que, conforme Niehoff (1999), a agressão é definida como o comportamento que se utiliza de força física ou verbal em resposta a uma percepção de ameaça. Assim, pode-se notar que o funcionário reagiu de forma agressiva porque o jovem tentou pegar a sua arma, tornando-se uma ameaça para o vigilante.

Segundo Queiroz (2009), pesquisas acerca do comportamento agressivo são divergentes quanta a crença de que a agressão possui influência inata ou instintiva, ou se é simplesmente um comportamento aprendido. Além disso, o fenômeno da agressão é estudado por diferentes perspectivas teóricas, tendo contribuições de maior destaque para esse comportamento nas áreas do behaviorismo, da aprendizagem social e, por fim, da etologia (Kristensen et. al, 2003).

Uma das principais abordagens etológicas refere-se ao “instinto da agressão”, proposto por Lorenz (1966), o qual esclarece que esse instinto não pode ser considerado um princípio diabólico que tem como intuito a destruição e a morte, porém deve ser analisado como um contribuinte da preservação e organização da vida (Kristensen et. al, 2003). Além disso, a agressividade poder variar de acordo com a escassez de recursos, sendo que há maior cooperação entre indivíduos se há uma quantidade maior de recursos em determinado ambiente (Câmara, 2018). Ainda há outra contribuição da etologia que se diz respeito à definição de diferentes classes de comportamento agressivo, como a apresentada por Moyer (1976).

Condicionantes biológicos, por sua vez, também podem colaborar na compreensão do comportamento agressivo, já que para ocorrer esse fenômeno é necessário um substrato neurobiológico para conciliar os diversos componentes neuronais e motores dos atos agressivos (Saver et al., 1996, Kristensen et. al, 2003). Características biológicas, como instintos, impulsos ou forças inatas (drives), predisposições genéticas, luta reflexa, hormônios e mecanismos de neurotransmissão estão relacionados ao comportamento agressivo (Kristensen et. al, 2003). Além disso, há outros fatores que influenciam a ação agressiva, como o sexo do indivíduo, temperamento da pessoa, experiência prévia de ação agressiva, condicionamento ideológico (político, religioso, etc.), ambiente de desenvolvimento, padrões de interação familiar, entre outros (Câmara, 2018).

Existem pontos muito conflitantes nesse caso. Condicionantes biológicos podem ser usados para justificar ou amenizar a situação, tendo em vista que neurotransmissores e até mesmo o instinto agressivo frente a uma situação de descontrole estão ligados em casos semelhantes. Mas até que ponto esse tipo de comportamento é aceitável na sociedade em que vivemos? É mesmo possível amenizar a situação levando em consideração esses fatores biológicos? Seria compreensível se ainda fossemos uma espécie inconsciente de  próprios atos, em que o instinto predomina e não soubéssemos aprender a controlá-los?

É fato que a intenção do segurança não fosse o óbito da vítima, e que naquele momento fatores biológicos e do meio (como a pressão das pessoas que estavam em volta) estavam envolvidos, mas a partir do momento em que se sabe que o dever dele não era matar, somente acalmar a situação de forma racional, é inadmissível que se perdesse o controle dessa maneira, tendo o segurança que arcar com as consequências de seus atos e tendo a punição merecida.

No debate realizado em sala foram levantadas algumas questões relacionando os fatores biológicos – hormônios principalmente – que em situação de estresse podem se tornar um fator determinante para a tomada de decisões. Trabalhos com segurança envolvem atenção constante a qualquer situação que possa representar risco aos que o profissional deve proteger, bem como a si mesmo. A versão vinculada pela imprensa relata que o jovem teria tentado pegar a arma do segurança. Tal situação deixa o corpo em alerta, descarga de adrenalina, junto ao cortisol acumulado no sangue pelo exercício da profissão e ainda a testosterona podem ter levado o segurança a uma tomada de decisões equivocada.

Contudo ainda existem versões menos difundidas que o rapaz poderia na verdade estar tendo um princípio de ataque epilético, que foi mal interpretado pelo segurança quando o jovem foi lhe pedir auxílio e o segurança acabou entrando em confronto agonístico com o jovem.

É sabido que a agressão não está diretamente relacionada ao ataque físico em si e sim à ameaça. Uma disputa física é muito dispendiosa de energia e pode ainda deixar sequelas, portanto, as coisas tendem a ser resolvidas antes do combate físico, seja por comparação de tamanho, rugidos para mostrar vitalidade, e somente em último caso, a luta de fato. Um cachorro que rosna antes de atacar somente rosna pois não tem certeza se dá conta do confrontado, primeiro, ameaça e mostra sua vitalidade, para somente em último caso atacar, se tivesse certeza que pode vencer no combate atacaria sem hesitar. Mesmo quando há luta, ela é breve, justamente por ser dispendiosa. Sendo assim, é possível afirmar que a seleção natural atua sobre as espécies fazendo com que os indivíduos que reconhecem uma derrota rapidamente continuem propagando seus genes. Isso pois a energia que seria gasta tentando vencer um competidor mais apto pode sem empregada na busca de recursos ou pares sexuais menos disputados.

Remontando os primórdios da vida em sociedade humana, as fêmeas – como acontece em muitos outros grupos animais – ficava responsável pelos cuidados com a prole, enquanto os machos faziam trabalhos “braçais”, como a caça, principalmente. Logo, ao longo do tempo enquanto os homens dependiam de sua força, vigor e estratégias de luta, as mulheres dependiam de sua sensibilidade, atenção e cuidado. Juntos se mantiveram, por milhares de anos, dando continuidade à espécie humana, sendo selecionados ao longo do tempo. Mesmo que hoje haja uma discussão com relação à equidade de direitos entre os sexos, que não necessariamente uma mulher precise cuidar da prole enquanto o homem provém recursos para a criação dos filhos, essas qualidades de acordo com o sexo selecionadas ao longo de milhões de anos ainda se mantêm entre os humanos atuais.

Com isso é possível afirmar que etologicamente, homens são mais agressivos. Foi discutido que haveriam outras maneiras de lidar com a situação sem a aplicação do golpe, visto que o segurança apresenta certa autoridade sobre cidadãos comuns, estava armado e ainda apresentava um porte maior que a do jovem que faleceu. Ou seja, em todos os quesitos aqui postos o segurança apresentava vantagem sobre o jovem. Isso pode justificar o porquê do ataque, não hesitou, pois, sabia que era mais forte. Além de que o segurança ainda contava com o amparo de outro colega de profissão, que estava, por assim dizer dando cobertura, logo o indivíduo não somente se sentiu seguro para efetuar a agressão mas também sentiu que estava executando sua função como funcionário.

Infelizmente todos os atos que aconteceram convergiram na morte de um jovem, o fato é que tem um ponto importante a se abordar na questão da técnica que foi empregada pelo segurança. No caso, o agressor derrubou o jovem no chão, que acabou batendo a cabeça bruscamente, técnica que não é usual e responsável para a neutralização da possível ameaça, após isso o segurança foi ao chão para “conter” a ameaça aplicando um golpe do Jiu-Jitsu conhecido como Mata-Leão, que foi a técnica que acabou sendo letal, visto que foi aplicada de uma forma errônea, pois o segurança ao invés de manter suas costas no solo, aplicando a técnica correta cortando a circulação da jugular, ele se apoiou sobre as costas do rapaz fazendo com que o mesmo ficasse pressionado contra o chão, fato que impediu que o jovem pudesse mexer sua caixa torácica e logo, respirar. Fato que culminou na morte do rapaz devido à falta de oxigenação do cérebro e outros órgãos visto que a oxigenação do pulmão do indivíduo fo suspendida com o golpe sem técnica, sendo ainda que o segurança permaneceu sobre o corpo do jovem por muito tempo além do que poderia, culminando no óbito do agredido

Entretanto, a discussão que se forma a partir da argumentação biológica dos atos do segurança é: “ Então ele estava certo? ”. Não, esses profissionais com a função de nos proteger, apesar de estarem expostos ao estresse constante, devem estar preparados para tomar decisões difíceis e agir em situação de risco sem pôr a sua nem a vida dos outros em risco. O caso é apenas mais um capítulo do extenso livro de abusos contra a população, seja da polícia, guarda municipal ou até mesmo seguranças de supermercados.



O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, tendo como base as obras....

Câmara, F. P. (2018). Comportamento agressivo. Psychiatry on line Brasil. Disponível em: https://www.polbr.med.br/2018/03/02/comportamento-agressivo/.

Kristensen, C. H., Lima, J. S., Ferlin, M., Flores, R. Z., & Hackmann, P. H. (2003). Fatores etiológicos da agressão física: uma revisão teórica. Estudos de psicologia (Natal). Vol. 8, n. 1 (jan./abr. 2003), p. 175-184.

Lorenz, K. (1966). On aggression. Nova York: Hartcourt, Brace & World.

Moyer, K. E. (1976). The psychobiology of aggression. Nova York: Harper & Row.

Niehoff, D. (1999). The biology of violence. Nova York: Free Press.

Queiroz, R. da S (2009). Agressividade humana: contribuições da Psicologia Evolucionista e da Antropologia. OTTA, E; YAMAMOTO, M. E. Psicologia Evolucionista. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 127-132.

Saver, J. L., Salloway, S. P., Devinsky, O., & Bear, D. M. (1996). Neuropsychiatry of aggression. In B. S. Fogel, R. B. Schiffer & S. M. Rao (Orgs.), Neuropsychiatry (pp. 523-548). Baltimore: Williams & Wilkins.