Abandono ao filhote


Série Ensaios: Sociobiologia


Por Danielle Pires; Gabrieli Trevisan; Ian Rodrigo Stoltz; Pedro Cazetta; Rafaela Caldas; Vinícius Cristal




É comum encontrarmos nas mídias sociais e nos noticiários, relatos de mães que abandonam seus filhos logo após o parto, por inúmeras causas. Em março de 2019, o Jornal da Globo, o G1 (veja aqui) relatou o abandono de um recém-nascido em uma lixeira na cidade do Rio de Janeiro. Este é apenas mais um dos diversos casos de abandono pós-parto, gerando diversos questionamentos de como isso acontece, quais as causas que levam a isso e como pode ser explicado.


Na natureza, o abandono de filhotes não é algo incomum, inúmeras causas podem levar a isso, como filhotes incapazes de sobreviver, incapacidade da mãe em prover cuidados, mas em nós humanos, como entender isso, uma espécie, em tese, tão preocupada com o filhote e com vínculo afetivo grande.  Durante e pós a gestação, o cuidado parental ( e o desenvolvimento do filhote, geram na mãe, mudanças hormonais e comportamentais. O recém-nascido precisa de cuidados parentais, pois é muito frágil para se manter sozinho, aprende coisas com os pais e desenvolve laços. O comportamento afetivo desencadeia no sistema límbico reações de síntese hormonal que modulam o comportamento materno, relacionado ao amor pelo filhote. O principal hormônio que desencadeia esse cuidado é a ocitocina (produzido no hipotálamo), podendo dizer que este acaba com a tristeza e com a maldade, que seriam mediadas pelo cortisol (permanecendo em níveis baixos quando a oxitocina age).  Tentando não permear as causas éticas e psicológicas, observando a ação da mãe relatada na matéria, pode se dizer que a falta de vínculo afetivo, poderia ser enquadrada como principal fator para o abandono, podendo essa mãe, ter tido uma baixa produção de ocitocina durante a gestação, ou algum tipo de trauma que levou a uma reação adversa, não gerando o vínculo parental como se esperaria.


Além de condicionantes biológicos, outro fator que pode moldar esse comportamento é o etológico. Esse, por sua vez é baseado pela história evolutiva de cada espécie, e é algo de extrema importância quando se trata da relação da mãe com o filhote. Sendo assim, embasados nesse fator podemos encontrar alguns casos que aumentam a probabilidade de abandono do filhote, tais como: saúde da ninhada e/ou filhote, filhotes com má formação, saúde da mãe, estresse, recursos limitados, presença de um novo macho dominante. Sendo assim, encontramos casos de abandono nos mais diversos grupos, alguns exemplos são: Aves Cuco que abandonam seus ovos em outros ninhos para que os outros cuidem da prole. Isso é uma estratégia evolutiva, pois cuidar da prole exige uma demanda muito alta de tempo e energia. Além disso, as mães primatas (que geralmente não discriminam seus filhotes) podem abandoná-los caso o filhote não tenha o instinto de agarrar nos pelos da mãe. Até mesmo em invertebrados, onde besouros coveiros deixam de alimentar as larvas diminutas.

Levando em conta o caso apresentado, e devido as questões sociais que vem sendo discutidas no cenário atual, devemos considerar a diferença entre o sexo masculino e feminino, tanto nas questões etológicas quanto nas biológicas. Na parte etológica, temos que voltar na história evolutiva de nossa espécie, onde as fêmeas eram responsáveis por cuidar dos seus próximos, principalmente de sua prole, e com isso desenvolveram uma habilidade de fala, cuidado e passar ensinamentos com mais facilidade. Esses fatos se mostram presentes até hoje, como por exemplo mulheres ocupam em maior quantidade cargos na educação e na área da saúde. Já os homens eram responsáveis por prover o alimento e a segurança para a comunidade em que viviam. Por esse motivo, foi necessário que a musculatura em conjunto com aptidão para atividades que precisem de força, estratégia e habilidade de localização foram favorecidas. Isso favorece com que os homens ocupem os cargos como: motoristas, esportistas e empresários.  Tudo isso se trata de um contexto histórico e evolutivo do ser humano. Porém, nos dias de hoje, pode ocorrer uma inversão dos papéis na sociedade, e qualquer um dos gêneros pode ocupar os locais de trabalho e posições as quais quiserem.
Já as diferenças de macho e fêmea quando se trata do contexto biológico são tanto aparentes quanto externas.  Um exemplo disso, é que o corpo da mulher é perfeitamente estruturado para se ter um bebê, então o aparelho reprodutor foi moldado com a finalidade de abrigar um feto. Há também a parte hormonal, onde, esses se tornam extremamente importante para o parto e cuidado do filhote. Outro hormônio que se sobressaí nas mulheres é o estrogênio. Os homens por sua vez, apresentam maiores massas musculares e quantidades menores de hormônios, como a oxitocina, relacionados com o cuidado, além de expressarem esse hormônio em situações distintas das mulheres. Além de que um dos principais hormônios quando se trata do sexo masculino é a testosterona.

Na natureza o abandono ao filhote não é algo incomum, e pode ocorrer quando o filhote é incapaz de sobreviver e quando a mãe não tem condições de criar, podendo outra espécie ou até mesmo indivíduos da mesma espécie serem capazes de prover cuidado ao filhote e adota – lo. A adoção de animais da mesma espécie ou de espécies diferentes na natureza não é algo raro, e acontece especialmente com os mamíferos. Os filhotes quando nascem precisam de cuidado e estabelecimento de vínculo, selecionando o indivíduo que será capaz de prover. Geralmente são fêmeas que adotam os filhotes, devido as alterações hormonais que vão desencadear o comportamento materno o cuidado com o filhote.  Outro fator que leva as fêmeas que não são as mães biológicas a adotarem é o sistema de pânico instalado nos filhotes. Esse sistema promove reações nos filhotes como choro angustiante, procurar pela mãe, só se acalmar quando se sentir seguro, etc, isso faz com que as fêmeas tenham o instinto materno desencadeado e cuidem do filhote que está em situação adversa.

Conforme as discussões e posicionamentos levantados em sala, temos alguns fatores interferem diretamente na dinâmica de ser mãe. Sendo que, algumas espécies de mamíferos são acometidas de gravidez psicológica, onde a vontade se ter um filhote é tão grande que psicologicamente, fisicamente, comportamental e até mesmo em parâmetros hormonais a fêmea aparenta estar grávida e até prepara o seu habitat para a chegada de sua prole. Porém, isso não passa de um mero “falso positivo”.  Outro fator que pode interferir nessa tal dinâmica, é a depressão pós-parto, que ocorre, pois, durante o período da gravidez o corpo materno fica com grandes doses hormonais, tanto da mãe, quanto da criança. Quando ocorre o parto, esses níveis tendem a baixar drasticamente, fazendo com que as mães rejeitem seus filhotes. Obviamente na sociedade humana há formas de mitigar os efeitos dessa queda hormonal e trabalhar psicologicamente com a mãe para a mesma volte a cuidar dos seus filhos. Outro fato levantado, é que hoje, em nossa sociedade existe uma pressão muito grande para a mulher quando se trata de ter um filho. Sendo, que quando a mesma atinge determinada idade, ela é pressionada a conceber uma criança, se não ela passa a ser questionada como imposições como: “ vai ficar para a titia”, “ não está velha demais? ”, “ o sentindo da vida é ter um filho”, entre outras.


Nós como futuros biólogos acreditamos que, apesar do abandono ser uma atitude condenada pela a sociedade, ela ainda acontece de forma natural nos mais diversos grupos animais. Sendo que, os exemplos citados são apenas alguns, pois encontramos este ato em espécies, como nos gatos domésticos, leões, aves de rapina, roedores, etc. O principal é, compreendermos que estas ações dependem de condicionantes etológicos, psicológicos e biológicos de cada indivíduo. Correlacionar esses comportamentos e os fatores que podem levar a eles, são de extrema importância, até mesmo para relacionarmos com o que acontece no meio em que o ser humano está inserido e o que levam suas ações. Afinal, todos somos animais, temos instinto e fatores que nos levam a realizar determinado comportamento. Porém, essa atitude em nossa sociedade não é necessária, pois existem as mais diversas alternativas para o bem-estar das crianças, um exemplo disso é entregar as crianças para lares adotivos, onde terão a oportunidade de encontrar uma nova família.



O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, tendo como base as obras:

ALCOCK, John. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. Artmed editora, 2016.
BUSSAB, Vera Silvia Raad. Mãe natureza-Uma visão feminina da evolução: Maternidade, filhos e seleção natural. Interação em Psicologia, v. 6, n. 1, 2002.
LOPES, Vanessa. Por que minha gata rejeita seus filhotes?, 2018. Disponível em: https://www.peritoanimal.com.br/porque-minha-gata-rejeita-seus-filhotes-21441.html
Rincón, Maria Luciana. Cinco piores mães do reino animal, 2018. Disponível em: https://www.megacurioso.com.br/dia-das-maes/43151-5-das-piores-maes-do-reino-animal.htm

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