domingo, 10 de maio de 2009

Solidão, quem quer sentir?

Apesar da maior parte do tempo os animais realizarem atividades de manutenção – atividades fundamentais para sobrevivência e que só ele pode fazer como dormir, comer e limpar-se – aqueles que vivem em sociedades foram moldados pela natureza para não ficarem sós. Assim, o sentimento da solidão é criado para funcionar como uma espécie de emoção-termômetro que guiará o animal para buscar uma companhia.
Inicio esse texto sugerindo o livro “Quando os elefantes choram” (lista ao lado) de Masson e McCarthy. Segundo os autores a solidão é causa de morte em animais cativos e a busca por companheiros tem como objetivo evitar a tristeza, solidão e angustia. Mesmo animais tidos como solitários como tigres, leopardos, rinocerontes e ursos parecem passar mais tempo se associando com outro animal do que se acreditava.
A emoção denominada de “solidão” é sentida pelo corpo através de inúmeras manifestações fisiológicas e pode ser interpretada pelo cérebro de diferentes formas – desde “Ops! Preciso encontrar alguém, pois sozinho não sou ninguém” – até “Ops! Se não me querem no grupo, para que viver?”


Pesquisas...


Pesquisas conduzidas na Universidade de Chicago (Livro - solidão: A natureza humana e a necessidade para a conexão social) mostram que a rejeição ou o isolamento interrompem não somente habilidades, força vontade e perseverança, mas também processos celulares dentro do corpo. Os danos físicos – sistema cardiovascular, hipertensão, depressão, elevadas quantidades de cortisol pela manhã, insônia, progressão mais rápida da doença de Alzheimer - são tantos sintomas que a influencia no organismo chega a ser considerada um fator de risco igualado ao fumo, obesidade e falta de exercício.
Estudos conduzidos nas Universidades de Amsterdã, de Vrije e de Chicago têm verificado a influência genética na solidão. O trabalho define a solidão como "o centro de uma constelação de estados socioemocionais, que incluem auto-estima, humor, ansiedade, raiva, otimismo, medo ou negatividade, timidez, habilidades sociais, suporte social, insatisfação e sociabilidade". De acordo com os dados, a hereditariedade do sentimento é de 48%. Segundo os pesquisadores episódios de exclusão social, ostracismo, rejeição, separação e divórcio estão entre os potenciais acentuadores da solidão. As mulheres se revelaram mais suscetíveis a manifestar a herança genética, sentindo-se solitárias com mais freqüência do que os homens. Deve-se considerar que a predisposição genética a se sentir só pode ser atenuada por influência do meio.
Um estudo da Universidade de Chicago, EUA, mostrou que o isolamento social afeta o comportamento das pessoas diante de situações boas e desagradáveis. Durante a visualização de imagens boas, a região do cérebro denominada de striatum ventral - associada à sensação de recompensa - era mais ativada nas pessoas menos solitárias enquanto que imagens ruins ativaram menos a região do cérebro associada à percepção exterior do nosso corpo - junção temporo-parietal - nas pessoas solitárias. Indivíduos solitários tendem a ter menos motivação e menos perseverança, o que dificulta a adoção de dietas mais saudáveis e a prática de exercícios.
Uma nova pesquisa da Universidade de Chicago tem mostrado que a solidão é um importante fator de risco para o aumento de pressão sangüínea em americanos mais velhos e pode aumentar o risco de morte por derrame e doença cardíaca. OS pesquisadores descobriram que pessoas solitárias têm pressão sangüínea até 30% maior do que pessoas não-solitárias.
A psicanalista inglesa M. Klein, uma pioneira a pensar as origens do sentimento de solidão achava que esta brotava de ansiedades vividas durante a infância. Em verdade, a solidão está mais para sintoma, jamais pode ser considerada uma doença. segundo Kierkegaard, crianças, obrigadas desde cedo a conviver com a indiferença, o desamparo ou o abandono dos pais, estão se formando futuros solitários e até mesmo personalidades anti-sociais.

Cientistas do Instituto Babraham em Londres (Inglaterra) descobriram que ovelhas, assim como humanos, precisam ver "rostos" conhecidas depois de algum tempo sozinhas, mostrando que não apenas elas podem reconhecer umas às outras, o que é suficientemente interessante, mas também que têm as mesmas emoções que nós, em relação aos rostos",


Evolutivamente falando....

O Dr. Cacioppo - um dos fundadores da neurociência social – usa imagens de ressonância magnética para documentar os papéis da solidão e da conexão social como mecanismos reguladores centrais na fisiologia e no comportamento humano. Esse é um ponto interessante na interpretação filogenética, pois para sobreviver, seres humanos precisavam estender seus impulsos altruístas e cooperativos além do interesse pessoal estreito e dos parentes imediatos. Assim, a solidão deveria sinalizar uma necessidade de reparar as ligações sociais. Segundo um novo estudo conduzido pela Universidade de Chicago e pela Universidade Livre de Amsterdã, a solidão pode ser um fator herdado geneticamente desde os tempos das cavernas. Num artigo publicado na revista acadêmica Behavior Genetics, os autores afirmam que para ajudar pessoas que sofrem de solidão não basta apenas alterar o ambiente em que vivem. Os pesquisadores afirmam que a solidão teria origem nos tempos pré-históricos, quando os homens primatas se escondiam a sós para não ter de dividir a comida obtida por meio da caça. Esses primatas pré-históricos solitários se alimentavam melhor e assim conseguiam sobreviver e ter filhos, porém tinham problemas de relacionamento por serem mais hostis. A solidão, como a dor física, teria evoluído nos humanos de forma a produzir uma mudança no comportamento. Esse mecanismo, de acordo com Cacioppo, sinaliza a necessidade ancestral do homem de se agregar socialmente.

Tipos de Solidão

Um dos paradoxos sociais atuais é o sentir-se solitário ao mesmo tempo que se convive com tanta gente. Só no Brasil são 3,8 milhões de pessoas que moram sozinhas, um aumento de 137%, em 10 anos. Porém deve-se considerar que viver só não quer dizer ser solitário e o contrário também é verdadeiro. Somente a presença ativa de outro ser humano pode dar sentido ao vazio da solidão. Existem três tipos de solidão: isolamento intimo (físico) – isolamento social (relações) – isolamento coletivo (grupo). A solidão ocasiona ansiedade e medo. Para superar esses problemas a maioria das pessoas faz negação, ocupando sua mente e seu tempo com exaustivas atividades. No entanto, é só parar um pouco - como nas festas de final de ano - para que venha o desespero e a sensação de solidão. Tem até um termo americano para esse fenômeno "holiday blues" (depressão de fim de ano) e estatísticas que mostram aumento de suicídio nessa época do ano.

Os animais não são brinquedos...

Os animais de estimação estão sendo cada vez mais utilizados para diminuir a solidão das pessoas, sejam idosos, solteiros ou casais sem filhos. Nessas situações as pessoas atribuem necessidade e sentimentos “humanos” aos animais. Pesquisas mostram que essa é uma atitude efetiva para melhoria de saúde dos humanos, é claro! Animais de estimação também são indicados para crianças, sendo que os especialistas acreditam que podem auxiliar no desenvolvimento emocional da criança e o sistema imunológico desenvolve desde cedo mais defesas, acabando por se “habituar” aos agentes alérgicos encontrados nos animais. Há inclusive a zooterapia, cães que são levados até pacientes internados e tratamento com cavalos, comprovadamente eficazes. O fato de seremos animais sociais faz com que nossas necessidades biológicas de interação sejam análogas, talvez por isso conseguíssemos reconhecer nossas emoções nesses animais.
Mas será que a questão está no animal? Um estudo novo mostrou que cão robótico sofisticado para ser companheiro de idosos tão eficientes quanto cães verdadeiros. Segundo as pesquisas em asilos, a resposta dos pacientes foi parecida do que com um animal de verdade, além o animal seguir a pessoa, exigir cuidados e atenção, poderia também ser programado para lembrar a hora dos remédios e até monitorar a saúde do seu dono.... o que você acha disso???

3 comentários:

  1. Amanda Weber Cavalero15 de maio de 2009 às 18:18

    Colocar cães robóticos tem o lado prático de lembrar dos horários dos remédios. Porém, usar algo tecnológico como meio de satisfazer necessidades emocionais toca num ponto maior.
    Será que a situação dos animais não pioraria com esse recurso pq os deixariamos de lado devido à praticidade robótica? E onde fica o desenvolvimento da responsabilidade de se ter um animal e dever cuidar de sua alimetação e saúde? O respeito e cuidado com a outra espécie,a meu ver, ficaria restrito.

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  2. Um absurdo cães robóticos, a relação é construida através da interação dia após dia, é assim que aprendemos a respeitar,admirar,amar e a conhecer a natureza particular dos nossos amiguinhos... Será que até aqui o homem quer meter sua artificialidade.

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  3. Eu não acho algo tão absurdo cães "robóticos", na verdade é um suprimento de socialidade e afeto tanto como usar o telefone, assistir tv, será que não? é um recurso tecnológico aonde emulamos e simulamos emoções e contato social. E talvez por exemplo, para pessoas q só querem companhia e n responsabilidade seja uma boa pedida. Quando n quiserem brincar com o cão "fake" e só desliga-lo em um apertar de botão.

    Mas é lógico que também n acho algo muito saudável, aliás se formos colocar no papel, muito do que se preocupamos e gastamos o nosso tempo de vida n é lá algo primordial.O valor abstrato que atribuímos a dinheiro por exemplo. Ou a companhia dos amigos do "orkut" e do "myspace".

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