Série Debates
por Marta Fischer
A turma do primeiro período de
psicologia discutiu nas últimas semanas os aspectos envolvidos na compreensão
da mente do animal que pode mudar a forma como nos relacionamos com eles. As
emoções foram definidas como processos biopsicológicos de curta duração, que
estão relacionadas com a sobrevivência, sendo, então instintiva e mais
primitiva, logo tem a ver com a sobrevivência do indivíduo, por isso é lógico
que todos animais possuam emoções. Como exemplos apresentaram vídeo das vacas confinadas que
foram soltas e demonstram euforia e prazer. Já os sentimentos foram definidos
como processos mais estáveis e relacionados com a consciência, uma
interpretação sobre as emoções, tais como o macaco demostra senso de
injustiça ao não aceitar uma recompensa diferente do seu colega de teste. A
equipe considera que os sentimentos existem nos animais, contudo se diferenciam
em grau entre eles e os humanos, estando relacionados com a complexidade da
consciência. Já a inteligência foi considerada difícil de ser definida, pois
cada animal possui problemas específicos para resolver no seu dia-a-dia,
fazendo com que todos sejam inteligentes. Contudo, o grupo concluiu que alguns
animais como cães, porcos, corvos, polvos, golfinhos e elefantes possuem uma
habilidade maior de resolver problemas novos e imprevistos, fazendo com que
sejam colocados em uma posição superior do ranking dos animais mais
inteligentes. A consciência é um mecanismo mental extremamente relevante nesse
processo, e embora existam diferentes níveis, a ciência hoje já sabe que
determinadas ondas cerebrais são comuns entre homens e animais mostrando que
muitos deles podem ter uma consciência
semelhante a nossa, o que levou a um grupo de renomados cientistas a assinarem
um manifesto a favor dessa evidencia.
A comprovação pela ciência de que
animais possuem emoções, sentimentos, inteligência e consciência já era
conhecida pelas pessoas que convivem com animais. Na verdade é apenas mais um
elemento utilizado para atestar que a partir do momento que um animal sente dor
ou prazer, é imoral causar sofrimento e não proporcionar prazer para os
animais. Essas novas evidências podem embasar a busca de novos paradigmas na
conduta ética com o qual tratamos os animais. Durante o debate as equipes
falaram sobre os diferentes usos dos animais. Na Produção os animais foi
colocado que o problema é que os animais são criados para morrer, seja para
nossa alimentação ou para utilização de subprodutos como pele para vestimenta, a
gordura para confeccionar sacola plástica e biocombustível, e ainda cosméticos.
Embora não pareça num primeiro momento cruel usar pele e penas a equipe mostrou
um documentário de como se faz travesseiro de pena de
ganso. O grupo compartilha que consumir
carne, não é o problema, a questão ética está na forma como os animais são
criados (foram listados inúmeros problemas da criação como superlotação, o gado
gigante, impactos ambientais sugerindo ver o documentário a carne é fraca) e
principalmente na falta de informações e colocam “será que sabemos o que
estamos consumindo?” A equipe levantou a questão também de que consumir um
animal que sofreu e que foi exposto a produtos inadequados, pode comprometer a
saúde das pessoas. Como alternativas foi citado o abate humanitário e a
exigência das 5 liberdades na produção animal.
Outra equipe
falou sobre experimentação animal trazendo informações sobre testes para indústria
armamentista, cujo principal objetivo é aprimorar armas, que irão matar mais
pessoas; teste de irritação ocular e dermal, já possíveis de substituição com
processos mais elaborados, porém mais caros; os intoleráveis testes de colisão;
e o mais polêmicos testes comportamentais, uma vez que não é possível
anestesiar um animal se a intenção é analisar estresse, angústia, pânico,
separação de mãe e filhote. A equipe
concluiu que além de ser inaceitável esses testes - em uma sociedade que tem
alternativas - deve-se pensar nas raízes de termos necessidades de tantos
medicamentos e produtos novos que demandem novos testes. O mesmo acontece com
uso acadêmico, uma vez que os animais são usados para reproduzir e não gerar conhecimento
científico. No Brasil é permitido apenas no ensino superior e técnico em
biomédica e ressaltam a necessidade dos CEUAS. Na psicologia os ratos são utilizados
em matérias experimentais, a aluna concorda com a substituição por software que previne o
sofrimento da privação e o abate no final. Embora esse tema ainda desperte
debates de grupos pró e contra, parece que a maioria concorda que não faz
sentido submeter nem o animal nem o aluno de psicologia ao estresse e, caso, o
aluno pretenda trabalhar nessa área, pode se especializar no mestrado. No curso
de medicina veterinária são animais também tendem a ser modelos ou objetos para
repetir processos, não agregando novos conhecimentos. Há relato de que muitos
alunos desistem do curso pelo fato de fazer experimentos com animais vivos,
enquanto outros se sentem vulneráveis, pois é a profissão que querem seguir e
devem se conformar, muitas vez tornando-o menos sensível ao sofrimento animal,
por uma questão de autoproteção. A equipe que abordou a temática do uso de
animais em serviços, embora tenha listado os diferentes serviços que os animais
podem nos prestar, destacou as terapias como a equinoterapia que ajuda em
questões como autismo e hiperatividade, que sem dúvida ajuda na qualidade de
vida de pacientes de todas as idades.
Relataram os cães treinados por
presidiárias para serem destinados para zooterapia. Pelo ponto de vista da
equipe o cão cria um vínculo que pode auxiliar o dono, principalmente nas
sociedades modernas em que idosos vivem sozinhos e precisam de ajuda nos afazeres
domésticos, administração de medicamento e contar com um cão treinado que pode
ir buscar ajuda em caso de emergência, como a detecção precoce de um ataque
cardíaco ou uma convulsão até uma doença como o câncer. Contudo deve-se tomar
cuidado para que não haja uma exploração desses animais, nem em termos de carga
de trabalho, nem quanto a uma apropriação pelo comercio, como se viu nos cães
de guarda. Os cães guias e cães policiais são exemplos de utilização para
serviços bem regulamenta em que os animais possuem tempo de trabalho e normas
de condutas bem estabelecidas. O último ponto levantado foram os cavalos de
carrinheiros, os quais envolve uma questão ética muito séria, envolvendo
diferentes aspectos da ética animal, mas também questões sociais e humanitárias
que não podem ser negligenciada. Os animais são expostos a muitas horas de
trabalho, muito peso, alimentação de má qualidade e falta e negligencia de
fiscalização. Os alunos relataram o projeto cavalo de lata, que visa a
construção de um carrinho elétrico com sobras e com todos os itens de
segurança. Contudo que ainda precisa de apoio para sair do papel.
O debate sobre
o uso dos animais no entretenimento também foi polêmico, pois expor o animal ao
ridículo para poder se divertir, é inaceitável. E mesmo sendo injustificável,
essa parece ser a prática que possui maior diversidade de meios. Desde as
exposições em circos, shows, zoológicos, rodeio, vaquejada, briga de galo,
briga de cães, caça. Nessas situações tem-se animais domésticos e selvagens,
expostos a tratamento cruéis e totalmente descaracterizados e expostos a
torturas físicas e mentais para deleite das pessoas. É óbvio que as pessoas
também subjugam outras pessoas e que o homem é capaz de atrocidades em nome do
seu lazer, mas animais e entretenimento é de fato intolerável. A equipe trouxe
informações interessantes como donos de pitbull criados para lutas afirmarem
que eles gostavam e os adeptos da caça afirmarem que a prática reflete um
comportamento natural. Nos circos e shows foi lembrado de casos de animais
selvagens que chegam no ápice do estresse e atacam seus treinadores ou o
público, e depois são considerados culpados!
A última
equipe falou sobre os animais de companhia e a percepção do animal como um
brinquedo, interessante quando é novidade, mas que aborrece e é deixado de lado
facilmente. A compra de animais por motivações torpes como impulso, objeto que
combine com seu estilo, status social, gera problemas de humanização, tráfico
de animais e sofrimento animal que é discrepante com a alegação de que gostam
dos animais. Gostam mas não respeitam-nos como animais.
Um dado interessante
apresentado foi o cão de crista chinês – um dos cães mais caros do mundo em
torno de 5.000 reais - adorado pelas madames por ter pelos só na cabeça e
patinhas e, ainda, loiro. Porém quando envelhece, perde os poucos cabelos, caem
os dentes e pende a língua, ganhado concursos de cães mais feios do mundo. Será
que as madames sabem disso? A equipe também trouxe um dado que uma das raças
mais comuns nos abrigos americanos é o chihuahua, em decorrência do impulso
propiciado pelo filme legalmente loira.
Quem imaginava que teria um lindo acessório de repente se depara com a
realidade de um animal que demanda cuidados, atenção, carinho e respeito.
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