quarta-feira, 28 de maio de 2014

O que pensam os alunos de psicologia a respeito da existência de consciência, emoções, sentimentos nos animais e qual o impacto desse conhecimento para a sociedade


Série Debates
por Marta Fischer

A turma do primeiro período de psicologia discutiu nas últimas semanas os aspectos envolvidos na compreensão da mente do animal que pode mudar a forma como nos relacionamos com eles. As emoções foram definidas como processos biopsicológicos de curta duração, que estão relacionadas com a sobrevivência, sendo, então instintiva e mais primitiva, logo tem a ver com a sobrevivência do indivíduo, por isso é lógico que todos animais possuam emoções. Como exemplos apresentaram vídeo das vacas confinadas que foram soltas e demonstram euforia e prazer. Já os sentimentos foram definidos como processos mais estáveis e relacionados com a consciência, uma interpretação sobre as emoções, tais como o macaco demostra senso de injustiça ao não aceitar uma recompensa diferente do seu colega de teste. A equipe considera que os sentimentos existem nos animais, contudo se diferenciam em grau entre eles e os humanos, estando relacionados com a complexidade da consciência. Já a inteligência foi considerada difícil de ser definida, pois cada animal possui problemas específicos para resolver no seu dia-a-dia, fazendo com que todos sejam inteligentes. Contudo, o grupo concluiu que alguns animais como cães, porcos, corvos, polvos, golfinhos e elefantes possuem uma habilidade maior de resolver problemas novos e imprevistos, fazendo com que sejam colocados em uma posição superior do ranking dos animais mais inteligentes. A consciência é um mecanismo mental extremamente relevante nesse processo, e embora existam diferentes níveis, a ciência hoje já sabe que determinadas ondas cerebrais são comuns entre homens e animais mostrando que muitos deles podem ter uma consciência semelhante a nossa, o que levou a um grupo de renomados cientistas a assinarem um manifesto a favor dessa evidencia. 
   A comprovação pela ciência de que animais possuem emoções, sentimentos, inteligência e consciência já era conhecida pelas pessoas que convivem com animais. Na verdade é apenas mais um elemento utilizado para atestar que a partir do momento que um animal sente dor ou prazer, é imoral causar sofrimento e não proporcionar prazer para os animais. Essas novas evidências podem embasar a busca de novos paradigmas na conduta ética com o qual tratamos os animais. Durante o debate as equipes falaram sobre os diferentes usos dos animais. Na Produção os animais foi colocado que o problema é que os animais são criados para morrer, seja para nossa alimentação ou para utilização de subprodutos como pele para vestimenta, a gordura para confeccionar sacola plástica e biocombustível, e ainda cosméticos. Embora não pareça num primeiro momento cruel usar pele e penas a equipe mostrou um documentário de como se faz travesseiro de pena de ganso.  O grupo compartilha que consumir carne, não é o problema, a questão ética está na forma como os animais são criados (foram listados inúmeros problemas da criação como superlotação, o gado gigante, impactos ambientais sugerindo ver o documentário a carne é fraca) e principalmente na falta de informações e colocam “será que sabemos o que estamos consumindo?” A equipe levantou a questão também de que consumir um animal que sofreu e que foi exposto a produtos inadequados, pode comprometer a saúde das pessoas. Como alternativas foi citado o abate humanitário e a exigência das 5 liberdades na produção animal.


 Outra equipe falou sobre experimentação animal trazendo informações sobre testes para indústria armamentista, cujo principal objetivo é aprimorar armas, que irão matar mais pessoas; teste de irritação ocular e dermal, já possíveis de substituição com processos mais elaborados, porém mais caros; os intoleráveis testes de colisão; e o mais polêmicos testes comportamentais, uma vez que não é possível anestesiar um animal se a intenção é analisar estresse, angústia, pânico, separação de mãe e filhote.  A equipe concluiu que além de ser inaceitável esses testes - em uma sociedade que tem alternativas - deve-se pensar nas raízes de termos necessidades de tantos medicamentos e produtos novos que demandem novos testes. O mesmo acontece com uso acadêmico, uma vez que os animais são usados para reproduzir e não gerar conhecimento científico. No Brasil é permitido apenas no ensino superior e técnico em biomédica e ressaltam a necessidade dos CEUAS. Na psicologia os ratos são utilizados em matérias experimentais, a aluna concorda com a substituição por software que previne o sofrimento da privação e o abate no final. Embora esse tema ainda desperte debates de grupos pró e contra, parece que a maioria concorda que não faz sentido submeter nem o animal nem o aluno de psicologia ao estresse e, caso, o aluno pretenda trabalhar nessa área, pode se especializar no mestrado. No curso de medicina veterinária são animais também tendem a ser modelos ou objetos para repetir processos, não agregando novos conhecimentos. Há relato de que muitos alunos desistem do curso pelo fato de fazer experimentos com animais vivos, enquanto outros se sentem vulneráveis, pois é a profissão que querem seguir e devem se conformar, muitas vez tornando-o menos sensível ao sofrimento animal, por uma questão de autoproteção. A equipe que abordou a temática do uso de animais em serviços, embora tenha listado os diferentes serviços que os animais podem nos prestar, destacou as terapias como a equinoterapia que ajuda em questões como autismo e hiperatividade, que sem dúvida ajuda na qualidade de vida de pacientes de todas as idades. 
Relataram os cães treinados por presidiárias para serem destinados para zooterapia. Pelo ponto de vista da equipe o cão cria um vínculo que pode auxiliar o dono, principalmente nas sociedades modernas em que idosos vivem sozinhos e precisam de ajuda nos afazeres domésticos, administração de medicamento e contar com um cão treinado que pode ir buscar ajuda em caso de emergência, como a detecção precoce de um ataque cardíaco ou uma convulsão até uma doença como o câncer. Contudo deve-se tomar cuidado para que não haja uma exploração desses animais, nem em termos de carga de trabalho, nem quanto a uma apropriação pelo comercio, como se viu nos cães de guarda. Os cães guias e cães policiais são exemplos de utilização para serviços bem regulamenta em que os animais possuem tempo de trabalho e normas de condutas bem estabelecidas. O último ponto levantado foram os cavalos de carrinheiros, os quais envolve uma questão ética muito séria, envolvendo diferentes aspectos da ética animal, mas também questões sociais e humanitárias que não podem ser negligenciada. Os animais são expostos a muitas horas de trabalho, muito peso, alimentação de má qualidade e falta e negligencia de fiscalização. Os alunos relataram o projeto cavalo de lata, que visa a construção de um carrinho elétrico com sobras e com todos os itens de segurança. Contudo que ainda precisa de apoio para sair do papel.  
O debate sobre o uso dos animais no entretenimento também foi polêmico, pois expor o animal ao ridículo para poder se divertir, é inaceitável. E mesmo sendo injustificável, essa parece ser a prática que possui maior diversidade de meios. Desde as exposições em circos, shows, zoológicos, rodeio, vaquejada, briga de galo, briga de cães, caça. Nessas situações tem-se animais domésticos e selvagens, expostos a tratamento cruéis e totalmente descaracterizados e expostos a torturas físicas e mentais para deleite das pessoas. É óbvio que as pessoas também subjugam outras pessoas e que o homem é capaz de atrocidades em nome do seu lazer, mas animais e entretenimento é de fato intolerável. A equipe trouxe informações interessantes como donos de pitbull criados para lutas afirmarem que eles gostavam e os adeptos da caça afirmarem que a prática reflete um comportamento natural. Nos circos e shows foi lembrado de casos de animais selvagens que chegam no ápice do estresse e atacam seus treinadores ou o público, e depois são considerados culpados!
A última equipe falou sobre os animais de companhia e a percepção do animal como um brinquedo, interessante quando é novidade, mas que aborrece e é deixado de lado facilmente. A compra de animais por motivações torpes como impulso, objeto que combine com seu estilo, status social, gera problemas de humanização, tráfico de animais e sofrimento animal que é discrepante com a alegação de que gostam dos animais. Gostam mas não respeitam-nos como animais. 
Um dado interessante apresentado foi o cão de crista chinês – um dos cães mais caros do mundo em torno de 5.000 reais - adorado pelas madames por ter pelos só na cabeça e patinhas e, ainda, loiro. Porém quando envelhece, perde os poucos cabelos, caem os dentes e pende a língua, ganhado concursos de cães mais feios do mundo. Será que as madames sabem disso? A equipe também trouxe um dado que uma das raças mais comuns nos abrigos americanos é o chihuahua, em decorrência do impulso propiciado pelo filme legalmente loira.  Quem imaginava que teria um lindo acessório de repente se depara com a realidade de um animal que demanda cuidados, atenção, carinho e respeito.  

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