sexta-feira, 23 de maio de 2014

O Ensino De Ciências E Biologia E A Utilização De Coleções Biológicas Como Ferramenta Didática: Um Pensamento Sob A Ótica Do Bem-Estar Animal


Série Ensaios: Ética no uso de animais e bem estar animal

Por André Petick Dias
Pós-graduando em Conservação da Natureza e Educação Ambiental



O estudo da ética animal considera que os animais têm sentimentos, ou seja, senciência – capacidade de sofrer ou sentir prazer. Partindo deste princípio, surge a preocupação com o bem-estar animal que é o estado no qual determinado animal encontra-se, sempre priorizando uma melhor qualidade de vida para o mesmo (Broom & Molento, 2004).
     Historicamente a relação do ser humano com animais, em quase todos os casos acaba por resultar em algum tipo de estresse, sofrimento e/ou alteração no estado emocional do ser vivo manipulado, seja para a utilização como força animal para o trabalho, alimento, diversão ou companhia (Singer, 2004). Em se tratando de coleções biológicas, temos registros da primeira coleção datada em torno de 3.000 a.C., no Egito, onde acreditava-se que a finalidade destas coleções era basicamente uma crença religiosa onde os animais selvagens significavam status para seus proprietários. Coleções biológicas são grupos organizados de espécies e indivíduos utilizados para diversas finalidades, como a classificação, comparação/verificação, comprovações históricas e de pesquisas tombadas, intercâmbios e trocas de informações em geral. Logo, estas coleções propiciavam a comprovação de diversas pesquisas já realizadas, concretizando assim o fazer científico.
            Nos dias de hoje a formação de coleções biológicas para fins didáticos é evidente e perceptível em quase todas as instituições de ensino (principalmente as de ensino superior). Temos também como um dos principais desafios para os professores de Ciências Biológicas a integração de conteúdos científicos aprofundados com uma concepção humana do que subsidiará seu papel de formador do papel ético de seus alunos[1]. Neste sentido o que se espera de um professor desta área, está contido na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) (BRASIL,1996), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1999), e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio de Ciências e Biologia (OCEM) (BRASIL, 2006). Evidentemente, também se espera do professor uma postura ética e responsável perante os recursos naturais utilizados como ferramenta didática, no ensino e na prática educacional das ciências naturais, principalmente relacionados ao ensino de elementos faunísticos.A aproximação dos alunos com o tema que o educador está abordando, pode ser perfeitamente realizada através da visualização de uma coleção didática organizada, oferecendo facilidades para “inventariar” e classificar diversas espécies.

           
Vale ressaltar que atualmente diversas pesquisas vêm evoluindo e atingindo bons resultados, devido à armazenagem de exemplares de flora e fauna em coleções biológicas, e que não necessariamente são utilizadas como instrumento de ensino, e basicamente utilizam-se em pesquisas particulares, ou estão dispostas em museus para visitação.Particularmente, acredito que com o advindo de novas tecnologias como a impressão 3D e scanner´s de última geração, a cada dia menos capturas de exemplares no meio natural serão necessárias para a formação de coleções biológicas didáticas, apesar de estes equipamentos serem importados e possuírem alto custo. Ainda podemos mencionar que no Brasil, existem poucas políticas públicas objetivando a ética e o bem estar animal, principalmente relacionadas á formação de coleções didáticas, sendo que o primeiro evento de amplitude nacional que abordará o assunto ocorrerá durante os dias 20 a 23 de maio deste ano no Instituto Vital Brazil/CEPE – Centro de Estudos e Pesquisa de Envelhecimento, na cidade do Rio de Janeiro. O título do evento é Encontro Nacional sobre Coleções Biológicas e suas Interfaces, e tem como objetivo principal estimular a reflexão sobre as prioridades de gestão e manutenção das coleções científicas, dentro do panorama nacional. A nível de coleções biológicas em geral, no Brasil as legislações existentes que incidem sobre a coleta, transporte e depósito de material biológico, podem ser encontradas no portal da FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz. 


            Outra utilização significativa para coleções biológicas que, podem ser consideradas utilizações educativas, é através da disponibilização de coleções em museus e exposições temáticas. Na minha opinião como turismólogo, podem ser utilizados animais que sofreram algum tipo de problema que terão que ser sacrificados em coleções para formarem acervos de museus e exposições. A visitação destes espaços por turistas, e também por moradores locais, favorece o acesso à informação e a sensibilização ambiental das pessoas a respeito de interações destes com as coleções. Porém, como já observamos em Museus do Brasil, faltam estratégias de uma melhor divulgação das coleções e exposições, e também na minha opinião falta interatividade e tecnologia em alguns casos, que poderiam ter por exemplo painéis que estimulem os sentidos e sensibilidades em geral.      

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Ética e Bem Estar Animal baseado nas seguintes obras.


BRASIL, Ministério da Educação / Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais PCN: Ensino Médio. Brasília: MEC, (1999). Disponível em www.mec.gov.br/seb/index.php
BRASIL, OCEM (Orientações Curriculares para o Ensino Médio): ciências da natureza, matemática e suas tecnologias, Brasília: MEC, (2006). Disponível em www.mec.gov.br/seb/index.php
BRASIL, PCN Ensino Médio: Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais, Brasília: MEC, 2002. Disponível em www.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza
BROOM, D. M.; MOLENTO, C.F.M. Animal welfare: concept and related issues – Review. Archives of Veterinary Science, v. 9, n. 2, p. 1-11, 2004.
SINGER, P. (2004) Libertação animal. Tradução Marly Winckler. São Paulo: Lugano.


[1] http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/Artigo_ID200/v13_n3_a2008.pdf

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