É possível um mundo sem preconceitos???



.... E o preconceito, é natural?



O tema do Blog dessa semana vem de algo que senti: a “segregação do grupo”. Foi algo pequeno e até banal perto do que ocorre na nossa sociedade, porém o suficiente para levantar a reflexão.

Formação de grupo

O primeiro ponto que deve ser considerado nessa reflexão é o fato de sermos uma espécie social. Qualquer espécie que decide abrir mão da sua liberdade para viver em grupos deve obter mais “vantagens” do que “custos”. Viver em grupos pode favorecer a aquisição de alimentos, a proteção e a reprodução. Porém, esses mesmos pontos podem ser comprometidos caso haja uma competição pelo recurso. De qualquer forma, para muitas espécies a vida em grupo foi muito mais importante para a sobrevivência.

Os seres humanos são altamente sociais assim como os chimpanzés, lobos, baleias..... Ressalvo aqui que há diferentes tipos de grupos socais, mais ou menos organizados. No entanto, qualquer grupo para existir deve ter dois elementos: fatores agregadores e fatores diferenciadores. Ou seja, o grupo precisa ter “algo” em comum para que se formem os elos pode ser o grupo das mulheres, dos homens, das crianças, dos corintianos, daqueles de odeiam a marta... o fato é que o grupo deverá usar a identificação com esse “algo” para se manterem unido. E grupo unido é fundamental, principalmente quando considerarmos os nossos ancestrais que precisavam atravessar grandes áreas de savanas e caçar grandes presas. O “algo” diferenciador é o que faz com que o seu grupo “unido” não se junte com outro grupo. Logo deve ficar bem claro para os integrantes do grupo o “algo” que diferenciam vocês deles. Pode ser o gênero, a raça, a crença ou o fato do outro grupo amarem a Marta.


Discriminação

Assim, temos a “discriminação” do outro para manter a identidade e união do “nosso” grupo. Isso nada mais é do que o “preconceito”. Mas o preconceito é algo bom? Por que ele é tão criticado? Por que tantas pessoas lutam para o fim da discriminação de gênero, raça, idade, peso?


Vamos por parte... os fatores de agregação e segregação são essenciais para qualquer grupo. Nós somos uma espécie extremamente social. Dependemos dos nossos grupos para sobrevivência. Logo, precisamos manter nossos grupos unidos. Nossos ancestrais provavelmente não tinham muitas opções de grupos. Atualmente nós temos inúmeros grupos: família – escola – vizinhos – igreja – curso de inglês e por aí vai... Em cada um deles vamos exibir diferentes “preferências” que nos fará aceitos ou não em determinados grupos. Se quero entrar para o grupo dos surfistas terei um determinado tipo de roupa, gírias e forma de levar a vida que me identificará com aquele grupo. Mas que posso não exibir no meu trabalho, cas

o não me seja conveniente. Mas o que é mais importante sermos um único grupo grande ou milhares de grupos pequenos? Nossos ancestrais evoluíram um cérebro para conviver em grupos com até 150 pessoas. Como fazer agora em toda essa globalização?


Nós somos a única espécie do gênero Homo que vive nesse planeta, talvez por isso somos tão pouco unidos? Dizem que a única forma da nossa espécie se unir seria se surgisse extraterrestres invadindo a terra. Daí seríamos nós contra eles. É mais ou menos o que acontece com o patriotismo brasileiro em épocas de copa do mundo, nós contra os argentinos. Esse é também o princípio da guerra. Como convencer os soldados a matar o outro se ele se identifica com o mesmo. Agora se ele é o ‘inimigo” não é igual a mim, se não é igual a mim, não tem os mesmos sentimentos que eu. Se não tem os mesmos sentimentos que eu, posso matar sem dó.....


Então poderíamos considerar o preconceito natural? Ele é natural por ser um estímulo discriminatório e essencial sim para manutenção do grupo. Então a tal paz mundial, direitos iguais para todos, aceitação das diferenças são utopias? Se pensarmos em grupos pequenos sim... mesmo porque todo mundo já sentiu preconceito quando era criança porque era criança , por ser mulhe

r, por ser gorda, por ser careca, por falar alto, por ser pobre, por ser negro, por ser branco, por ser gago, por ser analfabeto, por ser português, por ter aids... é inevitável... em espécies sociais eles elementos sempre existirão. Uma pesquisa recente mostrou que cada pessoa tem em média cinco preconceitos diferentes.


Devemos considerar que atualmente vivemos em grandes centros

urbanos e embora compartilhemos nossa área de vida com muitas pessoas, a solidão no mundo todo tem aumentado. As pessoas não estão conseguindo se inserirem nos grupos. Seria o caso de nos tornamos um único grande grupo? Se quebrarmos a barreira da distância, dos idiomas e das diferenças poderíamos

seria possível?

Uma recente pesquisa desenvolvida pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas constatou que 99,3% dos professores e alunos da rede pública de ensino admitem algum tipo de preconceito no ambiente de ensino. E 10% já viram ou vivenciaram o ‘bullying’, o assédio moral que tem sido responsável por evasão escolar. 94,2% dos entrevistados têm preconceito étnico-racial, 93

,5% de gênero, 91% de geração, 87,5% socioeconômico, 87,3% com relação à orientação sexual e 75,95% têm preconceito territorial.

Roberto Cavalcanti defende o direito natural ao preconceito considerando-o como uma pressuposição ou uma previsão. Logo, essencial para o espírito critico do ser humano bem como uma forma de prudência e proteção. Segundo Cavalcanti “a demonização do preconceito responde pela ruptura com qualquer idéia de hierarquia, seja social, cultural ou moral, com vistas à produção de uma diabólica sociedade sem classes. Qualquer diferenciação valorativa é abolida, e a feiura e a beleza, o bem e o mal, a verdade e a mentira passam a ser padrões relativos”.


Eu acredito que o preconceito seja natural e até essencial para manutenção dos grupos que promovem a sobrevivência (ou a qualidade de vida) de seus integrantes. Porém, ele cria uma ruptura em um grupo maior, se o objetivo da sociedade é manter seus integrantes passivos, ela deverá unir esses pequenos grupos em grupos maiores, fazendo não com que suas diferenças desapareçam, mas que não sejam os estímulos segregadores. Para isso deve criar estímulos agregadores maiores. A situação

que vivi revela em pequena escala essa situação. Eu estou inserida em um grupo que tem em comum freqüentar uma academia de ginástica. A proposta dessa academia é bem interessante, além de cuidar do corpo, cuida também da alma, pois promove uma série de atividades integradoras, além de ter

alguns pré-requisitos para participação que cria a identificação do grupo. Nas últimas sema-

nas, com o intuito de estimular as alunas mais antigas, criou uma série de “vantagens” para quem freqüentasse o local a mais de um ano. E “sem querer” criaram um elemento segregador. O grupo que era unido por ter elementos integradores, agora já não é um só por conta desse novo elemento. Interessante, pois socialmente é o que acon

tece e tem muito

a ver com os “modismos”. Enfim... e você, me conte, tem ou já vivem algum preconceito. Acha que é possível um mundo sem preconceitos?


Para saber mais

http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/06/17/materia.2009-06-17.8057908621/view

http://br.dir.groups.yahoo.com/group/historiacultural_go/message/2902

http://roberto-cavalcanti.blogspot.com/2008/09/pelo-direito-natural-ao-preconceito.html