O preço das mudanças climáticas

 Série Ensaios: Bioética Ambiental

Por Gislaine T. Queiroz e Larissa Prestes

Mestrandas em Bioética




Em setembro de 2022, o jornal A tribuna, em texto de Yamara Tovar, abordou o prejuízo financeiro causado por um período de estiagem prolongado e incomum no estado do Espírito Santo. Em Marataízes, cidade que depende economicamente do plantio de abacaxi, estima-se um prejuízo de R$20 milhões com perda de 80% da safra. Na região de Cachoeiro de Itapemirim, a seca causou a morte de aproximadamente 250 animais, estimulando o aumento no preço da carne e dos alimentos lácteos. Acredita-se que os pecuaristas da região estejam deixando de ganhar aproximadamente R$ 8 milhões ao mês. Em contrapartida, a prefeitura de Marataízes decretou estado de vulnerabilidade hídrica, enquanto, autoridades locais de Cachoeiro do Itapemirim tentam evitar o agravamento da crise por meio de fornecimento de subsídios e insumos.


Desde os anos de 1970 estudos associam o desenvolvimento tecnológico com as mudanças climáticas. Essas mudanças são caracterizadas por eventos como ondas de calor, inundações, secas, aumento do nível dos mares e poluição atmosférica. Percebemos que esses eventos podem influenciar diretamente na produção de alimentos levando a escassez e ao aumento de preço. E, indiretamente levando ao aumento do consumo de alimentos ultra processados. Ou seja, as mudanças climáticas possuem interface com a má nutrição e com a insegurança alimentar e nutricional: desnutrição/ déficit nutricional e sobrepeso/obesidade.

Por este motivo, a discussão sobre as implicações das mudanças climáticas na produção de alimentos faz parte dos temas de interesse da Bioética Ambiental. É importante destacar que:






Quando voltamos nosso olhar novamente para a situação dos agricultores atingidos pela seca no Espírito Santo, percebemos que eles fazem parte tanto do grupo responsável pela mudança climática quanto do grupo que sofre as suas consequências. No Brasil a emissão de gases de efeito estufa a partir das queimadas, desmatamento e expansão agrícola é muito maior do que a industrial e da queima de combustíveis fósseis e o país tem sido considerado como um dos maiores emissores do mundo. Entretanto, como pais em desenvolvimento também apresenta uma baixa capacidade de se defender dos impactos das mudanças climáticas.


Neste contexto temos o Princípio da Vulnerabilidade. “Vulnerabilidade” é uma palavra de origem latina, derivando de vulnus (eris), que significa “ferida”. Assim sendo, a vulnerabilidade é irredutivelmente definida como susceptibilidade de se ser ferido. A qualificação de pessoas e populações como vulneráveis impõe a obrigatoriedade ética da sua defesa e proteção, para que não sejam “feridas”, maltratadas, abusadas. Portanto, é de fundamental importância a mudança nas práticas de expansão agrícola, promovendo uma agricultura sustentável não baseada em queimadas e desmatamentos. Bem como, o fomento e o desenvolvimento de pesquisas sobre os impactos das mudanças climáticas sobre a agricultura e pecuária. Como forma de proteção dos próprios agricultores.

Nós como futuras bioeticistas acreditamos que respeitar a Gaia em sua magnitude absoluta formará alicerces robustos para o equilíbrio entre os envolvidos: natureza, homem e animais. É de extrema importância a consciência do todo, deixando de lado o pensamento utilitarista ao tratamos dos assuntos relacionados a natureza.



O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Fundamentos da Bioética ambiental tendo como base as obras:

Alpino, Tais de Moura Ariza; Mazoto, Maíra Lopes; Barros, Denise Cavalcante de; Freitas, Carlos Machado de. - Os impactos das mudanças climáticas na Segurança Alimentar e Nutricional: uma revisão da literatura - Ciência & Saúde Coletiva; 27(1); 273-286; 2022-01.

Luciane Fischer, Marta, y Caroline Filla Rosaneli. (2022) 2022. «EL “HAMBRE DE AGUA” Y SU DIMENSIÓN AMBIENTAL, BIOLÓGICA Y BIOÉTICA». Revista Inclusiones 9 (Especial):336-52. https://doi.org/10.58210/fprc3402.

PELLEGRINO, G. Q.; ASSAD. E. Q.; MARIN, F. R. Mudanças Climáticas Globais e a Agricultura no Brasil. Revista Multiciência. Campinas, SP. nº 8. p. 138 – 162, 2007.

Patrão Neves, M. (2006). Sentidos da vulnerabilidade: característica, condição, princípio. Revista Brasileira De Bioética, 2(2), 157–172. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/rbb/article/view/7966

TOVAR, Yamara. Seca destrói plantações; mata bois e vai subir preços. Tribunaonline, 2022. Disponível em: <https://tribunaonline.com.br/economia/seca-destroi-plantacoes-mata-bois-e-vai-subir-precos-124166>. Acesso em: 30 de novembro de 2022.