quarta-feira, 18 de março de 2020

Os efeitos da desigualdade social em meio a pandemia do (covid-19): Uma reflexão bioética

por Elisângela de Oliveira Cardozo   
Coordenadora  Núcleo de Pesquisa do  Hospital IPO 


O Ministério da Saúde esclarece que Coronavírus (COVID 19) é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China a doença é chamada de coronavírus (COVID-19).

Desde o dia 11 de março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde OMS declarou o surto do coronavirus como pandemia depois de constatados casos da doença confirmados em mais de 160 países que estamos acompanhando uma explosão infindável de informações. 
Porém de todas as informações a mais difundidas a todo o momento é a questão de como evitar a proliferação do vírus e a receita é a mesma desde o surgimento da humanidade, ou seja, a higienização das mãos. O simples hábito de lavar as mãos pode quebrar a cadeia de transmissão do vírus e evitar uma pandemia ainda mais catastrófica.
Diante dessa confirmação devemos ter em mente que vivemos em um país onde aproximadamente 35 milhões de brasileiros não possuem acesso à água tratada, mesmo sabendo que o acesso à água de boa qualidade é um direito fundamental de todo o ser humano essa realidade não é exclusiva do nosso país. Em reportagem da jornalista Heloisa Cristaldo da Agência Brasil publicada em março de 2019, segundo o relatório da ONU quase 2 bilhões de pessoas no mundo ainda não tem acesso a saneamento básico e segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) este número pode chegar a 3 bilhões de pessoas.

De acordo com o relatório, apesar do progresso nos últimos 15 anos, o direito à água potável segura e limpa e ao saneamento é inacessível para grande parte da população mundial. Em 2015, três em cada 10 pessoas (2,1 bilhões) não tinham acesso à água potável e 4,5 bilhões de pessoas, ou seis em 10, não tinham instalações de saneamento com segurança.
E o que isso quer dizer?????? A resposta é simples, a população mais pobre não vai ter acesso a esta medida profilática. E o que o restante da sociedade tem a haver com isso? A resposta também é simples, todos nós temos mais chances de nos contaminarmos já que o vírus simplesmente se espalha, entre partículas e superfícies, de um corpo para o outro e pode estar em qualquer lugar.
Diante deste contexto que prevê a uma grande epidemia mundial e global a certeza que temos é que não vivemos em uma bolha, somos seres sociais e como disse brilhantemente Margaret Thatcher (1987): “E, você sabe, não existe sociedade. Existem homens e mulheres individuais e há famílias” 

Não podemos esquecer que A Bioética como é conhecida atualmente surgiu na década de 70 com Van Rensselaer Potter, um oncologista americano, cuja preocupação inicial estava relacionada com a sobrevivência humana, ou seja, na sobrevivência de todos os seres humanos diante das obstantes descobertas tecnológicas que podiam e podem trazer o fim da humanidade. Sendo assim a Bioética desde sempre teve essa preocupação, cuidar do outro.
E nesta perspectiva a Bioética de proteção torna-se uma importante aliada na luta contra as desigualdades que permeiam o cenário atual. Inicialmente pensada no contexto bioético como uma ferramenta norteadora na resolução dos conflitos de interesse de quem possui os meios de poder econômico e suas capacidades de distribuição para aqueles que não os tem, priorizando os “vulnerados”.

Segundo o professor Dr. Fermin Roland Schramm “A Bioética da Proteção se dedica aos sujeitos e às populações que não contam, por exemplo, com acesso aos serviços de saúde; que vivem na miséria; aos meninos que vivem nas ruas etc, e que, portanto, deveriam ser apoiados pelo Estado e pela sociedade organizada.”, nessas palavras encontramos o sentido da Bioética de proteção, que principalmente neste momento de “crise” jamais poderia ser esquecida.
Também podemos destacar aqui a Bioética da Intervenção, idealizada pelo professor Dr. Volnei Garrafa e mais precisamente difundida á partir da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos em 2005 que trouxe grandes contribuições para a busca de soluções de conflitos sociais que até então pareciam demandas exclusivas dos países da América Latina.
“ Ao tratar das questões éticas suscitadas pela medicina, ciências da vida e tecnologias associadas na sua aplicação aos seres humanos, a Declaração, tal como o seu título indica, incorpora os princípios que enuncia nas regras que norteiam o respeito pela dignidade humana, pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.”
Estamos acompanhando a sociedade e percebendo um movimento do que podemos chamar do “Salve-se quem puder”, já que muitos seres humanos são incapazes de perceber que o mundo é total e que somos seres sociais. A Histeria em alguns casos de estocar alimentos e produtos de higiene em detrimento a falta que estes produtos podem fazer para os outros é um exemplo clássico disso, ou seja, quem tem condições faz o que pode para proteger os seus e assim a pandemia só tende a se espalhar,

As preocupações com os “menos favorecidos” não podem de forma nenhuma ficar ausente em momentos de crise como este que estamos vivendo, e aqueles que insistem que a Bioética não pode ser parte de um movimento político, fica claro que a Bioética é política, já que tudo na vida é política, gostemos ou não, as preocupações com a falta de acesso a necessidades básicas como água potável e saneamento básico aqui no Brasil, na China ou na África, com certeza fará a maior diferença na luta contra a disseminação e proliferação contra o novo coronavirus e tantos outros que ainda vão continuar aparecendo.
Sendo assim, em todo e qualquer contexto a Bioética continua incessantemente buscando e permeando a discussão de forma crítica, racional e sensata, preocupando-se com o ser integral e global, com as situações pontuais e universais, tendo sempre como princípio básico o bem estar de todos os indivíduos, principalmente objetivando o bem estar da coletividade.



Referências

https://coronavirus.saude.gov.br/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Profilaxia
https://www.unicef.org/brazil/sobre-o-unicef
https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-03/falta-saneamento-basico-para-2-bilhoes-de-pessoas-no-mundo-diz-onu#
https://noticias.r7.com/internacional/sob-crise-do-coronavirus-bilhoes-de-pessoas-nao-tem-onde-lavar-as-maos-14032020
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5657%3Ano-dia-mundial-de-higienizacao-das-maos-oms-alerta-para-prevencao-da-sepse-nos-cuidados-de-saude&catid=1272&Itemid=836
http://www.bioetica.org.br/?siteAcao=Destaques&id=134