Agressividade é um instinto ou um comportamento adquirido durante a vida?



Série ensaios: Sociobiologia

Por: Jaqueline Kliemke Carneiro, Kauane Caroline Ferreira, Maria Eduarda Behrens de Oliveira Viana.

Graduandas de ciências biológicas







A primeira notícia a ser abordada será a da guerra por território que está ocorrendo na Ucrânia, onde a Rússia a invadiu para anexar territórios do país. Putin, quer impedir que a Ucrânia se torne membro ativo da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar que visa impedir o poder bélico da antiga URSS (União das Repúblicas Soviéticas) atual Rússia. Podemos supor que este comportamento do líder russo visa a sobrevivência de seu país, onde ele quer impedir que um país que divide fronteira com o seu está perto de se tornar membro de uma organização que visa seu extermínio.

A segunda matéria a ser apresentada será relativa aos dos chimpanzés, onde bandos fizeram guerras e anexaram territórios inimigos. Estudos de 10 anos com chimpanzés em Ngogo, localizado no parque nacional de Uganda, concluíram que primatas possuem comportamento bélico apurado estimulado pelo instinto de sobrevivência. O pesquisador John Mitani e sua equipe reuniram dados e foram seguindo os chimpanzés nos momentos das investidas, onde apontaram 18 ataques fatais no período dessas observações de estudo, que levou ao entendimento que a prática de guerra gerou a então tomada e consequente posse do território vizinho.

Um grupo de machos analisa os limites do território e procura por possíveis indivíduos de outras comunidades, observando em silêncio o topo das árvores. Ao avistar um inimigo, a reação vai depender da avaliação que faz da força inimiga, se for um número menor, os membros que estavam fazendo a ronda se separam e retornam ao território de origem, porém se um único chimpanzé atravessa o caminho deles, o ataque é certeiro. Eles mordem e espancam machos inimigos até a morte, apenas liberam fêmeas, mas os bebês são devorados.

John Mitani e seus colegas de pesquisa concluíram que o objetivo da campanha, que durou 10 anos, foi realmente a captura do território, pois ao ter maior disponibilidade de árvores frutíferas para as fêmeas que se alimentariam melhor, reproduzindo mais rápido, fazendo com que o grupo tenha tendência a crescer mais forte. Sendo herdado esse comportamento porque significa que a seleção natural cunhou o comportamento no circuito neural dos chimpanzés pois ele acaba por promover a sobrevivência.

O presente ensaio tem como objetivo identificar componentes biológicos, etológicos e psicológicos de um comportamento social humano focando em agressividade em relação à territorialidade.

Neste serão apresentadas duas matérias onde o foco principal é a agressividade na territorialidade nestes dois grupos, humanos e chimpanzés, e mostrar coincidência dos atos feitos por animais e humanos.

De acordo com Freud a agressividade é um instinto herdado que é manifestado como um impulso podendo ter uma realização de um comportamento, reproduzindo assim uma tensão crescente que irá ser descarregada por uma ação impulsiva, podendo desta forma ocorrer uma agressão efetiva (SIMANKE, 2014).

Há muitos aspectos em que o comportamento bélico entre grupo de humanos caçadores/coletores se assemelha ao comportamento dos chimpanzés. Ocorrem ataques e emboscadas, onde há poucas mortes de pessoas, porém a partir de conflitos incessantes o número tende a aumentar. O que Wrangham argumenta é que os humanos e chimpanzés teriam herdado uma propensão à territorialidade agressiva a partir de um ancestral comum parecido com o chimpanzé.

Segundo Mendes et al. em seu estudo os principais condicionantes da agressividade no contexto biológico foram: genético (onde houve uma baixa expressão do gene monoaminaoxidase e do gene transportador de serotonina, havendo uma variação nos genes transportadores e receptores de dopamina), durante o desenvolvimento intrauterino houve uma exposição a substâncias como álcool, cocaína e tabaco e nutricionais, como desnutrição infantil.

Em relação aos mecanismos cerebrais podendo gerir uma agressividade, no estudo Agressividade: significado social e psicológico, os autores apontam que em determinadas pessoas, proteínas responsáveis pelos neurotransmissores cerebrais são desativadas em momentos distintos, principalmente pessoas que vivem em ambientes hostis, convivendo com transgressões e violência. Os autores apontam que estes resultados são contraditórios ou não conclusivos.


Eles apresentam pesquisas que aparentam evidências conclusivas de que de fato existe uma grande possibilidade para que determinadas pessoas que convivem em um ambiente violento, e que possuem um perfil genético suscetível a desenvolverem comportamentos agressivos também sejam violentas. Mostrando que estes comportamentos agressivos estão correlacionados com a sociedade em que estão inseridos, de sua estrutura e de seus valores. Dependendo assim das influências sociais, ambientais, genéticas e desenvolvimentais.

Nos estudos de KRISTENSEN, et al. são apontados dois comportamentos que propuseram uma distinção da terminologia etologista em relação ao estudo, estes são: comportamento predatório e comportamento agonístico. Onde o primeiro se caracteriza em ataques entre animais de diferentes espécies em busca de alimento, já o segundo refere-se a comportamento de ameaças e lutas de animais de uma mesma espécie. Assim, a classificação etológica mais assentida é a que divide o comportamento agressivo em: predatório, inter-machos, territorial, defensivo, induzido pelo medo, maternal, irritável e instrumental, sendo que, nos estudos de MOYER (1976), para cada há o controle a partir de substratos neuroanatômicos e neuroquímicos diferentes e até sobrepostos.

Nós como futuras biólogas acreditamos que os comportamentos de agressividade em relação a territorialidade são herdados a partir da associação instintiva dos comportamentos, deste modo se dá há a relevância da continuidade da pesquisa neste campo, buscando a compreensão integral destes comportamentos que possuímos em similaridade com os chimpanzés, pois assim podemos antecipar e assimilar de modo mais eficaz as ações humanas e, por consequência, sermos capazes de alcançar a melhor adaptação. Assim que, a partir da análise das matérias foi possível perceber a correlação da agressividade como comportamento etológico em coexistência com a própria concomitância humana sob o aspecto da agressividade, que se mostra presente não somente no reino animal, mas também no âmbito antropológico.


O presente ensaio foi elaborado para a disciplina Biologia e Evolução do Comportamento Animal tendo como base as seguintes obras:

KRISTENSEN, C; H. et al. Fatores etiológicos da agressão física: uma revisão teórica. Estudos de Psicologia (Natal) [online]. 2003, v. 8, n. 1.

MENDES, D; D. et al. Estudo de revisão dos fatores biológicos, sociais e ambientais associados com o comportamento agressivo. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 2009, v. 31, suppl 2.

SIMANKE, R; T. O Trieb de Freud como instinto 2: agressividade e autodestrutividade. Scientiae. São Paulo, v. 12, n. 3, p. 439-64, 2014.