Série Ensaios: Aplicação da Etologia
Por: Ana Carolina Franken, Bruna Estefany Lemos e Josiane Mann.
Acadêmicas do curso de Ciências Biológicas da PUCPR
No documentário Essa
é boa: Alguns animais se drogam para fins medicinais e recreativos!”. é
representada a prática do uso de drogas para fins medicinais e/ou recreativos
por diferentes animais, fato provavelmente relacionado com as propriedades
medicinais destas drogas (plantas). Tem-se como exemplo a
onça, que consome o cipó conhecido como Capi (Banisteriopsis caapi), e
entra em estado alucinógeno na sequência. Não somente em animais, mas está
prática é comumente realizada por seres humanos.
Aecologia comportamental pode ser definida como o
valor de sobrevivência do comportamento porque a maneira como o comportamento
contribui para a sobrevivência depende da ecologia (Krebs & Davies, 1996;
Del-Claro, 2014). Além de lidar com o esforço do animal para sobreviver,
explorando recursos e evitando predadores a ecologia comportamental também lida
com o modo pelo qual o comportamento contribui para o sucesso reprodutivo. Em
experimentos usados para estudar os modos pelos quais os genes influenciam o
comportamento mostram que diferenças de comportamento (comportamento de
acasalamento, aprendizagem, canto, comportamento alimentar e migração) podem
resultar de diferenças nos genes. Isso porque os genes
codificam para enzimas que influenciam o
desenvolvimento os sistemas sensorial, nervoso e muscular do animal, que por sua
vez afetam seu comportamento. Portanto, a ecologia comportamental é um ponto de
encontro para o comportamento, ecologia e evolução (Krebs & Davies, 1996; Alcock,
2011).
Na teoria de seleção natural, publicada em “A origem das espécies” Charles Darwin tentou explicar que a adaptação era um fato obvio, com
questões que buscavam investigar as causas evolutivas da existência de um
determinado comportamento, ou seja, qual a contribuição daquele comportamento
para um maior sucesso adaptativo do organismo. Mas essas questões das causas
evolutivas de um dado comportamento, devido à época, não puderam contar com os
conhecimentos genéticos atuais o que seriam essenciais para reforçar as
teorias, visando que as reflexões dos genes podem ajudar a entender a evolução
do comportamento (Krebs & Davies, 1996). Uma nova abordagem para estudo do
comportamento animal foi lançada, no século XX, por três cientistas: Niko Tinbergen, Konrad Lorenz e Karl von Frisch. Na década de 1970 essa nova abordagem,
através do estudo moderno da etologia, fez surgir a Ecologia Comportamental
(Del-Claro, 2014).
Portanto, o
panorama etológico presume e direciona os questionamentos do etólogo e suas
opções metodológicas, partindo do princípio que o comportamento, está associado
diretamente a órgãos e estruturas do corpo, sendo produto e instrumento da
evolução, por meio da seleção natural. Tendo em vista que os estudos mais
clássicos do comportamento animal eram cães e algumas espécies de aves os objetos de estudo,
estudos estes que além de permitir o conhecimento etológico sobre os animais
estudados, desenvolveu um padrão metodológico, como: procedimentos de
observação, descrição, experimentação e análise, permitindo sua aplicação na
etoecologia de tanto outros animais (Carvalho, 1988). Os etólogos optam por
essas pesquisas, por exemplo, em estudos do comportamento de seres humanos, que
respondem bem aos experimentos, assim como os primeiros animais estudados, haja
vista que é comum aos animais a capacidade de responder a estímulos quando
orientado, e que tal comportamento é inato, ou seja, se adquire com aprendizado
(Lorenz, 1995).
O behaviorismo, estudo do comportamento
humano e etologia
estudo do comportamento animal ( incluindo seres humanos), são teorias do
comportamentalismo, e behavioristas, assim como são chamados os psicólogos e
biólogos - etólogos que estudam o comportamento humano e animal, estes
pesquisadores conciliaram o estudo da mente, que defende que o meio determina o
sujeito, com as teorias evolucionistas, teorias estas que inseriram cada ser
vivo em uma escala evolutiva classificando os animais mais primitivos e os mais
evoluídos, sendo que a teoria mais conceituada é a filogenética que classifica os seres vivos
em grupos irmãos, portanto compartilham de alguma semelhança, mesmo que mais
rudimentares. Partido deste pressuposto, os animais que compartilham das mesmas
ou semelhantes estruturas biológicas, compartilha também de uma estrutura
psicológica similar, por isso é possível que se faça a comparação de resultados
de estudos realizados entre animais diferentes que compartilham de alguma
semelhança, inclusive a repetição destas práticas com humanos ( Strapasson, 2012).
O comportamento de automedicação está relacionado à utilização de
compostos secundários e substâncias não-nutricionais no combate às doenças (Huffman, 2003), cujo atual estudo tem dado
enfoque no consumo de plantas medicinais por primatas. Sabe-se que a co-evolução entre parasitas e hospedeiros resultaram
no desenvolvimento de diferentes mecanismos de proteção, tais como ações
mecânicas de utilização de substâncias repelentes contra parasitas, ou mudanças
na dieta (Huffman, 2003). No entanto, há uma lacuna no
conhecimento sobre a utilização destas plantas cujo intuito é medicinal, ou
meramente por recursos versus
disponibilidade na natureza (Huffman, 1997; Huffman, 2003). Fundamentando a ideia do
consumo proposital das propriedades medicinais, sabe-se que esta prática está
relacionada não somente as propriedades medicinais das plantas relacionadas aos
compostos secundários, mas também na relação consumidor-planta (Huffman, 2003; Jesus, 2013). Ainda, envolvem ações
antioxidantes, estimulantes (como a secreção de enzimas digestivas),
anti-estress, entre outras atividades farmacológicas, fisiológicas e
bioquímicas (Chaturvedi et al., 2013). Jesus, (2013) sugere ainda que o consumo
destas espécies pode estar relacionado a automedicação profilática, visto que a
mistura dos nutrientes fornece um balanço nutricional e a consequente
manutenção da saúde. Não somente o consumo de uma única planta, mas a
combinação de duas ou mais podem ser utilizadas para tratamento de doenças (Belizário & Silva, 2012). No Brasil, esta prática teve
início com as populações indígenas que as utilizavam não somente para
alimentação, mas também como fonte terapêutica (Dutra, 2009). Atualmente, com o avanço da
tecnologia em novas propostas farmacêuticas, este ramo do tratamento de doenças
através da utilização de fitoterápicos vem recebendo menos enfoque,
podendo ser ainda comumente observada esta prática em áreas rurais ou áreas com
fortes tendências culturais, onde o conhecimento é passado através das gerações
(Lima et al., 2012; Marinho et al., 2007; Oliveira et al., 2009). Correlacionando a proximidade atual de animais silvestres com a
população humana, sugere-se que haja uma compatibilidade entre as doenças
observadas entre ambos os grupos, visto que entre os diversos desequilíbrios
ambientais causados à fauna silvestre, como estresse, fragmentação levando à redução de área
de vida e a domesticação dos mesmos, estes impactos estão
possibilitando uma maior semelhança entre as doenças comuns à ambos os grupos. Jesus (2013) observou que a maioria das
espécies consumidas por bugios pretos (Alouatta caraya) na Estância Casa Branca, Alegrete (RS), apresentam
algum uso medicinal por populações humanas. Não somente pela proximidade com a
fauna, seres-humanos podem tornar-se vetores de zoonoses e/ou doenças,
transmitindo assim a animais que antes haviam nunca entrado em contato com tal
situação.
Não somente observado em pessoas, a automedicação é uma prática biológica que,
sendo observada primariamente em não humanos, pode ser reproduzida pelo homem
como modelo de remediação às diversas doenças. O uso destas plantas por animais
tem sido relatado de maneira informal em diversas fontes, como relatado no
Blog: Relativamente Interessante. Outra reportagem relata o
suicídio de diversas ovelhas ao se alimentarem da planta do gênero Swainsona (Uol notícias, 2014). É nítida a percepção de que
carecem estudos sobre este tema, visto que não há lógica para afirmar que
comportamentos de suicídio como este são intencionais e benéficos aos animais.
No entanto, baseando-se na observação do consumo por animais, busca-se entender
como esta prática pode ser aplicada no tratamento de doenças de animais rurais/domésticos,
ou mesmo para consumo próprio por humanos. Os animais são veículos de
utilização destas plantas, assim como servem de instrumentos para a análise do
efeito benéfico das mesmas para o tratamento de doenças em seres humanos, como
relatados por Dallaqua & Damasceno (2011).
Nós como formandas em Biologia acreditamos que o uso de plantas com
medicamento, é uma boa alternativa para evitar o uso excessivo de drogas que
têm efeitos colaterais mais nocivos.
Levando-se em consideração o grande uso e indiscriminado de medicamentos
para que o corpo suporte as necessidades das atividades diárias atuais, que
causam estresse, consequentemente dores, tensão, indigestão por alimentação
inadequada e outros desconfortos. No entanto, não estamos aqui defendendo a
automedicação, já que ela pode trazer riscos quando equivocada, e sim,
sugerindo uma medicina alternativa, já que sabemos que para muitas doenças ela
é eficaz quando utilizada a planta correta e da forma correta, então poderia
ser aplicada pelo médico e médico veterinário, antes de optar pelo uso de
drogas.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:
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