sexta-feira, 17 de abril de 2015

O cérebro está dominando o mundo



Por Bruna Fontana, Thalita Tavares e Tuany Rodrigues
Acadêmicos do Curso de Bacharelado em Biologia – PUCPR

Com o intuito de sensibilizar a população e aumentar o número de adoções de cães, uma instituição na Nova Zelândia, junto a pesquisas relacionadas à neurociência, está ensinando animais rejeitados à dirigir. A campanha da Sociedade para Prevenção da Crueldade contra Animais (SPCA) do país iniciou o projeto com um aprendizado básico, como sentar na posição para dirigir, apertar o acelerador e mudar a posição de um câmbio de brinquedo, depois de algumas semanas os cães já entendiam os comandos, progrediram para movimentos mais complexos, até chegar ao objetivo.

O referido estudo só foi possível devido ao avanço da neurociência que atua nas áreas de comportamento, visão, memória, aprendizado, desenvolvimento, evolução, fisiologia. Baseado nas áreas de estudo da neurociência há uma confusão entre duas linhas de pesquisa: a distinção da fisiologia do sistema nervoso (neurofisiologia) e a fisiologia em si são quase que imperceptível, pois ambas estudam o sistema nervoso mas com finalidades diferenciadas.
Antigamente o comportamento animal era observado através de duas escolas:  a Objetivista na qual era composta por Etólogos, que analisavam o instinto dos animais em seu habitat natural, e o Behaviorismo formado por psicólogos, que observavam animais em cativeiros ou laboratórios, para compreender o comportamento de acordo com o aprendizado. A junção dessas duas escolas trouxe uma nova ciência com uma grande importância para a sociedade, a neurociência, que a partir de então começou a estudar o instinto e o aprendizado juntos. Hoje em dia essa neurociência é estudada por biólogos, médicos, psicólogos, físicos, engenheiros, filósofos e economistas. A Neurociência é, portanto uma ciência ampla e que está em progressivo desenvolvimento na atualidade, como as pesquisas realizadas por Luongo e colaboradores no qual mostra em ratos, o papel de dois anestésicos: diazepam e pentobarbital, em antagonizar os efeitos epileptogênicos do veneno de escorpião. Outro grupo de pesquisadores, avaliaram num estudo de imagens, feito em voluntários humanos, a ativação da amígdala em indivíduos com depressão maior (não tratados) em relação a indivíduos.
 Santiago Ramón, médico e histologista espanhol foi o primeiro cientista a identificar não somente a natureza unitária do neurônio, mas também a transmissão de informação elétrica em uma única direção: dos dendritos para a extremidade do axônio -  e assim foi considerado fundador da neurociência moderna. No Brasil, o estudo experimental e sistemático da Fisiologia começou no Rio de Janeiro com pesquisas neurofisiológicas. Thales Martins em parceria com Ribeiro do Valle ajudou a fundar a neuroendocrinologia. Vários fisiologistas dedicados ao estudo do sistema nervoso se diferenciaram nos anos 1930 e 1940, direta ou indiretamente sob influência de Miguel Ozório, destacando-se, além de Moussatché, Mario Ulysses Vianna Dias, Tito Cavalcanti e Carlos Chagas Filho.  
Então, culminou que os Pesquisadores conseguiram pela primeira vez, conectar diretamente o cérebro de dois animais de forma que eles pudessem se comunicar apenas pelos circuitos neurais. A pesquisa, liderada pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, foi realizada nos laboratórios de Natal (BR) e Durham (EUA). Os dois animais (Long Evan Rats) foram conectados diretamente pelos sinais elétricos produzidos no cérebro. O rato situado em Natal, chamado de “codificador” recebia estímulos simples (táteis ou visuais), para exercer uma tarefa. O rato de Durham, “decodificador” recebia apenas os pulsos elétricos do primeiro e conseguia executar a tarefa, mesmo sem receber os estímulos externos diretamente. O cérebro do decodificador passou a sentir o que as vibrissas (bigodes por onde os ratos tateiam), do codificador sentiam, sem perder a sensibilidade do próprio corpo. Analisando o estudo realizado com os cães motoristas, e as linhas de pesquisas que são paralelas, mas que também estudam o sistema nervoso junto a neurociência, a comunidade cientifica e a sociedade como um todo começam a dar a devida importância da compreensão dessa ciência que estuda o cérebro, mesmo sendo futurista, pode acarretar varias alternativas para solucionar diversos problemas que enfrentamos hoje, desde sociais, que se aplica ao caso dos cachorros até mesmo as patológicas, de interesse médico, e andando sempre com um auxilio bioético.  
Nós como formandas em Ciências Biológicas, entendemos o grau de importância do estudo do cérebro, bem como o uso de animais para pesquisas científicas que podem trazer sofrimento aos mesmos. Já existem estudos de técnicas alternativas, abolindo o uso de cobaias, mas que nem sempre pode ser substituído. Alguns estudos não trazem retorno significativo para a ciência, sendo importante o comitê ético justo no momento de aprovação destes projetos. Também entendemos que alguns estudos não são necessários, e que alguns entendimentos não precisam ser entendidos. Mas como nem tudo é sofrimento, existem muitas pesquisas que beneficiam eles próprios, mas será realmente que  cachorros dirigindo é uma iniciativa que traz à população a ideia de que adotar é bom e os “vira-latas” que são inteligentes?



O Presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas seguintes obras:
LUONGO R., OLIVEIRA D.A., LEBRUN I., SANDOVAL M.R. Diazepam and pentobarbital protect against scorpion venom toxin-induced epilepsy. ELSEVIER. Volume 79, p. 296-302. Junho 2009.
PARIS-VIEIRA, M., LABEDEV, M., KUNICKI, C., WANG, J., NICOLELIS, M.A.L. A Brain-to-rain Interface for Real-Time Sharing of Sensorimotor Information. SIENTIFIC REPORTS. Ed. 3, DOI: 10.1038. 2013
PELUSO, M.A.M., GLAHN, D.C., MATSUO, K., MONKUL, E.S., NAJT, P., ZAMARRIPA, F., LI, J., LANCASTER, J.L., FOX, P.T., GAO, J. SOARES, J.C. Amygdala hyperactivation in untreated depressed individuals. Psychatry Research. Volume 173, p. 158-161. Agosto 2009. 

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