quarta-feira, 15 de abril de 2015

A Genética por trás do comportamento suicida



Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por: Marina Sech, Renzzo Henrique Lepinsk Lopes e Taís Nabarro Costa

Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas da PUCPR

Recentemente uma noticia vem repercutindo muito na mídia, onde o copiloto Andreas Lubitz, de 27 anos, trancou o capitão para fora da cabine do avião Airbus A320 no dia 24 de março, e deliberadamente jogou o avião contra as montanhas francesas, matando todas as 150 pessoas que estavam a bordo. A teoria é de que uma doença mental teria afetado o copiloto, a depressão, o levando a cometer suicídio.
 
A genética comportamental é uma disciplina científica que estuda os mecanismos genéticos e neurobiológicos envolvidos em diversos comportamentos de animais e humanos. Podemos caracterizá-la como uma área de intersecção entre a genética e ciências do comportamento. A engenharia genética forneceu as ferramentas necessárias ao estudo do comportamento associado à genética molecular. Isso permite que progressivamente possamos avançar na identificação de genes capazes de modular certos comportamentos e de entender como estes genes interagem com o ambiente na formação de traços normais e patológicos da personalidade humana (Calegaro, 2001).
O suicídio é resultado de um conjunto de fatores psicológicos, biológicos, genéticos, sociais e ambientais. Um importante componente do suicídio é o transtorno mental; estudos relatam que até 90% das pessoas que se suicidam têm um transtorno psiquiátrico diagnosticado. Quando se trata de comportamento não é um único gene que determina as ações e sim a influência de vários genes (interação gênica), no entanto, as experiências individuais, socioculturais e fatores ambientais são capazes de modular os genes (genética do comportamento e o contraste ao paradigma). Turecki (1999) publicou sobre o suicídio e sua relação com o comportamento impulso-agressivo, que também através de estudo genético-epidemiológicos sugere que o componente genético é significativo em casos de suicídios. Genes candidatos como o gene da enzima triptofano hidroxilase, dos receptores da serotonina a 5-HT1A, 5-HT2A e 5-HT1B e do gene transportador de serotonina (5-HTT) estariam relacionados às anormalidades serotoninérgicas observadas em pessoas com história de depressão maior nos indivíduos com condutas suicidas sérias e naqueles que cometeram suicídio.
E quanto aos animais? Eles possuem comportamento suicida? Há quem defenda que golfinhos se afogam em cativeiro e que cachorros jejuam ao perder seu dono. "Essas crenças não têm nenhum fundamento. A evolução costuma selecionar organismos que tenham mecanismo de sobrevivência individual, não mecanismos de interrupção da vida", afirma o etólogo (estudioso do comportamento animal) César Ades, da Universidade de São Paulo (USP).
Dessa forma, o suicídio enquanto morte intencional não faz sentido dentro de uma perspectiva biológica entre os animais irracionais. "O suicídio é uma prerrogativa humana, e não dá para ampliar para os demais animais", diz o etólogo Gelson Genaro, do Centro Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto (SP). César Ades acrescenta: "É verdade que os animais podem expor sua vida - e mesmo perdê-la - em função de uma defesa da própria existência da espécie”; "Oferecer o próprio corpo como alimento para a prole é um jeito de garantir a sobrevivência, não é suicídio". (Veja o post sobre suício em animais)
Como futuros biólogos acreditamos que o suicídio é um ato multideterminado, compreendido por fatores individuais e sociais. Evidências têm se acumulado de que fatores genéticos possam ser incluídos entre os muitos determinantes do suicídio. Em estudos genéticos moleculares dos últimos 5 anos registraram-se polimorfismos no gene da enzima triptofano-hidroxilase, que está envolvido na síntese de serotonina. O alelo U parece proteger o indivíduo do suicídio, levando à produção e secreção de serotonina em grande quantidade, enquanto o alelo L parece ser responsável pela tendência ao suicídio e a menor síntese e secreção de serotonina. Esses resultados levam à expectativa de que seja possível antecipar com mais precisão esse desfecho e intervir na remediação. Contudo, deve-se ater às razões evolutivas que levam a um organismo avaliar a sua incapacidade de se manter vivo e trabalhar nas causas, e não apenas em formas paliativas de se resolver os problemas.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia I se baseando nas seguintes obras:
 
ABREU, K. P.; LIMA, M. A. D. S.; KOHLRAUSH, E.; SOARES, J. F. Comportameno suicida: fatores de risco e intervenções preventivas. REVISTA ELETRÔNICA DE ENFERMAGEM. Porto Alegre/RS; [Internet]. 2010; 12 (1): 195-200. Acesso em: 11/03/ 2015.
Especialistas alertam contra estigmatização de depressão em caso da Germanwings, BBC BRASIL. 28 março, 2015. Disponível em: < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/03/150327_lubitz_depressao_cc#orb-banner>.
CALEGARO, M. M. Psicologia e Genética: O Que Causa o Comportamento? REVISTA CÉREBRO&MENTE. 4.Nov.2001. Disponível em: < http://www.cerebromente.org.br/n14/mente/genetica-comportamental1.html>. Acesso em: 11/03/ 2015.
FEITOSA, I. B.; SANTANA, P. M.; Teles, C. B. G.  Genética do comportamento e o contraste ao paradigma da sociobiologia. SABER CIENTÍFICO, Porto Velho, 3 (1): 112 - 131, jul./dez.,2011. Acessado em: 11/03/ 2015.
VASCONCELOS, Y., JUNIOR, L. H. Os animais também cometem suicídio? Mundo Estranho, Edição 98, abril 2010. Disponível em: < http://mundoestranho.abril.com.br/materia/os-animais-tambem-cometem-suicidio>.
 Manejo do risco de suicídio. BMJ BEST PRACTICE, Your Instant Second Opinion; Nov 14, 2013. Disponível em: . Acesso em: 11/03/ 2015.
PIVOTTO, D. Os animais cometem suicídio? Muitas vezes, parece que sim. Mas a ciência diz que não. SUPERINTERESSANTE, fevereiro 2011. Disponível em: . Acesso em: 13/04/2015
SEGAL, J. Análise do gene transportador da serotonina em paciente deprimidos que tentaram o suicídio, PROGRAMA EM CIÊNCIAS MÉDICAS: PSIQUIATRIA. Porto Alegre, julho de 2004. Acesso em: 11/03/ 2015.
TURECKI, G. O suicídio e sua relação com o comportamento impulsivo-agressivo. REVISTA BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, Genética - vol. 21 - outubro 1999. Acesso em: 11/03/ 2015.

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