Série Ensaios:
Aplicação da Etologia
Por: Marina Sech, Renzzo
Henrique Lepinsk Lopes e Taís Nabarro Costa
Acadêmicos do curso de
Ciências Biológicas da PUCPR
Recentemente uma
noticia vem repercutindo muito na mídia, onde o copiloto Andreas Lubitz, de 27 anos, trancou o capitão para fora da cabine do avião Airbus
A320 no dia 24 de março, e deliberadamente jogou o avião contra as montanhas
francesas, matando todas as 150 pessoas que estavam a bordo. A teoria é de que
uma doença mental teria afetado o copiloto, a depressão, o levando a cometer suicídio.
A genética comportamental é uma disciplina
científica que estuda os mecanismos genéticos e
neurobiológicos
envolvidos em diversos comportamentos de animais e humanos. Podemos caracterizá-la
como uma área de intersecção entre a genética e ciências do comportamento. A engenharia genética forneceu as
ferramentas necessárias ao estudo do comportamento associado à genética
molecular. Isso permite que progressivamente possamos avançar na identificação
de genes capazes de modular
certos comportamentos e de entender como estes genes interagem com o ambiente
na formação de traços normais e patológicos da personalidade humana (Calegaro, 2001).
O suicídio é resultado de um
conjunto de fatores psicológicos, biológicos, genéticos, sociais e ambientais.
Um importante componente do suicídio é o transtorno mental; estudos relatam que
até 90% das pessoas que se suicidam têm um transtorno psiquiátrico
diagnosticado. Quando se trata de comportamento não é um único gene que
determina as ações e sim a influência de vários genes (interação gênica), no entanto, as
experiências individuais, socioculturais e fatores ambientais são capazes de
modular os genes (genética do comportamento e o contraste ao paradigma). Turecki (1999) publicou sobre o
suicídio e sua relação com o comportamento impulso-agressivo, que também através de
estudo genético-epidemiológicos sugere que o componente genético é
significativo em casos de suicídios. Genes candidatos como o gene da enzima triptofano hidroxilase, dos receptores da
serotonina a 5-HT1A, 5-HT2A e 5-HT1B e do gene transportador de serotonina
(5-HTT) estariam relacionados às anormalidades serotoninérgicas observadas em
pessoas com história de depressão maior nos indivíduos com condutas suicidas
sérias e naqueles que cometeram suicídio.
E quanto aos animais? Eles possuem comportamento suicida? Há
quem defenda que golfinhos
se afogam em cativeiro e que cachorros jejuam ao perder seu dono. "Essas crenças não têm nenhum fundamento. A evolução
costuma selecionar organismos que tenham mecanismo de sobrevivência individual,
não mecanismos de interrupção da vida", afirma o etólogo (estudioso do
comportamento animal) César
Ades, da Universidade de São Paulo (USP).
Dessa forma, o suicídio enquanto morte intencional não faz
sentido dentro de uma perspectiva biológica entre os animais irracionais.
"O
suicídio é uma prerrogativa humana, e não dá para
ampliar para os demais animais", diz o etólogo Gelson
Genaro, do Centro Universitário Barão de Mauá, em
Ribeirão Preto (SP). César
Ades acrescenta: "É verdade que os animais
podem expor sua vida - e mesmo perdê-la - em função de uma defesa da própria
existência da espécie”; "Oferecer
o próprio corpo como alimento para a prole é um
jeito de garantir a sobrevivência, não é suicídio". (Veja o post sobre suício em animais)
Como
futuros biólogos acreditamos que o suicídio é um ato multideterminado, compreendido por
fatores individuais e sociais. Evidências têm se acumulado de que fatores
genéticos possam ser incluídos entre os muitos determinantes do suicídio. Em
estudos genéticos moleculares dos últimos 5 anos registraram-se polimorfismos
no gene da enzima triptofano-hidroxilase, que está envolvido na síntese de
serotonina. O alelo U
parece proteger o indivíduo do suicídio, levando à produção e secreção de
serotonina em grande quantidade, enquanto o alelo L
parece ser responsável pela tendência ao suicídio e a
menor síntese e secreção de serotonina. Esses resultados levam à expectativa de que seja possível antecipar com mais precisão esse desfecho e intervir na remediação. Contudo, deve-se ater às razões evolutivas que levam a um organismo avaliar a sua incapacidade de se manter vivo e trabalhar nas causas, e não apenas em formas paliativas de se resolver os problemas.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina
de Etologia I se baseando nas seguintes obras:
ABREU,
K. P.; LIMA, M. A. D. S.; KOHLRAUSH, E.; SOARES, J. F. Comportameno suicida:
fatores de risco e intervenções preventivas. REVISTA ELETRÔNICA DE ENFERMAGEM. Porto Alegre/RS; [Internet].
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tentaram o suicídio, PROGRAMA EM CIÊNCIAS MÉDICAS: PSIQUIATRIA. Porto Alegre,
julho de 2004. Acesso em: 11/03/ 2015.
TURECKI,
G. O suicídio e sua relação com o comportamento impulsivo-agressivo. REVISTA BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, Genética
- vol. 21 - outubro 1999. Acesso em: 11/03/ 2015.
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