sexta-feira, 17 de abril de 2015

Luto! Humanos e animais no divã...



Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por Ana Vitoria Lopes, Gabriela Dias, Laura Cardona, Paula Larocca e Victoria Stadler
Acadêmicas do curso de Ciências Biológicas

  



"No caso O bem que fizeres a ti retornará que surpreendeu a mídia na última semana, foi mostrado como a dor de perder alguém de estima não se é vista apenas em humanos, os animais também sofrem quando um deles se vai. Nessa história, os cães que sempre foram cuidados com muito carinho pela senhora Margarita Suarez prestaram uma “homenagem” a ela, comparecendo ao seu funeral e apenas deixando a cerimônia quando seu corpo foi cremado. Uma história que comove qualquer um ao perceber que os animais também sentem a dor de perder um ente querido."


A morte! A única certeza da vida? Como seres vivos, nos deparamos com as etapas “nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer”. E nada mais natural do que esse processo. A história humana, carregada de crenças e culturas, enfrenta este ciclo de diferentes formas, principalmente quando tratamos da morte, mais propriamente dito, o luto. Visões, valores e sentimentos são diversificados em todo o mundo. Esse sentimento é único, repleto de etapas. Afinal, o que é o luto? Por que o sentimos? E como sentimos?
O luto caracteriza-se não só por apenas um sentimento, mas sim um conjunto deles.  Segundo Freud, o luto é um trabalho psíquico que requer um tempo para elaboração da perda e da transformação da realidade psíquica, desestruturada pela falta do objeto perdido. Entretanto, Bowlby postula que os animais nascem estruturalmente pré-programados para buscar a proximidade do outro quem será o provedor de cuidados, sem o qual a sobrevivência não está garantida.  É de nossa natureza a necessidade de atribuir significado às experiências.
Para entender esse sentimento, deve-se levar em conta as etapas e seus aspectos emocionais, comportamentais e fisiológicos. Sabe-se que o luto não é exclusivamente humano, os sentimentos são muitas vezes semelhantes em outras espécies animais. Entre animais selvagens, as cenas de luto e tristeza vão desde chimpanzés que observam em silêncio o companheiro morto até elefantes que estendem as trombas a um filhote moribundo. No caso de animais domésticos, as ligações são ainda mais fortes. A antropóloga americana Barbara King durante suas pesquisas para o livro “How Animals Grieve” (Como os Animais Ficam de Luto) ressalta que a ciência está longe de desvendar totalmente o grau de compreensão dos animais sobre o fim da vida. “Nem toda a resposta à morte significa luto”. Alguns bichos reagem com curiosidade, cutucando o cadáver. Outros parecem indiferentes à perda de um companheiro e até praticam canibalismo.
Existe o grupo de apoio Association for Pet Loss and Bereavement para pessoas que estão em luto pelo pet que morreu. A associação abre espaço para as pessoas se expressem, que discutam a vivência do seu luto, passo bastante importante, uma vez que a vivência necessita ser verbalizada e trabalhada. 

A primeira etapa do luto é o choque, quando tratamos de questões afetivas, os sentimentos atribuídos a esse momento variam entre depressão, ansiedade, culpa, raiva e hostilidade. E, em questões comportamentais manifestam-se em choro, agitação, fadiga e falta de apetite. Aspectos estes que resultam-se de alterações endógenas, fisiológicas e químicas em nosso organismo. Esse estresse envolve o sistema nervoso central e autônomo, endócrino, cardiovascular, gastrointestinal e imune. Os neurotransmissores mais afetados e desequilibrados são: noradrenalina, serotonina e em menor proporção e a dopamina. Estes estão ligados à regulação do humor, energia, sono e motivação. Devido a esse quadro depressivo, o hipotálamo acaba por produzir o cortisol em excesso. Diferentes neurotransmissores podem estar comprometidos em diferentes graus de intensidade, o que pode explicar a variabilidade nas manifestações clínicas de diferentes pacientes.
E por quanto tempo vai levar-se esse sofrimento?
Há dois tempos: o tempo do relógio e o tempo interno de cada um. Estes tempos nem sempre são coincidentes, pois cada um tem um tempo interno com marcação diferente, no qual funciona pelas sensações e sentimentos de cada um; por isso o tempo do luto é diferente para cada pessoa. Sem dúvida, o tempo do relógio irá ajudar o enlutado a entrar novamente na realidade, com o difícil encargo de aprender a conviver com o sofrimento.
Nós como futuras biólogas ressaltamos que acerca dessas informações, é importante entender que o luto é um processo natural nos seres vivos (mesmo que não muito bem compreendido). Cada uma das perdas inevitáveis refletem e são acompanhadas por um sofrimento particular e portanto, difícil de descrever. Pesquisas tem buscado a cada dia mais o entendimento desse sentimento tão doloroso, que muitas vezes acarreta outras doenças psicológicas. Tais investigações tem sido cruciais para o tratamento em clínicas, tanto para os seres humanos, quanto para outros animais. A experiência do luto é necessária para a superação da perda e para a reorganização psíquica e social do enlutado, ainda que seja dolorosa e muitas vezes dilacerante.






Este ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseado nas seguintes referências:

   Luto: um tempo temido, um tempo necessário

Nenhum comentário:

Postar um comentário