O número da Revista Inclusiones: Revista de humanidades y ciência sociales intitulado “animais e cidades” traz atrelado além da valiosa contribuição científica dos 17 artigos que a compõe, uma série de representações, ideologias e frutos de encontros improváveis e frutíferos.
A ideia de se trabalhar na Revista Inclusiones um número que congregasse a reflexão do papel dos animais nas sociedades humanas, em especial, as limitações éticas envolvidas nas cidades, foi fruto de um daqueles momentos ímpares, improváveis e eternos, que ocorrem poucas vezes em nossas vidas. Foi por meio de uma conversa com o diretor da revista Juan Guillermo Estay Sepúlveda que percebemos que o mundo conclamava pela superação dessas limitações, então, começamos nossa caminhada em prol de prover hoje para sociedade um cenário complexo, mas acolhedor à vulnerabilidades.
O percurso do número “animais e cidades” perpassa por discussões filosóficas a respeito do antropocentrismo, consciência animal e humanização dos animais; discute o princípio do bem-estar-animal na dimensão teórica e prática direcionada tanto na relação com gatos como animais de companhia, quanto com cães de abrigo e os critérios adotados diante da decisão pela eutanásia ou cuidados paliativos, em caso de debilidade de saúde; aborda a inserção dos animais silvestres e sinantrópicos nas pautas da gestão urbana e os impactos que a poluição sensorial pode causar nesses animais; inclui a dimensão da relação com animais de interesse médico, como a aranha-marrom, animais como recursos nutricionais, como a entomofagia e o manejo sustentável dos jacarés; e, por fim, insere os animais nas pautas judiciais e da proteção animal, imputando um contexto legal no que tange seus direitos nas sociedade humanas.
Olhando para esse resultado imagino o que diria Jan Guillermo, internacionalmente reconhecido pelo seu posicionamento contundente diante das vulnerabilidades socais e ambientais, e revertido por uma preocupação com a conduta ética. Eternizado na sua principal obra “A canção do rouxinol que não era um rouxinol. Aves na América vistas por cronistas: Mesoamérica e Caribe” mostrou para o mundo como é possível ler através a interação entre as aves e suas penas com a cultura, a história de um povo. Um dia conversando com Juan, ele me disse que tinha interesse em reeditar essa obra, ficando em suspenso, a possibilidade da minha contribuição nas ilustrações. Foi dessa expectativa e de um breve encontro que hoje concretizamos e entendemos os motivos que nos conectaram naquele momento do tempo e do espaço. Eu não tive tempo de conhecer a Juan Guilhemo pessoalmente, mas com certeza carregarei no meu legado a sua presença.
Desejo que os desdobramentos das pesquisas apresentadas neste número sejam tão frutíferas quanto foi o projeto firmado entre Cuadernos de Sofia e o Programa de Pós-graduação em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Boa leitura a todos e todas
Marta Luciane Fischer
Editora convidada
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