segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Adoção de pets em tempos de Covid-19: uma reflexão sobre o princípio do bem-estar

Série Ensaios: Bioética Ambiental 


Marcelo Miotto de Souza 
graduação em teologia e mestrando em bioética na PUCPR 


Segundo o site do SEBRAE, o mercado pet não sofre prejuízos com a atual crise econômica mundial. Mesmo com a pandemia de Covid-19, em 2020, o Brasil ocupa o segundo maior mercado desse ramo, movimentando cerca 34,4 bilhões de reais na economia global. Não é por acaso, também, que o Brasil é o quarto país com mais pets no mundo. Trata-se de um fenômeno recente que ganhou maior adesão nos últimos anos. Isso indica que a adoção de pets vem se tornando cada vez mais comum e modificando as anteriores formas de relacionamento com os animais de estimação. 

De fato, ao caminhar pelas ruas e parques das grandes cidades ou ao visitar a casa de um amigo, encontramos com facilidade muitas pessoas com seus respectivos pets. Eles servem como companhia e cada vez mais adquirem o status de membro familiar. Parece que o afeto pelos animais ultrapassa as diferenças biológicas de espécie e programação genética. Cães, gatos, pássaros, peixes, tartarugas e roedores proporcionam companhia e bem-estar aos seus donos. Não é por acaso que o renomado psicanalista Ruben Alves afirmar que o tipo de pet e a sua aparência indicam as características da personalidade dos seus donos. Com base nas palavras, pode-se interpretar que o bem-estar de um pet corresponde à saúde emocional dos seus donos. Assim, o bem-estar dos pets corresponde à maneira como as pessoas se compreendem, no mais profundo de si mesmas. 
Diante dessa constatação, é oportuno refletir sobre o poder de conforto e de bem-estar que a adoção dos pets proporciona às pessoas de todas as idades, principalmente no momento do isolamento social requerido pela pandemia do Covid-19, em 2020. Claro que o direito dos animais não poderia ser esquecido. Do ponto de vista bioético, entende-se que a criação de animais requer cuidado e respeito. Sempre legítimo e oportuno proclamar que é antiética toda forma de violência àqueles que não podem manifestar a própria vontade e se defender. A posse de um pet contempla, portanto, a responsabilidade de tratá-lo tal como é, e, de atendê-lo em suas necessidades básicas, tal como oferecer um lugar reservado para descansar, comer e beber. O bem-estar dos pets se aplica quanto se reconhece o direito de o animal agir conforme a sua natureza sem força-lo a fazer o que a nossa subjetividade humana quer. 
Entre as principais correntes que discutem a relação ética dos seres humanos com os animais destaca-se a bioética utilitarista, representada pelo filósofo Peter Singer. Este autor, no terceiro capítulo do livro Ética Prática, atribui o princípio de igualdade para os animais pelo fato de terem interesse de viver conforme a sua própria natureza, sem dor e sofrimento, tal como o ser humano pensa em relação aos seres da sua espécie (1994, p. 65-66). 


Embora Singer não trate especificamente sobre o tema da adoção de pets como este ensaio se esforça em argumentar, as entrelinhas da obra citada indicam que não é errado adotar um pet para ter companhia. Isso, desde que o pet tenha liberdade para agir, tal como a sua natureza está programada. Nesse sentido, o utilitarismo de Singer abre espaço para tratar sobre o princípio do bem-estar aplicado aos animais de estimação. 

No dicionário Sensagent (online), apresenta-se a definição de bem-estar animal de Barry Hughes: "um estado de completa saúde física e mental, em que o animal está em harmonia com o ambiente que o rodeia". De fato, o bem-estar é um princípio muito valorizado pela bioética pelo fato de conferir aos animais os direitos básicos da sua existência. Conforme Ferreira (2012) que estudou os benefícios dos animais domésticos aos idosos, a companhia de um pet resulta num apoio psicológico para enfrentar as adversidades da vida. Com base estatísticas, esse pesquisador contatou que os idosos demonstram grande apreço e cuidado pelos animais pelos seus animais. De fato, cuida-se bem daquilo que proporciona um bem recíproco. 

Ora, se há um grande número de pessoas adotando animais, pode-se identificar nesse fenômeno algo relacionado à dimensão espiritual do ser humano que dificilmente consegue viver na solidão. Ter um animal para brincar, alimentar e acariciar preenche o sentido existencial das pessoas. Uma pessoa enferma, por exemplo, poderá amenizar o seu sofrimento ocupando-se com os seus pets. 

Eu como teólogo e mestrando em bioética acredito que a adoção dos pets contribui para o bem-estar humano no atual contexto de isolamento social por causa da pandemia de Covid-19. Isso é belo e merece sempre uma constante conscientização de respeito para com os animais de estimação. Se eles contribuem para o bem-estar dos seres humanos pela sua companhia, os seres humanos também precisam retribuir na mesma proporção de cuidado. Uma vez que foram adotados, tal empreendimento exige a responsabilidade integral por eles. Adotar um pet, a partir desse ensaio, significa assumir um compromisso moral de cuidado recíproco. 

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Bioética Ambiental, baseando-se nas seguintes referências: 

MIRANDA, Luciene. Brasil torna-se o segundo maior mercado de produtos pet. [Acesso em: 29/10/20]. Disponível em: 
SINGER, Peter. Ética Prática. São Paulo: Martins Fontes, 1994. 
7 novas tendências no mercado pet para 2020. [Acesso em: 16/11/20]. Disponível: 
Bolsonaro sanciona lei de proteção a animais e promete corrigir distorção punitiva. [Acesso em: 16/11/20]. Disponível: https://www.conjur.com.br/2020-set-29/bolsonaro-sanciona-lei-protecao-animais-cria-distorcao
Bem-estar animal. In: Sensagent. [Acesso em: 16/11/20]. Disponível: 
PERES, Mario F. P. et al. A importância da integração da espiritualidade e da religiosidade no manejo da dor e dos cuidados paliativos. Rev. psiquiatr. clín. vol.34 suppl.1 São Paulo 2007. [Acesso em: 16/11/20]. Disponível: 
Animal de estimação. [Acesso em: 16/11/20]. Disponível: https://www.teclasap.com.br/pet/
FERREIRA, Aldo Pacheco. Lucro Terapêutico por Animais Companheiros Emprego na Assistência à Saúde do Idoso. Gerenc. Polit. Salud, Bogotá , v. 11, n. 22, p. 58-66, junho de 2012 . Disponível em: 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Relação entre tutores e animais em contexto pandêmico: amor, cuidado e responsabilidade





Série Ensaios: Bioética Ambiental 

Por João Moreira Júnior 

Teólogo, Pós Graduando em Cuidados Paliativos e Mestrando em Bioética 

Ao se tratar das relações entre tutores e animais domésticos é importante salientar sobre a importância do bem-estar animal. Destaca-se neste estudo o caso emblemático da atriz Cláudia Ohana, que devolveu dois cachorros que havia adotado, Thor e Tigrão. “A ong Toca do Bicho divulgou os áudios em que a atriz diz que "não está conseguindo" lidar com os animais, já que um deles rosna para ela. Ohana diz ainda que não saiu para passear com os cachorros por "medo de limpar" as fezes dos cães”, frases salientando o desconhecimento com o cuidado animal. A atriz afirmou ainda, que os cachorros estavam destruindo seus móveis, objetos decorativos e mantê-los tornou-se uma tarefa complicada, principalmente pela pandemia, já que se encontra sozinha, pontua.

 

O caso repercutiu, após postagem de uma nota realizada pela ONG – em rede social, em primeira pessoa, onde os cachorros relatariam a tristeza de serem devolvidos: "Sou o Thor. Irmão do Tigrão. Também fui devolvido. Dormíamos na cama da mamãe. De repente, não nos quis mais! Não me sai da cabeça porque mamãe nos devolveu. Ela dizia que não obedecíamos, que destruímos coisas, mas não teve paciência com a gente. As tias da Toca orientaram em tudo, ofereceram adestrador, mas mamãe fez tudo errado. E pior, no final, nos devolveu! Sequer ligou para saber como estávamos desde que saímos da casa dela. Acreditam? E aquelas fotos que tirava e postava? Seriam encenação? Nos adotou bebês e agora que crescemos, quem vai nos adotar juntos? Vamos sofrer de novo a dor da separação. Adotar é um ato responsável. Temos sentimentos. Portanto, não façam como nossa antiga tutora. Pensem bem antes de adotar. Ainda bem que existe o @projetotocadobicho", diz o post da ONG, salientando o pesar de um ser senciente.
Em publicação recente do Portal Agência Brasil intitulada ‘Adoção e abandono de animais domésticos aumentam durante a pandemia: adoção de um pet requer alguns cuidados’, realizada pelo repórter Pedro Peduzzi, retrata um cenário que desperta um importante alerta sobre o modo como os tutores têm se relacionado com seus animais e como esse seguimento tem se comportado para aumentar seus lucros, através de ideais que fogem da realidade da responsabilidade do cuidado para com os animais.
Mediante o exposto, é importante destacar que a sociedade dos anos 2020 têm experimentado um ano atípico com a pandemia do COVID-19, despertando o ser humano para um novo modo de vida, seja, acadêmico, no mercado de trabalho, nas relações interpessoais, inclusive, as relações com os animais de estimação. Diante desse cenário, onde o convívio tem sucedido remotamente, as relações dentro do lar têm se intensificado, seja aos membros humanos da família e com os animais de estimação aos quais alguns tutores não sabem como proceder. 

Por outro lado, o nicho dos pet-commerce tem intensificado suas propagandas, divulgando filhotes de animais e os mais diversos acessórios. Em virtude dessa circunstância, é apresentado aos interlocutores as alegrias de tutorear um animal, mostrando como eles são fofos, que suprem a carência daqueles que vivem sozinhos, assim, vendendo um ideal, um relacionamento homem-animal sem intercorrências próprias do cuidado.
Pelo contrário, em contraste com a adoção de animais em espaços públicos, redes sociais, entre outros locais onde são colocados em exposição, cabe uma reflexão sobre esse processo, pois ocorrem em alguns momentos de modo acelerado, assim, sem pensar nas consequências de uma tutoria animal, a responsabilidade empregada nesse ato. Assim, destaca-se que os animais têm direitos e os seus tutores deveres, porque são os responsáveis por garantir o bem estar do tutelado.
Em Cartilha de Proteção Animal, da Comissão de Direito Ambiental da OAB/PR, é retratado no tópico ‘Adoção e Criação Responsável’, que a responsabilidade vai além da alimentação e uma casa, é necessário que seja alimentação e local de abrigo adequados, cuidados veterinários, tratamento digno com higiene, acesso à medicação apropriada conforme prescrição médica, vacinação, vermifugação, esterilização, e, sem esquecer do respeito e amor.

Em virtude disso, destaca-se o caso da atriz Cláudia Ohana, que ao adotar os dois filhotes, interagiu com os internautas mostrando o convívio com os animais sendo ovacionada por aqueles que simpatizam com o fenômeno de popularização da chamada causa animal (OSTOS, 2017), contudo, a mesma ‘devolveu’ os animais depois de alguns meses, como apresenta a reportagem do Correio Braziliense, infelizmente nem todos os casos são veiculados, possibilitando o apoio voluntário para as ONG’s. Analogamente, pontua-se que há muitos animais em situação de abandono e com suas vidas em risco, também, há muitos animais em abrigos esperando ansiosamente por uma família que os adote com responsabilidade, salienta a Cartilha.
Com efeito, percebe-se que por vezes os animais são tidos como objetos, experiencias de prazer e bem-estar, uma espécie de vitrine, utilizando-se deles para realizar propagandas, para apresentar nas redes sociais e entre os amigos, atribuindo a eles valor monetário em decorrência do pedigree, com os certificados da linhagem parental, entre outros. Por conseguinte, condicionando o animal ao prazer pessoal ou como “objeto” admitindo sua manipulação e/ou seu ‘descarte’. Com efeito, destaca-se que os animais não são coisas, mas seres sencientes, ou seja, possuem a capacidade de sentir dor, sofrimento, amor, raiva ou qualquer outro sentimento semelhante aos dos humanos.
Além disso, salienta-se os maus tratos, não somente aos animais que possuem um tutor, mas aqueles que se encontram em situação de rua ou perdidos, como por exemplo, o caso de Belinha, em decorrência de um disparo de arma de fogo teve sua vida ceifada, em um vídeo compartilhado nas redes sociais, exibindo seu tutor de apenas 13 anos, em lágrimas com o animal sangrando em braços, como mostra a reportagem na página do Isto É.
Não apenas esse caso, como a cadela Manchinha morta em uma das redes de um hipermercado, onde fora espancada até a morte por um vigilante, como pode ser visto em matéria de O Globo. É importante destacar que ambos os casos ocorreram em estabelecimentos comerciais, contudo, maus tratos ocorrem em todos os lugares, nas residências, nas ruas, na zona rural, enfim, deve-se repudiar todo ato de crueldade, acionar imediatamente as autoridades competentes para que medidas sejam tomadas e assim salvaguardar o bem-estar e a vida do animal.
Indubitavelmente, vale destacar que maus-tratos ou abandono de animais é considerado CRIME e acarreta condenação à pena de detenção que varia de três meses a um ano e multa conforme o art. 32 da Lei 9.605 de 1998, a Lei de Crimes Ambientais. A lei se aplica a quem “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”, aponta a cartilha.
Nesse sentido, é importante salientar que os animais abandonados representam também um grave problema de saúde pública, tendo em vista que são os principais reservatórios e transmissores de zoonoses como raiva e leishmaniose visceral, ao mesmo tempo em que são vítimas de atropelamento, abusos e crueldade (SOUZA, 2020), como nos casos supracitados.
Mediante o exposto, é importante salientar a importância do planejamento antes da tomada de decisão para cuidar de um animal, esse é um ato de amor, cuidado e responsabilidade. Vale salientar, no ano de 2011, foi lançada a One Health Initiative que reforça o conceito de uma só saúde, trata-se de uma estratégia mundial para a expansão de colaborações interdisciplinares e comunicações entre todos os aspectos dos cuidados em saúde para os seres humanos, animais e o ambiente, representando um avanço em saúde para o século XXI (apud DOMINGUES, 2015), elucidando a ampliação da noção de direitos fundamentais para todas as formas de vida. Conforme o vocabulário americano cachorro, por exemplo, chama-se DOG, e Deus GOD, ou seja, observamos que há uma reflexão que eleva a relação homem-animal, por sua vez, salientando a dignidade da vida animal.
Com o propósito de auxiliar pessoas que almejam ter um novo membro na família, evidencia-se que a chegada de um animal é abraçar uma vida, e por isso a família precisa estar preparada para recebê-lo. Um animal não é brinquedo, crianças menores precisam de orientação e acompanhamento para receber o novo membro da família, que estará assustado e sem referências, precisará de muita paciência, amor e respeito. A adaptação do novo membro da família precisa ser feita gradativa, com calma e paciência. É preciso tempo para o animal se sentir seguro com os humanos da nova família ou mesmo com outros animais. Assim, ao adotar, lembre-se que o animal será um membro da família, e não pode ser descartado.

Sendo assim, destaca-se a importância da Bioética e da Bioética Ambiental, salientando que o ser humano possui a liberdade para tutorear um animal, porém, há deveres e esses por sua vez exigem: atenção, ambiente adequado, cuidados médicos veterinários, dedicação, tempo, zelo entre tantos outros elementos que são essenciais para garantir o bem-estar animal. Para isso, cabe aos profissionais, voluntários de ONG’s informar, sensibilizar e conscientizar sobre a importância da responsabilidade para o trato com o animal, assim como, a implementação dessas orientações nas escolas desde o ensino fundamental (FISCHER, 2017), englobando a educação ambiental e biodiversidade.
Dessa maneira, ao retratar o caso da atriz Claudia Ohana, percebe-se a quebra do Princípio da Senciência, pois o valor da dignidade animal foi extinguido, e por sua vez, ao citar o local onde estavam de acordo com as fotos publicadas, observa-se um ambiente ecologicamente desiquilibrado. É interessante salientar que ao acolher os animais - estavam pequenos, ao passar do tempo por serem animais sem raça definida cresceram além do esperado e exigem do tutor atenção, tempo, espaço adequado, pois, eles brincam, correm e fazem bagunça, assim como necessitam de caminhadas gerando bem-estar ao animal. Ao adotar, é importante ter a consciência desta realidade, cuidar além de um ato de amor é também um ato de responsabilidade, os animais em questão foram afetados negativamente, gerando danos, os responsáveis pela ONG - salientando que os animais estavam deprimidos.
Eu como teólogo, paliativista e aspirante a bioeticista acredito que é dever do ser humano cuidar, cultivar e bem guardar toda a criação. É preciso trabalhar a conscientização sobre o cuidado não somente animal, mas de todos os seres viventes. Assim, adotar um animal é oferecer alimentação, abrigo, proteção de sua integridade física, cuidados médicos veterinários, tempo com atividades próprias ao pet, além das orientações daqueles que estarão na linha de frente conversando com os interessados na adoção. De tal modo que, possa despertar a conscientização de que os animais sentem a falta de condições adequadas e suficientes ao seu bem estar, por sua vez, causando sofrimento que deve ser prevenido e aliviado, buscando oferecer toda estrutura necessária para o cuidado integral.


O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Bioética Ambiental, tendo como base as obras:

AGÊNCIA BRASIL. Adoção e abandono de animais domésticos aumentam durante a pandemia: adoção de um pet requer alguns cuidados. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-10/adocao-e-abandono-de-animais-domesticos-aumentam-durante-pandemia>. Acesso em: 18 nov. 2020. 

CORREIO BRAZILIENSE. Cláudia Ohana devolve cães adotados e ong diz que animais estão deprimidos: a ong divulgou áudios da atriz e disse que os cachorros estão deprimidos após serem devolvidos. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2020/07/20/interna_diversao_arte,873698/claudia-ohana-devolve-caes-adotados-e-animais-estao-deprimidos.shtml>. Acesso em: 18 nov. 2020. 

EXTRA. Cadela morta em Carrefour apareceu no mercado semana antes e recebia atenção de lojistas. Disponível em: <https://extra.globo.com/noticias/brasil/cadela-morta-em-carrefour-apareceu-no-mercado-semanas-antes-recebia-atencao-de-lojistas-23282874.html>. Acesso em: 18 nov. 2020. 

ISTO É. Cadela é morta a tiros na porta de mercado. Disponível em: <https://istoe.com.br/cadela-e-morta-a-tiros-na-porta-de-mercado/>. Acesso em: 20 nov. 2020. 

O GLOBO. Como indenização pela morte da cadela Manchinha, Carrefour terá que pagar multa de R$ 1 milhão: rede de supermercados vai depositar valor em fundo para causa animal a ser criado em Osasco, onde vira-lata foi espancada por segurança da empresa. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/como-indenizacao-pela-morte-da-cadela-manchinha-carrefour-tera-de-pagar-multa-de-1-milhao-23528839>. Acesso em: 19 nov. 2020. 
FISCHER, Marta Luciane; et al. Caminho do Diálogo: uma experiência bioética no ensino fundamental. Rev. Bioét. vol.25 no.1 Brasília Jan./Apr. 2017. 
DOMINGUES, Lídice Rodrigues; et al. Guarda responsável de animais de estimação na área urbana do município de Pelotas, RS, Brasil. Ciênc. saúde coletiva vol.20 no.1 Rio de Janeiro Jan. 2015. 
OSTOS, Natasha Stefania Carvalho de. A luta em defesa dos animais no Brasil: uma perspectiva histórica. Cienc. Cult. vol.69 no.2 São Paulo Apr./Jun. 2017. 
SOUZA, Karollyna Lagares de; et al. Abandono e maus tratos contra animais: aspectos sociais, ambientais e legais. Disponível em: <https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/80/o/TCEM2014-Biologia-KarollynaLAgaresSouza.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2020. 
OAB/PR. Cartilha de Proteção Animal. Disponível em: < https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2020/09/cartilha-gt-direito-dos-animais-oab.pdf >. Acesso em: 23 nov. 2020.

 

Covid-19: Impacto na população de animais selvagens e o princípio da Justiça Restitutiva


Série Ensaios: Bioética Ambiental 

Por Maicon Douglas de Oliveira 

Licenciado em Educação Física 


Uma matéria do site Notícias R7 mostrou que durante o Lockdown, em muitos países foram registradas “invasões” de animais silvestres em ambientes urbanos, em muitas cidades da Europa e Ásia foram registrados grupos de animais como javalis, veados, macacos e várias outras espécies que não costumam se aproximar de ambientes urbanos. 

No presente ensaio acadêmico nos propomos por meio da perspectiva bioética analisar a questão do impacto da pandemia de covid-19 na população de animais selvagens, e estabelecer uma relação com o princípio da justiça restitutiva. 

Em uma entrevista ao Notícias R7 o Professor do Instituto de Biologia da UNICAMP e membro da força tarefa Covid-19 da UNICAMP, atribuiu esse fenômeno à redução da atividade humana nas áreas urbanas, fazendo com que os animais se sintam mais confortáveis ao sentir menos exposição ao risco de explorar essas áreas, tendo em vista a baixa presença de seres humanos. 
A pandemia de covid-19 tem trazido grande impacto tanto para os seres humanos quanto ao mundo em que vivemos, seja nas esferas ambientais, climáticas, econômicas ou sociais. Muito se tem estudado sobre os impactos causados em diversos segmentos e obviamente a escassez de informações cientificamente comprovadas é enorme, e com certeza levará algum tempo para que tenhamos mais certezas do que dúvidas em relação a covid-19. 

Claramente é necessário aguardar para sabermos os reais impactos que a pandemia trouxe para os animais silvestres, bem como o habitat em que vivem. De maneira superficial e sem embasamento científico, o que se nota é um “fôlego” para esses animais, tendo em vista o isolamento social dos seres humanos. Aparentemente tivemos também, uma redução temporária na agressão ambiental, no que diz respeito a emissão de gases poluentes e poluição dos rios. O comércio e caça de animais silvestres, também passou a ganhar mais destaque, segundo o site Yahoo Notícias o fim do comércio de animais selvagens entrou na pauta do G20 e pode trazer grandes mudanças nos próximos anos. 
Na China, após o início da pandemia o consumo e criação e animais silvestres passou a ser proibido, tendo em vista que a origem da pandemia pode ter ocorrido em um mercado localizado na cidade de Wuhan. Essa é uma tentativa de evitar que doenças zoonóticas se propaguem, porém esse “combate” ao consumo e criação de animais selvagens pode esbarrar em uma cultura de consumo e utilização de animais exóticos na medicina tradicional chinesa
Ainda assim, é preciso reforçar a dificuldade de mensurar o real impacto na população de animais silvestres. Além da pandemia, em vários lugares do mundo, biomas diversos vêm sendo devastados por incêndios e segundo o site BBC News Brasil, os incêndios florestais pelo mundo são os maiores em escala e emissão de CO2 nos últimos 18 anos, ou seja, 2020 além de uma gravíssima pandemia, em muitos países ainda é necessário lidar com grandes fenômenos ambientais que afetam ainda mais esses animais. 

Ao prejuízo causado aos animais por ação direta ou indireta dos seres humanos, poderia ser muito diferente se o princípio da justiça restitutiva pudesse de alguma forma ser aplicado pelas pessoas. Esse princípio faz parte do livro Respect for Nature (1986) de Paul W. Taylor, onde, na tentativa de diminuir os conflitos entre as espécies o autor propõe um modelo de “princípios de prioridade”, são eles: Princípio da autodefesa – Princípio da proporcionalidade – Princípio do mau menor – Princípio da justiça distributiva – Princípio da justiça restitutiva (apud Felipe, Sônia T, 2009). 
Neste texto abordarei sobre o Princípio da justiça restitutiva, que segundo Taylor (1986, p.185 apud Felipe, 2009), toda ação causada por um agente que possa vir a causar danos a um paciente moral, deve ser compensada por outra ação que possibilite que seja reestabelecida a condição anterior ao dano causado. 
Seguindo esse pensamento, se necessitarmos caçar um animal para consumo ou utilizá-lo com outras finalidades que necessitamos, algo deveria ser feito para amenizar esse impacto, como criar outros animais, zelar para que o habitat não sofra dano e venha a prejudicar a vida desses animais, enfim, oferecer algo como forma de restituir o dano causado caso a necessidade de alimento, calor ou trabalho tenha sido utilizada. Claro que não é tão simples quanto parece, tendo em vista que a séculos deixamos de utilizar os animais apenas para sobreviver e passamos a fazer os mais diversos usos e abusos dos animais. 
As respostas para esses problemas são complexas e exigem muita discussão de governantes, sociedade civil e órgãos de proteção animal. Ainda assim, é uma tarefa árdua os restituir de forma justa, por todas as ações humanas aos quais esses animais foram submetidos. Basta observamos a quantidade de espécies ameaçadas de extinção, os danos são quase irreversíveis e requerem um enorme engajamento não só dos gestores que tomam decisões, mas da população que precisa cobrar mais os órgãos competentes, conscientizar-se mais do mal que fazemos a estes animais, mesmo que indiretamente ou de forma que seja uma ação entendida como crime ambiental
Talvez toda essa crise seja um momento para as pessoas refletirem sobre o impacto das ações de cada um no mundo, e as mudanças necessárias para que de alguma forma os impactos causados possam ser minimizados, pois a densidade populacional humana, aumenta a cada dia. Ou seja, ocupamos cada vez mais o espaço de outrem, sem prezar que aja desenvolvimento sustentável de nossa espécie, para reduzir o impacto a todas as outras, esse crescimento da população, afeta diretamente não só os animais, mas os ecossistemas que nos cercam. 
O cenário não parece ser tão animador no ponto de vista de vida animal, mesmo que existam, como já dito acima, sinais de um certo “fôlego” para esses animais, levando em consideração que o “saldo” positivo ou negativo será determinado de acordo com o cenário de cada país, e nas tomadas de decisão que podem ter negligenciado ou não a vida desses animais. Será necessário muito diálogo, pesquisas e principalmente ações que possam trazer proteção a todos os animais e os seus respectivos habitats. 
Eu como educador físico e futuro Bioeticista acredito que as mudanças são necessárias, o diálogo e o conhecimento são essenciais nesse processo. Se a minha ideia de que uma justiça restitutiva é muito difícil de ser aplicada, por outro lado, acredito que a preocupação dos seres humanos com a natureza também pode ser maior e pode diminuir o impacto causado em outras espécies de seres vivos que habitam o nosso planeta. 






Buscar uma convivência mais harmoniosa entre humanos e animais é uma tarefa difícil se pensarmos no quanto dependemos dos animais para finalidades diversas. De qualquer modo já que nos colocamos no topo de uma cadeia alimentar e nos julgamos “superiores” aos animais pela nossa capacidade de consciência, inteligência e evolução, talvez isso no torne ainda mais responsáveis por buscar um equilíbrio entre a nossa existência e a existência deles, onde determinada espécie não seja condenada a extinção em prol da nossa sobrevivência, crescimento populacional e utilização dos recursos existentes em nosso planeta. 



O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Bioética Ambiental tendo como base as obras de: 

FELIPE, SÔNIA T. Ética Ambiental Biocêntrica: Limites E Implicações Morais. , , n. 1991, p. 2008–2011, 2009. 
FELIPE, S.T. Antropocentrismo, Sencientismo e Biocentrismo: Perspectivas Éticas Abolicionistas, Bem-Estaristas e Conservadoras e o Estatuto de Animais Não-Humanos. Páginas de Filosofia, v. 1, n. 1, p. 2–30, 2009. 
Fim do comércio de animais selvagens entra em pauta no G20. Disponível em:<https://br.noticias.yahoo.com/fim-com%C3%A9rcio-animais-selvagens-entra-110042415.html?guccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuZ29vZ2xlLmNvbS8&guce_referrer_sig=AQAAAG0qrBfYvN8JJVrRpoRpiESHXLlGBgRAz-cMtl4KFdKTpMYH51K-W9GrY9mvbu3xFkzoAhP4IjmddiIQJTNtdHCuAsEAmjrXqJvWH1F-jO4w9ok9kPznyIdLf2y0GEhcieU6Jxoq6AEhX4L2Tk5RB2ji_JOWhmlE4Gf-S_ps2XsS>. Acesso em 23/11/2020. 
Incêndios florestais são os maiores em escala e em emissões de CO2 nos últimos 18 anos. Disponível em:< https://www.bbc.com/portuguese/geral-54202546#:~:text=Todos%20os%20anos%2C%20cientistas%20dizem,%C3%A9%20queimada%20por%20inc%C3%AAndios%20florestais.&text=Quando%20florestas%20queimam%2C%20emitem%20grandes,que%20acelera%20o%20aquecimento%20global.>. Acesso em 23/11/2020. 
Por que animais estão invadindo as cidades durante quarentena? Disponível em:<https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/por-que-animais-estao-invadindo-as-cidades-durante-quarentena-24042020>. Acesso em 22/11/2020. 

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Saúde e Meio Ambiente: A bioética como Ponte

 

Série Ensaios: Bioética Ambiental

Por Marina Kobai Farias

Bióloga e Mestranda em Bioética


Recentemente foi publicado na página da Fiocruz e em alguns noticiários televisivos que as queimadas do pantanal estão atingindo níveis alarmantes e tendem a agravar os casos de Covid-19 e doenças respiratórias. Segundo o INPE (Instituto nacional de Pesquisas Espaciais) o número de queimadas em agosto superou em 300% em relação ao mesmo período do ano passado. Devido à alta poluição atmosférica, causada pela fumaça das queimadas,existe um risco de aumento de 30% de chances de internamento de crianças com doenças respiratórias moradoras próximas das áreas de queimadas,quando comparada a outras áreas. A exposição à fumaça eleva a geração de doenças respiratórias que podem trazer complicações para portadores de Covid-19 e até mesmo para os que não possuem a doença. A escassez de serviços de saúde nas áreas atingidascombinado com a fumaça causada pelas queimadas vem apresentando alta significativa de óbitos por Covid-19 e deixando toda uma população vulnerável¹.


A Pandemia de Covid-19 se alastrou no mundo de uma forma muito rápida e devastadora que obrigou toda a população mundial entrar em um confinamento sem precedentes. Junto com o confinamento diversos setores da nossa sociedade foram prejudicados, mas sem duvida nenhuma a saúde física e mental das pessoas foi a mais afetada neste panorama. Devido a contaminação de pelo ar de partículas expelidas pelas pessoas ao falar, espirrar ou tossir, medidas restritivas como o fechamento dos parques urbanos trouxe o surgimento de diversas distúrbios mentais em pessoas confinadas, como visto em diversos estudos publicados ao longo da pandemia. Esta preocupação com a saúde mental levou os cientistas a buscarem soluções para a questão². 

Os efeitos das queimadas no pantanal é apenas um exemplo de como a destruição da natureza nos afeta diretamente. A falta de interação com o ambiente também nos trouxe outra preocupação referente àsaúde mental das pessoas. Um Estudo realizado em Tókio comprovou que no período de isolamento que estamos passando e ficando longe de áreas verdes abertas os níveis de estresses, ansiedade e depressão estão altos e segundo os autores podem ser minimizados com paisagens verdes dentro de suas residências e a vista de suas janelas de casa como forma de superar os desafios do confinamento. 


A conservação da natureza vai além da preservação de animais e seus habitats, o homem como integrante desse ecossistema diverso tem papel fundamental na própria sobrevivência. Van Rensselaer Potter grande bioeticista da causa ambiental, já vinha desde a década de 1970 alertando sobre os riscos das atitudes da sociedade com o meio ambiente. Com o lançamento do livro Global Bioethics, as preocupações ambientais tiveram um foco maior como garantidor da sobrevivência humana. A ética e a bioética podem e devem ser utilizadas como ferramentas na busca dodiálogoa fim de encontrar soluções para os problemas atuais de saúde pública e ambientais³. Aristóteles renomado filósofo nos traz o conceito daÉtica da virtude o qual é caracterizada no caráter da pessoa e não em suas ações. A virtude segundo o filosofo é uma aptidão que pode ser aprendida com outras pessoas de atitudes virtuosas. Ser virtuoso é se preocupar com ideais ambientais,proteger a natureza e colocar o homem como componente desse circulo onde suas ações trazem conseqüências a si mesmo. É necessário nostempos atuais adquirirmos decisões éticas e atitudes virtuosas que nos ligam a natureza e nos traz diversos benefícios biopsicossociais. O desenvolvimento de um caráter virtuoso ligada a questões ambientais pode ser aprendido com outras nações que priorizam o convívio com o meio ambiente de forma harmônica e sustentável. 


As queimadas na natureza nem sempre são nocivas ao ecossistema, existem formas da natureza renascer com a ajuda do fogo através da quebra de dormência das sementes. O fogo também pode ser utilizado na agricultura para limpeza e preparo do solo, porem deve ser regulado em órgãos competentes. O aumento do desmatamento da Amazônia, o uso descontrolado do fogo por agricultores locais, e a demora do governo em agir no combate aos incêndios contribuíram para chegarmos na atual situação. Tais atitudes do ser humano vão contra princípio ético da virtude onde além de não se assemelhar nas atitudes coerentes de países sustentáveis que visam a proteção a natureza, o homem se desvencilha de suas responsabilidades com o ecossistema, causando assim, um desequilíbrio no ciclo natural da vida. 

Eu como bióloga e aspirante a Bioeticista acredito que temos um longo caminho a ser perseguido a fim de desenvolver ainda mais o caráter ecológico, porem deve ser feito de forma urgente, uma vez que o planeta chora e pede socorro. O diálogo que a Bioética nos proporciona e principalmente a ponte idealizada por Potter tem muito que nos ensinar. Temos que criar pontes com o meio ambiente e não barreiras como fizemos ate hoje. 

O Presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Bioética Ambiental do Programa de Pós Graduação em Bioética e tendo como base as seguintes obras:

1-Fundação Oswaldo Cruz: Uma instituição a serviço da vida. 11/11/2020. Disponivel em < https://portal.fiocruz.br/noticia/queimadas-em-meio-covid-19-ameacam-atendimento-na-amazonia-e-pantanal>

2-The Conversation. Academic rigor, journalistic Flair. Disponivel em <How cities can add accessible green space in a post-coronavirus world (theconversation.com)>

3- SCHRAMM, Fermin Roland. Niilismo tecnocientífico, holismo moral e a'bioéticaglobal'de VR Potter. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 4, n. 1, p. 95-115, 1997. Disponivel em <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59701997000100006&script=sci_arttext&tlng=pt>

 

COVID-19: Uso de animais como zooterápicos e o Princípio da Proporcionalidade

 

Série Ensaios: Bioética Ambiental 

Por Luciano Máximo da Silva 
médico paliativista e mestrando em Bioética 


A BBC Future-BBC.com , em publicação do mês de maio de 2020, com o artigo intitulado, The life-saving medicines inspired by animals ( Os medicamentos que salvam vidas inspirados em animais -livre tradução), afirma que a medicina tradicional chinesa utiliza ingredientes de aproximadamente 36 espécies de animais , desde rinocerontes, ursos negros , tigres, cavalos-marinhos , entre outros , e muitos dos quais estão em risco de extinção. Tradicionalmente, também são utilizadas picadas de tarântulas e suas presas trituradas na América do Sul, Ásia e África. 


Quem poderá tomar decisão sobre a vida de animais não humanos que são seres sencientes? Quem os dará voz? Que voz os representará quando a vida humana se sente ameaçado pela pandemia da COVID19 e as pessoas e governos em seu afã por conseguir cura ou tratamento sacrificam animais usando parte deles para tratamento sem comprovação cientifica? E se ciência comprovasse que tais sacrifícios fossem importantes para salvaguardar a vida humana, qual seria a medida? Qual seria a proporcionalidade dessas mortes?

Conforme relata Zoe Cormier, a imensa maior parte dessas medicações tradicionais não tem apoio por nenhuma evidência científica e procura desesperada por partes de animais já contribuiu para diversas extinções. Além disso, os cientistas alertam para o fato de que a exploração da vida selvagem causará novas pandemias, que podem ser mais intensamente mortais que a covid19(que surge a partir da exploração da vida selvagem). 
O Governo Chinês em seu movimento de enfrentamento a covid19 assume novos riscos , explorando partes de ursos negros e de rinocerontes, promovendo não somente a ampliação das fazendas de criação de animais selvagens, risco de extinção de animais já em número populacional reduzido, e a possibilidade outras doenças serem transmitidas a partir da vida selvagem para a vida humana. 
Sempre que se pensa, avalia ou promove um mecanismo de exploração dos recursos ambientais que assegurem a preservação da saude humana ou o resgate da mesma, precisa necessariamente de instrumentos éticos e bioéticos, regidos por princípios que norteiem essa relação de forma a salvaguardar direitos, deveres e a vida de uma forma geral, sem escolhas aleatórias, impulsionados exclusivamente pela proteção a vida humana, as proteção a todas as formas de vida . 

Segundo, Diego da Silva Ramos, O princípio da proporcionalidade tem por finalidade precípua equilibrar os direitos individuais com os anseios da sociedade. Mas, quais seriam os direitos individuais nessa situação de luta contra a COVID-19 e quais seriam os anseias das diversas sociedades existentes no planeta, e aqui precisa ser ampliado o olhar para além da sociedade humana. Quem são os agentes e pacientes morais nessa situação? Quais os lugares de fala que são de extrema importância que exista? E quem não se expressa pela compreensão humana de linguagem, poderá contar com quem que os possa representar? 
É notório que o princípio de proporcionalidade se desenvolve através da mecanismos que protegem os indivíduos dos excessos cometidos pelo estado. Na situação em que os animais são inseridos em um contexto de uso como zooterápicos, em que eles não tem poder de escolha ou de desejo em relação a si , estamos diante do paciente moral, em que a ação humana, ou do estado , irão ditar como será esse uso e se ele será autorizado ou não . A decisão não cabe aos animais e eles não são participes ativos em todo um processo que só cabe a eles esperarem pela decisão das necessidades humanas. (Fischer et., al 2018). Por um lado contrário, ao ocupado pelos animais enquanto pacientes morais, existe a sociedade humana, representada pelo estado, como agente moral desse processo. Sejam quais forem suas necessidades, suas urgências, haverá um movimento pratico e reflexivo de se atender sem se questionar muito pelo paciente moral, já que suas necessidades não são a ventadas e nem mesmo considerada diante das muitas urgências humanas. 
Como exemplo podemos citar o que recentemente ocorreu na China, que entre os meses de março e abril de 2020 promoveu o uso da bile de ursos, em forma de pó para o combate do coronavírus. (RACHEL FOBAR,2020). Segundo a jornalista RACHEL FOBAR, pouco tempo após tomar medidas para banir permanentemente o comércio e uso de animais silvestres vivos para alimentação, o governo chinês recomendou o uso de Tan Re Qing, uma injeção contendo bile de urso, para tratar casos graves e críticos de Covid-19. Apesar de não se existir cura, ou tratamento consensual , houve uma liberação para esse uso irrestrito que segundo Clifford Steer, professor da Universidade de Minnesota, em Minneapolis, não se foi comprovado nenhuma eficiência ou melhora nos casos críticos ou leves de covid-19, através do uso de bile de ursos ( Rachel Fobar, 2020). 
Refletindo que o princípio da proporcionalidade protege contra os excessos do estado, como ele poderia ser utilizado em tal situação como um caminho argumentativo, que auxiliasse no processo de deliberação moral, propondo a não utilização de tais tratamentos. Parece muito lógico e claro que se não deve usar algo sem comprovação, mas o convencimento social, não é tão simples e claro, por isso a necessidade de caminhos éticos que possam nortear tais decisões. 
O principio de proporcionalidade é dividido em subprincípios ou requisitos para que haja o seu desenvolvimento e analise (Diego da Silva Ramos,2011) , sendo eles : adequação ( utilidade ), necessidade ( exigibilidade ) e proporcionalidade ( sentido estrito) . Assim, avaliar se existe compatibilidade entre o fim pretendido e os meios que serão utilizados para ser alcançado esse objetivo final. Escolher e adotar medidas e meios que causem o menor número possivel de sacrifícios e limitações, gerando o mínimo de sofrimento possivel. E finalmente, qual o sistema de valores utilizados, bem quais as medidas protetivas nesse sistema de valores, quais as vantagens e desvantagens para os agentes morais e para os pacientes morais. Quais os critérios que irão nortear a adequação entre os meios e os finas, como a existência de caminhos alternativos além desse que está sendo proposto. 
Outro medicamento aprovado pelo governo chinês no enfrentamento da covid-19 , é o é um comprimido chamado Angong Niuhuang Wan. Utilizado para tratar a febre e diversas doenças, tradicionalmente contém chifre de rinoceronte, cujo comércio é rigorosamente proibido em todo o mundo. Segundo as leis chinesas, os comprimidos devem conter chifre de búfalo, explica White, mas alguns comerciantes continuam vendendo comprimidos que contêm chifre de rinoceronte. (Rachel Fobar, 2020). Essa é outra conduta grave da Comissão Nacional de Saúde chinesa, que em sua atitude , coloca em risco animais que estão ameaçados de extinção , diante de uma doença sem proposta terapêutica, tem se feito qualquer coisa , tomado qualquer medida , sem clara justificativa, sem embasamento cientifico e sem qualidade técnica que confira valor a essas propostas. Em nota subsequente, o governo chinês afirma que seria utilizado chifre de búfalos, mas isso ainda é grave e sem qualquer critério científico que apoio tal medida enfrentamento em saude publica. 
Deve-se considerar que tudo isso representa um risco não somente ao meio ambiente, mas a vida humana de uma forma geral. Esse contato do ambiente selvagem com o ambiente doméstico da sociedade, traz risco de se introduzir novas espécies de parasitos no homem, como é o caso da infecção pelo coronavírus, que é o resultado desse contato impensado, danoso para todas as espécies animais, incluindo o animal humano. 
Conforme Renata Maciel Cuiabano (2001), no direito ambiental o princípio de proporcionalidade deriva do princípio de precaução. Sendo assim, quais seriam as precauções tomadas ao se decidir que partes de um animal serão utilizadas como zooterápicos? Quais seriam os danos ambientais? No caso de ursos, búfalos, rinocerontes, o risco está em sua própria morte, no desequilíbrio de ecossistemas advindo do desequilibro causado pela extinção de uma espécie, além do sofrimento causado por algo que comprovadamente é ineficaz para curar ou melhor um estado crítico agudo causado pela covid-19. Os efeitos dessa medida aplicada pelo governo chinês são irreparáveis. E qualquer uso de animais como zooterápicos será uma medida de difícil reparação, porque o primeiro grande dano é a vida dele que se perde, e que não se poderá ser reparada. 
Portanto ao se pensar em proporcionalidade no uso de animais coo zooterápicos para enfrentamento e tratamento da covid-19, essa medida acaba sendo desproporcional, inadequada e irreparável. A medida proporcional e coerente com o próprio mecanismo de propagação da doença seria concentrar esforços internacionais na criação de uma vacina segura, sendo está o único caminho que poderia conter preventivamente a propagação do coronavírus e o crescente número de mortos relacionados com a covid-19. 
Eu, como médico paliativista e futuro bioeticista, acredito que todas as formas e expressões de vida, são imensuráveis em seus mais profundos valores, ético e bioético, não cabendo decisões apressadas em dizer que a vida dos animais é menos importantes ou dignas, diante da vida humana. Há que se entender a dignidade presente na natureza, no meio ambiente, que será diferente do que acontece na vida dos homens, assim como é diferente a definição do que é digno entre os próprios humanos. Decisões que desconsiderem o outro, que desrespeitam e desvalorizam a vida, jamais deveriam ser encorajadas por governos, principalmente, aquelas com ausência de eficácia comprovada e até mesmo repudiadas pela ciência. Pensamentos superficiais, rasos de valores éticos e científicos, fazem com que mais desequilíbrios se faça na natureza e na relação com o ser humano. Quanto mais animais silvestres domesticados, escravizados, assassinados em fazendas de criação selvagem, tanto mais pandemias e dificuldades a serem enfrentadas pela sociedade. Também acredito que um discussão plural, interdisciplinar, coerente e construída por princípios bioéticos , como o da proporcionalidade, trará maior equilíbrio a questão dos animais serem utilizados como zooterápicos em uma pandemia que pouco se sabe, ou quase nada se sabe e que muito se terá a aprender. As esferas municipais , estaduais e federais da politica publica ,devem sempre salvaguardar relações de harmonia na forma como o cidadão explora o meio ambiente e os animais, jamais esquecendo da vulnerabilidade do segundo, e que sua vida e sua existência ,também são importantes, não somente por si , mas por nós que aqui estamos . 

O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Bioética Ambiental, tendo como base as seguintes referências bibliográficas:

https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5865/O-principio-da-proporcionalidade#:~:text=O%20princ%C3%ADpio%20da%20proporcionalidade%20(que,com%20os%20anseios%20da%20sociedade.
FISCHER, Marta Luciane; PALODETO, Maria Fernanda Turbay and SANTOS, Erica Costa dos. Uso de animais como zooterápicos: uma questão bioética. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 2018, vol.25, n.1, pp.217-243. ISSN 1678-4758. https://doi.org/10.1590/s0104-59702018000100013.
https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2020/04/china-uso-bile-de-urso-tratamento-novo-coronavirus-covid-19-oms
file:///C:/Users/lucia/Downloads/1800-3671-1-PB.pdf
https://www.bbc.com/future/article/20200507-medicines-and-drugs-from-animals-venom
https://www.downtoearth.org.in/blog/wildlife-biodiversity/some-unexpected-lessons-for-living-with-wildlife-post-covid-72150

sábado, 14 de novembro de 2020

A educação Ambiental em foco na #bioética.em.foco

Série: Instagram #Bioética.em.foco


Educação ambiental para promover a conservação ambiental é papo de eco chato, será? 🤔

Por Andressa Cordeiro Riceto



Você já parou para olhar a sua volta, os parques, praças e a arborização na sua cidade, esses locais dão uma sensação agradável, de sentir ar puro, de lazer, tranquilidade. 🍃🏞️🌳

Porém, muitas vezes moradores de áreas rurais percebem a conservação de áreas verdes com uma visão negativa, relacionando com prejuízos à agropecuária 🌾🐄.
Muitas vezes a presença de animais silvestres próximo as residências são relacionadas a doenças. Portanto, esses ambientes são vistos apenas como status de conservação. Porém, é importante dizer que as áreas de preservação (rurais ou urbanas) são essenciais para a vida no planeta, não somente para fins de conservação, mas também para garantir uma boa qualidade de vida a todos os seres vivos incluindo os seres humanos. A preservação dos recursos hídricos, por exemplo, é fundamental para manter o equilíbrio dos ecossistemas, evitando o surgimento de doenças. Essa constatação é representada na situação atual da pandemia do corona vírus 😷 que foi potencializada com o desmatamento, caça e consumo de animais silvestres.
Não há motivo para os moradores rurais acharem que perdem dinheiro por não poder explorar economicamente as terras, pois o ecoturismo atualmente é uma alternativa às populações que vivem próximas a esses locais. 🏞️

Quer saber mais sobre essas questões? Os autores Marta Fischer, Lays Parolin, Thalita Vieira, e Flávia Gabardo realizaram um estudo demonstrando que entender a percepção das pessoas sobre essas questões é fundamental para elaborar estratégias de educação ambiental, demonstrando que ela é peça-chave para que a população compreenda a relação de equilíbrio com a natureza 🌍 promovendo a conservação e o diálogo com a comunidade sobre essas questões🗣️.
Convido você a ler o artigo das autoras para entender um pouco mais sobre o tema, o artigo está disponível no link da bio do perfil!
Vem interagir com a gente, comente sua opinião sobre o tema! O que você pensa sobre as áreas verdes? Você já praticou ecoturismo? Onde?



Por Marta Fischer

Com certeza você deve saber o que é “educação ambiental” e muito provavelmente participou de alguma ação - seja na escola ou fora dela. A educação ambiental está em todos os lugares: zoológicos, museus, ações públicas e até dentro de casa! Porém a perspectiva da educação ambiental vai muito além do que apenas ter informação sobre as ações do homem, sobre a natureza e ser sensível as consequências de uma exploração predatória dos recursos naturais - seja eles minérios, solo, água, animais ou plantas! Seja uma exploração mais invasiva como a destruição das florestas ou a emissão de gases que causam o efeito estufa, seja ações individuais de como utilizamos a água, consumimos e geramos resíduos ou tratamos os animais e as pessoas. A Educação ambiental vai além de uma mudança de conduta individual pensando no bem da natureza... é uma mudança de conduta pensado com a cabeça coletiva! É cidadania! É tomar decisões utilizando valores e princípios comuns com aqueles que dividem com a gente a nossa comunidade - seja nossa vizinhança, nosso estado, nosso país ou nosso planeta. Imagino que você tenha entendido essa mensagem! Não há educação ambiental sem bioética ambiental! A bioética ambiental somará a todos os processos da educação ambiental, uma vez que trata a perspectiva dialogante, mediadora e deliberativa visando a mitigação da vulnerabilidade - seja ela da natureza, do cidadão e do próprio educador ambiental. Os pesquisadores Robiran dos Santos-Jr e a Marta Fischer realizaram uma pesquisa avaliando a inserção da bioética na fundamentação da educação ambiental, e embora em um primeiro momento pareça um texto denso e distante do nosso dia-a-dia, nos traz a reflexão da importância da fundamentação ética na concepção de práticas ambientais. Os autores propuseram a criação de comitês de bioética ambiental nas escolas congregando educadores, educandos, equipe pedagógica, sociedade, comércio e governo em uma equipe multidisciplinar que identifica vulnerabilidades na realidade local, refletem e efetivam medidas mitigatórias. Quer saber mais? Leia o artigo no link disponibilizado no nosso Insta e deixe aqui seus comentários.
#educacaoambiental






por Andressa Cordeiro Riceto

Você, professor, profissional da educação, palestrante, educador ambiental provavelmente já passou por alguma dificuldade para elaborar atividades dinâmicas que atraíssem a atenção dos estudantes, crianças, enfim do publico alvo.
E na educação ambiental não é diferente, pois é uma área pouco explorada e há constante dificuldade em escolher atividades que promovam a sensibilização e transformem o pensamento dos estudantes.
Dessa forma, o teatro é uma ferramenta de comunicação, que utiliza a encenação de forma descontraída para aproximar o público da realidade, atraindo sua atenção.
O teatro tem como finalidade passar uma mensagem e aprendizado levando a reflexão sobre as questões, transformando o pensamento e as atitudes de cada um e, portanto, promovendo a formação de cidadãos mais conscientes e éticos.
Essa ferramenta permite entender a importância da relação do homem com a natureza, da conservação e do papel dos cidadãos, ressaltando que atitudes simples como: separar o lixo e não desperdiçar água, podem ser fundamentais para o planeta e para garantir dignidade de vida as gerações futuras 🌍.
Os autores Thierry Betazzi Lummertz e Marta Fischer discutiram sobre a eficiência do teatro na educação ambiental na promoção de mudanças comportamentais da sociedade, se você ficou interessado e deseja ler mais sobre o tema acesse o artigo que está disponível no link do perfil. 😉

Se você gostou curte, envie para um amigo e comente sua opinião sobre o teatro no ensino, vamos interagir!
#bioética #educação #educaçãoambiental







sexta-feira, 6 de novembro de 2020

A utilização de animais em pesquisa pode gerar desafios éticos no caso da nova vacina contra Covid-19.

 

Série Ensaios: Ética no uso Animal 

Por Evelize Antunes Pereira 

Bióloga e Pós-Graduação em Conservação da Natureza 



As substâncias indispensáveis à saúde são descobertas ou desenvolvidas a partir de muitos estudos e experimentos científicos. Os testes que mostram como elas se comportam em um organismo vivo passam hoje por etapas que exigem experimentos em animais. A produção de uma nova vacina passa por etapas: testes in vitro, ensaio clínico, testes em camundongos, macacos entre outros. 

Esses estudos envolvem uma discussão ética, e muitas vezes é alvo de polêmicas. São realmente necessários? Como são criados estes animais? O que se pode fazer com eles? O uso é válido para obter um benefício maior para uma população? Como eles ficam após os testes? O que são feitos com eles depois que não são mais úteis? Porque a vida deles tem menos valor que a sua? Em fim tudo isso esta relacionada com valores éticos e o bem estar animal. Hoje, a resposta da maior parte dos cientistas é: sim, eles são necessários. “Ninguém opta por usar animais, havendo métodos alternativos validados e comprovadamente eficazes para aquele teste. Mas ainda hoje, apesar da evolução tecnológica, não existem alternativas válidas para todos os estudos que precisam ser realizados”, disse à Radis a médica veterinária Carla de Freitas Campos, diretora do Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz). Ela explicou que os animais ainda são os modelos mais parecidos com os humanos para se desenvolverem estudos científicos e tecnológicos em saúde. 

Em todo o mundo, a questão ética envolvendo a experimentação de animais é muito debatida, todo mundo sabe que macacos, ratos e camundongos são animais já conhecidos por sua participação no desenvolvimento de vacinas. 

O que poucos sabem é que tubarões podem ser vitais para a produção de uma vacina – como a que está sendo buscada para a Covid-19, por exemplo. 

Para obter a vacina contra a Covid-19 que beneficiara milhares de pessoas você precisasse matar milhares de tubarões, você optaria por esse método? 


Para desenvolver contra Covid-19 precisaria matar 500 mil tubarões por cada mil milhares de doses, sendo alertado pela organizadora ambiental Shaek Allies pela defesa dos tubarões sediada na Califórnia, que pode vir a extinção, pois-se trata de um animal predador que não se reproduz em grande quantidade, alertou a diretora da ONG, Stefanie Brendl lembrando que Isso acontece porque esses grandes peies produzem em seus fígados um composto orgânico chamado esqualeno. Ele costuma ser utilizado na formulação de cosméticos, como protetores solares, bases e loções devido ao seu poder hidratante. Sabendo assim que o esqualano pode ser produzido a partir de outras fontes como a partir de fermento, bactérias, cana-de-açúcar, azeite e possívelmete até algas. 

No entanto, o óleo também é atrativo para a indústria farmacêutica, já que pode entrar na composição das vacinas na função de adjuvante. Os adjuvantes servem para melhorar a eficácia da vacina, estimulando uma resposta imune maior e precoce. Mas um levantamento feito pela ONG americana Shark Allies indicou que pelo menos cinco destas vacinas levam óleo de fígado de tubarão. As consequências podem ser muito maiores do que o imaginado. 

Quando falamos de consequências temos em mente as questões Éticas é a ciência da moral que tem relação com o certo e o errado; é uma atitude cultural, crítica, sobre valores e posições de relevância no momento de atuar. Não levando em conta somente a ética sob o ponto de vista humano, mas sim da ética prática ou utilitarista animal. O homem é responsável pelos bens da terra, sendo assim está sempre procurando exercer seu papel de utilizar os bens que a natureza proporciona, muitas vezes sem levar em conta que as gerações futuras dependem do bem estar da natureza para sua sobrevivência. 

Porém, não é fácil pensar racionalmente sobre ciência quando a mesma envolve o uso de animais para o desenvolvimento de algo que proporcionara uma zona de conforto ao mesmo. Nesse caso o principio ético entra em jogo quando falamos de milhares de animais utilizados em pesquisas para desenvolver medicamentos e cosmético algo benéfico ao ser humano, deixando de lado os princípios morais e éticos, não levando em consideração o sofrimento dos mesmos. 

A teoria do utilitarismo visa á maior felicidade, não do mesmo, mas a felicidades do ser, o bem estar maior, o principio de algo que beneficia a vida e o direito da sobrevivência dos seres. O principio maior básico da sobrevivência de uma espécie em continuar existindo. 


A Universidade de Queensland (Austrália), em parceria com as empresas de bioterapia CSL Behring e Seqirus, está usando cerca de 9,75 miligramas de esquálido por dose produzida de vacina contra o coronavírus. Em entrevista à Vice, representantes da Shark Allies estimaram que, se cada pessoa da Terra recebesse apenas uma dose, cerca de 249 mil tubarões precisariam ser abatidos. Considerando que podem ser necessárias duas doses para imunizar a população, o número dobra para quase meio milhão de tubarões mortos. Hoje nós temos tecnologia, recursos financeiros e o clamor ético da sociedade para que se usem métodos alternativos substitutivos ao uso de animais. “Os pesquisadores precisam sair da zona de conforto”, argumenta à ativista. “Tudo que for inaceitável para humanos, deve ser inaceitável para os animais. A ciência só evolui quando as pessoas ousam pensar diferente”. 
Eu como Bióloga e futura especialista em conservação da natureza credito que a necessidade pela vacina contra Covid-19 é de extrema importância para humanidade, fazendo com que tal perca a noção do direito da sobrevivência dos animais, levando esses a cometer atos de extrema barbaridade contra seres irracionais. Como profissional sabemos que hoje é possível realizar experimentos científicos sem a utilização de animais, com a evolução da ciência devemos deixar de utilizar animais e substituí-los por outros métodos. Levando sempre em conta que todos os seres vivos merecemos o direito a vida, mesmo esses sendo animais irracionais, a dignidade do ser humano devem estar sempre acima de todos os atos de atrocidades cometidos por ambos. Todos tem o direito de sobreviver e o direito de reprodução levando adiante a existência de sua espécie. 


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de ética em bem-estar animal, tendo como base as obras:
Agência Fiocruz de Notícias - Perguntas e Respostas sobre Experimentação Animal
Revista de Manguinhos — Matéria sobre métodos alternativos ao uso de animais (dezembro, 2014)
E se a Vacina para a covid-19 obrigar a matar 500 mil tubarões? https://www.dn.pt/vida-e-futuro/e-se-a-vacina-para-a-covid-19-obrigar-a-matar-500-mil-tubaroes-12777354.html
Paixão RL. Experimentação animal: razões e emoções para uma ética [tese]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Osvaldo Cruz; 2001.
Schnaider TB, Souza C. Aspectos éticos da experimentação animal. Rev Bras Anestesiol. 2003; 53(2):278-85.
ESPÍNDOLA, Camila. O valor da vida dos animais na concepção ética de Peter Singer. APASCS. Disponível em: <http://www.apascs.org.br/academicos12.php>. Acesso em: 21/2020