domingo, 29 de abril de 2012

"Um barulhinho bom": o som como ferramenta para a compreensão da vida


Por: Cristiane Stacechen, Flávia Santi, Flávia Santos, Guilherme Borges, Victor Tedeschi

Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas


A Bioacústica consiste no estudo dos sons emitidos por animais. Esses sons representam sinais de comunicação e têm, portanto, um papel fundamental no comportamento das espécies que os usam. O universo sonoro animal é uma fonte vital de informações para o caçador e foi certamente o objeto de muita atenção da parte do homem pré-histórico, como continua sendo das tribos indígenas. Na história da humanidade, a importância dos sons naturais se revela na incorporação de onomatopéias na linguagem, com múltiplos exemplos tanto no teatro clássico grego, quanto no vocabulário das mais diversas etnias silvestres.
O som é um fenômeno extemporâneo e um dos grandes anseios do homem foi o de fixar esses sons emitidos por animais para poder reproduzi-los. Deste interesse vem a imitação fonética, que serviu de base para as onomatopéias e, em seguida, para nomes e palavras. A transcrição fonética de cantos e gritos de aves ainda consta de vários guias de campo para ornitólogos, mas o resultado é raramente eficiente para reconhecer o som original e depende da pronúncia, variável conforme o idioma. Outro modo de transcrição é a notação musical, que aparece em publicações do século 17 e que Hercule Florence, de volta da expedição Langsdorff  (1819-1828), tentou refinar num método que seria chamado “Zoophonia” (Vielliard 1993). Apesar de mais bonito, este nome, como o método, não se manteve quando os avanços tecnológicos decorrentes da Primeira Guerra Mundial permitiram o registro e a reprodução dos sons e deram o início a um novo campo de pesquisa chamado “Bioacústica”. O antigo sonho de poder captar, guardar e recriar os sons dos animais se realizou e se expandiu rapidamente a partir dos anos 1960 graças à comercialização de gravadores portáteis de alta fidelidade. Foi neste momento que a Bioacústica se estabeleceu como uma poderosa ferramenta de pesquisa, já que o som tornou-se o único dos sinais de comunicação que pode ser facilmente captado, descrito e reproduzido.
O uso dessa ferramenta se deu primeiramente pelos ornitólogos, seguidos por entomólogos, herpetólogos e primatólogos que procuraram distinguir, pelos sons emitidos, as espécies que estudavam na natureza. Assim apareceu logo a necessidade de organizar “sonotecas” ou bibliotecas de sons gravados que sirvam de referência para as identificações (Ranft 2004). Esses acervos não se restringiram a essa função, mas abriram o caminho para o desenvolvimento de outras linhas de pesquisa, principalmente em filogenia e etologia num primeiro momento. No campo da filogenia, a tentação era grande em procurar resolver as questões pendentes de sistemática de aves, o grupo animal em que a análise morfométrica havia estabelecido a taxonomia mais avançada do reino animal, mas em que muitas relações filogenéticas continuavam obscuras. A introdução de um novo parâmetro independente, a estrutura de um sinal de comunicação, parecia a panacéia para por fim a essas controvérsias taxonômicas. A realidade se revelou mais complexa e a bioacústica foi eficiente principalmente para ajudar a definir os limites específicos. Neste nível, a contribuição dessa ferramenta foi importante e hoje a descrição das vocalizações é quase obrigatória para caracterizar as espécies não somente de aves, mas também de grilos e anfíbios. Na verdade, algumas dessas espécies só foram descobertas graças a análise bioacústica, como no caso do Caburé-da- Amazônia Glaucidium hardyi (Vielliard 1989). Ultimamente, um melhor entendimento dos processos evolutivos da comunicação sonora permitiu retomar, em bases mais sólidas, a análise filogenética dos parâmetros bioacústicos em aves (Vielliard 1995, 1997 ). Progressos neste sentido têm sido obtidos também em grilos (Desutter-Grandcolas e Robillard 2004).
No campo da etologia, a contribuição da bioacústica foi mais clara desde o início, consistindo na incorporação de descrições precisas dos sinais de comunicação sonora e dos seus contextos comportamentais. Foi assim que as funções biológicas dos diversos sons emitidos por determinadas espécies foram evidenciadas. A partir daí começaram a aparecer padrões resultantes de tendências evolutivas e adaptativas. É o caso, por exemplo, dos chamados de longo alcance em primatas neotropicais (Oliveira e Ades 2004). Outra abordagem é o estudo do repertório vocal das espécies, particularmente rico em primatas, mas eventualmente bem mais complexo do que se esperava em aves, especialmente espécies gregárias como o Anu-branco Guira guira link (Fandiño-Mariño 1989) ou a Gralha-azul link Cyanocorax caeruleus (Anjos e Vielliard 1993), e até em grilos link (Zefa eVielliard 2001). Com os recursos dos gravadores portáteis, a técnica do play-back, que permite testar a resposta na natureza aos sinais sonoros previamente registrados, se difundiu e contribuiu para definir melhor o repertório desses sinais e suas funções biológicas. Outras linhas de pesquisa incorporaram a análise bioacústica, fazendo surgir novos campos de estudos. As principais interações apareceram com a ecologia e com as neurociências. Hoje a bioacústica participa de um leque variado de pesquisas, como aprendizagem e memorização, fisiologia da comunicação, estrutura de comunidades e adaptações ambientais, propagação e identificação de sinais.
A comunicação sonora é um processo biológico e, como tal, é submetido aos processos evolutivos e inserido no comportamento e no ambiente das espécies que desenvolveram este tipo de sinal (Kroodsma e Miller 1996). Nós formandos de biologia acreditamos que a bioacústica é uma ferramenta importante no entendimento de padrões comportamentais bem como na caracterização de espécies, o que a torna determinante na realização de análises filogenéticas.

Sugestão de Sites com Banco de dados de sons:
http://www.naturesongs.com/otheranimals.html
http://www.wikiaves.com.br/midias.php?tm=s&t=mv
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f5/Akhumphi1x.ogg

http://www.aultimaarcadenoe.com.br/audio-acervo/
http://www.avesderapinabrasil.com/caracara_plancus.htm

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de etologia, baseando-se na obra:

VIELLIARD, J; SILVA, M.L. A Bioacústica como ferramenta de pesquisa em Comportamento Animal. Estudos do Comportamento II. Belém: Editora da UFPA, 2010, v. II, p.141-156.

domingo, 22 de abril de 2012

Animais; Tão inteligentes quanto nós ?




Por Dulce F. de Carvalho, Kassiana R. dos Santos e Letícia Dalanhol
Acadêmicas do Curso de Ciências Biológicas
Há séculos estamos acostumados a pensar em nós mesmos como seres superiores, criados de acordo com um padrão divino. A ciência vem derrubando, o último refúgio onde ainda nos sentíamos seguros: a mente. Estamos descobrindo que, em termos de inteligência, cognição e psicologia, não somos tão especiais.Durante muito tempo o homem admitiu ser a única espécie inteligente, capaz de pensar, estabelecer raciocínios, aprender e memorizar, apesar de muitos filósofos e cientistas da antiguidade afirmarem a existência de uma inteligência animal que iria alem do instinto. Aristóteles definiu cognição como o processo responsável por armazenar conhecimento, transformá-lo e resgatá-lo sempre que preciso.Sendo assim os animais não são tão diferentes de nós, cada vez mais a ciência prova que a mente dos animais é muito mais sofisticada do que se imaginava. Novos estudos ao redor do mundo começam a descobrir que habilidades antes atribuídas apenas ao homem podem ser encontradas em outras espécies: golfinhos imitam gestos humanos elefantes se reconhecem quando olham no espelho ovelhas, ovelhas reconhecem as pessoas, macacos fabricam ferramentas e alguns espécies parecem raciocinar.
A ideia de consciência animal ainda é rejeitada, essa rejeição por parte dos pesquisadores tem raiz em René Descartes. O matemático francês colocou os animais em um segundo plano intelectual. Descartes dizia que a mente dos animais funciona como uma máquina, e que nenhum animal é capaz de ter sentimentos. Donald R. Griffin criou o campo de investigação a que chamou etologia cognitiva, sem o qual o estudo comparativo do comportamento animal (etologia) fica incompleto. Colocou no seu centro a consciência animal, criticando severamente a concepção cartesiana, de que os animais são meras máquinas que não pensam. As primeiras pesquisas de cognição animal utilizavam estímulos simples como luzes coloridas, sons e cliques. Esses estímulos talvez tenham sido básicos demais para permitir uma compreensão do processo cognitivo animal, pois não permitiam aos animais exibirem a gama completa de capacidades de processamento de informação. Pesquisas posteriores utilizaram elementos mais complexos, tais como fotos coloridas e objetos conhecidos. Esses estímulos fotográficos revelaram capacidades conceituais até então não atribuídas aos animais. Observou-se ainda uma memória animal complexa e flexível e pelo menos alguns processos cognitivos operando de modo semelhante no animal e nos seres humanos. Os animais de laboratório são capazes de aprender conceitos variados e sofisticados. Eles exibem processos mentais tais como a codificação e organização de símbolos, a capacidade de formar abstrações espaciais, temporais e numéricas e perceber as relações de causa e efeito. Além disso, o uso que fazem de ferramentas e outros acessórios implica um sentido básico de raciocínio .
Um dos aparelhos mais conhecidos para o estudo animal é a "Caixa de Skinner" desenvolvida pelo psicólogo Burrhus Frederic Skinner, que consiste basicamente em uma caixa-problema, na qual o animal aprende, por ensaio e erro, que o acionamento de uma alavanca produz uma recompensa (MANNING, 1979). Talvez o caso mais famoso de cognição animal na ciência tenha sido o do papagaio Alex que morreu aos 31 anos em 2007. Em 1977, a psicóloga Irene Pepperberg, juntou-se a Alex, um papagaio cinzento com um ano de idade, na tentativa de descobrir o que se passava na mente de um animal de outra espécie conversando com ele. (veja o vídeo). Pepperberg enfrentou críticas, deboches e ceticismo dos colegas acadêmicos. Mas Alex, pegou todos de surpresa. O papagaio aprendeu a falar. Não apenas a reproduzir o som, como muitos fazem, ele expressava em frases seus desejos, como dizer: “Quero uvas” quando estava faminto. Alguns testes feitos por Pepperbeg mostraram que o animal raciocinava. Ao ver duas xícaras com o mesmo formato, Alex dizia o que elas tinham de diferente: “A cor”. Além disso, ele sabia contar. Cansado dos exercícios cognitivos, pedia à sua dona: “Quero ir para a árvore”. A antropóloga britânica Jane Goodall, mostrou que os chimpanzés e os bonobos africanos são capazes de usar ferramentas e identificou neles cultura, raciocínio e capacidade de aprendizado. Chimpanzés são animais inteligentes e, por isso mesmo, lideram as pesquisas que buscam compreender a mente dos bichos. Mas eles também exibem comportamentos surpreendentes, como o altruísmo. Até pouco tempo, os cientistas acreditavam que somente o Homo sapiens, contrariando a lei da sobrevivência, era capaz de abrir mão de algo para ajudar outro indivíduo da espécie. Um Estudo divulgado pelo Instituto Max Planck de Ornitologia, em Seewiesen, na Alemanha indicam que pássaros pertencentes à família Corvid (dos corvos e gralhas) são considerados mais inteligentes que muitas outras espécies de aves. Seus desempenhos em testes de inteligência são tão altos quando os dos grandes primatas. Mesmo não tendo mãos ou patas, os corvos fazem gestos para atrair a atenção de seus semelhantes. Com suas asas e o seu bico, as aves também fazem uso desta maneira de se comunicar que, até então se acreditava que era exclusiva dos humanos e primatas (veja o vídeo). Inúmeros testes são feitos com animais em cativeiro, porém estamos sujeitos a interferências vindas do contato com os humanos. Para definir o grau de inteligência de um animal devemos observá-los em ação no seu ambiente natural.
É muito difícil interpretar as reações dos animais sem correr o risco de antropomorfismo. Segundo o psicólogo americano Clive Wynne, professor da Universidade da Flórida os animais são mais complexos do que imaginamos, e é preciso tomar cuidado quando tentamos compará-los a nós, afinal jamais saberemos ao certo o que se passa na cabeça de um elefante, simplesmente porque não fazemos idéia de como é ser um. Nós formandas de Biologia acreditamos que cada espécie animal tem suas próprias capacidades. Não somos superiores. Esta é a grande lição das pesquisas a respeito da cognição animal: a de humildade. Não somos os únicos capazes de inventar, planejar ou observar a nós mesmos. Existem animais com percepções do mundo diferentes das nossas, com inteligências desenvolvidas de maneira diferente a que estamos habituados.
Será que o homem terá a inteligência para perceber isso?

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia I e baseado nas obras:
ADES, C. O morcego, outros bichos e a questão da consciência animal, Psicologia USP, São Paulo, vol. 8(2), 1997.
CORDEIRO, T. Animais: gente como a gente. Disponível em: <http://super.abril.com.br/mundo-animal/animais-gente-como-gente-446505.shtml> 2006. Acesso em: 16 de março de 2012.
ESTEVAN, A. Assim como os primatas, corvos também são capazes de fazer gestos. Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/materias/assim-como-os-primatas-corvos-tambem-sao-capazes-de-fazer-gestos> National Geographic Brasil, 2011. Acesso em 16 de março de 2012.
MANNING, A. Introdução ao comportamento animal. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1979
MORELL, V. Mentes que brilham. Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/materias/mentes-que-brilham?pw=1> National Geographic Brasil, 1996. Acesso em 16 de março de 2012.
NASCENTE, C. Inteligência animal é muito maior do que se imaginava. Disponível em: <http://ambientalsustentavel.org/2011/estudos-indicam-que-a-inteligencia-animal-e-muito-maior-do-que-se-imaginava/> 2011. Acesso em: 16 de março de 2012.
MORELL, V. Mentes que brilham. Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/materias/mentes-que-brilham?pw=1> National Geographic Brasil, 1996. Acesso em 16 de março de 2012.

PARA CONSERVAR É PRECISO CONHECER



Por Carola Gutfreund, Caroline Baréa, Franciele Leite, Gustavo Hatschbach


Acadêmicos do Curso de Biologia
Com a ecologia do comportamento surgida na década de sessenta, pode-se observar um maior estudo teórico sobre o tema. Desde 1994 a interação da etologia e conservação sofreu um crescimento explosivo, sendo consolidada no IV Congresso Nacional Latino-Americano de Etologia realizado em 1998, buscando-se relacionar o papel da etologia na conservação e exploração sustentável de fauna. Somente no ano 2000 Margules & Pressey verificaram que só se pode conservar o que se conhece sendo que para conservar a biodiversidade seria necessário descrevê-la, mapeá-la e medi-la.
Os comportamentos dos animais caracterizam as relações entre as espécies e possuem desempenho significativo nos processos ecológicos, ciclo de nutrientes, polinização, dispersão e estruturação de comunidades. O uso do comportamento animal pode ser indicador do nível de perturbação de um ecossistema. Estudar o comportamento das espécies no ambiente natural é essencial, uma vez que o comportamento é o primeiro indício de degradação ambiental, sendo que as primeiras mudanças ocorrem no comportamento sexual, alterando o padrão reprodutivo e em níveis mais baixos alterando os níveis de tamanho da população. Logo, a conservação das espécies requer conhecimento sobre seu comportamento tanto no ambiente natural quanto em cativeiro. São observados fatores como migração, territorialidade, interação grupal, adaptação à presença humana, reprodução, comunicação, forrageamento, mortalidade, polinização e dispersão.
O estudo do comportamento tem como uma de suas aplicações a reintrodução de animais no seu habitat, devendo observar se o animal sabe esquivar de predadores, selecionar o habitat, e alimentar-se na natureza, pois esses comportamentos são críticos para a sobrevivência dos animais recolocados na natureza. Para o aperfeiçoamento de técnicas de criação e reprodução para um melhor manejo em cativeiro. Conhecimentos sobre a cadeia alimentar podem auxiliar na introdução de determinadas presas para os animais reintroduzidos ou para controle populacional de algumas espécies. Podendo também ser amplamente aplicado em unidades de conservação. O conhecimento gerado pelo comportamento das espécies pode ser utilizado para educação ambiental, em que dados básicos são repassados para a população a fim de subsidiar técnicas de manejo, condições em cativeiro e iniciativas de reintrodução. A preservação do ambiente pode ser realizada através da dispersão de sementes observada no comportamento de diversos animais. Os mecanismos de polinização em abelhas são essenciais na reprodução e propagação de plantas. Nós acadêmicos da biologia acreditamos que o estudo da etologia possui grande importância na conservação da flora e fauna. O estudo do comportamento animal é uma ferramenta básica para a compreensão das interações intra e interespecíficas e que podem ser utilizadas em programas de conservação.
O Presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia e baseado nas seguintes obras:
BRUSIUS; L., OLIVEIRA; L. G. S., MACHADO FILHO; L. C. P., Difusão dos conhecimentos sobre comportamento da fauna silvestre como instrumento de conservação. EXTENSIO Revista Eletrônica de Extensão UFSC, n. 3, 2005. disponível em: Acesso em 15/03/2012.
CASSINI, M. H. Etología y conservación: un encuentro con futuro. Etología n. 7 p.1-4, Argentina,1999.
MARGULES & PRESSEY apud. MARQUES, C.M; LAMAS, C.J.E. Taxonomia zoológica no Brasil: estado da arte, expectativas e sugestões de ações futuras. Pap. Avulsos Zool. Vol. 46, n 13. São Paulo, 2006.
SNOWDON, C. T. O significado da pesquisa em comportamento animal. Estud. psicol. vol.4, n.2. Natal: July/Dec. 1999.
SOUTO; A. Etologia princípios e reflexões. 3ª ed. Editora Universitária UFPE, 2005.

Curso de Bem-estar Animal e Enriquecimento Ambiental - 2012


Objetivo: Propiciar ao aluno conceitos éticos, legais, históricos e práticos da ciência e bem-estar animal bem como métodos de avaliação das condições de bem-estar animais domésticos e selvagens mantidos sob a tutela do homem submetidos ou não às técnicas de Enriquecimentos Ambiental com base nos sistemas emocionais e qualificação comportamental.
Carga horária: 30
Data do evento:   20/09/2012 a 29/09/2012
 Horário:        Quinta e sexta das 19h às 22h e Sábado das 9h às 12h e das 13h às 17h: 20, 21, 22, 27, 28 e 29/09.
 Local:              PUCPR - CAMPUS CURITIBA - CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
Participantes:        Graduandos de qualquer curso e profissionais técnicos e formados que trabalhem diretamente e indiretamente com animais.
 Informações:           3271-1543
 Coordenador(ES):   Marta Luciane Fischer
 Valor:              R$ 129,00
 Vagas Ofertadas:              50

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A ciência em prol da vida ou o contrário? O paradigma da experimentação animal.

Por: Giovana Casagrande e Juliana Nemetz Köhler

Acadêmicas do curso de Ciências Biológicas

Historicamente é possível observar os seres humanos se sobrepõem aos animais de maneira a torná-los inferiores e à disposição da sua vontade. De acordo com o teólogo Pe. Ritchie (século IV), os animais poderiam ser igualados a pedras e madeira estando à mercê dos homens para os mais diversos abusos, o que foi verificado nos séculos seguintes. Já no século XVIII, Kant propôs o “princípio da autonomia” pelo qual o homem teria direito à posse universal, agindo com base em seus próprios valores. Somente no nosso século, a preocupação com os animais e seus direitos passou a ser enfatizada, quando Benthman citou que “os animais não podem racionar, nem falar, mas podem sofrer.

Porém, mesmo com os direitos dos animais sendo reconhecidos, a sociedade ainda carrega a bagagem dos séculos passados e os acadêmicos continuam utilizando os animais em experimentações das biociências. O Conselho Nacional de Saúde, pelo decreto 93.933 de 14 de janeiro de 1987, aprovou as normas de pesquisas em saúde. O capítulo II (Aspectos Éticos da Pesquisa em Seres Humanos), artigo 5º, parágrafo II cita: “A pesquisa que se realiza em seres humanos deverá desenvolver-se conforme as seguintes bases: estar fundamentada na experimentação prévia realizada em animais, em laboratórios ou em outros fatos científicos”. Esse artigo acarretou no surgimento de vários comitês de ética que tem por objetivo controlar o uso desses animais em experimentos. Os membros dos comitês tem a tarefa de conciliar os aspectos éticos com os interesses científicos, legais, econômicos e comerciais. Em 2008 foi aprovada a Lei Arouca, que permitiu o uso de animais em experimentos científicos, de acordo com a lei o Ministério da Ciência e Tecnologia será responsável por licenciar instituições e fiscalizar o uso das normas estabelecidas.

O cientista Gil More (1985 ) escreve que o movimento do bem estar animal descrito no Código de Ética, Resolução CFM 1246/8 fundamenta-se em dois propósitos principais: primeiro reduzir o sofrimento e o número de animais usados em pesquisas e segundo sensibilizar cientistas para fazê-los refletir sobre a necessidade de utilizar animais em seus experimentos. Pesquisas estão sendo realizadas para desenvolver in vitro o que era antes realizada em animais vivos. Dessa maneira, fica claro que as novas tendências giram em torno da implementação de formas alternativas, para reavaliar o uso dos animais nos experimentos. As universidades já não utilizam mais animais vivos para estudos cirúrgicos, fisiológicos e anatômicos. A maioria dos cursos de Medicina Veterinária utilizam cães mortos para suas aulas de cirurgia.

Os três Rs (Reduction, Refinement, Replacement) tem entrado em um consenso de que animais só podem ser utilizados quando o objetivo é justificável, obtendo os devidos cuidados com relação ao número de animais utilizados e também na minimização da dor. Reavaliar os métodos anestésicos tem tido o envolvimento de várias agências nos EUA, bem como a busca por materiais modelos que se assemelhem e reproduzam condições semelhantes aos seres humanos, para garantir até a melhor eficácia das pesquisas.

Nós, formandas do curso de Biologia, acreditamos que a ascensão dos homens sobre os animais é uma situação que perdura há milênios e ainda é difícil compreender e aceitar que os animais tem sim a capacidade de expressar emoções, sentir dor, capacidade de cognição e muitas outras que são bem mais “evidentes” nos seres humanos. Com essa ideia implantada no subconsciente, a sociedade faz negação com relação à utilização de animais como cobaias para testes muitas vezes desnecessários, que em sua maioria nem são eficientemente comprovados; como foi o caso do medicamento talidomida, testado inicialmente em animais, mas que acabou gerando malefícios enormes para os seres humanos. Assim como a utilização de animais para a alimentação é uma necessidade natural não questionada, acreditamos que o uso em alguns experimentos científicos ainda se faz necessário, porém, a questão é a forma como eles são utilizados. Causar o mínimo sofrimento possível é inquestionável bem como usar a quantidade mínima de indivíduos. É necessário investir nas pesquisas em busca de maneiras alternativas, sendo incentivadas pelos estudos etológicos, que comprovam cientificamente para a sociedade as emoções e capacidades dos animais e acima de tudo, a necessidade do bem estar animal.


O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Etologia, baseando-se nas seguintes obras:

1. Petroianu A - Aspectos éticos na pesquisa em animais. Acta Cir Bras, 1996;11:157-164.

2. Gilmore A - The use of animals in research. Can Med Assoc J, 1985;132:564-568.

3. Conselho nacional de saúde. Normas de pesquisa em saúde. Bioética, 1995;3:137-154.