Por: Giovana Casagrande e Juliana Nemetz Köhler
Acadêmicas do curso de Ciências Biológicas
Historicamente é possível observar os seres humanos se sobrepõem aos animais de maneira a torná-los inferiores e à disposição da sua vontade. De acordo com o teólogo Pe. Ritchie (século IV), os animais poderiam ser igualados a pedras e madeira estando à mercê dos homens para os mais diversos abusos, o que foi verificado nos séculos seguintes. Já no século XVIII, Kant propôs o “princípio da autonomia” pelo qual o homem teria direito à posse universal, agindo com base em seus próprios valores. Somente no nosso século, a preocupação com os animais e seus direitos passou a ser enfatizada, quando Benthman citou que “os animais não podem racionar, nem falar, mas podem sofrer.
Porém, mesmo com os direitos dos animais sendo reconhecidos, a sociedade ainda carrega a bagagem dos séculos passados e os acadêmicos continuam utilizando os animais em experimentações das biociências. O Conselho Nacional de Saúde, pelo decreto 93.933 de 14 de janeiro de 1987, aprovou as normas de pesquisas em saúde. O capítulo II (Aspectos Éticos da Pesquisa em Seres Humanos), artigo 5º, parágrafo II cita: “A pesquisa que se realiza em seres humanos deverá desenvolver-se conforme as seguintes bases: estar fundamentada na experimentação prévia realizada em animais, em laboratórios ou em outros fatos científicos”. Esse artigo acarretou no surgimento de vários comitês de ética que tem por objetivo controlar o uso desses animais em experimentos. Os membros dos comitês tem a tarefa de conciliar os aspectos éticos com os interesses científicos, legais, econômicos e comerciais. Em 2008 foi aprovada a Lei Arouca, que permitiu o uso de animais em experimentos científicos, de acordo com a lei o Ministério da Ciência e Tecnologia será responsável por licenciar instituições e fiscalizar o uso das normas estabelecidas.
O cientista Gil More (1985 ) escreve que o movimento do bem estar animal descrito no Código de Ética, Resolução C
FM 1246/8 fundamenta-se em dois propósitos principais: primeiro reduzir o sofrimento e o número de animais usados em pesquisas e segundo sensibilizar cientistas para fazê-los refletir sobre a necessidade de utilizar animais em seus experimentos. Pesquisas estão sendo realizadas para desenvolver in vitro o que era antes realizada em animais vivos. Dessa maneira, fica claro que as novas tendências giram em torno da implementação de formas alternativas, para reavaliar o uso dos animais nos experimentos. As universidades já não utilizam mais animais vivos para estudos cirúrgicos, fisiológicos e anatômicos. A maioria dos cursos de Medicina Veterinária utilizam cães mortos para suas aulas de cirurgia.
Os três Rs (Reduction, Refinement, Replacement) tem entrado em um consenso d
e que animais só podem ser utilizados quando o objetivo é justificável, obtendo os devidos cuidados com relação ao número de animais utilizados e também na minimização da dor. Reavaliar os métodos anestésicos tem tido o envolvimento de várias agências nos EUA, bem como a busca por materiais modelos que se assemelhem e reproduzam condições semelhantes aos seres humanos, para garantir até a melhor eficácia das pesquisas.
Nós, formandas do curso de Biologia, acreditamos que a ascensão dos homens sobre os animais é uma situação que perdura há milênios e ainda é difícil compreender e aceitar que os animais tem sim a capacidade de expressar emoções, sentir dor, capacidade de cognição e muitas outras que são bem mais “evidentes” nos seres humanos. Com essa ideia implantada no subconsciente, a sociedade faz negação com relação à utilização de animais como cobaias para testes muitas vezes desnecessários, que em sua maioria nem são eficientemente comprovados; como foi o caso do medicamento talidomida, testado inicialmente em animais, mas que acabou gerando malefícios enormes para os seres humanos. Assim como a utilização de animais para a alimentação é uma necessidade natural não questionada, acreditamos que o uso em alguns experimentos científicos ainda se faz necessário, porém, a questão é a forma como eles são utilizados. Causar o mínimo sofrimento possível é inquestionável bem como usar a quantidade mínima de indivíduos. É necessário investir nas pesquisas em busca de maneiras alternativas, sendo incentivadas pelos estudos etológicos, que comprovam cientificamente para a sociedade as emoções e capacidades dos animais e acima de tudo, a necessidade do bem estar animal.
O presente ensaio foi elaborado para a disciplina de Etologia, baseando-se nas seguintes obras:
1. Petroianu A - Aspectos éticos na pesquisa em animais. Acta Cir Bras, 1996;11:157-164.
2. Gilmore A - The use of animals in research. Can Med Assoc J, 1985;132:564-568.
3. Conselho nacional de saúde. Normas de pesquisa em saúde. Bioética, 1995;3:137-154.
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