Série Ensaios:
Aplicação da Etologia
Por Lislaine das
Neves, Paula Riberio e Phamela Ferreira
Acadêmicas do Curso de
Ciências Biológicas
Os termos etnoecologia e etnoetologia são
sinônimos cujo prefixo “etno” começou a ser usado
com significado de fazer referência a um grupo étnico particular. O significado
para etnoecologia se resume em um campo de pesquisa científica transdisciplinar
que estuda os pensamentos, sentimentos e comportamentos que intermediam as
interações entre as populações humanas que os possuem e os demais elementos dos
ecossistemas que as incluem, bem como os impactos daí decorrentes (MARQUES,
2001). Em outras palavras faz referência à interação entre as pessoas e o ambiente.
Alguns autores como Berkes (1999) e Berkes et
al. (1998) dão ênfase aos conceitos ecossistêmicos nos sistemas de conhecimento
de sociedades locais ou tradicionais. Estes conceitos ou noções ecossistêmicas
refletem características percebidas localmente, como a unidade natural definida
em termos de um limite geográfico e as interações percebidas entre os diversos
componentes do sistema. A etnoecologia tem suas raízes na antropologia, apesar de possuir
influências de outras áreas (TOLEDO, 1992) e de hoje constituir-se claramente
como uma área de confluência entre as ciências biológicas e as ciências
humanas. Para Gragson e Blount, (1999), a
etnoecologia procura fornecer um entendimento dos sistemas de conhecimento de
populações locais sem se restringir a história natural a partir de uma
perspectiva antropológica, já para Nazarea (1999) a etnoecologia investiga os
sistemas de percepção, cognição e uso do ambiente natural, sem ignorar os
aspectos históricos e políticos que influenciam uma dada cultura, bem como as questões
relacionadas à distribuição, acesso e poder que dão forma aos sistemas de
conhecimento e nas práticas deles resultantes.
Um cenário contemporâneo de reflexão e
atuação para a etnoecologia revela possibilidades de desprendimento da divisão
dicotômica entre as categorias: natureza e cultura. Por ter objetos e assuntos
“híbridos” integrando cultura e natureza, a etnoecologia deve envolver um
conjunto de relações que não pode ser inicialmente resumido. Neste sentido,
novas tendências mostram que é mais adequado considerar a etnoetologia como “campo de cruzamento de saberes” (MARQUES, 2001) do que como “uma
disciplina” (TOLEDO, 1992). A etnoecologia pode ser aplicada com inúmeras
finalidades, a social, a antropológica e a de pesquisa. No âmbito das pesquisas
cientificas a etnobiologia serve como facilitadora da aplicação e
desenvolvimento de estudos, pois os pesquisadores voltam-se a comunidade local
para coletar as informações que essas pessoas possuem empiricamente. Estudos
como para a conservação de áreas naturais
protegidas
e na descoberta de novos fármacos.O saber popular é muito valioso no âmbito da pesquisa, por
possui muita importância na caracterização da área de estudo. Ele auxilia o
pesquisador que observa o comportamento animal em campo e necessita
realizar um levantamento minucioso de informações sobre a espécie. Como a
população local tem um contato maior com esse animal, as características do comportamento
animal
como: período reprodutivo, o tipo de alimentação, o predador natural, entre
outros são obtidas facilmente pelo pesquisador. Outro aspecto positivo a respeito
do saber popular se trata do uso de plantas medicinais, e demais finalidades, como cosmética e alimentação. Pesquisadores de
outros países vinham buscar e explorar recursos naturais conseguiam informações
com as populações locais e desenvolviam produtos comerciais, por exemplo, a
partir de uma planta que era muito usada no combate à caspa, o caso mais
conhecido de biopirataria no Brasil foi o do
cupuaçu, registrado por empresas japonesas em escritórios de marcas
do Japão, Estados Unidos e Europa a fim de desenvolver um produto alimentício.
Por isso no Brasil foi criado meios de proteção e valorização dos
conhecimentos e expressões das culturas populares, como a portaria n.º 37, de 12 de abril de
2012. A
percepção da população que a exploração demasiada está diretamente relacionada
com o declínio de espécies na natureza, as fizeram compreender que partilhar os
seus conhecimentos adquiridos pela vivência podem ajudar na conservação e
proteção de áreas naturais e espécies, o que conhecemos por etnoconservação.
Nós
formandas de Biologia acreditamos que com tudo isso a etnobiologia apresenta-se
como ferramenta indispensável no pontapé ao inicio de um estudo. As relações e
interações que uma comunidade apresenta, essa vivência que é adquirida no
contato com o meio ambiente não pode ser desprezada ou descartada, pelo
contrário, ela encurta distâncias no cumprimento de objetivos. Essencialmente
quando se trata da pesquisa, a coleta de informações da população local que
está em contato com o ambiente, planta ou animal estudada facilita o trabalho
do pesquisador, que além de ganhar tempo para o desenvolvimento do seu
trabalho, ainda economiza recursos que seriam destinados a ficar mais tempo em
campo, por exemplo, estudando o comportamento de determinada espécie. Dessa
forma a utilização da etnoecologia potencializa o conhecimento do meio ambiente
e as relações e interações que nele existem.
Para
compreender melhor as relações do homem com a natureza assita também o vídeo
O presente ensaio foi
elaborado para disciplina de Etologia, basendo-se nas seguintes obras:
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[VÍDEO]
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