sexta-feira, 4 de abril de 2014

Genética comportamental: Os genes controlam o comportamento ou o comportamento controla os genes?



Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por Fabio Kardauke, João Carlos Fontana e Nathalia Celli

Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas da PUCPR



A Genética do Comportamento é a ciência que estuda os mecanismos genéticos, neurobiológicos e a sua relação com os fatores ambientais na determinação de certos comportamentos animais e humanos. Pode se dizer que esta é a área mais estreita de ligação entre a Biologia Molecular e as ciências comportamentais. Entretanto os fatores genéticos não necessariamente levarão ao aparecimento de certos comportamentos, apenas farão com que os animais pré-dispostos sejam mais vulneráveis a apresentá-los. Genética comportamental é um tema relativamente novo, embora esteja pouco relacionado com às origens das disciplinas da psicologia e genética. Essa interdisciplina está relacionada a fatores ou determinantes da genética no comportamento de seres humanos e animais. A genética do comportamento, na compreensão de Ebbinghaus (1908), possui um longo passado e uma curta história. Seu início se dá com a domesticação de animais em nossa civilização na antiguidade oriental, como egípcios, hebreus e gregos.  Mota (1985) mostra que além do comportamento animal, há relatos de observações que vão do final do século XIX com características herdadas de excitações nervosas e expressões de camundongos e características típicas de espécies de abelhas, bem como comportamentos específicos de cada linhagem que possuem uma certa comparação com o comportamento humano.
Diversos comportamentos animais e humanos são analisados como instintivos, que possuem influências genéticas, ou aprendidos, que se adquirem através da interação com o meio em que o individuo vive. A psicologia reforçou durante muito tempo, sobre a influência do ambiente no comportamento, deixando de lado fatores importantes como a genética. O surgimento da genética comportamental não visa alterar o pensamento em que os todos os comportamentos sejam influenciados por fatores genéticos, mas sim por influências ambientais também, acredita-se que atualmente, todo comportamento é influenciado por algum fator genético ou ambiental, seja ele de maior ou menor grau. Iniciado oficialmente em 1990, O Projeto Genoma Humano (PGH) foi coordenado pelo Departamento de Energia do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. O projeto originalmente foi planejado para ser completado em 15 anos e orçamento de 3 bilhões de dólares, mas no dia 14 de abril de 2003 foi anunciado como completo, dois anos antes do prazo estabelecido e 400 milhões de dólares a baixo do orçamento inicial. Seu principal objetivo foi gerar uma sequência de DNA de boa qualidade para os cerca de 3 bilhões de pares de bases e identificar todos os genes humanos, incluindo a promessa de identificar até mesmo os genes de comportamento complexos que são influenciados por múltiplos genes e também por fatores ambientais.Com o avanço da tecnologia temos a capacidade de obter sequencias completas de genes de quaisquer seres vivos do planeta. Com o mapa genético em mãos, podemos estudar separadamente diversos aspectos comportamentais relacionados a expressão ou inibição de genes específicos.
A expressão do gene PaX-6 está diretamente ligada ao desenvolvimento e evolução de olhos em animais. De acordo com DAN-E. NILSSON em seu artigo “Eyeevolutionand its functionalbasis” os olhos evoluíram devido à necessidade de comportamentos visualmente orientados e ao acumulo de comportamentos cada vez mais exigentes como a caça, proteção contra predação e reprodução. Com o desenvolvimento de olhos mais complexos vem a necessidade de desenvolvimento de neurônios mais complexos, como os fotorreceptores formados pelas opsinas. Estudos revelaram que o acumulo de matrizes de fotorreceptores foram responsáveis pelo surgimento das retinas mais primitivas e do desenvolvimento de ótica para focar a luz. O emprego do gene Pax- 6 para controlar o desenvolvimento nos olhos, tem sido tomado como evidência de que os animais só evoluíram uma vez. Sistemas Visuais evoluíram através da aquisição sequencial de tarefas novas e gradualmente mais exigentes para novos comportamentos. A opsina evoluiu uma vez, e sua tarefa original era de monitoramento não direcional de luz. Isto foi seguido por alguns exemplos independentes de transição para fotorrecepção direcional, e de lá, inúmeras transições para a visão de baixa resolução e, finalmente, um menor número de transições para a visão de alta resolução. Evolução do olho é uma parte integrante da evolução animal, e o desenvolvimento da visão em conjunto com locomoção podem ter sido os únicos processos mais importantes na evolução dos animais e de níveis tróficos macroscópicos mais elevados em sistemas ecológicos
Um outro exemplo, foi o trabalho de Ito & Guzzo (2002), que verificaram as características de comportamentos predominantes e diferenças entre sexo e faixa etária, e a importância da genética na determinação de características de comportamento. O trabalho de (BEITCHMAN et al., 2006) mostrou a ação da expressão gênica dos transportadores de serotonina no comportamento impulsivo-agressivo para assim analisar uma associação de polimorfismos de genes transportadores de serotonina e a agressividade durante a infância e adolescência. Os cães são exemplos marcantes, pois ilustram a extensão dos efeitos genéticos sobre o comportamento. Eles foram selecionados durantes séculos tanto pelo seu comportamento quanto pela sua aparência, e em 1576, o primeiro livro em inglês sobre cães classificava as raças primariamente com base no comportamento. Esta classificação é ainda usada atualmente, por exemplo: cães pastores, de caça, farejadores, perdigueiros e cães de guarda. E entre as raças também diferem tanto na inteligência como nos traços de temperamento, como emotividade e agressividade. Na França, por exemplo, os cães são usados para trabalho em fazendas e na Inglaterra os cães foram produzidos para caça. O processo de seleção pode ser muito apurado e embora os cães sejam singulares na medida em que as diferenças foram selecionadas intencionalmente para acentuar as diferenças genéticas do comportamento. Em 1965 J. Paul Scott e John Fuller conduziram um extenso programa de pesquisa genética comportamental e desenvolvimento das raças puras e híbridas (Fox Terrier, Cocker Spaniel, Basenji, Pastor de Shatland e Beagle); sendo todas mais ou menos no mesmo tamanho, mas com diferentes formas marcantes de comportamento. Assim, Scott e Fuller encontram diferenças comportamentais nas raças em todos os aspectos examinados, assim como relação social, emotividade, treinabilidade e entre outros.
Nós formandos em Biologia acreditamos que a compreensão do comportamento não se limita apenas em compreender sua ocorrência, também envolve o conhecimento de sua “origem” e significado. Portanto através destes estudos da genética do comportamento, temos que os nossos genes têm o papel de conduzir o comportamento, respondendo a estímulos tanto externos quanto internos sendo significativos para a vida e adaptação do animal.





O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:

BEITCHMAN JH, BALDASSARRA L, MIK H, DE LUCA V, King N, BENDEr D, EHTESHAM S, KENNEDY JL. Serotonin transporter polymorphisms and persistent, pervasive childhood aggression. Am J Psychiatry. 2006; 163 (6):1103-5. 
Ebbinghaus, H. (1908). Psychology: An elementary text-book. DC Heath.
FEITOSA IB, SANTANA PM, TELES CBG. Genética do comportamento e o contraste ao paradigma da sociobiologia. Saber Científico, Porto Velho, 3 (1): 112 - 131, jul./dez.,2011.
ITO, Patrícia do Carmo Pereira e GUZZO, Raquel Souza Lobo. Temperamento: características e determinação genética. Psicol. Reflex. Crit. [online]. 2002, vol.15, n.2, pp. 425-436. ISSN 0102-7972.
Plomin, R., DeFries, C. J., McClearn. E. G & McGuffin. P. (2011). Genética do Comportamento. 5°ed. Artmed
Santos & Nascimento. (2006). Perspectivas históricas do Projeto Genoma e a evolução da enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, 59(3), p. 358-361
ZATZ, MAYANA. (2000). Projeto genoma humano e ética. São Paulo em Perspectiva14(3), 47-52. 

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