quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ecologia do comportamento: o ato de entender evolutivamente o “por que” de tudo!


Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por Gabriel Wille, Leticia Melo e Luan Scarpin

Acadêmicos do curso de Biologia Bacharelado - PUCPR

A Ecologia Comportamental é um tipo de abordagem que revela as bases ecológicas e evolutivas dos comportamentos, demonstrando experimentalmente a importância de um determinado comportamento e consequentemente seu valor adaptativo para o animal observado (DEL-CLARO, 2004). Os estudos de ecologia comportamental dizem respeito, sobretudo, à forma como os animais procuram a alimentação, gerem o seu território e tiram, eventualmente, proveito da vida em grupo para assegurarem a sobrevivência da espécie.  Tudo isto relacionado à forma como se adaptaram e evoluíram ao longo dos anos (Danchin, et al., 2010). Todos os animais tendem a apresentar preferências a certos padrões de recursos e habitats. Esta característica é consequência da seleção natural, que ao longo da evolução de cada espécie, relacionou suas mudanças morfológicas, fisiológicas e comportamentais com a sua adaptação ao ambiente em que vive. Sendo assim, um animal irá preferir um habitat que lhe permita o suprimento de suas necessidades reprodutivas e sua sobrevivência (Ribeiro, 2003).
A teoria evolutiva proposta por Darwin em “A origem das espécies” em 1859 foi muito importante para os estudos sobre o comportamento animal (Ades, 2012). Darwin foi o primeiro cientista a inserir o assunto de ecologia do comportamento, embora não direcionasse suas pesquisas exatamente neste caminho. Os três primeiros cientistas a se inserirem diretamente na etologia, dando início a esta ciência foram Konrad Lorenz, Nikolaas Tinbergen e Karl Ritter von Frisch, que receberam o prêmio Nobel (apesar de nunca terem trabalhado juntos) por suas contribuições ao avanço da pesquisa sobre o comportamento animal de muitas espécies. Nikolaas Tinbergen deu importância à pesquisa dos comportamentos que animais adquirem no meio em que vivem e os comportamentos instintivos, além de utilizar esses comportamentos para aprofundar o conhecimento da natureza violenta e agressiva da espécie humana (The Nobel Foundation, 1973). Karl Ritter von Frisch estudou a comunicação em comunidades de abelhas, que aumentaram o conhecimento das formas de comunicação, química e visual, de insetos (The Nobel Foundation, 1973). Konrad Lorenz é considerado o verdadeiro pai da etologia. Publicou resultados de uma importante pesquisa sobre a vida das gralhas, descreveu o processo de aprendizagem em patos e em gansos jovens, criando o conceito de “imprinting” e nos anos 50, dedicou-se ao estudo comparativo de diversas espécies animais e do paralelismo entre estas e a espécie humana (The Nobel Foundation, 1973). A etologia tradicional surgiu com o objetivo de estudar os comportamentos inatos nas diversas espécies em ambiente natural, ela se preocupa com quais são as causas imediatas de um determinado comportamento e como ele se desenvolve durante a vida do indivíduo. São exemplos de estudos sobre etologia tradicional:
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Descrição do comportamento de superfície do boto cinza, Sotalia guianensis, na Praia de Pipa – RN: apresentação de um etograma dos eventos comportamentais realizados na superfície do mar, por uma espécie de golfinho costeiro, boto cinza, na praia de Pipa - RN. ·   Etograma da garça-branca-grande, Casmerodius albus (Ciconiiformes, Ardeidae): descrição os padrões comportamentais de Casmerodius albus (garçabrancagrande) em liberdade, visando contribuir com os estudos da biologia desta espécie. A ecologia comportamental assim como a etologia tradicional, o seu objeto de estudo é o comportamento das espécies, no entanto, a ecologia comportamental preocupa-se em responder as questões acerca da evolução filogenética e do valor de sobrevivência do comportamento para a espécie. Como novas tendências temos por exemplo estudos de conservação onde é necessário o conhecimento e a abrangência da ecologia comportamental para compreender os comportamentos. Temos como exemplos de trabalhos com ecologia comportamental: ECOLOGIA DE CUXIÚS (CHIROPOTES SATANAS) NA AMAZÔNIA ORIENTAL: PERSPECTIVAS PARA A CONSERVAÇÃO DE POPULAÇÕES FRAGMENTADAS: Visando caracterizar padrões de atividade e exploração de recursos alimentares, dois grupos sociais de C. satanas foram monitorados entre julho e novembro de 2001 em Tucuruí (PA). Os resultados do estudo indicam um potencial muito grande para a conservação a longo prazo de populações remanescentes de cuxiús na paisagem fragmentada da região.        VARIAÇÃO DE CURTO E LONGO PRAZO NA ECOLOGIA DO GUIGÓ (Callicebus coimbrai): IMPLICAÇÕES PARA A CONSERVAÇÃO DE POPULAÇÕES NA PAISAGEM FRAGMENTADA DA MATA ATLÂNTICA DE SERGIPE: Descrição do padrão comportamental e da dieta de um grupo de guigós ameaçados de extinção visando uma maior compreensão sobre a espécie no Estado de Sergipe e para subsidiar futuras estratégias de conservação e manejo de suas populações remanescentes assim como os ecossistemas que habita.
A pesquisa em Comportamento Animal e Ecologia Comportamental vem avançado nos últimos anos mesmo com os baixos investimentos na pesquisa. Estes estudos não são importantes apenas por si próprio, mas também por terem feito importantes contribuições para outras disciplinas com aplicações para o estudo do comportamento humano, como para as neurociências, para o manejo do meio ambiente e de recursos naturais, para o estudo do bem-estar animal e para a educação de futuras gerações de cientistas (Snowdon, 1999).
Os eco-etologistas dispõem de diversas abordagens metodológicas, aliando teorização, escalonamento e observação (Ribeiro, 2003). A definição da metodologia a ser empregada é totalmente dependente das observações preliminares, da leitura, da definição clara de uma questão e claro que o método empregado dependerá da espécie estudada, de seus hábitos, seu habitat, sua maneira de se locomover e de todos os atos que compõem seu comportamento (DEL-CLARO. K, 2004). Atualmente a genética é bastante utilizada nas pesquisas em comportamento ecológico para se explicar os elementos biológicos e físicos que levam os animais a agirem e se comportarem de determinados modos. São exemplos de estudos recentes desenvolvidos na área da etologia e ecologia comportamental Etologia humana: o exemplo do apego: apresentação de maneira didática, a perspectiva evolucionária no estudo do comportamento humano.BIOLOGIA REPRODUTIVA E ECOLOGIA COMPORTAMENTAL DE gaivotas  ANTÁRTICAS Catharacta maccormicki E C. lonnbergi: Revisão que inclui informações sobre os aspectos básicos da reprodução, características das áreas de reprodução, sucesso reprodutivo, hibridização, reprodução cooperativa e comportamento durante atividade de forrageamento, através de uma análise crítica e comparativa em relação aos trabalhos publicados e às diferentes regiões geográficas onde ocorrem espécies.
Nós estudantes de biologia e amantes da ecologia e do comportamento animal, consideramos que esta ciência é extremamente importante para o bem estar animal, para que possamos entender seus modos, suas atitudes e preferências. É muito interessante devido ao fato de podermos concretizar as nossas impressões de que os animais possuem sentimentos, sentem dor, sentem medo, sentem fome, alegria e enfim, sensações boas e ruins. A partir das pesquisas de ecologia comportamental, etoecologia ou ecoetologia é possível que os humanos percebam que somos apenas mais uma espécie diante de tantas outras e que todas as outras espécies possuem muitas necessidades e sentimentos que nós sentimos, tudo isto porque o comportamento humano nada mais é, do que a herança do comportamento de outras espécies “irmãs” na evolução. E como disse DEL-CLARO, 2004: “O Comportamento Animal pode muito bem ser definida como um exercício da curiosidade humana na tentativa de compreensão da sua própria natureza animal.”

VIDEO: DOCUMENTÁRIO -> O REINO DO LEOPARDO:


O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:
DANCHIN, É.; GIRALDEAU, L.; CÉZILLY, F. Ecologia Comportamental. Piaget, 2010. 636p.

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