terça-feira, 1 de abril de 2014

Decifrando o Comportamento Animal e Aplicando-o Clinicamente



Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por NayaraDotti, Taline Gonçalves e Vivian Telli. 

Acadêmicas do Curso de Biologia

Etologia é a ciência que estuda o comportamento dos animais, incluindo  o dos humanos, sob um prisma biológico, evolutivo e psicológico. O estudo do comportamento animal vem crescendo dentro das áreas clínicas para uma grande variedade de espécies animais como, por exemplo, equinos, felinos e caninos. Etologia Clínica “é o ramo da medicina veterinária que se encarrega da prevenção, diagnóstico e tratamentos dos transtornos do comportamento animal” (Heiblum; Moisés, 2004). E da biologia que se encarrega de definir o comportamento do animal em cativeiro ou em seu habitat natural, buscando explicar o porquê de determinado comportamento, visando aspectos genéticos, evolução e seleção natural.
Durante a vida dos animais há diversas fases uma delas é capaz de produzir efeitos importantes em seu comportamento, especialmente sobre a sua sociabilidade. É denominado como período sensível ou período crítico. As ligações sociais estabelecidas dentro desse período mais concentrado terão maiores chances de serem mantidas ao longo da vida do animal, com consequente maior impacto no seu comportamento quando adulto (Turner; Bateson, 2000).Evidentemente o aspecto genético do animal é relevante e as ligações e experiências vivenciadas durante o período sensível terão enorme repercussão na vida do indivíduo. As experiências dessa fase da vida do animal deverão ser amplamente consideradas pelo profissional, pois as manipulações e experiências (favoráveis e desfavoráveis) servirão como um importante aprendizado para o animal e, a partir daí, o indivíduo terá facilidade ou dificuldade para os procedimentos futuros que o envolverem. Deve-se estar muito atento a esse período e, na medida do possível, fazer o uso favorável dessas experiências, ou pelo menos, minimizar os efeitos negativos gerados por situações inevitáveis (manipulações dolorosas, contenções, transporte). A fim de estabelecer o diagnóstico correto de um determinado problema comportamental, deve-se recorrer ao exame clínico etológico. Aonde serão avaliados os diferentes aspectos do animal e como ele interage com o seu meio.
No artigo “Desvios comportamentais nas espécies canina e felina– panorama atual e discussão de casos clínicos”, de Elsa Palma Teixeira (2009), foram estudados quatro casos clínicos de ansiedade em cães em consultas especializadas em comportamento animal. O primeiro caso trata de um cão que ficou órfão poucos dias após ter nascido, esse sofre de ansiedade constante, piorando quando fica sozinho, e quando sua dona está presente, persegue-a constantemente. Durante a consulta, o animal estava muito agitado e não saiu de perto da dona. Ele está sendo tratado com medicamentos, e medidas comportamentais recomendadas, notando-se algumas melhoras. No segundo caso, a cachorra nunca permaneceu sozinha em casa, durante 11 anos, após esse tempo, passou a ser deixada sozinha durante 10 horas seguidas. Quando isso acontece, vocaliza muito e apresenta um comportamento destrutivo, e começou a apresentar incontinência urinária. Está sendo tratada com medicamentos, mas a dona não nota melhoras. No terceiro caso é retratado um cão normal ao exame físico, mas com todos os seus dentes caindo, com comportamento alterado desde a morte da cachorra da família, com a qual tinha um ótimo relacionamento. Quando fica sozinho rói tudo. Está sendo tratado com medicamento, mas acabou ficando um pouco magro e com o mesmo desvio comportamental. E o quarto caso retrata um cão que desde pequeno tem medo de objetos que lembram um pau (vassouras) e de ruídos. Destrói tudo em casa e é muito barulhento. A dona o considera ansioso, nervoso, medroso e assustado, mas apenas na presença dos donos. Durante a consulta esteve muito inquieto, urinou todo o tempo e defecou uma vez.
O comportamento animal sedimentou-se entre nós com Walter Hugo, a partir de 1962 lecionou a disciplina Psicologia Comparativa e Animal, no curso de Psicologia da USP, incluindo tanto a contribuição de psicólogos comparados como a de etólogos. Essa combinação auxiliou a sedimentação da etologia com uma intenção e com uma prática de interdisciplinaridade. A partir dos anos 1970, a etologia se fez mais presente em nosso cenário, integrando-se com áreas biológicas. E desde lá até os dias atuais a etologia no Brasil, vem adaptando-se aos novos desenvolvimentos do estudo do comportamento no cenário internacional. Dos casos clínicos de caninos e felinos conclui-se que o grande desafio da medicina comportamental prende-se com a complexidade do diagnóstico, pois todos os sinais são inespecíficos, tornando difícil perceber o perfil em questão. A base do tratamento é a modificação comportamental, servindo os fármacos apenas como adjuvantes, e como tal o prognóstico nestes casos está muito dependente da motivação e concordância dos donos.Tinbergen (1977) propõe uma análise baseada no modelo etológico de conflito para a compreensão do autismo infantil; a responsividade do recém-nascido a estímulos sociais é analisada por diversos autores utilizando os conceitos de estímulo-sinal e de estímulo supranormal; a utilidade dos conceitos de período sensível também tem sido explorada em vários estudos sobre o desenvolvimento da criança. Saldarriaga observou o comportamento de equinos com determinadas patologias, concluindo que as alterações comportamentais têm muita importância no diagnóstico dessas doenças, muitas vezes os sintomas comportamentais são visíveis antes mesmo dos sintomas clínicos e muitas vezes a observação dos comportamentos pelo dono e criadores de animais podem contribuir para um diagnostico preciso. Alterações comportamentais na doença proporcionam um importante valor no diagnóstico, para os sintomas que na maioria dos casos começa como distúrbios de comportamento, essas alterações são fundamentais para que o proprietário possa notar que algo está errado com seu animal. Visto as aplicações clínicas da etologia, supõe-se que futuramente este seja um caminho a ser usado no diagnóstico de alterações no comportamento. Até mesmo em terapias que tenham relação como, por exemplo, o uso terapêutico da proximidade afetiva de humanos e animais conhecido como Terapia Assistida por Animais (TAA). Atualmente a etologia clínica já é usada frequentemente em equinos, felídeos e canídeos.
Nós como formandas em Biologia acreditamos que as aplicações da etologia são de grande importância para o desenvolvimento dessa área da ciência. A etologia clínica em questão é a parte que trata da prevenção, diagnóstico e tratamentos dos transtornos do comportamento animal. Sendo assim, é de grande importância na aplicação do bem estar animal. Por exemplo, em animais cativos em zoológicos, parques, entre outros, que possuem um comportamento estereotipado, ou seja, se comportam de maneira diferente da qual se comportariam em seu habitat natural. Visto isso o profissional de biologia conhecendo o comportamento natural do animal em questão poderia identificar esse comportamento diferenciado e relacionar com sua saúde física e mental e por sua vez tentar encontrar maneiras de reverter essa situação e consequentemente melhorar seu bem estar, através de medidas de enriquecimento ambiental, condicionamento por reforço positivo e outros.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:
Antonio Souto, 1999. Etologia Princípios e Reflexões.
Gelson Genaro, 2013. Aplicação de conceitos básicos em etologia na clínica médica veterinária felina.
César Ades, 2010. Do bicho que vive de ar, em diante: uma pequena história da Etologia no Brasil.
Elsa Palma Teixeira, 2009. Desvios Comportamentais nas Espécies Canina e Felina – Panorama Atual e Discussão de casos clínicos.
Juliane de Abreu Campos Machado, 2008. Terapia Assistida por Animais (TAA).

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