Série Ensaios: Aplicação da Etologia
Por
NayaraDotti, Taline Gonçalves e Vivian Telli.
Acadêmicas
do Curso de Biologia
Etologia é a
ciência que estuda o comportamento dos animais, incluindo o dos humanos, sob um prisma biológico,
evolutivo e psicológico. O estudo do comportamento animal vem crescendo dentro
das áreas clínicas para uma grande variedade de espécies animais como, por
exemplo, equinos, felinos e caninos. Etologia
Clínica “é o ramo da medicina veterinária que
se encarrega da prevenção, diagnóstico e tratamentos dos transtornos do
comportamento animal” (Heiblum; Moisés, 2004). E da biologia que se encarrega
de definir o comportamento do animal em cativeiro ou em seu habitat natural,
buscando explicar o porquê de determinado comportamento, visando aspectos
genéticos, evolução e seleção natural.
Durante
a vida dos animais há diversas fases uma
delas é capaz de produzir efeitos importantes em seu comportamento,
especialmente sobre a sua sociabilidade. É denominado como período sensível ou
período crítico. As ligações sociais estabelecidas dentro desse período mais concentrado
terão maiores chances de serem mantidas ao longo da vida do animal, com
consequente maior impacto no seu comportamento quando adulto (Turner; Bateson,
2000).Evidentemente o aspecto genético do
animal é relevante e as ligações e experiências vivenciadas durante o período
sensível terão enorme repercussão na vida do indivíduo. As experiências dessa
fase da vida do animal deverão ser amplamente consideradas pelo profissional,
pois as manipulações e experiências (favoráveis e desfavoráveis) servirão como
um importante aprendizado
para o animal e, a partir daí, o indivíduo terá facilidade ou dificuldade para
os procedimentos futuros que o envolverem. Deve-se estar muito atento a esse
período e, na medida do possível, fazer o uso favorável dessas experiências, ou
pelo menos, minimizar os efeitos negativos gerados por situações inevitáveis
(manipulações dolorosas, contenções, transporte).
A fim de estabelecer o diagnóstico correto de um determinado problema
comportamental, deve-se recorrer ao exame clínico etológico. Aonde
serão avaliados os diferentes aspectos do animal e como ele interage com o seu
meio.
No artigo “Desvios comportamentais nas espécies canina e felina–
panorama atual e discussão de casos clínicos”,
de Elsa Palma Teixeira (2009), foram estudados quatro casos clínicos de
ansiedade em cães em consultas especializadas em comportamento animal. O
primeiro caso trata de um cão que ficou órfão poucos dias após ter nascido,
esse sofre de ansiedade constante, piorando quando fica sozinho, e quando sua
dona está presente, persegue-a constantemente. Durante a consulta, o animal
estava muito agitado e não saiu de perto da dona. Ele está sendo tratado com
medicamentos, e medidas comportamentais recomendadas, notando-se algumas
melhoras. No segundo caso, a cachorra nunca permaneceu sozinha em casa, durante
11 anos, após esse tempo, passou a ser deixada sozinha durante 10 horas seguidas.
Quando isso acontece, vocaliza muito e apresenta um comportamento destrutivo, e
começou a apresentar incontinência urinária. Está sendo tratada com
medicamentos, mas a dona não nota melhoras. No terceiro caso é retratado um cão
normal ao exame físico, mas com todos os seus dentes caindo, com comportamento
alterado desde a morte da cachorra da família, com a qual tinha um ótimo
relacionamento. Quando fica sozinho rói tudo. Está sendo tratado com
medicamento, mas acabou ficando um pouco magro e com o mesmo desvio
comportamental. E o quarto caso retrata um cão que desde pequeno tem medo de
objetos que lembram um pau (vassouras) e de ruídos. Destrói tudo em casa e é
muito barulhento. A dona o considera ansioso, nervoso, medroso e assustado, mas
apenas na presença dos donos. Durante a consulta esteve muito inquieto, urinou
todo o tempo e defecou uma vez.
O comportamento animal sedimentou-se entre nós com Walter
Hugo, a partir de 1962 lecionou a disciplina Psicologia
Comparativa e Animal, no curso de Psicologia da USP, incluindo
tanto a contribuição de psicólogos comparados como a de etólogos. Essa combinação auxiliou a sedimentação da etologia com uma
intenção e com uma prática de interdisciplinaridade. A partir dos anos 1970, a
etologia se fez mais presente em nosso cenário, integrando-se com áreas
biológicas. E desde lá até os dias atuais a etologia
no Brasil, vem adaptando-se aos novos desenvolvimentos
do estudo do comportamento no cenário internacional. Dos
casos clínicos de caninos e felinos conclui-se que
o grande desafio da medicina comportamental prende-se com a complexidade do
diagnóstico, pois todos os sinais são inespecíficos, tornando difícil perceber
o perfil em questão. A base do tratamento é a modificação comportamental,
servindo os fármacos apenas como adjuvantes, e como tal o prognóstico nestes
casos está muito dependente da motivação e concordância dos donos.Tinbergen
(1977) propõe uma análise baseada no
modelo etológico de conflito para a compreensão do autismo
infantil; a responsividade do
recém-nascido a estímulos sociais é analisada por diversos autores utilizando
os conceitos de estímulo-sinal e de estímulo supranormal; a utilidade dos
conceitos de período sensível também tem sido explorada em vários estudos sobre
o desenvolvimento da criança. Saldarriaga
observou o comportamento
de equinos com determinadas patologias, concluindo que as
alterações comportamentais têm muita importância no diagnóstico dessas doenças,
muitas vezes os sintomas comportamentais são visíveis antes mesmo dos sintomas
clínicos e muitas vezes a observação dos comportamentos pelo dono e criadores
de animais podem contribuir para um diagnostico preciso. Alterações
comportamentais na doença proporcionam um importante valor no diagnóstico, para
os sintomas que na maioria dos casos começa como distúrbios de comportamento,
essas alterações são fundamentais para que o proprietário possa notar que algo
está errado com seu animal. Visto as aplicações clínicas da etologia, supõe-se
que futuramente este seja um caminho a ser usado no diagnóstico de alterações
no comportamento. Até mesmo em terapias que tenham relação como, por exemplo, o
uso terapêutico da proximidade afetiva de humanos e animais conhecido como Terapia
Assistida por Animais (TAA). Atualmente a etologia clínica já é usada
frequentemente em equinos, felídeos
e canídeos.
Nós
como formandas em Biologia acreditamos que as aplicações da etologia são de
grande importância para o desenvolvimento dessa área da ciência. A etologia
clínica em questão é a parte que trata da prevenção,
diagnóstico e tratamentos dos transtornos do comportamento animal. Sendo assim,
é de grande importância na aplicação do bem estar animal. Por
exemplo, em animais cativos em zoológicos, parques, entre outros, que possuem um
comportamento estereotipado, ou
seja, se comportam de maneira diferente da qual se comportariam em seu habitat
natural. Visto isso o profissional de biologia conhecendo o comportamento
natural do animal em questão poderia identificar esse comportamento diferenciado e
relacionar com sua saúde física e mental e por sua vez tentar encontrar
maneiras de reverter essa situação e consequentemente melhorar seu bem estar,
através de medidas de enriquecimento ambiental, condicionamento por reforço positivo e outros.
O presente
ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:
Antonio Souto, 1999. Etologia Princípios e Reflexões.
Gelson Genaro, 2013. Aplicação de conceitos básicos em
etologia na clínica médica veterinária felina.
César Ades, 2010. Do bicho que vive de ar, em diante: uma
pequena história da Etologia no Brasil.
Elsa Palma Teixeira, 2009. Desvios Comportamentais nas
Espécies Canina e Felina – Panorama Atual e Discussão de casos clínicos.
Juliane de Abreu Campos Machado, 2008. Terapia Assistida por
Animais (TAA).
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