Série
Ensaios: Aplicação da Etologia
Por Isabelle Christine Strachulski
Acadêmica
do curso de Biologia
A etologia
tem
muito a contribuir para a conservação de espécies
(Brusius et al., 2005), pois
identificando os ambientes em que ela ocorre, sua distribuição atual e
abundância, interações
bióticas, morfologia e fisiologia, aspectos demográficos,
comportamentais e estudos genéticos (Cassano, 2006), se tem a chave para a conservação dessa
espécie. O termo etologia apareceu
por volta da metade do século XVIII em publicações da Academia Francesa de Ciências,
sendo utilizado para a descrição de estilos de vida, o que hoje corresponde à ecologia (Del-Claro,
2004). No Brasil o pioneiro no surgimento da ética conservacionista foi André
Rebouças, defendendo a necessidade de se criar parques
nacionais (Rylands & Brandon, 2005 apout Jorge Pádua, 2004). Os programas para a conservação
da biodiversidade têm se preocupado principalmente com levantamentos
de diversidade de espécies, com o funcionamento dos ecossistemas
e com a preservação da variação genética dentro das populações. Entretanto,
estas prioridades têm se modificado recentemente e tomado um novo rumo. Esta
nova direção segue no sentido do estabelecimento de uma visão mais ampla e
integrada da biodiversidade. Trata-se de olhar a biodiversidade não apenas como
frequências e abundâncias relativas de espécies, mas como conjuntos de
interações. A solução dos novos problemas que se apresentam, passa pelo redescobrimento
do estudo do comportamento animal e história natural, utilizados agora como ferramentas
básicas para a compreensão de interações e biodiversidade, com aplicação direta
em programas
de conservação (Del-Claro, 2007). Em 2004, Brusius et al desenvolveram um projeto de
pesquisa sobre o comportamento de oito antas Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758), no Centro
de Visitantes do Parque Estadual Serra do Tabuleiro (PEST).
Os conhecimentos gerados sobre o comportamento dessa espécie foram utilizados
posteriormente em um projeto de educação
ambiental, pois T. terrestris apresenta
grande importância na região como predadores e propagadores de espécies
vegetais, além de estar listada como ameaçada de extinção. Na década de 1980
esse mesmo parque foi palco de um projeto de reintrodução de fauna desaparecida
da Baixada
do Maciambu, onde várias espécies, como capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris Linnaeus
1766) e emas (Rhea americana
Linnaeus 1758) já estão a mais de duas décadas vivendo em cativeiro.
Eu,
formanda em Biologia, estou estudando comportamento de morcegos, que por serem
animais noturnos e voadores, possuem sua biologia e ecologia pouco conhecida,
devido a dificuldades em estudá-los. Porém a etologia está
mudando esse quadro, tornando possível o entendimento do comportamento dessas
espécies para sua posterior conservação. Meus animais de estudo são três espécies de filostomídeos
frugívoros: Artibeus lituratus (Olfers, 1818), Carollia perspicillata (Linnaeus,
1758) e Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810), presentes no morcegário do Criadouro Científico do Museu de História Natural do Capão da
Imbuia (MHNCI). Nesse
mesmo local essas espécies já foram sujeitos de uma série de estudos sobre a relação morcego planta, principalmente sobre a escolha relativa a
frutos e/ou seus óleos essenciais (Parolin et
al. no prelo). Os morcegos frugívoros, ao utilizarem plantas em sua dieta,
agem como dispersores de sementes, contribuindo para o estabelecimento de
muitas espécies de plantas e influenciando o processo de regeneração e sucessão
secundária na formação de florestas (Vieira & Cardoso, 2007 apout Passos et al., 2003), por isso é muito importante
conhecer os mecanismos presentes na interação planta morcego que permitem a análise e estabelecimento de projetos de
reflorestamento, manejo de morcegos e a geração de programas
de conservação (Vieira & Cardoso, 2007). Vieira & Cardoso (2007) estudaram o
consumo de frutos por filostomídeos na Floresta Nacional
de Lorena, que
representa um fragmento de Mata Atlântica em processo de regeneração. Foram
capturados exemplares representantes de cinco espécies: A. lituratus, C. perspicillata, Glossophaga soricina (Pallas, 1766), Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) e S. lilium. Amostras fecais foram
obtidas em sacos de algodão, onde os morcegos permaneciam após captura, e
analisadas em estereoscópio óptico. Os recursos mais utilizados por essas
espécies foram piperáceas, solanáceas e cecropiáceas, fato que os autores
aproveitaram para reforçar a importância destes animais no processo de
regeneração em Mata Atlântica.
Mas
para que continuem desempenhando seu papel no ambiente, esses frugívoros também precisam ser conservados. Nesse ponto
a etologia tem contribuído significativamente, através de estudos sobre relações intra e interespecificas dessas espécies. Miranda & Bernardi (2006)
realizaram um trabalho na Escarpa Devoniana, esclarecendo aspectos da história natural de
Mimon
Bennetti (Gray, 1838),
espécie ameaçada de extinção e que se encontra na categoria vulnerável para o
Estado do Paraná (Miranda & Bernardi, 2006 apout Margarido & Braga 2004). Em algumas oportunidades M.
Bennetti foi
vista utilizando como abrigo diurno uma caverna calcária chamada Toca da Onça, onde os
agrupamentos de indivíduos observados foram respectivamente sete, quatro, três,
quatro, dois, um e um indivíduos, sem contato corporal. Além da espécie alvo,
foram capturados saindo da caverna um exemplar de Desmodus
rotundus (E.
Geoffroy, 1810) e um de S.
lilium, porém não foram
avistados agrupamentos destas espécies. Os resultados obtidos corroboram com
estudos anteriores, citados pelos autores no trabalho. Trajano (1984) observou M.
Bennetti coabitando
com C. perspicillata, D.
rotundus, Diphylla
ecaudata (Spix, 1823)
e Myotis
nigricans (Schinz,
1821). O tamanho dos agrupamentos é parecido com os observados por Arita (1993)
que descreveu colônias pequenas com menos de dez indivíduos. Ainda, os autores
ressaltam a importância do registro de novos pontos de ocorrência de M.
Bennetti no
quadro de conservação de morcegos, principalmente no Paraná.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina
de Etologia, baseando-se nas obras:
Brusius, L., Oliveira, L., & Filho Machado, L. (2005).
Difusão dos conhecimentos sobre comportamento da fauna silvestre como
instrumento de conservação. Revista
Eletrônica de Extensão 2(3).
Cassano,
C. (2006). Ecologia e conservação da preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus
Illiger, 1811) no sul da Bahia. Programa
de Pós-graduação em Zoologia.
Del-Claro, K. (2007).
Comportamento animal, interações ecológicas e conservação. Sociedade
de Ecologia do
Brasil.
Del-Claro, K. (2004). Comportamento Animal - Uma introdução à
ecologia comportamental. Jundiaí: Livraria Conceito.
Miranda, J. M. D., & Bernardi,
I. P. (2006). Aspectos da história natural de
Mimon bennettii (Gray) na Escarpa Devoniana, Estado do Paraná, Brasil
(Chiroptera, Phyllostomidae). Revista
Brasileira de Zoologia, 23(4), 1258-1260.
Rylands,
A., & Brandon, K. (2005). Unidades de conservação brasileiras. Megadiversidade
1(1), 27-35.
Vieira,
M.R.M., & Cardoso, M. (2007). Frugivoria por morcegos filostomídeos
(Chiroptera: Phyllostomidae) em área de regeneração, no Município de Lorena, Estado
de São Paulo. Anais do VIII Congresso de
Ecologia do Brasil.
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Olá Isabelle, sou Jéssica também bióloga e fiquei curiosa com a foto dos morcegos brancos em cima da folha de bananeira. Gostaria de saber se a foto é de sua autoria e se essa coloração é característica de filhotes ou seria algo relacionado com albinismo.
ResponderExcluirObrigada.