Série Ensaios: Aplicação da Etologia
Por Francys Emanuelle da Costa e
Tabata Carvalho
Acadêmicas do Curso de Biologia da PUC Paraná
Etologia é a ciência que estuda o comportamento animal, ou seja, as reações do animal ao ambiente que o
cerca, ou a alterações internas (metabólicas), objetivando o equilíbrio, também conhecida como homeostase. Para auxiliar este estudo a biologia molecular vem sendo muito utilizada, pois trata-se de uma ferramenta
indispensável para avaliação da relação evolutiva entre grupos de organismos, a
filogenia. O estudo da evolução do comportamento é tão antigo quanto o
próprio darwinismo, tendo seu criador Charles Darwin, enfrentado muitos problemas ao lançar livros como “A descendência do homem” e “A expressão das emoções no homem e
nos animais”. Na
década de 1930, Konrad Lorenz, Karl von Frisch e Niko Tinbergen fundam a Etologia, em que cada
espécie é dotada de seu repertorio de padrões comportamentais, como da sua
particularidade anatômica, e cabe aos etólologos estudarem estes padrões de
comportamentos específicos de cada espécies. Em 1963 Tinbergen propôs um método para este estudo onde deve-se
observar e descrever o comportamento, e posteriormente analisa-lo com base nas análises
causal, ontogenética, filogenética e funcional, que relacionam estímulos
externos, mecanismos motivacionais externos, o tempo no processo de
diferenciação e desenvolvimento de um indivíduo jovem, a história no curso de
evolução da espécie, e a relação entre o comportamento e as mudanças do
ambiente ou do próprio ser vivo. O uso de conceitos desenvolvidos no contexto
de comportamento animal para análise do comportamento humano é ilustrado por
diversos trabalhos: Tinbergen em 1977, propõe uma análise baseada no modelo
etológico de conflito para compreensão do autismo infantil. Hinde em1972,
referiu-se à possibilidade de utilizar resultados obtidos com comportamento
animal para aprofundar o conhecimento sobre o ser humano, exemplo, estudos de
isolamento social e separação mãe e filho em primatas não-humanos, que
enriqueceram a compreensão do desenvolvimento sócio afetivo em crianças.
O estudo evolutivo do
comportamento não se reduz aos mecanismos do comportamento mas, estuda sua
função adaptativa e seu desenvolvimento filogenético. Atualmente,
existe uma forte tendência em se reconhecer os diferentes grupos de organismos
vivos com base em suas histórias evolutivas e características moleculares,
estando a filogenia e etologia sempre em uso comum mesmo que indiretamente.
Como exemplo um estudo muito interessante sobre A
evolução dos gatos, que auxiliou na montagem de uma arvore filogenética da
família Felidae, comparando seus DNAs e estimando o tempo de separação das
espécies; outro estudo envolvendo felinos mostra que o tigre compartilha 95,6% do seu
genoma com gato doméstico, do qual se diferenciou há 10,8 milhões de anos. Com aves, um estudo
sobre a filogenia de Acipitrideos sugerem tempo de diversificação dos
mesmos, colonização em diferentes regiões, evolução do comportamento migratório,
especiação, evolução de linhagens independentes, relacionando história à
ocupação de determinados habitats. Em humanos um exemplo pode ser dado com
reflexões sobre a origem do amor no ser humano, que avalia a participação do amor
no surgimento e evolução da espécie humana, com base em estudos etológicos, e
sua importância para organização e estruturação interna da mesma.
Como exemplo claro desta
associação (evolução-comportamento) temos a Bioacústica, que consiste no estudo dos sons emitidos por diferentes
espécies na natureza (comunicação animal). Desde o princípio houve a
necessidade de organizar as “sonotecas”, abrindo caminho para outras linhagens: filogenia e etologia, que
auxiliaram na sistemática de aves onde somente a taxonomia estava avançada, diferente de parâmetros como a filogenia, levando à
descoberta de novas espécies; e etológicamente falando foi possível incorporar
descrições precisas dos sinais de comunicação sonora e seus contextos
comportamentais, evidenciando funções biológicas dos sons emitidos por
determinada espécie, cada ave possui um dialeto específico formado de acordo com hábitat que define um sistema
bioacústico particular, ligado ao ambiente em que o indivíduo se encontra,
sendo este propicio ou não ao aprendizado de dialetos por componentes
genéticos, formações biológicas, etc. como explicado no seguintes estudos: Cantos, freqüências e aprendizado de
dialetos específicos
e Fisiologia do canto. A
partir daí apareceram padrões resultantes de tendências evolutivas e
adaptativas, e segundo Vielliard & Silva (2000), os sistemas de comunicação e seus
sinais não surgiram ao acaso, como todo fenômeno biológico, eles são derivados
de estruturas anteriores e moldados por processos evolutivos. Portanto, o
comportamento de comunicação sonora e os próprios sinais acústicos apresentam
uma ontogênese e uma filogenia que refletem sua
evolução. Em anfíbios anuros a emissão de sons (coachos) é o
principal método usado por machos para comunicação com indivíduos da mesma
espécie, possuindo padrões conservativos, ou seja, são determinados
geneticamente. Os cantos podem ser de anuncio, territorial, de encontro, corte,
de soltura, stress, e durante interações agonísticas, podendo ser compostos (ex. territorial
e corte simultaneamente), apresentados em: O sistema de comunicação em anuros. Os machos escolhem o sítio de
reprodução e vocalizam para atração de fêmeas, algumas espécies que habitam
áreas próximas a cachoeiras precisam vencer o som das aguas para chamar a
atenção, então desenvolveram mecanismo alternativo à vocalização, realizam
movimentos com membros para sinalizar, como pode ser observado no seguinte
vídeo: Anfíbio vocalizando. Na comunicação entre insetos eles utilizam vibrações sísmicas, a
vibração é transmitida através do solo, e traduzida pelos sensores do indivíduo
receptor da mensagem, mostrando-se uma comunicação extremamente sofisticada:
sendo capazes de identificar desastre como terremotos por exemplo. Destaca-se
também a comunicação química (feromônios), por odores, que percorre distancias tão grandes quanto a
sonora.
O comportamento humano apresenta aspectos semelhantes e diferentes dos outros animais,
por exemplo, em ratos a estimulação hormonal durante a gravidez é fundamental
para o início do comportamento materno, em humanos o controle ambiental,
cultural e a experiência são decisivos,
mas nas duas espécies o contato físico é essencial para a interação pais-bebê,
outra semelhança é o choro do bebê que tem as mesmas funções tanto em humanos
quanto em ratos, orientar os pais em direção ao filhote, nestes últimos o choro
seriam as vocalizações ultrassônicas por eles emitidos. Estes sons ultrassônicos
foram estudados pelo neurocientista Prof. Jaak Panksepp, que ao trabalhar com
pequenos roedores e utilizar um equipamento que nos torna audível os ultrassons
por eles emitidos, notou que os ratos gargalhavam quando neles eram feitas
cócegas. Nós humanos, somos capazes de detectar algumas frequências sonoras de
acordo com nossa idade, quanto mais velho menos é a frequência que conseguimos
ouvir, alguns adolescentes utilizam-se desta vantagem e colocam esses apitos
com alta frequência como toque de celular, pois assim não são notados ao
receber ligações.
Nós formandas em Biologia
acreditamos que a etologia desde sempre vem abrindo portas para o entendimento
da adaptação das espécies e consequente seleção natural. Pois todo
comportamento dá-se em resposta a algum fator: perigo, forrageio, reprodução, sendo este percebido e expressado pelo organismo conforme
sua necessidade, o canto, o choro, ou a liberação de substancias químicas são
maneiras de comunicação dos seres vivos, em alguns casos esta comunicação é
definida geneticamente, em outros é aprendida, sendo o comportamento o moldado
pela adaptação, levando à evolução das espécies conforme a dinâmica do
ambiente em que se encontra, ampliando assim a diversidade animal, pois segundo
Vieira (2005), o comportamento é produto da evolução filogenética.
O presente ensaio foi elaborado para
disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:
ADES,
C. Cucos, formigas, abelhas e a evolução
dos instintos. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas,
v. 7, n. 1, p. 179-194, jan.-abr. 2012.
AMARAL,
F. S. R. Estudos moleculares em acipitrídeos (Aves, Accipitridae): uma
perspectiva evolutiva. Tese submetida ao Instituto de Biociências de São
Paulo para obtenção do título de Doutorado. São Paulo, 2008.
BRAZ,
A. L. N. Reflexões sobre as origens do amor no ser humano. Psicol. Am. Lat. n.5 México
fev. 2006.
CARVALHO,
A. M. A. Etologia e comportamento social.
Resumo ministrado ao IV Encontro Nacional de Psicologia Social. ABRAPSO/UFES –
1988.
COELHO, M. Fábrica de pios de aves: fisiologia
do canto. Revista geográfica universal.
Nº 130. 1985.
COUTINHO,
F. A. Evolução do comportamento.
Disponível em: .
Acesso em 20 de março de 2014.
MARCO
EVOLUTIVO. Ratos sentem cócegas e dão
gargalhadas. 2008. Disponível em: .
Acesso em 20 de abril de 2014.
PORTAL
EDUCAÇÃO. Vocalização. 2012.
Disponível em: .
Acesso em 02 de abril de 2014.
SANTOS,
M. P. Ecologia Reprodutiva de Hypsiboas
albopunctatus (Spix 1824) (Anura, Hylidae), no município de Cocalzinho de
Goiás, leste do estado de Goiás. Tese apresentada à Universidade Federal de
Goiás para obtenção do título de Mestrado. Goiânia, 2008.
SNOWDON,
C. T. O significado da pesquisa em comportamento animal. Estudos de psicologia, 4 (2), 365-373. Universidade de Wisconsin,
1999.
VIEIRA,
M. L. Contribuições da Etologia para a
compreensão do comportamento humano. Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2005.
VIELLIARD,
J. & SILVA, M. L. A Bioacústica como
ferramenta de pesquisa em Comportamento animal. Unicamp. São Paulo, 2000.
WIKI
AVES. A vocalização das aves. 2014.
Disponível em: . Acesso
em 22 de abril de 2014.
ZUANON,
A. C. A. Instinto, etologia e a teoria de Konrad Lorenz. Ciência & Educação, v. 13, n. 3, p. 337-349. 2007.
Links para documentários
e vocalizações