domingo, 27 de abril de 2014

Comportamento animal como produto da evolução filogenética


Série Ensaios: Aplicação da Etologia
 
Por Francys Emanuelle da Costa e Tabata Carvalho

Acadêmicas do Curso de Biologia da PUC Paraná

 
Etologia é a ciência que estuda o comportamento animal, ou seja, as reações do animal ao ambiente que o cerca, ou a alterações internas (metabólicas), objetivando o equilíbrio, também conhecida como homeostase. Para auxiliar este estudo a biologia molecular vem sendo muito utilizada, pois trata-se de uma ferramenta indispensável para avaliação da relação evolutiva entre grupos de organismos, a filogenia. O estudo da evolução do comportamento é tão antigo quanto o próprio darwinismo, tendo seu criador Charles Darwin, enfrentado muitos problemas ao lançar livros como “A descendência do homem” e “A expressão das emoções no homem e nos animais”. Na década de 1930, Konrad Lorenz,  Karl von Frisch  e Niko Tinbergen fundam a Etologia, em que cada espécie é dotada de seu repertorio de padrões comportamentais, como da sua particularidade anatômica, e cabe aos etólologos estudarem estes padrões de comportamentos específicos de cada espécies. Em 1963 Tinbergen propôs um método para este estudo onde deve-se observar e descrever o comportamento, e posteriormente analisa-lo com base nas análises causal, ontogenética, filogenética e funcional, que relacionam estímulos externos, mecanismos motivacionais externos, o tempo no processo de diferenciação e desenvolvimento de um indivíduo jovem, a história no curso de evolução da espécie, e a relação entre o comportamento e as mudanças do ambiente ou do próprio ser vivo. O uso de conceitos desenvolvidos no contexto de comportamento animal para análise do comportamento humano é ilustrado por diversos trabalhos: Tinbergen em 1977, propõe uma análise baseada no modelo etológico de conflito para compreensão do autismo infantil. Hinde em1972, referiu-se à possibilidade de utilizar resultados obtidos com comportamento animal para aprofundar o conhecimento sobre o ser humano, exemplo, estudos de isolamento social e separação mãe e filho em primatas não-humanos, que enriqueceram a compreensão do desenvolvimento sócio afetivo em crianças.

O estudo evolutivo do comportamento não se reduz aos mecanismos do comportamento mas, estuda sua função adaptativa e seu desenvolvimento filogenético. Atualmente, existe uma forte tendência em se reconhecer os diferentes grupos de organismos vivos com base em suas histórias evolutivas e características moleculares, estando a filogenia e etologia sempre em uso comum mesmo que indiretamente. Como exemplo um estudo muito interessante sobre A evolução dos gatos, que auxiliou na montagem de uma arvore filogenética da família Felidae, comparando seus DNAs e estimando o tempo de separação das espécies; outro estudo envolvendo felinos mostra que o tigre compartilha 95,6% do seu genoma com gato doméstico, do qual se diferenciou há 10,8 milhões de anos. Com aves, um estudo sobre a filogenia de Acipitrideos sugerem tempo de diversificação dos mesmos, colonização em diferentes regiões, evolução do comportamento migratório, especiação, evolução de linhagens independentes, relacionando história à ocupação de determinados habitats. Em humanos um exemplo pode ser dado com reflexões sobre a origem do amor no ser humano, que avalia a participação do amor no surgimento e evolução da espécie humana, com base em estudos etológicos, e sua importância para organização e estruturação interna da mesma.

Como exemplo claro desta associação (evolução-comportamento) temos a Bioacústica, que consiste no estudo dos sons emitidos por diferentes espécies na natureza (comunicação animal). Desde o princípio houve a necessidade de organizar as “sonotecas”, abrindo caminho para outras linhagens: filogenia e etologia, que auxiliaram na sistemática de aves onde somente a taxonomia estava avançada, diferente de parâmetros como a filogenia, levando à descoberta de novas espécies; e etológicamente falando foi possível incorporar descrições precisas dos sinais de comunicação sonora e seus contextos comportamentais, evidenciando funções biológicas dos sons emitidos por determinada espécie, cada ave possui um dialeto específico formado de acordo com hábitat que define um sistema bioacústico particular, ligado ao ambiente em que o indivíduo se encontra, sendo este propicio ou não ao aprendizado de dialetos por componentes genéticos, formações biológicas, etc. como explicado no seguintes estudos: Cantos, freqüências e aprendizado de dialetos específicos e Fisiologia do canto.   A partir daí apareceram padrões resultantes de tendências evolutivas e adaptativas, e segundo Vielliard & Silva (2000), os sistemas de comunicação e seus sinais não surgiram ao acaso, como todo fenômeno biológico, eles são derivados de estruturas anteriores e moldados por processos evolutivos. Portanto, o comportamento de comunicação sonora e os próprios sinais acústicos apresentam uma ontogênese e uma filogenia que refletem sua evolução. Em anfíbios anuros a emissão de sons (coachos) é o principal método usado por machos para comunicação com indivíduos da mesma espécie, possuindo padrões conservativos, ou seja, são determinados geneticamente. Os cantos podem ser de anuncio, territorial, de encontro, corte, de soltura, stress, e durante interações agonísticas, podendo ser compostos (ex. territorial e corte simultaneamente), apresentados em: O sistema de comunicação em anuros. Os machos escolhem o sítio de reprodução e vocalizam para atração de fêmeas, algumas espécies que habitam áreas próximas a cachoeiras precisam vencer o som das aguas para chamar a atenção, então desenvolveram mecanismo alternativo à vocalização, realizam movimentos com membros para sinalizar, como pode ser observado no seguinte vídeo: Anfíbio vocalizando. Na comunicação entre insetos eles utilizam vibrações sísmicas, a vibração é transmitida através do solo, e traduzida pelos sensores do indivíduo receptor da mensagem, mostrando-se uma comunicação extremamente sofisticada: sendo capazes de identificar desastre como terremotos por exemplo. Destaca-se também a comunicação química (feromônios), por odores, que percorre distancias tão grandes quanto a sonora.

O comportamento humano apresenta aspectos semelhantes e diferentes dos outros animais, por exemplo, em ratos a estimulação hormonal durante a gravidez é fundamental para o início do comportamento materno, em humanos o controle ambiental, cultural e a  experiência são decisivos, mas nas duas espécies o contato físico é essencial para a interação pais-bebê, outra semelhança é o choro do bebê que tem as mesmas funções tanto em humanos quanto em ratos, orientar os pais em direção ao filhote, nestes últimos o choro seriam as vocalizações ultrassônicas por eles emitidos. Estes sons ultrassônicos foram estudados pelo neurocientista Prof. Jaak Panksepp, que ao trabalhar com pequenos roedores e utilizar um equipamento que nos torna audível os ultrassons por eles emitidos, notou que os ratos gargalhavam quando neles eram feitas cócegas. Nós humanos, somos capazes de detectar algumas frequências sonoras de acordo com nossa idade, quanto mais velho menos é a frequência que conseguimos ouvir, alguns adolescentes utilizam-se desta vantagem e colocam esses apitos com alta frequência como toque de celular, pois assim não são notados ao receber ligações.

Nós formandas em Biologia acreditamos que a etologia desde sempre vem abrindo portas para o entendimento da adaptação das espécies e consequente seleção natural. Pois todo comportamento dá-se em resposta a algum fator: perigo, forrageio, reprodução, sendo este percebido e expressado pelo organismo conforme sua necessidade, o canto, o choro, ou a liberação de substancias químicas são maneiras de comunicação dos seres vivos, em alguns casos esta comunicação é definida geneticamente, em outros é aprendida, sendo o comportamento o moldado pela adaptação, levando à evolução das espécies conforme a dinâmica do ambiente em que se encontra, ampliando assim a diversidade animal, pois segundo Vieira (2005), o comportamento é produto da evolução filogenética.

 

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:

 

ADES, C. Cucos, formigas, abelhas e a evolução dos instintos. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 7, n. 1, p. 179-194, jan.-abr. 2012.

AMARAL, F. S. R.  Estudos moleculares em acipitrídeos (Aves, Accipitridae): uma perspectiva evolutiva. Tese submetida ao Instituto de Biociências de São Paulo para obtenção do título de Doutorado. São Paulo, 2008.

BRAZ, A. L. N. Reflexões sobre as origens do amor no ser humano. Psicol. Am. Lat.  n.5 México fev. 2006.

CARVALHO, A. M. A. Etologia e comportamento social. Resumo ministrado ao IV Encontro Nacional de Psicologia Social. ABRAPSO/UFES – 1988.

 COELHO, M. Fábrica de pios de aves: fisiologia do canto. Revista geográfica universal. Nº 130. 1985.

COUTINHO, F. A. Evolução do comportamento. Disponível em: . Acesso em 20 de março de 2014.

MARCO EVOLUTIVO. Ratos sentem cócegas e dão gargalhadas. 2008. Disponível em: . Acesso em 20 de abril de 2014.

PORTAL EDUCAÇÃO. Vocalização. 2012. Disponível em: . Acesso em 02 de abril de 2014.

SANTOS, M. P. Ecologia Reprodutiva de Hypsiboas albopunctatus (Spix 1824) (Anura, Hylidae), no município de Cocalzinho de Goiás, leste do estado de Goiás. Tese apresentada à Universidade Federal de Goiás para obtenção do título de Mestrado. Goiânia, 2008.

SNOWDON, C. T. O significado da pesquisa em comportamento animal. Estudos de psicologia, 4 (2), 365-373. Universidade de Wisconsin, 1999.

VIEIRA, M. L. Contribuições da Etologia para a compreensão do comportamento humano. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.

VIELLIARD, J. & SILVA, M. L. A Bioacústica como ferramenta de pesquisa em Comportamento animal. Unicamp. São Paulo, 2000.

WIKI AVES. A vocalização das aves. 2014. Disponível em: . Acesso em 22 de abril de 2014.

ZUANON, A. C. A. Instinto, etologia e a teoria de Konrad Lorenz. Ciência & Educação, v. 13, n. 3, p. 337-349. 2007.

 

 

 

 

 

Links para documentários e vocalizações

 











Paleoetologia – Entendendo a História do Comportamento Animal


Série Ensaios: Aplicação da Etologia

 

Por Alex da Costa Picoli, Giuliano Menegale Martinazzo e Victor Atalibio Guarda.

Acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas




Há muitos anos existiam no planeta seres os quais pouco se sabe hoje em dia. Existe uma lacuna no conhecimento científico em relação a esta época. Isso se deve justamente ao fato de não termos muitas evidências claras oriundas desta época. Com o desenvolvimento tecnológico e científico, nos tempos de hoje, já é possível fazer algumas análises tais como carbono 14 para averiguar a idade do material ou até mesmo morfometria destes seres, sejam eles animais ou plantas. Não apenas animais, como vestígios deixados pelo homem antigo nos dão ideias do comportamento no ambiente em que estavam inseridos, no Brasil muitos estudos relacionados a sambaquis, mostram que perto destes amontoados de conchas, existiam fogueiras, restos de alimentos, ferramentas utilizadas, além de sepultamentos realizados pelos índios do litoral brasileiro. A paleoetologia é a ciência que estuda o comportamento de organismos a partir de registros fósseis. Este tipo de estudo é de fundamental importância para entendermos as relações intra e interespecíficas das espécies existentes na antiguidade. Deste modo torna-se possível montar algumas estimativas comportamentais que ocorriam na época dos dinossauros, por exemplo. Quando analisamos o comportamento de algum animal, podemos ir muito mais longe do que o próprio comportamento do mesmo. Os fósseis podem nos dar informações de extrema importância e estes são a matéria prima de qualquer estudo de paleoetologia. Dependendo do fóssil, é possível mapear comportamentos que nos levam a conclusões bem precisas, tais como, estilo de vida do animal, e com isto em mão estão abertas as portas necessárias para criar uma simulação de habitat e de como poderiam ser algumas das variações comportamentais dos seres estudados, sendo assim possível recriar com ajuda de programas de digitalização algumas possíveis cenas desta época. Estas podem demonstrar com mais clareza como os animais se comportavam quando havia um encontro indesejado, quando caçavam e, inclusive, alguns comportamentos reprodutivos. Também é possível averiguar como eram as táticas de defesa e até qual foi o evento que levou a morte dos indivíduos.    A paleoetologia é uma ciência relativamente nova, a qual não possui muitos registros diretos na literatura.           
Uma das novas áreas da paleoetologia é a tanatoetologia, também conhecida como comportamento da morte, que tenta remontar os comportamentos dos organismos instantes antes de sua morte, podendo ainda remontar o ecossistema em que vive pelo conteúdo estomacal dependendo do seu modo de fossilização e o início de seu processo de fossilização (Martins-Neto & Galego, 2006). Em insetos podemos identificar um comportamento nomeado como Dança da Morte ou da Agonia que segundo FILIPE (2007) o movimento agonizante no substrato gera marcas. Para trilobitas pode ser observado o movimento de enrolamento (imagem) quando a situação no ambiente não está favorável a sua vida ou apresenta algum perigo por algum predador, podendo também expor alguns espinhos que possua na sua região dorsal como defesa.            Umas das grandes descobertas da paleoetologia é a descoberta que algumas espécies de dinossauros apresentavam cuidados parietais com seus filhotes, tudo a partir de evidências fosseis de ninhos encontrados na África do Sul, como é mostrado neste vídeo.  A Etoprimatologia que estuda o comportamento de primatas também pode ser usada na paleoetologia mostrando a história natural do ser humano.           

Nós como formandos de Biologia acreditamos que a paleoetologia ainda é uma ciência realmente nova, então não existem muitos pesquisadores para completar as lacunas que faltam no conhecimento científico, porém mostra ser uma área importantíssima para desvendar as relações inter e intra específicas de épocas remotas.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:

FILIPE, C. H. O. A paleoetologia e a tafonomia como ferramentas para o estudo de casos de evidências de Tanatose em Artrópodes fósseis. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia – Graduação em Ciências Biológicas). Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, 2007.
GASPAR, M. D.; Considerations of the sambaquis of the Brazilian Coast,  Antiquity 72, 1998, 592 – 615.
MARTINS-NETO, R. G; GALEGO, O. F. “Death Beahviour – Thanatoethology, new term and concept: A tahaphnic analysis providing possible paleoethlogic inferences. Specual cases from arthropods of the Santana Formation (Lower Cretaceous, Northeast Brazil), São Paulo, UNESP, Geociências, v. 25, n. 2, p 241 – 254, 2006
http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/pt/tempo/sambaquis/index.html
http://www.oocities.org/capecanaveral/campus/7472/paleontp.html

http://www.ufrgs.br/projetoamora/atividades-integradas/atividades-integradas-2011/um-pouco-da-historia-da-terra
http://www.youtube.com/watch?v=GnDDcJsStJY

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Bioacústica: A evolução que revolucionou a comunicação entre os seres vivos.


Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por Claudia Carolina de Faria, João André Martinson Salesbram & Marcelle Cirio Leite

Acadêmicos do Curso de Biologia



Bioacústica é o estudo dos sons emitidos pelos animais (Vielliard; Silva, 2006), o estudo desses sons são utilizados em diversos ramos da zoologia como fisiologia, biofísica, ecologia, etologia que estudam como os animais produzem e reagem aos sons e também como eles utilizam esse som para comunicação entre eles e a interação dos sons com o meio ambiente (Pereira, 2011). O uso da vocalização no dia-a-dia é antigo, sendo utilizando por caçadores na pré-história que imitavam o som produzido por determinado animal para atraí-lo e então predá-lo, essa prática ainda é mantida por tribos indígenas e caçadores da época atual (Vielliard; Silva, 2006). Algumas tribos indígenas desenvolveram instrumentos para auxiliar a reprodução do som de determinados animais(Sampaio et al. 2009).
Nos seres humanos a frequência audível varia entre 20Hz aos 20 kHz. Os sons produzidos pelos animais podem estar acima ou abaixo da frequência humana. Animais como baleias e elefantes utilizam sons em uma frequência abaixo da frequência audível dos humanos, a essa frequência dá-se o nome de infrassom, que são ondas de longa distância. Animais como morcegos e golfinhos produzem sons acima da frequência de onda perceptível aos humanos (20 kHz), essas ondas são chamadas de ultrassons  (Pereira, 2011). Técnicas foram adaptadas para a reprodução dos sons dos animais. Os ornitólogos criaram guias de campo sobre os sons produzidos pelas aves. No século XVII foi criado um método nomeado transcrição musical  que depois foi renomeado de “Zoophonia” por Hercule Florence (Vielliard; Silva, 2006).  Segundo Rose (2014) o estudo da bioacústica avançou a partir da década de 1960 com o surgimento dos gravadores portáteis que poderiam ser levados a campo. Recentemente o uso de software foi implantado para a análise das vocalizações gravadas (Vielliard 2000), e também o uso de hardware (Obrist et al. 2010). Os microfones e posteriormente os hidrofones também evoluíram conforme a necessidade. Para se estudar a vocalização de uma espécie ou determinado grupo é necessário a utilização de alguns aparelhos. O som é captado por um microfone (cuja escolha deste é fundamental pois determina as características da gravação como, frequência alta ou baixa, campo, sensibilidade de captação, e fidelidade no registro de variações temporais ou modulações) e armazenado em um gravador cuja especificações técnicas devem ser compatíveis com a capacidade do microfone. Para o registro de ultrassons é necessário um sistema que permite monitorar o sinal e um microfone com sensibilidade especial. (Vielliard; Silva, 2006 ).
Os insetos mais estudados são os grilos, esperanças (família Tettigoniidae), gafanhotos, cigarras. “Os insetos produzem sons mais altos em torno do 3 aos 4 kHz e dos 6 aos 8 kHz, através de estridulação (grilos e esperanças) ou por vibração de uma membrana rígida (cigarras)” (Pereira, 2011). A comunicação sonora é importante na biologia reprodutiva e no comportamento social de anuros. O canto de anúncio é feito pelos machos e contém informações espectrais ou temporais importantes para o reconhecimento específico dos indivíduos (Silva; Martins; Rossa-Feres, 2008). Isto vale também para as aves, cuja vocalização apresenta uma variabilidade individual baseada nas diferenças de desenvolvimento comportamental e de maturação (Silva; Silva, 2013).  Os cetáceos possuem visão limitada devido ao seu habitat, para compensar essa limitação, esses animais desenvolveram a comunicação acústica e canais auditivos altamente especializados, para adquirirem as informações do meio através do som. A vocalização pode ser em frequências muito baixas, no caso dos misticetos ( cetáceos com barbatanas) , ou em frequências muito altas, no caso dos odontocetos (cetáceos com dentes) (Pereira, 2011). Em morcegos e golfinhos um campo que vem ganhando destaque é o estudo da ecolocalização apresentada por esses animais. A ecolocalização consiste na capacidade que esses animais apresentam de identificar objetos no espaço através do som (Cunha 2011). Isso é possível pois eles são capazes de  gerar ondas sonoras de alta frequência (ultra-som), essas ondas se deslocam no meio, atingindo o obstáculo frente ao animal e voltam para ele que identifica a posição do obstáculo (Cunha, 2011).Segundo Cunha (2011) foi com base na ecolocalização dos morcegos e dos golfinhos que foi criado o sonar, que quer dizer navegação e mapeamento pelo som.
A bioacústica vem sendo muito utilizada para estudos comportamentais, podendo citar como exemplo de estudos realizados com animais, trabalhos que estão sendo realizados onde a frequência na comunicação dos cetáceos  é medida na presença e na ausência de barcos próximos e os pesquisadores estão avaliando a mudança que ocorre no comportamento desses animais quando as embarcações estão próximas a eles e como isso pode afeta-los. Muitos trabalhos são realizados com aves , onde o pesquisador analisa os diferentes tipos de vocalização da espécie, dependendo do comportamento apresentado por ela. Ainda no caso de trabalhos com aves, está sendo utilizada técnica de play-back. De uma maneira geral estudos comportamentais envolvendo a bioacústica vem sendo utilizados por pesquisadores de diversas espécies, sendo mais frequente nas aves, cetáceos, anuros, primatas, morcegos. Uma novidade bem interessante no campo da bioacústica é um aplicativo desenvolvido para celulares capaz de identificar aves através do canto, um desses aplicativos foi elaborado pelo Planeta Sustentável, da Editora Abril, com a colaboração da WWF Brasil (WWF-Brasil, 2010). O aplicativo tem seu foco principal nas aves da Mata Atlântica, e tem seu conteúdo baseado no livro Aves do Brasil, Uma Visão Artística -  do ornitólogo Tomás Sigrist (WWF-BRASIL, 2010).  Já nos humanos vários avanços vem surgindo com o aprimoramento das técnicas biocústicas. Uma  novidade nessa área é um chip criado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts com a colaboração da universidade de Harvard , o chip está sendo testado em porquinhos da índia e obteve resultados satisfatórios, o chip funciona utilizando a energia da cóclea (estrutura do ouvido) do próprio animal, porém necessita de mais estudos até que possa ser utilizado em humanos (Rocha, 2012).  Outra novidade são pulseiras que pela frequência dos batimentos cardíacos do indivíduo poderão ser utilizadas como senhas para carros, celulares entre outros (Castelli, 2013). Essa pulseira se chama Nymi e está sendo desenvolvida por uma empresa canadense, o funcionamento da pulseira consiste em o individuo pressionar o dedo sobre o sensor da pulseira por dois minutos, assim sua frequência cardíaca após esse tempo é identificada e gravada pela pulseira que a partir daquele momento reconhecerá somente aquele individuo (Castelli, 2013). No campo da Realidade Virtual o usuário acessa no computador, ambientes tridimensionais em tempo real e interage com ele. A experiência do usuário pode ser enriquecida pela estimulação do tato e da audição por exemplo. Esses estímulos são feitos por dispositivos específicos. Os equipamentos para geração de sons nos sistemas de Realidade Virtual são caracterizados por simular o modelo humano de audição. Na simulação os dois ouvidos captam ondas sonoras de todas as direções, são coletados pela concha do ouvido externo e são direcionadas para vários caminhos através do canal auditivo. O cérebro irá processar as características desse som, determonando o local exato da fonte sonora (Machado; Cardoso, 2006).
Nós formandos da Biologia concluímos que o estudo da bioacústica tem sido de muita importância científica pois através dele tem sido possível, entender melhor a comunicação dos animais, e assim compreender melhor aspectos de seu comportamento, da sua ecologia, de como eles interagem entre si e com o meio utilizando os sons.





Bancos de dados de sons:

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:

CASTELLI, I. Já pensou em desbloquear as senhas de smartphones com o batimento cardíaco? (2013). Disponível em: < http://www.tecmundo.com.br/biotecnologia/44127-ja-pensou-em-desbloquear-as-senhas-de-smartphones-com-o-batimento-cardiaco-.htm> Acessado em 02 de abril de 2014
CUNHA, L.P. A utilização da ecolocalização por morcegos. Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Física. Universidade Federal De Rondônia. JI-PARANÁ/RO, 2011.
FROMMOLT, K. H., BARDELI, R., CLAUSEN, M.International Expert meeting on IT-based detection of bioacoustical pattern. Federal Agency for Nature Conservation, International Academy for Nature Conservation (INA), Isle of Vilm. BfN-Skripten, 234: 29-42.

MACHADO, L. S., CARDOSO, A. Dispositivos de entrada e saída para sistemas de realidade virtual. In: TORI, R., KIRNER, C., SISCOUTO, R. Fundamentos e tecnologia da realidade virtual aumentada. Porto Alegre: SBC, 2006. p 39-50.

OBRIST, M. K., BOESCH, R. & FLÜCKIGER, P. F. (2008) Probabilistic evaluation of synergetic ultrasound pattern recognition for large scale bat surveys. In: Vielliard, J. M. E. (2000) Bird community as an indicator of biodiversity: results from quantitative surveys in Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, 72: 323-330.

PEREIRA, S. M. N. A influência da bioacústica na evolução da ciência em Portugal: Interface da bioacústica e monitorização da biodiversidade. (Mestrado em gestão e conservação de recursos naturais). Universidade técnica de Lisboa, Lisboa, 2011.

ROCHA, M. Ouvido cheio de energia (2012). Disponível em: < http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2012/11/ouvido-cheio-de-energia > . Acessado em 02 de abril de 2014

ROSE, J. Bioacústica facilita o monitoramento da fauna. Jornal da Universidade Federal do Pará, 2004. Ano XXVIII (117)<.http://www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/index.php/2004/52-edicao-18/609-bioacustica-facilita-monitoramento-da-fauna> Acessado em 23 de março de 2014.

SAMPAIO, J.A; CASTRO, M.S; SILVA, F.O. Uso da cera de abelhas pelos índios pankararé no raso da Catarina, Bahia, Brasil. Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, 67, (1-2), p.3-12, 2009.

SILVA, R. A., MARTINS, I. A., ROSA-FERES,D. C. Bioacústica e sítio de vocalização em taxocenoses de anuros de área aberta no noroeste paulista. Biota neotropical, 2008; 8 (3): 124-134. 

SILVA, R. L. M., SILVA, L. A. M., Vocalizações da Coruja-do-mato (Strix aluco): Uma análise bioacústica, 2013. (Mestrado em Biologia Aplicada)- Universidade de Aveiro, Portugal.

VIELLIARD, J., SILVA, M.L. A Bioacústica como ferramenta de pesquisa em Comportamento animal. 2006. Disponível em: < http://www.ufpa.br/lobio/Resumoscongressos/Bioacusticacomoferramenta.pdf > Acessado em 22 de março de 2014

VIELLIARD, J. M. E. (2000) Comunidade de aves como um indicador da biodiversidade: resultados de inquéritos de quantidade no Brasil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, 72: 323-330

WWF-Brasil (2010). Aplicativo para iPhone reconhece aves da Mata Atlântica Disponivel em: http://www.wwf.org.br/?27182/Aplicativo-para-iPhone-reconhece-aves-da-Mata-Atlantica  . Acessado em 02 de abril de 2014

A etologia desvendando o papel de morcegos frugívoros na conservação



Série Ensaios: Aplicação da Etologia

Por Isabelle Christine Strachulski

Acadêmica do curso de Biologia


A etologia tem muito a contribuir para a conservação de espécies (Brusius et al., 2005), pois identificando os ambientes em que ela ocorre, sua distribuição atual e abundância, interações bióticas, morfologia e fisiologia, aspectos demográficos, comportamentais e estudos genéticos (Cassano, 2006), se tem a chave para a conservação dessa espécie. O termo etologia apareceu por volta da metade do século XVIII em publicações da Academia Francesa de Ciências, sendo utilizado para a descrição de estilos de vida, o que hoje corresponde à ecologia (Del-Claro, 2004). No Brasil o pioneiro no surgimento da ética conservacionista foi André Rebouças, defendendo a necessidade de se criar parques nacionais (Rylands & Brandon, 2005 apout Jorge Pádua, 2004). Os programas para a conservação da biodiversidade têm se preocupado principalmente com levantamentos de diversidade de espécies, com o funcionamento dos ecossistemas e com a preservação da variação genética dentro das populações. Entretanto, estas prioridades têm se modificado recentemente e tomado um novo rumo. Esta nova direção segue no sentido do estabelecimento de uma visão mais ampla e integrada da biodiversidade. Trata-se de olhar a biodiversidade não apenas como frequências e abundâncias relativas de espécies, mas como conjuntos de interações. A solução dos novos problemas que se apresentam, passa pelo redescobrimento do estudo do comportamento animal e história natural, utilizados agora como ferramentas básicas para a compreensão de interações e biodiversidade, com aplicação direta em programas de conservação (Del-Claro, 2007). Em 2004, Brusius et al desenvolveram um projeto de pesquisa sobre o comportamento de oito antas Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758), no Centro de Visitantes do Parque Estadual Serra do Tabuleiro (PEST). Os conhecimentos gerados sobre o comportamento dessa espécie foram utilizados posteriormente em um projeto de educação ambiental, pois T. terrestris apresenta grande importância na região como predadores e propagadores de espécies vegetais, além de estar listada como ameaçada de extinção. Na década de 1980 esse mesmo parque foi palco de um projeto de reintrodução de fauna desaparecida da Baixada do Maciambu, onde várias espécies, como capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris Linnaeus 1766) e emas (Rhea americana Linnaeus 1758) já estão a mais de duas décadas vivendo em cativeiro.

Eu, formanda em Biologia, estou estudando comportamento de morcegos, que por serem animais noturnos e voadores, possuem sua biologia e ecologia pouco conhecida, devido a dificuldades em estudá-los. Porém a etologia está mudando esse quadro, tornando possível o entendimento do comportamento dessas espécies para sua posterior conservação. Meus animais de estudo são três espécies de filostomídeos frugívoros: Artibeus lituratus (Olfers, 1818), Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) e Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810), presentes no morcegário do Criadouro Científico do Museu de História Natural do Capão da Imbuia (MHNCI). Nesse mesmo local essas espécies já foram sujeitos de uma série de estudos sobre a relação morcego planta, principalmente sobre a escolha relativa a frutos e/ou seus óleos essenciais (Parolin et al. no prelo). Os morcegos frugívoros, ao utilizarem plantas em sua dieta, agem como dispersores de sementes, contribuindo para o estabelecimento de muitas espécies de plantas e influenciando o processo de regeneração e sucessão secundária na formação de florestas (Vieira & Cardoso, 2007 apout Passos et al., 2003), por isso é muito importante conhecer os mecanismos presentes na interação planta morcego que permitem a análise e estabelecimento de projetos de reflorestamento, manejo de morcegos e a geração de programas de conservação (Vieira & Cardoso, 2007). Vieira & Cardoso (2007) estudaram o consumo de frutos por filostomídeos na Floresta Nacional de Lorena, que representa um fragmento de Mata Atlântica em processo de regeneração. Foram capturados exemplares representantes de cinco espécies: A. lituratus, C. perspicillata, Glossophaga soricina (Pallas, 1766), Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) e S. lilium. Amostras fecais foram obtidas em sacos de algodão, onde os morcegos permaneciam após captura, e analisadas em estereoscópio óptico. Os recursos mais utilizados por essas espécies foram piperáceas, solanáceas e cecropiáceas, fato que os autores aproveitaram para reforçar a importância destes animais no processo de regeneração em Mata Atlântica.

Mas para que continuem desempenhando seu papel no ambiente, esses frugívoros também precisam ser conservados. Nesse ponto a etologia tem contribuído significativamente, através de estudos sobre relações intra e interespecificas dessas espécies. Miranda & Bernardi (2006) realizaram um trabalho na Escarpa Devoniana, esclarecendo aspectos da história natural de Mimon Bennetti (Gray, 1838), espécie ameaçada de extinção e que se encontra na categoria vulnerável para o Estado do Paraná (Miranda & Bernardi, 2006 apout Margarido & Braga 2004). Em algumas oportunidades M. Bennetti foi vista utilizando como abrigo diurno uma caverna calcária chamada Toca da Onça, onde os agrupamentos de indivíduos observados foram respectivamente sete, quatro, três, quatro, dois, um e um indivíduos, sem contato corporal. Além da espécie alvo, foram capturados saindo da caverna um exemplar de Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810) e um de S. lilium, porém não foram avistados agrupamentos destas espécies. Os resultados obtidos corroboram com estudos anteriores, citados pelos autores no trabalho. Trajano (1984) observou M. Bennetti coabitando com C. perspicillata, D. rotundus, Diphylla ecaudata (Spix, 1823) e Myotis nigricans (Schinz, 1821). O tamanho dos agrupamentos é parecido com os observados por Arita (1993) que descreveu colônias pequenas com menos de dez indivíduos. Ainda, os autores ressaltam a importância do registro de novos pontos de ocorrência de M. Bennetti no quadro de conservação de morcegos, principalmente no Paraná.





O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia, baseando-se nas obras:

Brusius, L., Oliveira, L., & Filho Machado, L. (2005). Difusão dos conhecimentos sobre comportamento da fauna silvestre como instrumento de conservação. Revista Eletrônica de Extensão 2(3).
Cassano, C. (2006). Ecologia e conservação da preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus Illiger, 1811) no sul da Bahia. Programa de Pós-graduação em Zoologia.

Del-Claro, K. (2007). Comportamento animal, interações ecológicas e conservação. Sociedade de Ecologia do Brasil.

Del-Claro, K. (2004). Comportamento Animal - Uma introdução à ecologia comportamental. Jundiaí: Livraria Conceito.

Miranda, J. M. D., & Bernardi, I. P. (2006). Aspectos da história natural de Mimon bennettii (Gray) na Escarpa Devoniana, Estado do Paraná, Brasil (Chiroptera, Phyllostomidae). Revista Brasileira de Zoologia, 23(4), 1258-1260.
Rylands, A., & Brandon, K. (2005). Unidades de conservação brasileiras. Megadiversidade 1(1), 27-35.

Vieira, M.R.M., & Cardoso, M. (2007). Frugivoria por morcegos filostomídeos (Chiroptera: Phyllostomidae) em área de regeneração, no Município de Lorena, Estado de São Paulo. Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil.
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