Série Ensaios: Aplicação da Etologia
Por
Bruno de Oliveira Maciel e Priscila
Zambiasi Silveira
Acadêmicos
do curso de Ciências Biológicas
A Genética
comportamental é um campo de pesquisa no qual a variação entre os indivíduos é
dividida entre componentes biológicos e ambientais. As metodologias mais comuns
de pesquisa são estudos envolvendo famílias, gêmeos e casos de adoção. Tem
demonstrado que praticamente todo aspecto da personalidade humana tem sua
origem tanto em fatores biológicos quanto em fatores ambientais. Uma
das crescentes áreas da genética é a relacionada ao comportamento, que visa
compreender os mecanismos genéticos e neurobiológicos envolvidos em diversos
comportamentos, tanto animal quanto o de seres humanos. Nosso material genético
é incrivelmente complexo assim como em inúmeras vezes são complexas as atitudes
humanas. Em razão disso, os estudos genéticos que visem o entendimento
comportamental requer atenção especial, e cuidado as suas afirmativas. Com a
redescoberta dos estudos realizados por Mendel e os avanços científicos
decorrentes de seus trabalhos surgiu o interesse nas implicações sociais da
genética. Baseado na teoria da seleção natural de Darwin
que afirma que a força é o
verdadeiro estopim para determinar o destino de todas as variações genéticas na
natureza, os homens já na sua antiguidade passaram a aplicar esse mesmo princípio
aos seres humanos, perceberam que as classes menos favorecidas estavam se
reproduzindo mais do que a classes respeitadas, logo os genes considerados
“ruins” estariam aumentando gradativamente na população humana. Francis Galton,
baseando-se no livro A
origem das espécies de
seu primo Darwin, iniciou a verdadeira cruzada social e genética, em 1883 dando
origem ao movimento conhecido por Eugenia. Galton
introduziu o termo eugenia para descrever a aplicação a seres humanos. Com os
anos a eugenia passou a ser vista de outra forma, passou a denominar a
“evolução humana controlada” cujos seguidores
acreditavam que tomando decisões conscientes de quem deveria ou não ter filhos,
seriam capazes de impedir a reprodução das famílias pertencentes às classes
inferiores cujas taxas de reprodução eram caracteristicamente maiores do que
das classes médias superiores (WATSON, 2005).
A área atualmente a eugenia passou a ser explorada com
grande ênfase no campo da produção
animal e vegetal, com a finalidade de aumentar a produção de
alimentos, de modo a tentar acompanhar o crescimento demográfico da população
de certa forma, além do crescimento econômico social, o que leva à população a
ter acesso a certos benefícios outrora não alcançados (LEÃO, 2009). O conceito
básico e clássico para a compreensão do gene é a região
funcional do DNA contida nos cromossomos, cujo papel é codificar proteínas e
que controla característica hereditária (GRIFFTHS et al., 2002). Contudo, nem sempre um caractere hereditário
é determinado por um único gene, pois, podemos tê-lo determinado por um conjunto
de genes agrupados, os supergenes. Também um efeito fenotípico determinado por
um gene pode ser modificado por outros genes situados em outros loci, o que é conhecido como epistase; ou ainda um
gene pode afetar mais de um caractere (efeito
pleiotrópico). A genética tem exercido fortes influencias na
determinação do temperamento
que é investigada principalmente por meio de estudos de genética
comportamental, os quais consideram que os genes são responsáveis por traços ou
comportamentos. É importante frisar, porém que os genes não agem diretamente
sobre o comportamento, eles afetam dimensões das diferenças individuais pela
modificação de estruturas biológicas, regulação de processos em andamento, codificação
de proteínas que afetam estruturas e processos regulativos. Pesquisadores,
biologicamente embasados, têm procurado identificar estruturas particulares,
caminhos neurais, transmissores químicos, ou hormônios, associados às
diferenças individuais. Para Strelau (1998), os genes interagem na determinação
das diferenças individuais, e a transmissão genética está associada à variabilidade
genética nos mecanismos fisiológicos e bioquímicos subjacentes aos traços de
temperamento.
Nós formando de biologia, ressaltamos que quando se
trata de comportamento não é um único gene que determina as ações e sim a
influência de vários genes (interação gênica), no entanto as experiências
individuais e fatores ambientais são capazes de modular os genes. Conforme pontua
Brunoni (2009), o papel dos genes na formação do nosso sistema nervoso central
é preponderante, mas não absoluto quando se trata de desenvolvimento mental.
Outros fatores entram em interação, como os ambientais, os educativos e os
socioculturais. Certo insight sobre a
relação entre eventos de vida, fatores biológicos e comportamento provém dos
estudos conduzidos em primatas não humanos. Macacos, quando privados do
contato materno logo ao nascimento, manifestam comportamentos
automutilatórios que podem servir como modelo do
comportamento suicida relacionado a traços impulsivos e impulsivo-agressivos. A
presença de comportamentos automutilatórios em macacos isolados é
correlacionado com alterações neurobiológicas no sistema serotoninérgico
semelhantes àquelas encontradas em sujeitos que cometem suicídio. Entretanto,
não todos os macacos privados de contato materno manifestam comportamento
automutilatório. Além disso, a intensidade destes comportamentos é variável.
Porém, é interessante notar que uma porção significativa desta variação, assim
como da variação no turnover de serotonina dos animais que
apresentam comportamentos automutilatórios, é controlada por fatores genéticos.
Concluímos então que genética do comportamento não
pode ser confundida com determinismo
genético, ou seja, em que certos comportamentos são preditos
e inevitáveis apesar da capacidade cognitiva do indivíduo; a sua “natureza”
poderá conduzir a contrariedade das suas vontades. Há vários comportamentos que
são intrigantes desafios para o entendimento como: anorexia, ortorexia, transtorno bipolar,. Na
questão psicológica e genética o homossexualismo
talvez seja o mais polêmico, principalmente pelas controvérsias religiosas,
culturais e científicas. Ainda mais que no presente século (XXI) a dita opção
sexual é sempre motivo de grandes debates, principalmente quando abordados em
programas televisivos ou de rádio, há sempre grande audiência quando o tema
está em destaque. Muitos defendem que a orientação ou opção sexual provém
simplesmente de determinismo genético. No entanto, ressaltamos que é vicioso
lembrar por mais que a genética possui o objetivo da herança biológica, transmissão
dos caracteres morfológicos, fisiológicos e até comportamentais para gerações
seguintes e mantendo-se como ciência multidisciplinar, merece destacar que
apesar da inevitável influência dos genes, não se pode considerar como fator
determinante para o comportamento (exceção às mutações cromossômicas,
especialmente numéricas), pois o código genético não é um controlador ou
programador de nosso comportamento.
Sabe-se que as experiências individuais e socioculturais contribuem na
formação pessoal.
O presente ensaio foi elaborado para disciplina de
Etologia I se baseando nas seguintes obras:
LEÃO,
S. F.. Aspectos históricos constitucionais da eugenia. Revista estudos,
Goiânia, Vol.36, 2009.
WATSON,
J.. DNA: o segredo da vida/ James D. Watson com Andrew Berry: Tradução
Carlos Afonso Malferrari. – São Paulo: Companhia de letras 2005.
GRIFFITHS,
A. J.. MILLER, J. H.; SUZUKI, D. T. ; LEWONTIN, R. ; GELBART, W.; Introdução
a Genética. 7. ed. - Rio de Janeiro – RJ: Guanabara Koogan, 2002.
BRUNONI,
D.; Heranças dos genes. Revista mente e cérebro Ed. Especial série 1, pg 24-41, 2009.
ANGUELOVA, M.; BENKELFAT, C.; TUREKI, G.: A
systematic review of association studies investigating genes coding gor
serotonin receptors and the serotonin transporter:II.Suicidal behavior. Molecular
Psychiatry Vol. 8, 2003.
BRANDÃO,
M. L. As Bases Biológicas do Comportamento: Introdução à Neurociência.
Instituto de Neurociência e Comportamento – IneC , 2008.
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