segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Genética em nosso Comportamento



Série Ensaios: Aplicação da Etologia
Por Bruno de Oliveira Maciel e Priscila Zambiasi Silveira
Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas

 A Genética comportamental é um campo de pesquisa no qual a variação entre os indivíduos é dividida entre componentes biológicos e ambientais. As metodologias mais comuns de pesquisa são estudos envolvendo famílias, gêmeos e casos de adoção. Tem demonstrado que praticamente todo aspecto da personalidade humana tem sua origem tanto em fatores biológicos quanto em fatores ambientais. Uma das crescentes áreas da genética é a relacionada ao comportamento, que visa compreender os mecanismos genéticos e neurobiológicos envolvidos em diversos comportamentos, tanto animal quanto o de seres humanos. Nosso material genético é incrivelmente complexo assim como em inúmeras vezes são complexas as atitudes humanas. Em razão disso, os estudos genéticos que visem o entendimento comportamental requer atenção especial, e cuidado as suas afirmativas. Com a redescoberta dos estudos realizados por Mendel e os avanços científicos decorrentes de seus trabalhos surgiu o interesse nas implicações sociais da genética. Baseado na teoria da seleção natural de Darwin que afirma que a força é o verdadeiro estopim para determinar o destino de todas as variações genéticas na natureza, os homens já na sua antiguidade passaram a aplicar esse mesmo princípio aos seres humanos, perceberam que as classes menos favorecidas estavam se reproduzindo mais do que a classes respeitadas, logo os genes considerados “ruins” estariam aumentando gradativamente na população humana. Francis Galton, baseando-se no livro A origem das espécies de seu primo Darwin, iniciou a verdadeira cruzada social e genética, em 1883 dando origem ao movimento conhecido por Eugenia. Galton introduziu o termo eugenia para descrever a aplicação a seres humanos. Com os anos a eugenia passou a ser vista de outra forma, passou a denominar a “evolução humana controlada” cujos seguidores acreditavam que tomando decisões conscientes de quem deveria ou não ter filhos, seriam capazes de impedir a reprodução das famílias pertencentes às classes inferiores cujas taxas de reprodução eram caracteristicamente maiores do que das classes médias superiores (WATSON, 2005).
A área atualmente a eugenia passou a ser explorada com grande ênfase no campo da produção animal e vegetal, com a finalidade de aumentar a produção de alimentos, de modo a tentar acompanhar o crescimento demográfico da população de certa forma, além do crescimento econômico social, o que leva à população a ter acesso a certos benefícios outrora não alcançados (LEÃO, 2009). O conceito básico e clássico para a compreensão do gene é a região funcional do DNA contida nos cromossomos, cujo papel é codificar proteínas e que controla característica hereditária (GRIFFTHS  et al., 2002).  Contudo, nem sempre um caractere hereditário é determinado por um único gene, pois, podemos tê-lo determinado por um conjunto de genes agrupados, os supergenes.  Também um efeito fenotípico determinado por um gene pode ser modificado por outros genes situados em outros loci, o que é conhecido como epistase; ou ainda um gene pode afetar mais de um caractere (efeito pleiotrópico). A genética tem exercido fortes influencias na determinação do temperamento que é investigada principalmente por meio de estudos de genética comportamental, os quais consideram que os genes são responsáveis por traços ou comportamentos. É importante frisar, porém que os genes não agem diretamente sobre o comportamento, eles afetam dimensões das diferenças individuais pela modificação de estruturas biológicas, regulação de processos em andamento, codificação de proteínas que afetam estruturas e processos regulativos. Pesquisadores, biologicamente embasados, têm procurado identificar estruturas particulares, caminhos neurais, transmissores químicos, ou hormônios, associados às diferenças individuais. Para Strelau (1998), os genes interagem na determinação das diferenças individuais, e a transmissão genética está associada à variabilidade genética nos mecanismos fisiológicos e bioquímicos subjacentes aos traços de temperamento.
Nós formando de biologia, ressaltamos que quando se trata de comportamento não é um único gene que determina as ações e sim a influência de vários genes (interação gênica), no entanto as experiências individuais e fatores ambientais são capazes de modular os genes. Conforme pontua Brunoni (2009), o papel dos genes na formação do nosso sistema nervoso central é preponderante, mas não absoluto quando se trata de desenvolvimento mental. Outros fatores entram em interação, como os ambientais, os educativos e os socioculturais. Certo insight sobre a relação entre eventos de vida, fatores biológicos e comportamento provém dos estudos conduzidos em primatas não humanos. Macacos, quando privados do contato materno logo ao nascimento, manifestam comportamentos automutilatórios que podem servir como modelo do comportamento suicida relacionado a traços impulsivos e impulsivo-agressivos. A presença de comportamentos automutilatórios em macacos isolados é correlacionado com alterações neurobiológicas no sistema serotoninérgico semelhantes àquelas encontradas em sujeitos que cometem suicídio. Entretanto, não todos os macacos privados de contato materno manifestam comportamento automutilatório. Além disso, a intensidade destes comportamentos é variável. Porém, é interessante notar que uma porção significativa desta variação, assim como da variação no turnover de serotonina dos animais que apresentam comportamentos automutilatórios, é controlada por fatores genéticos.
Concluímos então que genética do comportamento não pode ser confundida com determinismo genético, ou seja, em que certos comportamentos são preditos e inevitáveis apesar da capacidade cognitiva do indivíduo; a sua “natureza” poderá conduzir a contrariedade das suas vontades. Há vários comportamentos que são intrigantes desafios para o entendimento como: anorexia, ortorexia, transtorno bipolar,. Na questão psicológica e genética o homossexualismo talvez seja o mais polêmico, principalmente pelas controvérsias religiosas, culturais e científicas. Ainda mais que no presente século (XXI) a dita opção sexual é sempre motivo de grandes debates, principalmente quando abordados em programas televisivos ou de rádio, há sempre grande audiência quando o tema está em destaque. Muitos defendem que a orientação ou opção sexual provém simplesmente de determinismo genético. No entanto, ressaltamos que é vicioso lembrar por mais que a genética possui o objetivo da herança biológica, transmissão dos caracteres morfológicos, fisiológicos e até comportamentais para gerações seguintes e mantendo-se como ciência multidisciplinar, merece destacar que apesar da inevitável influência dos genes, não se pode considerar como fator determinante para o comportamento (exceção às mutações cromossômicas, especialmente numéricas), pois o código genético não é um controlador ou programador de nosso comportamento.  Sabe-se que as experiências individuais e socioculturais contribuem na formação pessoal.

O presente ensaio foi elaborado para disciplina de Etologia I se baseando nas seguintes obras:

LEÃO, S. F.. Aspectos históricos constitucionais da eugenia. Revista estudos, Goiânia, Vol.36, 2009.
WATSON, J.. DNA: o segredo da vida/ James D. Watson com Andrew Berry: Tradução Carlos Afonso Malferrari. – São Paulo: Companhia de letras 2005.
GRIFFITHS, A. J.. MILLER, J. H.; SUZUKI, D. T. ; LEWONTIN, R. ; GELBART, W.; Introdução a Genética. 7. ed. - Rio de Janeiro – RJ: Guanabara Koogan, 2002.
BRUNONI, D.; Heranças dos genes. Revista mente e cérebro Ed. Especial série 1, pg 24-41, 2009.
ANGUELOVA, M.; BENKELFAT, C.; TUREKI, G.: A systematic review of association studies investigating genes coding gor serotonin receptors and the serotonin transporter:II.Suicidal behavior. Molecular Psychiatry Vol. 8, 2003.
BRANDÃO, M. L. As Bases Biológicas do Comportamento: Introdução à Neurociência. Instituto de Neurociência e Comportamento – IneC , 2008.

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