sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Genética da Moral – Humanos: Animais Racionais



Série Ensaios: Sociobiologia

Genética da Moral – Humanos: Animais Racionais

Por Seigo Nagashima, Vinicius Laurindo e Willian Hoffmann

A palavra “moral”, segundo o minidicionário Aurélio (2007) tem o seLinkguinte significado: ‘Conjunto de regras de conduta ou hábitos julgados válidos, quer universalmente, quer para grupo ou pessoa determinada’. Através dos tempos, antes mesmo do homem se conhecer como homem, ele vem levando consigo, mesmo que sem ter tido noção, o aspecto moral em sua vida em grupo. Desde os tempos mais remotos, quando tinha uma vida nômade, sobrevivia da caça e do forrageio e vivia em pequenos grupos de pouco mais de 200 pessoas até os dias de hoje, as sociedades e grupos humanos se definem em grande parte pelos aspectos morais que levam consigo. Sejam eles de origem religiosa, provinda de leis, códigos ou tradições, o ser humano cada vez mais se viu rodeado por essas normas de conduta para o bom convívio social, caso contrário dificilmente ele conseguiria manter um contato com outros espécimes, o que o obrigaria a tomar uma vida solitária, incompatível em grande parte com a biologia do Homo sapiens, um “animal social” (WALLACE, Robert A. 1985).

A principio, e ainda hoje, tem-se a suposição de que a ideia de moral tenha provindo de forma natural, como algo pertencente ao lado “espiritual” do homem, ou melhor dizendo, do seu lado racional, mas poucos sabem que boa, senão a maior, parte dela tem um bom fundo genético por trás (JORDANA, José. 2009). Partindo deste ponto, poderíamos nos perguntar, mas como algo tão específico e presente no nosso dia-a-dia como moralidade podem ter um fundo genético por trás disso?

Para entendermos este aspecto, precisamos analisar um pouco a história evolutiva do homem. Nossos parentes mais próximos evolutivamente são os chimpanzés, tendo nos distanciados deles a cerca de nove milhões de anos atrás e somente a cerca de duzentos mil anos, o Homo sapiens teria surgido na Terra. Com o surgimento desta espécie veio consigo o grande aumento de massa na parte frontal do cérebro, nomeada de córtex cerebral, a sua parte mais nova e que foi capaz de dar ao homem a capacidade de resolver problemas de diversas formas possíveis. Durante a maior parte destes 200 mil anos, o ser humano vivenciou um estilo de vida nômade, somente adquirindo um estilo sedentário por volta de 8 a 10 mil anos com o advento da agricultura. E todo o desenvolvimento humano que ocorreu foram nesses 8 mil anos, tempo pouco suficiente para que a nossa constituição genética se ‘adequasse’ a ele. Portanto, não somos mais do que ‘homens das cavernas’ bem vestidos e letrados.

Antes de um dos grandes adventos da humanidade, a escrita, as informações eram passadas oralmente, de geração a geração, pelas pessoas. Mais ainda, comportamentos eram observados e repetidos se representavam em sucesso ou esquecidos e refutados se fracassavam e isso se seguia para as pessoas mais novas. O tipo de comportamento que mais se valorizava era o da reprodução bem sucedida, atos que terminavam em um casal e seus filhos, tornando-se forte a medida que os filhos viam que seus pais realizaram e obtiveram sucesso neste quesito, pois eles estavam ali para isso. Com o passar do tempo e a invenção da escrita, tais comportamentos foram ‘fixados’ primeiramente em pedra para que as atuais e futuras gerações soubessem como se portar para que o grupo pudesse se manter, tornando-se normas. Portanto a moral remete a norma, a qual remete a normalidade que significa ‘aquilo que é reprodutivamente eficaz’, exatamente no contexto sexual, de reprodução humana. Sem seguida, essas normas foram transformadas, ora em leis, ora em condutas religiosas, códigos ou tradições da cultura dos povos, sempre pensando no bom andamento da sociedade. Até hoje em dia, vemos os efeitos da moral no nosso código de leis e nos nossos próprios pais, nossa primária fonte de como agir em sociedade. E é deles que recebemos boa parte do que chamamos de moral ou imoral, nos remetendo desde as épocas antigas, em que as informações eram passadas dos pais para os filhos (WALLACE, Robert A. 1985).

Para corroborar com esta visão, podemos fazer uma rápida lista de atitudes que consideramos imorais: adultério, estupro, pederastia, incesto são consenso quase que comum de atitudes imorais. Em outras culturas e religiões, atos como fornicação e masturbação também são consideradas imorais. Mas por que as consideramos imorais? Adultério estimularia a falta de atenção em um dos parceiros com relação ao outro e ao seu filho, o que dificultaria o bom desenvolvimento dele como adulto, além de possibilitar a perda de energia e tempo ao cuidar do filho de outro, desperdiçando a chance de ‘proteger’ seus genes para um futuro garantido, dando lugar aos genes de outro. Estupro seria algo visto biologicamente como o ‘pai’ (estuprador) conseguir engravidar a mulher, mas não estar presente com ela para criar o filho, dificultando assim o bom desenvolvimento do filho. A pederastia, principalmente relacionada às meninas, teria relação com o ainda não completo desenvolvimento do corpo da mulher para ter uma gravidez saudável, além é claro da falta de experiência em cuidar de um bebê (seja por falta de maturidade e pelo conhecimento adquirido de sua mãe). O caso do incesto se deve ao problema da consanguinidade e da possibilidade de filhos nascerem com alelos recessivos letais. A visão de leis religiosas (por exemplo) para considerar atitudes como fornicação e masturbação imorais seria no desperdício de tempo e de ‘matéria-prima’, sendo que se tais atitudes tivessem voltadas para a escolha de um parceiro fixo, a reprodução e concepção de uma família seria certa (WALLACE, Robert A. 1985).

Jonathan Haidt, psicólogo moral na Universidade de Virginia trata a nossa conduLinkta moral como um reflexo de diversos comportamentos públicos, entre eles politicos, religiosos e senso de justiça com o semelhante. Tal conduta moral exerce uma funçao antagônica sobre um dos valores que o autor considera mais negativo, o egoismo. Segundo o mesmo, a partir de um olhar sobre a seleção natural e a sobrevivência do mais apto, apenas parece confirmar os valores mais egoístas. Mas para os animais que vivem agrupadas egoísmo deve ser limitada ou não haveria vantagens para viver em sociedade.

Esse fenômeno levou-o a ver a moralidade conduzida por dois sistemas mentais distintos. Um sistema antigo, que ele chama de intuição moral, baseia-se nos comportamentos emotivos que evoluíram antes da linguagem. Um sistema moderno, que ele chama de julgamento moral, veio após a linguagem, quando as pessoas pudessem expressar por que algo estava certo ou errado (WADE, Nicholas. 2007).

As respostas emocionais da intuição moral ocorrem instantaneamente, elas são reações intrínsecas primitivas que se desenvolveram para reger decisões impulsivas que ajudam a sobrevivência em um mundo perigoso. Julgamentos morais, por outro lado, vem mais tarde, quando a mente consciente se desenvolve uma justificativa para a decisão, que veio através da intuição moral. Portanto, a moral promove um sistema de metas que tem como objetivo controlar os desejos egoístas e de agir sob um ponto de vista provatório em relação à religiosidade ou perante a sociedade.

Com todos estes exemplos, será então que a origem da moral está mesmo ligado a uma reprodução eficaz e de sucesso? E o que dizer de atos imorais como traição? Traição é uma atitude também imoral que se baseia na quebra de confiança de uma pessoa próxima. Quando se reconhece alguém como traidor, pensasse duas vezes antes de se aproximar dele, enfraquecendo as relações com os demais do grupo para a tomada de decisões futuras. Além esta, temos a fraude vista como uma imoralidade: lograr o próximo em benefício próprio. Em contexto minucioso, poderíamos falar que fraudar levaria a prejudicar alguém semelhante a nós, que convive conosco e, portanto, há chances de compartilhar muitos genes semelhantes, como um ente da família. Ambos vão contra o bom funcionamento do grupo/ sociedade, que tem por base a reprodução como caminho de perpetuação.

Concluímos com isso que por mais que a nossa evolução tenha nos proporcionado uma inteligência sem tamanho, para solucionar problemas de diferentes formas, muitas ações que pensávamos ser exclusivas nossas acabaram por se mostrar muito mais naturais e comuns aos outros animais (emoções) e que o que tanto presamos como moral, algo que se mostrou bem mais animal (para nossa autopreservação) do que racional (fabricado por um lado espiritual nosso ou pela percepção diferenciada da vida).

O presente ensaio foi baseado nas obras:

EDUCACIONAL. A imposição moral e ética. Disponível em: . Acesso em: 12 set. 2011.

JORDANA, José Luis Velázquez. Libertad y determinismo genético. Praxis Filosófica. Cali. n. 29 dez. 2009. Disponível em: . Acesso em: 12 set. 2011.

Míni Aurélio: O Dicionário da Língua Portuguesa. 6ª ed. Positivo, 2007.

WADE, Nicholas. La moral no es cultural, sino genética. The New York Times, out. 2007. Disponível em: <http://www.lanacion.com.ar/950856-la-moral-no-es-cultural-sino-genetica>. Acesso em: 12 set. 2011.

WALLACE, Robert A. Sociobiologia - o fator genética: as realidades biológicas da condição humana. IBRASA, 1985.

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